domingo, 16 de fevereiro de 2014

Demon City Shinjuku (1988) – Cidade Demoníaca

Mais de 3 décadas vencendo inimigos demoníacos pela força de vontade e poder do amor.


Adaptado da light novel de Hideyuki Kikuchi [também autor de Vampire Hunter D e Wicked City], esse OVA tem inicio em meio a uma batalha entre o bem e o mal, na cidade de Shinjuku.  Rebi Ra (Kiyoshi Kobayashi), representante do mal, enfrenta o benéfico herói Genichirou (Banjou Ginga). Rebi Ra vendeu sua alma ao capeta (ou fez um pacto, ou deixou-se possuir, como preferir) a fim de conquistar o mundo. A condição é que ele abra um portal existente bem abaixo de Shinjuku, liberando o portal para que terríveis criaturas infernais infestem o mundo.

Genichirou consegue dar um cansaço em Rebi Ra, mas no fim acaba derrotado e um terremoto desola uma parte de Tokyo, tornando Shinjuku uma cidade fantasma habitada apenas por marginais da pior estirpe e demônios, enquanto Rebi Ra dorme, aparentemente para recuperar suas energias e continuar com seu plano maligno. Dez anos depois, fica claro que os incidentes daquele dia causaram uma grande mudança no mundo, implicando que os países se tornaram províncias. O Presidente do Mundo, cargo criado para defender a paz mundial, é atacado indiretamente por Rabi Ra, que ainda dorme, mas consegue influenciar os demônios pela força do pensamento para que cumpram suas vontades. Com isto, ele espera desestabilizar o mundo e manter seu mestre e protetor pessoal do presidente, ocupado. Ele só não esperava que Genichirou tivesse um filho que herdou seus poderes. O problema é que Kyoya Izayoi (Hideyuki Hori) ainda não está desperto e não tem o menor interesse em arriscar seu pescoço contra alguém que ele não tem a mínima chance.

Só que as coisas mudam quando ele se encontra com a bela Sayaka Rama (Hiromi Tsuru), filha do presidente. Ele que estava resoluto, tem seu senso de proteção desperta e de repente, se sente perfeitamente capaz de enfrentar marginais e demônios com uma única espada de madeira. Embriagado pelo cheiro de xoxota, Kyoya se transforma num verdadeiro herói.

O problema dessas histórias centradas em bem VS mal é que as motivações soam muito falsas e os personagens limitados em termos de conflitos. Pelo lado do herói se torna fácil criar bons conflitos, uma vez que a força antagônica indiretamente o força a olhar as coisas à sua volta por outro ângulo. Por outro lado, o antagonismo corre o risco de ficar refém da superficialidade da sua motivação. Porém, quando o enredo se centra apenas no embate dessa polaridade preto e branco, a narrativa fica fraca (é preciso ir além, adicionar qualquer camada de humanidade, que seja, nas motivações), porque neste caso o lado antagônico não possui uma motivação forte capaz de gerar empatia. E mesmo com um personagem que poderia se mostrar promissor (falo da cidade fantasma de Shinjuku, quase desértica, entorpecida pelas trevas), Yoshiaki Kawajiri não sabe extrair algo bom disso.

O filme é reto como uma flecha e igualmente seu percurso. O problema não é ser previsível, mas a falta de inventividade no percurso. Isso acontece por os personagens serem mal explorados, ou se pensarmos que é uma história sobre o mundo, pode-se dizer que então foi a ausência de situações conflitantes verdadeiras – e é ai que entraria a cidade de Shinjuku como um personagem latente no enredo, e até mesmo Kyoya e Sayaka possuem bastante potencial inexplorado ou explorado de modo muito caricatural. Mesmo essa plasticidade dos personagens, poderia vir a servir bem ao enredo, se o mundo do filme fosse interessante dramaticamente por si só.
Sayaka tem um conceitual design lindo, mas é isso, apenas bonitinha e ferramenta motivadora do mocinho. Sayaka é o que chamam de ojou-sama (mas ao contrário da grande maioria retratadas em animes e mangás, ela é simpática e muito amável), tem um coração benevolente, sendo capaz de ir sozinha para uma cidade como Shinjuku, repleta de estupradores, bandidos terríveis e demônios, apenas com sua esperança e força de vontade. O senso de perseverança e inocência de Sayaka desafia até o sentido lógico do perigo de uma criança. Se você pensa que donzelas em apuros são fracas, Sayaka é quase que uma desconstrução do gênero, rs. Confia em homens suspeitos numa cidade deserta onde ela é a única mulher visível e derrota demônios apenas com a força do seu coração gentil. Quase uma professora Helena.
O character designer do Kawajiri é sempre algo agradável aos olhos, sua arte arredonda com contornos bem detalhados é um deslumbre. Kyoya também tem um design lindo e até uma expressividade que inicialmente gera confiança, mas aos poucos vai desmoronando em apatia e se mostrando apenas uma porta que enfrenta e derrota inimigos com sua espada de madeira para salvar Sayaka. E vai se repetindo a mecânica durante todo o OVA. Aos poucos, ele desperta o senso de justiça, mas ainda é inexpressivo diante de uma força sem igual como a de Rebi Ra. A saída é encontrar uma justificativa deus ex-machina, que além do mais é abrupta e anticlimática. O filme fecha com um beijo (sei que não vai se importar com esse spoiler, confie em mim), e isto sela o que foi a construção de um enredo onde a motivação do herói é a garota, porém, culmina em um resultado vazio por sua interação (entre eles e com o universo criado) não sair da formula pronta, sem qualquer arroubo de vivacidade, sendo o beijo apenas um desenlace formulaico que existe apenas para cumprir a demanda, sem espontaneidade.

Esse é mais um dos meus achados que encontrei perdido no meu HD (as vezes me surpreendo com as coisas que baixei e acabei esquecendo). Confesso ter um fetiche pessoal em assistir essas produções medíocres. Para os padrões de Yoshiaki Kawajiri, achei Demon City Shinjuku bem contido, tanto em termos de violência gráfica, quanto à misoginia. É um filme inofensivo. Mas também, perto de outros mais brutais de Kawajiri, como Yoju Toshi: Wicked City e Bio Hunter (ambos já comentados no blog) é um longa metragem apático. Não que seus outros filmes sejam tão melhores assim ou mesmo bons, porém ao menos se percebe certa densidade dramática. Já é algo além da inercia. Vale ressaltar que, assim como outros trabalhos do diretor, a trilha sonora é um tanto quanto inexpressiva, se resumindo a alguns flertes eletrônicos e sons de efeitos.
No entanto há algo que se destaca mais aqui que em seus demais filmes: o visual. Além do design, a animação é realmente boa, algo acima da média para a época quando o assunto é OVA, com uma animação suave e algumas sequências até que com um olhar atraente. Por exemplo, na melhor sequência, quando o diretor sai da animosidade é justamente ao se distanciar do casal e focar num personagem secundário (que aparentemente deve ter alguma importância na obra original). Um charmoso e perigoso jogo de sedução entre ele e uma youkai, que possui o corpo elástico e esguio como o de uma cobra. Eles se jogam na mesa, dizem coisas provocantes um para o outro e o clímax é explosivo. É deste tempero que Demon City Shinjuku precisava. 

Nota: 04/10
Diretor: Yoshiaki Kawajiri
Roteiro: Kaori Okamura
Estúdio: Madhouse
Tipo: OVA
Duração: 82 min.

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