Este post está fodendamente recheado de spoilas até o
episódio 17. Leia por sua conta e risco. Grata.
PARTE 1: COMENTÁRIOS
SOBRE OS ULTIMOS EVENTOS
Não há muito que dizer, não é mesmo?! Apenas que, caralhos!,
eu surtei muito! Eu surtei muito! Eu surtei muito com esse episódio ultimo episódio,
HAHAHAHAHA!!! Ele é resultado de uma longa construção e desenvolvimento que vem
desde o primeiro cour, mas principalmente, fruto direto dos episódios de
transição do primeiro cour para o segundo. Aqueles episódios mais lentos, do
13º ao 15º, que podemos chamar de “barriga”. Para o ritmo sempre acelerado e caótico
de Kill la Kill que no primeiro cour sempre resolveu as tretagens num único
episódio, os seguintes com timing mais lento do segundo cour levaram um certo
tempo para estabelecer o cenário da resistência aos REVOCS (aqui o roteirista Kazuki Nakashima ainda faz mais uma das costumeiras
referencias, que passou de sátiras à cultura pop para alusões históricas, dessa
vez referenciando o clássico incidente de Honno-ji), mudar completamente
os rumos do enredo, desestabilizar sua heroína principal (por mais que seja Lady Satsuki quem mais brilhe aqui, a protagonista é
Ryuuko) e contextualizar a ideia principal da obra.
Aliás, para entender a importância do protagonista em
qualquer obra, por pior que ele possa vir a ser, basta olhar para estes episódios
e perceber o quanto o ritmo deles são afetados por causa da quebra de Ryuuko.
Quando ela é esmagada por Nui e perde seu maior companheiro e principalmente
sua autoestima (por este ponto de vista,
é simplesmente sensacional ver a forma como a desenvolvem no primeiro cour, fazendo
ela se sentir fodona ao ganhar todas, quando na verdade eram os adversários que
ainda não representavam nenhum perigo real), acaba por perder o rumo. É
então que ela percebe o quão frágil era sua ideologia. Sua ideologia estava intrinsecamente
interligada à sua força. Ou seja, sua motivação para mudar um cenário precisa
ser equivalente ao desafio. Nestes episódios em que ela ia da depressão à
motivação de dar a volta por cima (naquele jeito bem Imaishi de direção:
afetado, caricatural e icônico), podemos dizer que Ryuuko estavam sem rumo. Por
consequência, o enredo parece não ter mais pra onde ir. O sangue quente dela como protagonista é que
infligia um ritmo alucinante, e quando ela para, o enredo também se sente mais
desacelerado.
Por isso digo que estes episódios são responsáveis diretos
pelo “teaser” apresentado nos finalmentes deste episódio 17 (que espero, não diminua mais essa marcha,
porque quero ver isso pegado fogo em ritmo alucinante!!!): é explosão,
excitação, provocação. A passagem de um enredo/personagem pelo karma é
essencial para atingir um clímax satisfatório.
***
PARTE 2: EVOLUÇÃO ALIENÍGENA/FIBRAS DE VIDA
Quando surgiu no episódio 16 a revelação do que realmente
são as Fibras de Vida e qual era o objetivo da REVOCS, vi algumas pessoas questionando
sobre a fragilidade deste argumento, enquanto eu pensei que se tratava de um
conceito excelente. Vou dizer do porque acho isso.
Desde o primeiro episódio, sabemos que os uniformes possuem
vida, são seres sencientes. Então, eu não vejo o porquê da surpresa negativa,
afinal, o que mais poderia ser? É uma justificativa com um quê mais Cientifico e
menos Alta Fantasia.
De cara, esse conceito me lembrou de uma sequência emblemática
do clássico 2001 – Uma Odisseia no Espaço, do cineasta Stanley Kubrick.
Na passagem em questão, uma tribo de macacos está à procura
de comida no deserto africano, até que encontram outra tribo de macacos em
frente a uma poça d’água e entram em conflito pela água e afugentam essa outra
tribo, que resignados, adormecem em uma cratera de pedra exposta. Eles acordam
com um enorme monólito diante deles, e começam a grunhir e pular em torno do monólito.
Pouco depois, um dos macacos percebe que posa usar o osso de um esqueleto à sua
frente como ferramenta para conseguir comida. Ele mata uma presa com ela e se
alimenta. Mais um tempo depois eles se sentem confiantes para retomar o
controle da poça d’água usando a ferramenta como arma para matar o líder da
outra tribo e afugentar seus seguidores (dica: eu adoro esse site http://www.kubrick2001.com/).
A partir de então, eles evoluem e o diretor corta para realidade
futurística (hahah há algo de gozado em
como antigamente enxergavam a década de 2000 como sendo O FUTURO; claro que
sempre houve muito misticismo por representar a virada do milênio. Detalhe: o
filme foi lançado em 1968), focando-se na densa complexidade tecnológica da
sociedade moderna para evidenciar a ambição evolutiva dos seres humanos a tal
ponto que a tecnologia, de tão evoluída, ganhara vida própria (o ponto máximo desse pensamento está na metáfora
de HAL 9000 como uma máquina senciente que tem medo da morte e que procura
eliminar qualquer ameaça humana à sua vida – o diretor deixa isso ambíguo e cargo
de interpretação, mas eu gosto da visão romântica).
Há outra aparição de monólito em um momento crucial do filme
que, ao meu ver, é uma metáfora para transcendência humana, mas sinto que me
empolguei demais falando desse filme.
O ponto que importa nessa questão é: supõe-se que foram
formas de vidas avançadas (que a gente
chama de alienígenas) que deixaram esses monólitos diante dos macacos, e
este monólito forçou uma consciência humana naqueles primatas, que então,
começaram a evoluir. O filme de Kubrik é só mais uma obra que trata deste tema,
que a bem da verdade é uma teoria antiga (Teoria
dos astronautas antigos), difundida principalmente pelo autor suíço Erich
von Däniken, com seu livro Eram os Deuses Astronautas?, lançado em 1968.
Mas se trata de uma crença antiguíssima (chamada ora de Antigos Astronautas, ora de Alienígenas do Passado)
onde sugerem que as divindades são seres extraterrestres que visitaram a terra
há milênios de anos e que sua alta tecnologia em um passado remoto de homens
primatas foi o que o fizeram serem vistos como divindades. Segundo essa crença,
esse contato influenciou drasticamente o desenvolvimento humano; cultural,
tecnológico, biológico e religioso.
Inclusive, muitos acreditam que, segundo essa lenda, Jesus
tenha sido na verdade um alienígena. Enfim, quem quiser saber mais detalhes,
joguem no Google. O essencial é: sem a visitinha dos nossos colegas alienígenas
(vamos entrar na brincadeira), não viveríamos
nessa sociedade pós-moderna repleta de avanços científicos. Muito
provavelmente, ainda viveríamos tempos pré-históricos, pois acredita-se que
muitas das invenções estavam muito além das capacidades humanas (como se acredita atualmente que nosso
intelecto e tecnologia está muito aquém para se pensar em qualquer viagem no tempo
ou descoberta de outras formas de vida na imensidão do universo).
Isto nos leva ao argumento utilizado em Kill la Kill.
"Sim, a humanidade foi escolhida pela roupa"– Aikuro Mikisugi
"Vieram para a terra em tempos antigos e evoluíram os
humanos!" – Aikuro Mikisugi
Como assim não é um conceito interessante o suficiente? Isto
me lembra que o vilão mais MOTHERFUCKA de Homem Aranha, o Venom, também traz
consigo este mesmo conceito. No caso, de roupas simbiontes alienígenas que
precisam do corpo humano para se alimentar (basicamente
falando).
Por um tempo eu fiquei pensando que o plano de Ragyou Kiryuin
era insano demais para ser credível. Sério que tudo se resume a comer todo
mundo, a destruir o mundo?
Só que, há este dialogo:
"Foi há duzentos anos que elas saíram de seu estado de
sono. Kiryuin Ragyou fez contato com a Fibra da Vida original, o que despertou
toda elas"– Aikuro Mikisugi
"No momento em que essa bola brilhante de tecidos
cruzou o espaço e tocou a terra, os humanos foram destinados a serem servos da
roupa" – Ragyou Kiryuin
200 anos, caralhos! É claro que as ações de Ragyou soam tão
absurdas, ela já se encontra num estado inumano. Mas será que é apenas isso?
Claro que não, com 6 episódios pela frente, muita coisa vai acontecer e muitas
verdades virão à tona. É provável até que a Ragyou Kiryuin antiga já não exista
mais. Seja como for, de Space Battleship Yamato 2199 aos filmes pipocões do Spielberg,
que alienígenas são vistos pelos humanos como seres ameaçadores, e, ainda é
cedo para isso, mas seria interessante se aquela bola de Fribras de Vida fosse
apenas uma entidade inorgânica capaz de evoluir (mas necessitando de um hospedeiro) e seguir seus instintos
primitivos. Neste caso, Ragyou e sabe-se lá mais quem, teriam alcançado um
estagio de intelecto cósmico de ascendência humana, tão comum em obras de H. P.
Lovecraft (principalmente no livro A
montanha da loucura, em que ele utiliza o conceito de Astronautas Antigos),
também presente nas obras do Junji Ito, Gen Urobuchi e em Evangelion.
É o pensamento não-humano, que dominado por forças cósmicas,
perde sua sanidade ou humanidade. Apesar de que Nui me parece mais lúcida que
Ragyou, e se for o caso, quem sabe ela apenas não quer usar a Fibra de Vida
para proveito próprio (como subjugar a
todos e se tornar um poder supremo)?
A própria Ragyo se assemelha a um deus, tal qual a natureza cósmica
de diversos mitos. Penso que pode ser algo assim, por causa da cena final da
crucificação, que é uma referência à Lilith de Evangelion, mas também pode ser
uma dica do que ela é realmente e o que pretende. Ela disse certa vez que os
Kiryuuins não passavam de porta voz para o COVERS, é previsível que terá mais
alguma informação dando sentido a isto tudo.
***
PARTE 3: CORPO HUMANO COMO FONTE INESGOTÁVEL DE ENERGIA
Tudo isso sobre a verdadeira essência das Fibras de Vida faz
um belo contraste com o discurso da Satsuki, de que pessoas são porcos em pele
humana (dica: Pessoas são porcos empele humana), ao ver o quão transloucados e amorais ficam diante a
aquisição de poder, vide o belo eco que isto faz naquele episódio centrado na amável
e inescrupulosa família Mankanshoku (dica:
E Se a Mako Morresse...?). Serão os seres humanos tão suscetíveis à perversão
moral, uma vez que sua moralidade entre em choque com seus interesses práticos?
Será você é capaz de se manter incorruptível frente a um grande dilema?
Essa sequência de imagens acima é seminal para compreender
um pouco de Satsuki e deste conceito. No duelo com Ryuuko, ela foi muito além
de suas capacidades físicas ao utilizar Junketsu tão exaustivamente (culpa da Ryuuko que se mostrou bem mais
resistente no confronto, demonstrando seu amadurecimento). Imagino que
estes uniformes realmente exijam muita resistência do corpo e da mente (novamente o roteiro se mostra bem amarrado
ao evidenciar estes efeitos nocivos em Ryuuko, quando esta é sugada e perde
completamente a sanidade), porque ela chega a chorar. Tudo bem que são
lágrimas de dores físicas, mas nunca imaginei ver Satsuki chorando e ajoelhada.
É exatamente por isso que acredito que muitos fizeram a
leitura errada dessa sequência sugestiva entre Ragyou e Satsuki. Não acredito
em metáfora para estupro. O que há é uma Satsuki esgotada física e
psicologicamente. Densa. Retraída. Fragilizada. É da própria personalidade de
Satsuki não abrir a guarda e perder o controle sobre as suas ações. Ela é
sempre muito autocontida, mesmo quando decidiu que: se mostrar o corpo era
apenas mais um passo para alcançar seus objetivos, ela não teria problema algum
nisso – eram gestos totalmente calculados. E se o seu estado psicológico tenso
e sua personalidade já não fossem o suficiente para a leitura dessa cena fosse
exata, Ragyou ainda completa:
"Os humanos são seres tão frágeis. Quando estamos nuas
assim, o nervosismo domina. Faz querermos cobrir os nossos corpos nas maravilhas
conhecidas como roupas"
A cena, com Satsuki com as mãos para cima como se estivessem
amarradas, evidencia a sua completa submissão à Ragyo (ou pelo menos, este era o jogo de Satsuki) e o controle que esta
exercia sobre ela. Porém, não é uma sequência para sentir repugnância.
É uma sequência normal, de toques em pontos vitais da
Satsuki, que a deixam excitada e a faz relaxar. É obvio que para alguém como
Satsuki, tão focada nos seus planos e com tantos conflitos internos, ter o seu
corpo tão desprotegido diante de uma pessoa que cresce à sua frente é algo que
a deixará densa e retraída no momento do toque. Ouso dizer que Satsuki não sabe
o que é ter sexo ou prazer sexual, exatamente por todos os motivos citados
assim (mas se tratando de anime, isso é
até normal, heh). Os gestos de Satsuki ao ser tocada por Ragyou (hahaha não há duvidas do qual era o
objetivo naqueles toques) são verossímeis. Você que nunca transou nem deixou
seu corpo desnudo e passivo diante de alguém, e talvez nunca tenha se
masturbado, e muito provavelmente não sabe o que é ter um orgasmo, com certeza
ficará tão retraído e denso, quanto Satsuki. O fato de ela ser mulher e estar tendo
suas partes intimas tocadas por outra mulher [que por acaso é sua mãe], dão
ainda mais ênfase à reação de Satsuki. Os tabus envolvendo prazer sexual entre
a mulher japonesa é ainda mais latente que a média, e caramba, até eu ficaria
tensa pra caralho se fosse a minha mãe me tocando ali. É um momento muito
intimo.
Aliás, há uma sequência parecida em Cisne Negro (veja aqui. De nada), onde o professor
da protagonista a questiona se ela se masturba. Com a negativa evidente, ele
conclui que sentir prazer a farar ficar menos densa e ajuda-la a ultrapassar seus
limites com a dança, e lhe diz para se masturbar quando chegar em casa.
Para Satsuki, era algo necessário. Eu sabia que havia um
proposito maior do que apenas libidinagem, e compreendi ao ver seu semblante
relaxado após o ritual que ela havia recuperado o equilíbrio interno que o
Junketsu havia sugado. Tanto é que na sequência posterior, ela já aparece trajando
o Junketsu.
Só que eu não sabia o que era exatamente aquela técnica. Ok,
na prática chamamos de sentir o próprio corpo, de orgasmo, de masturbação, mas
há uma complexidade de técnicas para o objetivo comum de lidar com situações estressantes.
Por exemplo, há uma técnica chamada Sexo Tântrico, que possui o propósito de
alcançar o prazer EXTREMO, maior do que o simples orgasmo tradicional. Há ainda
outra técnica hindu que propõe o orgasmo sem qualquer relação sexual, apenas
com toques nas regiões mais sensíveis, bastante uma pessoa estar nua (eu esqueci o nome, mas vi isso num
documentário, e havia até clinicas especializadas nesta massagem especial. Você
iria?).
Descobri que o nome do que Ragyo faz é Chakra, e o intuito
do ritual de purificação era despertar isto em Satsuki. E finalmente algumas
coisas começam a se encaixar, como a intensa luz colorida que emana de Ragyou,
que já notávamos em Satsuki, porém com uma intensidade bem menor. Eu sempre
achei que aquilo era só uma composição visual para enaltecer a superioridade e fascinação
exercida por ela, mas estava enganada. Essa luz representa todas as cores do
chakra combinadas, o que só pode significar que a pessoa de onde ela sai, está
emanando uma energia surprema. Satsuki emana energia provavelmente pela
estimulação que sofre do seu Junketsu, que possui Fibras de Vida, mas Ragyou
não usa uniforme, mas emana poder de seu corpo. O que só pode significar que ela
já está completamente corrompida e tomada por essas fibras. Algo que ninguém
mais consegue, e por isso, não é exagero crer em sua divindade.
Chakras, ou chacras é uma energia contida no interior de
cada ser humano e representam diferentes aspectos da natureza humana através
das suas cores, que formam um arco-íris. Segundo as crenças, temos no total 7
chakras, que abrange corpo físico, emocional, mental e energia vital. As
tradições hindus/budistas dizem que os chakras são enormes fontes de energia em
nossos corpos que governam o psicológico (força
interior) e são os principais responsáveis pelo bem estar e disposição.
Porém, eles são confinados e autocontidos, e embora as pessoas já nasçam com
chakras abertos, eles podem se tornar quase fechados. A técnica propõe
exatamente em abrir estes chakras, e é o que Ragyo faz com Satsuki. Talvez este
seja o segredo para Ragyo ostentar tamanho poder. Fiquemos de olho!
***
PARTE 4
(esse fica pra outro
post)
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