Mais de 3 décadas vencendo inimigos demoníacos pela força de vontade e poder do amor.
Adaptado da light novel de Hideyuki Kikuchi [também autor de Vampire Hunter D e Wicked City], esse OVA tem inicio em
meio a uma batalha entre o bem e o mal, na cidade de Shinjuku. Rebi Ra (Kiyoshi Kobayashi), representante do mal, enfrenta o benéfico herói Genichirou (Banjou Ginga). Rebi Ra vendeu sua alma ao capeta (ou
fez um pacto, ou deixou-se possuir, como preferir) a fim de conquistar o
mundo. A condição é que ele abra um portal existente bem abaixo de Shinjuku,
liberando o portal para que terríveis criaturas infernais infestem o mundo.
Genichirou consegue dar um cansaço em Rebi Ra, mas no fim
acaba derrotado e um terremoto desola uma parte de Tokyo, tornando Shinjuku uma
cidade fantasma habitada apenas por marginais da pior estirpe e demônios,
enquanto Rebi Ra dorme, aparentemente para recuperar suas energias e continuar
com seu plano maligno. Dez anos depois, fica claro que os incidentes daquele
dia causaram uma grande mudança no mundo, implicando que os países se tornaram
províncias. O Presidente do Mundo, cargo criado para defender a paz mundial, é
atacado indiretamente por Rabi Ra, que ainda dorme, mas consegue influenciar os
demônios pela força do pensamento para que cumpram suas vontades. Com isto, ele
espera desestabilizar o mundo e manter seu mestre e protetor pessoal do
presidente, ocupado. Ele só não esperava que Genichirou tivesse um filho que
herdou seus poderes. O problema é que Kyoya Izayoi (Hideyuki Hori) ainda não está desperto e não tem o menor
interesse em arriscar seu pescoço contra alguém que ele não tem a mínima
chance.
Só que as coisas mudam quando ele se encontra com a bela
Sayaka Rama (Hiromi Tsuru), filha
do presidente. Ele que estava resoluto, tem seu senso de proteção desperta e de
repente, se sente perfeitamente capaz de enfrentar marginais e demônios com uma
única espada de madeira. Embriagado pelo cheiro de xoxota, Kyoya se transforma
num verdadeiro herói.
O problema dessas histórias centradas em bem VS mal é que as
motivações soam muito falsas e os personagens limitados em termos de conflitos.
Pelo lado do herói se torna fácil criar bons conflitos, uma vez que a força antagônica indiretamente
o força a olhar as coisas à sua volta por outro ângulo. Por outro lado, o antagonismo corre o risco de ficar refém da superficialidade da sua motivação. Porém, quando o enredo
se centra apenas no embate dessa polaridade preto e branco, a narrativa fica
fraca (é preciso ir além, adicionar
qualquer camada de humanidade, que seja, nas motivações), porque neste caso o lado
antagônico não possui uma motivação forte capaz de gerar empatia. E mesmo com um
personagem que poderia se mostrar promissor (falo da cidade fantasma de Shinjuku, quase desértica, entorpecida
pelas trevas), Yoshiaki Kawajiri não sabe extrair algo bom disso.
O filme é reto como uma flecha e igualmente seu percurso. O
problema não é ser previsível, mas a falta de inventividade no percurso. Isso
acontece por os personagens serem mal explorados, ou se pensarmos que é uma
história sobre o mundo, pode-se dizer que então foi a ausência de situações
conflitantes verdadeiras – e é ai que entraria a cidade de Shinjuku como um personagem
latente no enredo, e até mesmo Kyoya e Sayaka possuem bastante potencial inexplorado ou explorado de modo muito caricatural. Mesmo essa plasticidade dos personagens, poderia vir a servir bem ao enredo, se o mundo do filme fosse interessante dramaticamente por si só.
Sayaka tem um conceitual design lindo, mas é isso, apenas
bonitinha e ferramenta motivadora do mocinho. Sayaka é o que chamam de
ojou-sama (mas ao contrário da grande
maioria retratadas em animes e mangás, ela é simpática e muito amável), tem
um coração benevolente, sendo capaz de ir sozinha para uma cidade como
Shinjuku, repleta de estupradores, bandidos terríveis e demônios, apenas com
sua esperança e força de vontade. O senso de perseverança e inocência de Sayaka
desafia até o sentido lógico do perigo de uma criança. Se você pensa que
donzelas em apuros são fracas, Sayaka é quase que uma desconstrução do gênero,
rs. Confia em homens suspeitos numa cidade deserta onde ela é a única mulher
visível e derrota demônios apenas com a força do seu coração gentil. Quase uma
professora Helena.
O character designer do Kawajiri é sempre algo agradável aos olhos, sua arte arredonda com contornos bem detalhados é um deslumbre. Kyoya também tem um design lindo e até uma expressividade
que inicialmente gera confiança, mas aos poucos vai desmoronando em apatia e se
mostrando apenas uma porta que enfrenta e derrota inimigos com sua espada de
madeira para salvar Sayaka. E vai se repetindo a mecânica durante todo o OVA. Aos
poucos, ele desperta o senso de justiça, mas ainda é inexpressivo diante de uma
força sem igual como a de Rebi Ra. A saída é encontrar uma justificativa deus
ex-machina, que além do mais é abrupta e anticlimática. O filme fecha com um
beijo (sei que não vai se importar com
esse spoiler, confie em mim), e isto sela o que foi a construção de um
enredo onde a motivação do herói é a garota, porém, culmina em um resultado
vazio por sua interação (entre
eles e com o universo criado) não sair da formula pronta, sem qualquer
arroubo de vivacidade, sendo o beijo apenas um desenlace formulaico que existe
apenas para cumprir a demanda, sem espontaneidade.
Esse é mais um dos meus achados que encontrei perdido no meu
HD (as vezes me surpreendo com as coisas
que baixei e acabei esquecendo). Confesso ter um fetiche pessoal em
assistir essas produções medíocres. Para os padrões de Yoshiaki Kawajiri, achei
Demon City Shinjuku bem contido, tanto em termos de violência gráfica, quanto à
misoginia. É um filme inofensivo. Mas também, perto de outros mais brutais de
Kawajiri, como Yoju Toshi: Wicked City e Bio Hunter (ambos já comentados no blog) é um longa metragem apático. Não que
seus outros filmes sejam tão melhores assim ou mesmo bons, porém ao menos se percebe certa
densidade dramática. Já é algo além da inercia. Vale ressaltar que, assim como outros trabalhos do diretor, a trilha sonora é um tanto quanto inexpressiva, se resumindo a alguns flertes eletrônicos e sons de efeitos.
No entanto há algo que se destaca mais aqui que em seus
demais filmes: o visual. Além do design, a animação é realmente boa, algo acima
da média para a época quando o assunto é OVA, com uma animação suave e algumas sequências até que
com um olhar atraente. Por exemplo, na melhor sequência, quando o diretor sai da
animosidade é justamente ao se distanciar do casal e focar num personagem
secundário (que aparentemente deve ter
alguma importância na obra original). Um charmoso e perigoso jogo de
sedução entre ele e uma youkai, que possui o corpo elástico e esguio como o de
uma cobra. Eles se jogam na mesa, dizem coisas provocantes um para o outro e o
clímax é explosivo. É deste tempero que Demon City Shinjuku precisava.
Nota: 04/10
Diretor: Yoshiaki Kawajiri
Roteiro: Kaori Okamura
Estúdio: Madhouse
Tipo: OVA
Duração: 82 min.
ANN: http://goo.gl/db98ho
MAL: http://goo.gl/8V27YG
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