Ah, essa criatividade sem limites mas ao mesmo tempo
limitada.
Quando Ben-To estreou na temporada de verão de 2011, eu li
coisas muito boas a respeito, mas por algum motivo, não me interessou de
imediato. Baixei o anime e este tem estado no meu HD desde então, mas só agora
me despertou a curiosidade de conferir o que eu estava perdendo, ou não. Tenho
que dizer que foi uma grata surpresa que atendeu minhas expectativas, embora
tenha sido uma série bem inconsistente.
Ben-To já começa impressionando, com uma narrativa não
linear que tem o mérito de causar expectativa em um primeiro episódio padrão de
apresentação, que para chegar no aspecto mais forte da premissa (os duelos pelas marmitas de bento),
levaria algum tempo e não seria tão atmosférico caso seguissem com a linearidade.
Assim, ao invés do roteiro seguir de modo linearmente tradicional, embaralham
os eventos e cria uma ansiedade através da ligeira amnésia do protagonista You
Sato (Hiro Shimono), que persiste
até o final do episódio. E isso é muito legal, porque durante o episódio, vão
surgindo personagens e o Sato vai sendo levado pela correnteza, atordoado – e a
gente acompanha este estado catatônico enquanto ansiamos por todo o contexto
que vai se formando aos poucos. Não é nada de extraordinário, mas é legal. Como
dizem; uma história contada diversas vezes ainda pode ser agradável, dependendo
da forma que ela é repassada. E Ben-To cai bem nesse argumento.
A história é sobre vários personagens que disputam no punho
e pontapés, literalmente, por marmitas de bento em promoção em diversos supermercados
espalhados pela região. A grande sacada da obra original, uma light novel ainda
em andamento escrita por alguém com o pseudônimo de Asaura, é somar à estrutura
típica de uma light novel; um harém com muitas garotas e um protagonista
vegetal sem personalidade, dois elementos intrínsecos da cultura japonesa: a ética
Samurai e o hábito alimentar. Não por acaso, todos os melhores momentos da
série giram em torno das disputas dos personagens por marmitas de bento,
perdendo o brilho quando se distância disto e enfoca no cotidiano banal dos
personagens.
Da ética Samurai, o autor construiu a base do que vai compor essa premissa de um bando de estudantes esfomeados e sem grana atrás de marmitas em promoção. Na história há vários núcleos que podem ser denominados como tribos, que se posicionam hierarquicamente. Há os Lobos, situados no alto da pirâmide alimentar, no qual o protagonista faz parte. Eles são respeitados e temidos, fazendo com que sejam constantemente alvos de outras tribos, seja por luta por territórios ou por honra. Na rabeira da pirâmide, por exemplo, há os cães, que são vistos com descrédito, e abaixo deles, os porcos. Que ninguém respeita, por nutrirem hábitos socialmente condenáveis. Sim, há todo um código de honra, que vai desde o ato de lutar entre si pelas marmitas, até o ato de pegá-las e comê-las. Aquele que conseguir chegar primeiro numa marmita e tocá-la, não deve ser atacado. Qualquer infração é encarado como um ato desonroso e socialmente condenado por todos.
O enredo se desenvolvem envolto numa mecânica que envolve
uma relação de orgulho e paixão pelo ato de batalhar por uma marmita. Orgulhosos,
os Lobos não estão no alto da hierarquia por acaso. Dentre todos, eles são os
que mais respeitam a tradição. A co-protagonista e líder dos Lobos, Sen Yarizui
(Mariya Ise), conhecida como Bruxa
do Gelo, é admirada por todos por sua técnica, desenvoltura e paixão que
demonstra no ato de lutar por um bento. Uma marmita conquistada sem esforço não
tem o mesmo sabor. Um duelo que está sendo travado sem a marmita como proposito
maior, não tem sentido. O autor, através de diversos momentos, pontua
sabiamente todas essas características e consegue fazer que uma premissa, num
primeiro momento encarado como algo bobo e fútil, passe a ser respeitada.
Você sabe que comprou a proposta e vê ali plausividade, a
partir do momento que se percebe envolvido em meio àquela atmosfera de lutas e
brigas por marmitas. A direção faz um trabalho louvável, ou ao menos eu encaro
como tal, ao conseguirem imprimir tensão nessas disputas – chegou um ponto em que
eu me vi torcendo e esboçando um sorriso satisfeito ao final de algumas lutas.
Claro, a trilha sonora de Taku Iwasaki (Gatchaman Crowds, Jormungand) tem muitos méritos nessa equação. Como a parte técnica
é bem pobre e destituído de movimentos fluídos, as BGM acabam extraindo muita
energia de várias ações que possuem até desenhos em boa coreografia, mas sem
muita movimentação.
Ah, claro, eu falei da ética samurai, mas não dos hábitos alimentares
do japonês, mas acredito que se você acompanhou mais de 5 animes ou mangás, já
foi capaz de perceber isto. O texto faz um belo trabalho em tornar essas duas características
em algo orgânico, criando uma plausividade com o contexto real. E é por isso
que as lutas por bento também conseguem ganhar nosso respeito: por trás de toda
aquela fantasia de neguinho caindo na porrada por marmitas de arroz e não sei
mais o quê, o sentimento que os move e seus códigos de conduta, são reais. Herdeiros
de uma cultura milenar, os japoneses ainda possuem em sua postura, muito do modo
de se portar de um samurai. Característica que é exposta principalmente pelo
orgulho e honradez. É também perceptível por seus hábitos alimentares e a
capacidade de transmitirem uma gama tão forte de sentimentos na comida e no ato
de comer. Não é de se espantar então, a forte identificação que possuem na
figura do lobo, que apreciam o individualismo, mas respeitam acima de tudo o
coletivismo.
E se eles se veem como lobos, obviamente que ocidentais para
eles são como cães vira-latas, fato que podemos comprovar com bom humor a
partir da rivalidade na primeira parte entre os Lobos do ocidente e Lobos do
oriente. Todos são lobos, mas os lobos orientais são mais sofisticados e agem
orgulhosamente, valorizando a tradição, enquanto os ocidentais se portam como
cães, desrespeitando tradições e valores éticos. No fundo, um cão é um parente distante
sem orgulho, dos lobos. É uma satirização até que divertida, apesar de talvez
haver um repudio verdadeiro do autor pelos ocidentais. Tanto que, a prima de
Sato, a lendária Bela do Lado (Emiri Kato), é colocada como uma traidora e sempre vista como uma personagem
alado, motivando um de seus ex-aliados a chama-la sarcasticamente de gringa, estabelecendo ai uma abismo
entre ela e os outros lobos orientais.
Uma fujoshi pervertida, uma lésbica que espanca todos que
cheguem perto de seu bibelô, uma prima lasciva e peituda, uma senpai
inexpressiva e mais uma porção de personagens femininas que estão sempre
aparecendo, ainda que sem qualquer peso no enredo. Como se nota, Ben-To não
foge da formula pronta do harém, mas é divertido e sabe criar sentido de
urgência quando gira em torno da dinâmica do bento. Porém, os personagens, como
peças individuais, são bem fracos e sem qualquer desenvolvimento. Mesmo quando
a história se volta para eles e sua interação cotidiana, o que se vê são ações físicas
criadas com o proposito de criar aquele humor de situação. Algo bem pastel.
Algumas destas situações são divertidas sim, mas logo caem na mesmice do lugar
comum.
Com dois arcos e algumas tramas soltas, que são bem
aleatórias, o primeiro que vai até o sexto episódio, é sem duvidas o ponto alto
de Ben-To, justamente porque o protagonista da história é o bento. Depois há
uma parada para tomar folego, em um episódio de piscina, que consegue ser ordinariamente
inventivo, com diversas pitadelas eróticas como seria de se esperar, mas depois
disso há uma sucessão de equívocos do anime. Digo do anime, porque ele é um produto concebido para inicio, meio e fim, e a parte final que deveria, teoricamente, arrematar para o fechamento de um ciclo, não soam como episódios finais, mas de meio de temporada. Como narrativa é ruim. Descentraliza dos protagonistas, a rivalidade prometida sofre uma reviravolta, que se por um lado mais uma vez exemplifica o valor que há em lutar pelas marmitas, por outro é anticlimático e inconclusivo. Essa trama acrescenta muito pouco ao enredo, a não ser mais personagens femininas com teor erótico. Numa narrativa contínua já seria fraco pela própria falta de perspectiva para as personagens dentro da história, como ponto final então, é um verdadeiro réquiem para a série e seu
desfecho é melancólico, no pior sentido da palavra. Nem mesmo o bento conseguiu salvar o barco do naufrágio. Uma boa narrativa não precisa estar sempre recorrendo a personagens novos que logo serão esquecidos, mas sabe aproveitar seu time principal, e ao criar novos, usá-los para expandir o mundo, e não criar volume inútil. Caso contrário, é apenas uma muleta que esconde a fragilidade do escritor.
Nota: 06/10
Diretor: Shin Itagaki
Roteiro: Kazuyuki Fudeyasu
Tipo: TV
Episódios: 12
Estúdio: David Productions
MAL: http://goo.gl/QF6c0k
ANN: http://goo.gl/luO9x8
Nota: 06/10
Diretor: Shin Itagaki
Roteiro: Kazuyuki Fudeyasu
Tipo: TV
Episódios: 12
Estúdio: David Productions
MAL: http://goo.gl/QF6c0k
ANN: http://goo.gl/luO9x8
***
BÔNUSSSS
Bom, mesmo se Ben-To fosse muito ruim, o que não é o caso, ainda assim eu teria gostado apenas por motivos de;;;;;;;;Ume Shiraume. Ela não é só divertida, mas também pervertida e possessiva! OMAIGOWD! EU MORRI TANTAS VEZES QUE NEM SEI! @@@@
***
***
Curta o Elfen Lied Brasil no Facebook e nos Siga no Twitter