...Num mundo de tormenta.
Shingeki no Kyojin consegue manter seu ótimo padrão de
entretenimento e urgência mesmo quando está fora da rota da ‘Fúria dos Titãs’,
isso não é algo que você encontra sempre em uma série shounen. Não encontra em
muitas séries de diversos gêneros. O que mais pesa contra este, é o fato de seu
enredo se colocar muito ao meio termo. Diferente de um battle com montagem
tradicional, não há vááááários episódios seguidos de Eren ou algum outro
personagem duelando com titãs. É outra estrutura. Também, em 10 episódios, o
que vemos é a humanidade sendo massacrada sadicamente por titãs esquisitos que
parecem ter saído dos monstros semanais do anime de Sailor Moon, de tão... Nonsenses.
Como manter este ritmo alucinante? Não dá. E as pessoas
ficam mal acostumadas. As tramas precisam ser desenvolvidas para que o enredo
que gira em torno do horror dos titãs ganhe mais força. Porém, é com satisfação
que vejo a densidade se manter mesmo em episódios de build-up (seria um crime caso contrário, este mundo
acinzentado não se sustentaria e eu já teria parado de assistir. Ou não,
afinal, eu continuei com SAO). Estamos sempre sendo lembrados que este é um
mundo muito, muito mal; as mamães são devoradas vivas por gigantes, é um mundo de
corruptos, de garotas que precisam comer batatas por que não tem comidas para
todos, que heróis são fracassados e que os melhores são aqueles politicamente incorretos.
Oh, não era isso que eu queria dizer, e sim que as estratégias na maioria das
vezes não funcionam como o esperado e que o perigo, fora o plot armor (ele afinal é necessário, ou teríamos a morte
como protagonista), é real. Uma das cenas mais significativas nesse
episódio quanto a isso é no inicio com Marco tentando dar esperança a um
soldado e tudo que ele gritava era “O nosso trabalho se resume em uma encenação
de batalha contra os titãs, quando é apenas a fileira para sermos devorados! Eu
me recuso a ser dev-...”.
A bem da verdade, eu desandei a rir histericamente com toda
a dramatização e tive que pausar também e começar a encenar no meu quarto
tomado pelas trevas com um monte de pelúcias titanzinhos espalhados “OOHHH, EU
ME RECUSO A SER DEV- UGH!”. Me senti representando alguma peça de Shakeaspeare.
Mas o que me fez dar voltinhas na cadeira de tanto rir foi o que veio a seguir,
com Marco pedindo auxilio a Sasha Batata (!!!).
Foi impagável. Essa mise en scène apaga a dramaticidade do texto [o melodrama
por si só], mas ainda é funcional: pelo prazer pelo exagerado (rindo ou absorvendo a dramaticidade da
cena – é psíquico) e por simplesmente evocar algo real daquele mundo. As
pessoas estão realmente desesperadas (“Para ele, pensar é assustador”).
Isso me leva a dois pontos:
-O povo não pensa em situações adversas. Ponto. É como um rebanho
assustado, sai pisoteando tudo pelo caminho e são capazes de se jogarem no
abismo pelo medo. Como um cavalo correndo desembestado de uma cobra ao ponto de
não enxergar o precipício logo à frente.
-Aqui a importância do treinamento e serviço militar: manter
a ordem e ser o cérebro do povo. Ao menos, teoricamente, já que acontece de
muitos militares mostrarem um bestial despreparado em lidar com situações
adversas. Isso reflete também no mundo de Shingeki no Kyojin. No entanto, esse
despreparado, além das questões sócio-politico-cultural, é elevado a ao cubo
pela fúria dos títãs, algo inédito até então. Por mais incrível que pareça, é
natural. Pessoas se acomodam muito facilmente.
Agora, o desespero também pode ser não intencionalmente
engraçado. Me chutem, me guspam, me preguem na cruz, mas eu ri tanto daquela
meme do Zeca Pagodinho indo salvar as pessoas da enchente paulista. Ri mais
ainda ao saber que ele ficou puto da vida de ter virado chacota. Fora do
contexto, é algo que acaba despertando o humor negro lá dentro e minha Kneesocks
interior não perdoa. Sou uma contradição. Do que eu estava falando mesmo? Ah,
sim, horror, horror, humanos ingratos desgraçados. O comandante Kitz é a própria
tragicomédia em character. Mas é compreensível não, é? Contrastando, uma
belíssima montagem de Eren dentro do titã com cortes de câmera fitando os
efeitos de fumaça, o vento [batendo elegantemente nos cabelos de Armin na cena
seguinte], os soldados, os semblantes Mikasa e Armin, a surpresa de Eren ao
acordar no interior do titã. É uma tensão atmosférica pontual e essa sequência
é particularmente bela.
Eren surpreende aqui ao deixar tudo nas mãos de Armin. Duvido
que ele tenha pensado logicamente como o amigou pensou, está mais para
confiança. Mas heeeeeeey, uma reviravolta agradável, mantendo o porão do pai de
Eren em suspense questionador. De quebra, uma das sequências mais bonitas da
série. Como de praxe, Tetsuro Araki novamente contrasta a seriedade do texto
com o exagero dramático visual. Ainda que não funcione algumas vezes, aqui se
mostra eficaz. Armin é mesmo patético, porém é catártico ele gritando a todo
pulmão, olhando para trás temeroso, e então insistindo novamente com um pouco
de lógica diante de pessoas com modus operandi ilógico. A trilha sonora que
nesse episódio se mostrou bem introspectiva; eleva as notas e cria uma
atmosfera empática. Se fosse um estádio ou ginásio esportivo, estaria gritando o nome dele. Psicologicamente inconstantes aqueles soltados são como uma
criança com uma arma na mão, pior ainda é o seu comandante, em pior estado
mental que eles. Na boa, ele não tem a menor condição de comandar nada além de,
sei lá, uma equipe de cozinheiros (??).
Então, tensão suga a mente naquele momento e então acontece o que intimamente eu
torcia (desde o episódio anterior,
aliás): aparece alguém com um pouco de cérebro e segura seus braços.
É uma sequência e tanto, meu interior não pôde deixar de
gritar “FODE SIM, PIXISSSSSSSSSSSS!!! OOOOOH YEEESSS!”. Ele já é um velho
conhecido, mas isso é o que eu chamo de uma senhora apresentação. Excêntrico,
olhos de raposa que analisam uma situação enquanto mantêm algo na boca, por que
é STYLE, você sabe. E ainda com quotes como estes “Se fosse uma bela titã, eu
deixaria que me devorasse”. Oohhhhhh!, Pixies, seu único contra é ser
careca. A trama agora se abre para diversas situações que podem ser interessantes.
Eren pode estar a salvo, mas não necessariamente que sua presença será
pacifica. Fora que agora, uma verdadeira ofensiva contra os titãs se torna
possível. A esperança num mundo desesperançoso é algo fundamental, ainda que
seja unilateral. Se alguns personagens cercados relutando em morrer irão se
salvar ou não (ao que parece, a
humanidade já foi pro brejo), é algo que só o autor pode decidir, mas eles
precisam continuar lutando por suas vidas para que o contexto apocalíptico tenha
vigor. Agora o povo por trás das muralhas tem uma, mas será suficiente? Seja
como for, um flor brotou no asfalto.
Avaliação: ★ ★ ★ ★ ★
-Ele diz que algo saiu da mão dele... hmm. Me pergunto se
tem algo a ver com o segredo da química dos titãs.
-Este foi o pior episódio, em termos de animação, da série.
Eles estão ao menos tentando? Não é todo mundo que pode ser JOJO não, hein!?
Algumas sequências se moviam com a fluidez de um flash de charge hahahaha lol. Ai eu penso: Ah, bom, ao menos os titãs não são bolotas de CG, heheh. Esse esqueleto do Eren Titânico estava lindo, lindo, lindo.
-Sério que o tempo em que ficaram na fumaça foi de meros
segundos? HEHUEHUEHUEHEU
-Pedrinho é realmente um bom garoto. Um garoto de fé, ao afirmar que confiaria sua vida ao Armin BWAHAHAHAHA! Pedrinho, confie seu Goth importado a mim, prometo ser delicada #avoa
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Comentários do Critico Nippon (@PedroSEkman)
Eu comecei o episódio odiando o Armin como de costume, e
terminei completamente emocionado com ele.
E isso resume perfeitamente o brilhantismo e envolvimento
que Shingeki no Kyojin nos proporciona. Armin não era um personagem do qual eu
era indiferente. Era um personagem que eu torcia pela sua morte! Quando Eren
mandou ele fazer algo, eu comecei a desejar a morte do próprio Eren junto, de
tão fortemente que eu duvidava do seu amigo e queria vê-lo longe da tela. Esse
é o nível de repulsa. Eis que na segunda tomada de fôlego do loirinho
confrontando o exército... eu me via completamente tocado por tudo e com um
imenso nó na garganta. Ao final, eu
confiaria minha vida ao Armin de olhos fechados.
A beleza da confiança mútua entre o trio é fundamental para
que compreendamos não só o esforço sem precedentes do tímido garoto para com
eles, mas que nos coloquemos no lugar do próprio Eren olhando cheio de orgulho
para o velho amigo. Sem os episódios anteriores de treinamento, e a confiança
cega de Eren e Mikasa com suas próprias vidas, o grande momento de Armin não
teria tido a devida proporção. Tudo se complementa.
E para os que acham exagero o comportamento do capitão, é só
nos lembrarmos da famosa dinâmica com X-mens e derivados. Ter poderes e ser
diferente é constantemente visto com repulsa nos mais diversos universos
fictícios (e fora deles) ("Ele está com medo de pensar!"). É genial
que SnK tenha conseguido usar isso com tanta força.
E esse Titã Encouraçado está demorando demais...
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