Saudações do Crítico Nippon!
O anime mais comentado de 2013 precisava
de um texto solo do Crítico Nippon. Pela primeira vez na História do Elfen Lied
Brasil me rendi aos comentários semanais junto com a Beta Roberta. Incentivo do
sempre cortês Carlirio do Netoin e por eu estar realmente empolgado a princípio.
Foi bacana e interessante, mesmo que meus receios iniciais comentados no
primeiro post tenham se tornado realidade: 20 minutos é muito pouco, limitando
demais a análise para o quadro geral, ainda mais com uma linguagem tão simples
quanto dos animes (por exemplo, gostei muito de ter comentado o melhor de 2010 somente
ao final). Sem mais delongas, é só um encerramento oficial de minha parte para
SnK e para deixar registrado. Quem quiser detalhes, é só ir atrás dos
comentários semanais.
Eu acredito que os problemas de
Shingeki no Kyojin girem em torno da falta de um protagonista. Pode parecer
exagero para alguns a idéia de ter alguém para o publico se conectar no novo
mundo, acompanhar seu crescimento e se envolver emocionalmente, mas até que
funciona em alguns animes. E filmes. E seriados. E livros. Geralmente é alguém
que começa fraco e insignificante, aos poucos vai evoluindo enquanto busca um
sonho, adentrando sua aventura por diversos riscos e desafios, e no final se
torna admirável. Interesse romântico também costuma fazer parte do pacote. Talvez você consiga pensar em um ou dois exemplos que se
encaixem no que eu acabei de falar. Como eu disse, talvez não seja sempre, mas
em alguns casos até que funciona de forma satisfatória.
Você pode dizer que Eren é o
protagonista, e que evolui como titã, mas qual o seu arco? Ele não virou um
titã por esforço próprio ou méritos ou ao final de uma trama. Foi justamente o
contrário: foi por fraqueza. Seu maior mérito em todo anime foi quase conseguir se equilibrar em um
equipamento quebrado, só que não. Um protagonista cujo arco dura 5 episódios em
uma trama de 25, não é um arco. No mínimo, não é um protagonista. Primeiro que ele
quase vira uma piada em si, falando demais e engolido precocemente. A partir
daí, absolutamente todas as ações da história estão fora de seu controle e
decisão e compreensão, e seu tempo em tela é mínimo. Aquele Eren que nos ligava
ao universo dos titãs termina no 5º episódio e não volta mais. Dessa forma,
quem mais poderia ser considerado o protagonista dali em diante? O chorão e
resmungão chamado Jean que não fez uma ação minimamente memorável, além de
colocar ele mesmo em perigo diversas vezes? Armin e Mikasa são os fiéis
escudeiros iniciais de Eren, não podem ser. Levi que só aparece ao final da
trama? Sasha? Mais alguém tem nome nessa história?
Esse é o nosso líder! |
Esse é o nos... oh... |
Esse é o nosso... líder! |
Esse é o... nosso... líder...! |
Esse é o nosso...! hum... ok |
Esse é... oh... oh meudeus... alguém ajude.. |
Dessa forma, nunca estamos
conectados emocionalmente à alguém por muito tempo. Certamente não com Eren. Percebam
que isso é praticamente o ingrediente principal de qualquer história. Eu não
estou falando da trilha sonora ou da animação, eu falo da emoção. Às vezes
ficamos felizes por Armin; às vezes admiramos Mikasa; às vezes o Jean não é
chato; admiramos vagamente o Levi no piloto automático (idem Mikasa);
Ocasionalmente Sasha diverte; e assim por diante. São pedaços e fragmentos que
nunca se somam em um todo. Essa soma que deveria se chamar o protagonista.
Isayama é extremamente falho em não notar isso. Eren é um peso morto. Eren é a
isca. Eren é o trunfo que fica guardado na última gaveta empoeirada. E digo
isso com pesar, pois quem leu meus primeiros comentários até o 5, percebe
claramente que eu aprovava o modo como a história lidava com o garoto. Ou seja, não é o personagem que é ruim, mas seu autor que o desperdiça completamente (entre outros que já irei citar).
Esse é o nosso... lí... |
Esse é o nosso... nosso... líder! |
Esse é... é... oh... de novo não... isso deve doer |
Esse é o noss... oh... o que houve? |
Ao invés disso, a história prefere
apostar em antagonistas jamais desenvolvidos. Soldados, capitães, generais,
políticos, civis, que nunca aparecem novamente para justificar seus minutos
preciosos na tela, revelando uma imaturidade imensa por parte de seu criador. Aliás,
situações vistas de longe agora, como Eren perdendo o controle de sua
transformação antes de carregar a pedra, soam forçadas e absurdas, claramente
feitas para estender o máximo possível e sem acrescentar nada realmente. E mesmo que o anime tenha melhorado o mangá em inúmeros aspectos (a maioria), ele tem uma boa parcela de culpa: por recapitulações
absurdamente ridículas de longas, somando de 4 em 4 minutos por episódio,
poderíamos ter ido anos luz mais longe (e não vou nem comentar o ridículo filler
do 22 que foi a pior coisa que eu vi esse ano). Os ataques iniciais na Maria e
Rose eram grandiosos não apenas pela sua magnitude, mas por estarmos mergulhados
neles através dos olhos do trio principal (não tão principal assim). Nós
tínhamos por quem temer e nos espelhar. E eu não temo pela vida de mais da
metade daqueles que eu passei boa parte do ataque à Trost e da Expedição final.
Isso é gravíssimo. Não há desculpa pela trama estar em constante movimento,
pois não há melhor exemplo que Death Note. E eu me importava muito mais com os velhos
policiais Aizawa, Matsuda, Mogi e Soichiro (meu deus, até os executivos da
Yotsuba!), do que com essa trupe de “exploradores” que eu jamais decorei o
nome.
É uma história linear, seguindo um único ponto de vista, sem tramas paralelas, secundárias, nem núcleo de vilões, nem nada dentro do grande plano (... seja este qual for). Acho que a Mikasa curte um incesto com o Eren no meio daquele caos e é isso. O que mais? Mais alguém tem alguma coisa com alguém, uma relação ou um sonho ou um objetivo ou qualquer migalha que faça de uma história, bem, uma história? Não sei quem é mais amigo de quem. Jean de Marco, talvez, em compensação não sei quem é Marco. Não poderia ser mais vazio, esticado e enrolado. É o cúmulo não conseguir citar ninguém fazendo alguma atividade paralela no enredo (o que torna ainda mais ridículas e ofensivas as recapitulações, pois não poderia ser mais fácil lembrar). Assim, o destaque mesmo vai para Armin: inicialmente frágil e à sombra dos irmãos, cresce tanto que quase me fez chorar no episódio 10, e não parou mais. Por outro lado, desperdiça o que deveriam ser ótimos antagonistas como Pixis e Hannes, ambos com imenso potencial. E ao revelar que Annie é a Titã Fêmea, não sentimos absolutamente nada, quando seria o momento perfeito para uma traição dramática se tivesse sido desenvolvida. Afinal, Annie, Marco, o careca-Avatar e a loirinha baixinha são tão desenvolvidos quanto os próprios Titãs (leia-se: não são). O autor até tenta criar a famosa “os humanos são mais monstros que os monstros” nesse tipo de história, fazendo corrupção e desconfiança, mas é extremamente raso e fraco, não conseguindo o efeito desejado. Outra coisa, o próprio conceito de "inimigos da Humanidade" é ridículo por natureza. Ou seja, a animação é o menor de seus problemas. Prefiro nem comentar a ironia dos leitores do mangá que é absurdamente horroroso e feio, dizendo que o defeito mor é a animação. É muita cara de pau querendo encobrir uma obra transbordando problemas.
Sem um objetivo claro ao longo dos 25 episódios, qual a moral da história? Reunir as 7 esferas do dragão? Se tornar um Hokage? Descobrir a identidade do Kira/L? Matar... todos os... titãs... do planeta...? Engolíamos esse absurdo quando Eren era uma criança e recém tinha visto a mãe morrer, sendo normal vomitar bobagens com o choque. Porém, assim que crescem, a trama não dá maiores esperanças de nada longínquo. Entrar no exército para... não sei, aprender a usar o DMT? Hum, ok, e agora? Depois temos que colocar uma rocha na Muralha quebrada... ok, surgiu do nada, demoramos horrores, missão cumprida, e agora? O objetivo da Exploração em que encontram a Titã Fêmea ainda não faz o menor sentido, podendo variar entre terem acreditado no sonho do garoto-monstro de que os segredos do mundo estão no porão da sua casa; ou apenas para atrair os inimigos da Humanidade, mesmo que não pareça sensato enfrentar o Colossal e o Encouraçado em terreno aberto; ou qualquer outro objetivo que dê na telha, eu sei que li vários nos comentários aqui do site. Enfim, são incógnitas demais e adivinhações demais. Não é à toa que nenhum personagem é desenvolvido, afinal, não há uma história à ser contada, uma que lhes proporcione essa chance. Não há.
Assim, Shingeki no Kyojin criou seus melhores e icônicos momentos quando estávamos envolvidos com os personagens, e as reviravoltas aconteciam com rapidez entre os episódios. E repito o que disse no meu primeiro texto comentando SnK: os ataques do Titã Colossal já estão eternizados na memória de qualquer fã de anime, sendo um dos grandes momentos da última década. Também sou apaixonado pela seqüência do Titã Encouraçado, desesperadora e empolgante como poucas, servindo como encerramento perfeito da queda da Wall Maria. Facilmente uma das melhores trilhas sonoras dos últimos dez anos, com cores belíssimas em sua produção e, sim, ótimas seqüências de ação. É uma pena que tudo tenha sido desperdiçado nesse roteiro (ou falta de). É realmente lamentável.
Assim, Shingeki no Kyojin criou seus melhores e icônicos momentos quando estávamos envolvidos com os personagens, e as reviravoltas aconteciam com rapidez entre os episódios. E repito o que disse no meu primeiro texto comentando SnK: os ataques do Titã Colossal já estão eternizados na memória de qualquer fã de anime, sendo um dos grandes momentos da última década. Também sou apaixonado pela seqüência do Titã Encouraçado, desesperadora e empolgante como poucas, servindo como encerramento perfeito da queda da Wall Maria. Facilmente uma das melhores trilhas sonoras dos últimos dez anos, com cores belíssimas em sua produção e, sim, ótimas seqüências de ação. É uma pena que tudo tenha sido desperdiçado nesse roteiro (ou falta de). É realmente lamentável.
Shingeki no Kyojin é legal. Assistam
Naruto.
Agora comparem as imagens daqui com as do início que são um vácuo emocional |
(Para mais dos meus textos, é só ir no menu 'Crítico Nippon'.)
@PedroSEkman
@PedroSEkman
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