segunda-feira, 13 de outubro de 2014

A Filosofia de Vida de Um Golden Boy (1995) – Corrente de Reviews

Nesta edição da Corrente de Reviews, todos os redatores do ELBR participaram. Um momento inedito e de satisfação de vê-los se integrando na brincadeira. Confira seus posts:

-Corrente de Reviews: Golden Boy (por Critico Nippon)


Apesar de ter assistido Golden Boy (literalmente Menino de Ouro, o título e o nome do protagonista [Kintarou] são uma alusão ao mito folclórico japonês de Kintaro, criança de força hercúlea, sábio e que aprendeu muitas coisas sobre a vida sendo um servo para vários mestres) somente agora para a Corrente de Reviews, eu já tinha conhecimento da série, quase sempre através de comentários nostálgicos daqueles otakus que viveram uma época em que era difícil ter acesso a uma ampla quantidade de animes. Imagino o impacto que essa série de OVAs de Golden Boy causou, além de ser divertido tem um grande apelo erótico e uma direção bastante explosiva. É um autentico produto da década de 1990, que ficou marcada por filmes humor com grande apelo sexual, retratando jovens –em sua maioria virgens – com os hormônios a flor da pele, em que conseguir ver a calcinha ou uma garota trocando de roupa representava nestas obras uma conquista extraordinária.
Kintarou Oe (Mitsuo Iwata) é um destes personagens que estão sempre pensando em mulheres e suas belas curvas, mas apesar da sua aparência de virgem perdedor e nenhum atrativo sexual, ele é perseverante, estudioso, aprende rápido e está sempre surpreendendo. Tendo abandonado a faculdade por ter decorado antes do tempo todo o currículo escolar, com plenos 25 anos Kintarou decidiu viajar pelo Japão na sua bicicleta humilde a fim de conhecer novos lugares, pessoas e adquirir conhecimento sobre a vida. É uma jornada quase como aquela de Buda. Seguir em uma jornada pelo país ou mundo tem sido a ambição de muitos aqueles que querem viver e aprender novas experiências, pessoas que consideram se prender a um único local uma limitação, como se estivessem acorrentados a algo que o impedem de viver sua vida plenamente. Acredito que se trata de um pensamento aterrador para muitos e uma fantasia distante para outros. Há muitos que abandonam a rotina de trabalho para abraçar uma carga mais flexível, em trabalhos freelances, para se dedicarem a conhecer novos lugares. No Japão, o termo “freeter” significa “livre arbítrio”, pessoas de espirito livre que não possuem um emprego fixo. Kintaro é um freelance [ou freeter], que arruma um bico em cada local que passa, mas nunca por um longo período.
A ficção tende a retratar jornadas como uma busca de autoconhecimento ou uma fuga, em ambos os sentidos notamos que a essência está no se “encontrar”. Em outros casos, como o de Ginko de Mushishi, a jornada é a sua razão de vida e ela durará enquanto ele conseguir seguir adiante ou encontrar uma razão que o faça sentir que já é o suficiente. Suponho que o caso de Kintarou seja parecido, mas embora esteja em uma jornada clássica, a série de OVAs de Golden Boy utiliza esta formula para tramas de “garoto encontra garota” e “garoto fantasia com garota”. A estrutura é bem simples e usada em todos os episódios. Kintarou chega num local novo, se envolve em alguma confusão ou fica aficionado em alguma garota, começa trabalhar ao lado dela e salva o dia. Geralmente as garotas não dão uma foda para ele, mas de alguma forma ele as surpreende sempre, terminando o episódio com elas apaixonadas e molhadinhas, enquanto ele vai embora deixando um coração partido.

Duas características aqui chamam a atenção: a fórmula do herói vagante que pousa em vários portos e se envolve com alguma donzela [normalmente a salvando], mas partindo sozinho – é engraçado como Golden Boy faz uso disto, mas inversamente ao uso clássico, satirizado. 
E segundo, há uma espécie de moral nestas histórias. As garotas o julgam pela aparência e seu comportamento geralmente lascivo, mas ao final ele prova que é um homem de grande valor, salvando-as ao final (mesmo que às vezes tenha sido ele mesmo que as tenha colocado em apuros). Elas percebem seu real valor, mas agora é tarde. Claro que são personagens e situações caricatas, e mesmo esta moral demonstra a ingenuidade de todas estas situações, mas como uma história que alude essencialmente à fantasia masculina, é algo que consegue alcançar facilmente um grande apelo. Assim como as mulheres têm fantasias, os homens também possuem as suas, e no caso desta série se constrói basicamente em situações normativas clássicas da sociedade, como na quarta história em que a heroína se apaixona por um cara charmoso, rico e bonito, mas depois se descobre que o cara estava manipulando-a para alcançar objetivos sórdidos. Kintarou é o seu exato oposto, mas virtuoso, se interpõe em prol da garota e demonstrando um espirito sábio, se deixa apanhar para impedir que ela seja magoada. Ao final, ela termina apaixonada por ele. Esta didática reafirma aquela visão clássica de que as mulheres nunca dão valor aos caras certos, privilegiando os bem sucedidos e se dando mal no processo.

Há um episódio que surpreende fugindo desta dinâmica, embora a estrutura se mantenha. Uma meta-ficção retratando os bastidores da produção de um anime, com participação do autor do mangá original Tatsuya Egawa (que inclusive foi o roteirista dos episódios do OVA) e reunindo as heroínas das histórias anteriores. É um passeio descontrolado e insano, assumindo as melhores características da narrativa de Golden Boy. Sua energia expressa em gags visuais e o humor que nasce de situações absurdas, como o fetiche de Kintarou, que parece ter uma caída para o lado escatológico da vida, e as reações adversas de suas “vitimas”. É um humor de primário, e como não sou tão séria ou madura assim, obviamente que me flagrei rindo em várias situações. Mas Golden Boy se sai bem em toda essa simplicidade e até fragilidade por ser curto, ao contrário poderia se tornar uma viagem aborrecida. Indo um pouco além, as construções mais sólidas e felizes estão no humor erótico e as caras e bocas ridículas que Kentarou faz. Em especial, destaco o character design elástico e a animação que embora não seja tão grande, é impulsiva. 

Trivia:

Como comentado no inicio, o título da série e seu protagonista faz uma alusão a um mito folclórico clássico do Japão, e é interessante como isto é pontuado sutilmente através da narrativa, com Kentarou se desculpando a uma entidade mística por ter utilizado as técnicas de luta que aprendera pelo caminho para um proposito sujo como o de bater em alguém, ou na sua postura sempre servil de aprendizado, embora seja impossível de se levar a sério.

A Corrente de Reviews
A corrente de reviews é um evento que reúne alguns blogs da blogsfera de animes brasileira em uma interação saudável, em que um blog deve indicar um anime para o outro, como um desafio. Recebemos Golden Boy do blog Nave Bebop que participou comentando sobre Tokyo Magnitude 8.0. Seguindo a corrente, indicamos para o blog Letarius Animes a série Sayonara Zetsubou Sensei. 

Nota: 06/10
Direção: Hiroyuki Kitakubo
Roteiro: Tatsuya Egawa
Trilha Sonora: Joyo Katayanagi
Estúdio: Studio A.P.P.P.
Tipo: OVA
Episódios: 06
Duração: 28 minutos/média
Página: ANN 

Temas Relacionados:
-Corrente De Reviews: Hataraki Man - Mulher Macho Sim Senhor!
-Chrno Crusade: Mary Magdalene (2003) - Corrente de Reviews
-Journey to the End of the World (2003) - Jornada Para o Fim do Mundo
-Blood: The Last Vampire ~ Anime & Live Action
-Corrente de Reviews: Golden Boy (por Critico Nippon)
-Golden Boy (1995) - Correntes de Reviews (por Natth)


MEGA GALERIA DE IMAGENS (coloquei todos os screens tirados. Imagens dizem mais do que mil palavras)




Curta o Elfen Lied Brasil no Facebook