Um novo caso misterioso onde o réu é abertamente culpado
coloca Cecil num dilema moral.
No post anterior, eu
comentei de como os casos de magos infratores pegos pelo escritório de
advocacia Butterfly, de alguma forma, sempre se mostravam inocentes. No fundo,
eu sempre quis ver um pouco do outro lado da moeda também, porque é impensável que
no mundo todos que despertem suas habilidades wuds se transformem magicamente
em seres iluminados. Mas eu não sabia dessa ideologia da Butterfly, de apenas
pegar casos com chances de vitória. Ou seja, de algum modo a pessoa pode se
revelar inocente. Vem bem a calhar para a proposta (acho que é mais pelo fator identificação com o espectador, uma vez que
essa é a característica de qualquer obra deste aspecto, com exceção de quando a
defesa é retratada como amoral e destituída de valores: geralmente personagens
assim são caracterizados como frios, arrogantes, manipuladores, objetivos, que
fazem qualquer coisa para alcançar o que querem) e faz bem sabermos da existência
dessa ideologia, pois torna o contexto mais consciente.
Mas o caso em si me soou bem fraco, do inicio ao fim, mesmo
com a reviravolta final, que dá uma justificativa às ações dos magos
infratores, que num primeiro olhar, certamente soaria um tanto quanto
contraditório. Afinal, armar toda aquela cena (incluindo as dicas sutis que despertariam a atenção de Cecil e a
faria ligar os pontos, ainda que não entendesse completamente os motivos; o que
já bastaria para atraí-la) apenas para atrair Cecil e impedi-la de seguir
adiante em seus planos, seria um exagero, levando em conta que uma garota que
anda por aí desprotegida, não deve ser tão difícil de ser alvejada sem ao menos
se dar conta de onde veio o golpe. Porém, a intenção não é lhe fazer mal, mas
coagi-la num cativeiro em que estaria impossibilitada de usar seus poderes,
obrigando-a a evoluir. É uma justificativa bem amarrada e que vai de encontro à
possibilidade de um evento de nível apocalíptico, no futuro, sendo Cecil aquela
pessoa especial e única que pode salvar a todos. Já vimos isso antes, não? Ou
será que vamos nos surpreender?
Este caso colocou Cecil num dilema moral e representa mais
uma pedrinha em sua caracterização. Nunca estudei advocacia, não tenho amigos
que estudam ou são advogados pra saber, mas posso imaginar que no inicio, essa
questão deve pairar na mente de muitos que querem seguir por este caminho.
Apenas pegar casos em que você acredita na idoneidade do réu ou passar por cima
de questões morais e defende-lo, independente do que você acredita? Eu ouvi uma
vez, não sei da boca de quem, nem onde, que para uma melhor defesa, o réu
deveria se abrir e contar a verdade para o advogado, que montaria sua
estratégia a partir disso (logicamente,
assim como padres, creio que eles não podem abrir o sigilo que há entre réu e
defesa). Enfim, estou apenas divagado, para dizer que...
O fato é que o roteiro deste episódio foi apático e incapaz
de tirar melhor proveito de uma direção mais lenta, algo raro nessa série, até
aqui. A premissa foi boa, mas o texto perde tempo demais com blá-blá-blás que acrescentaram
muito pouco ao enredo ou aos personagens. Vamos lá. O lado infantil da Cecil,
que geralmente é usado como alivio cômico, neste episódio fica exposto ao
extremo. Eu acho que o problema não é tanto a infantilidade em si, mas o modo
como ela se comporta que a faz parecer mais uma criança de 10 anos e menos uma
garota de 17. A infantilidade [que também carrega consigo a ingenuidade] é
inerente do ser humano, e com 17 anos, ela ainda se mostra bastante latente,
porém, o modo de se portar é ligeiramente diferente. Ainda que suas ações sejam
típicas de uma criança em determinados momentos e que sua imaturidade te impeça
de ver uma questão por múltiplos ângulos, tendemos a reagir de um modo muito
mais grave do que doce em determinadas situações conflitantes. Essa sutileza
expressiva é algo que a direção não conseguiu extrair, muito menos o roteiro.
Claro que Cecil é a típica personagem de anime que, pode ter
um corpo evoluído, mas se comporta muito semelhante a um pré-púbere. Mas isso
não impede que mãos habilidosas possam lhe atribuir nuances que tornem sua
personagem o mais verossímil possível para determinado contexto. Depois de
muitos diálogos, o episódio encerra sem qualquer evolução por parte de Cecil; o
que é bem obvio, tendo em vista que o roteiro se mostrou desestruturado, não
tendo um ponto fixo onde concentrar sua atenção. O dilema é de longe o aspecto
mais interessante aqui, mas seu conflito se mostrou insonso e sem evolução,
assim como os outros diversos pontos que o roteiro tentou cobrir, sem sucesso. O que me leva de volta ao que eu disse sobre Wizard
Barristers se sair melhor quando é a direção dinâmica e transloucada que assume
o controle dos eventos, com o roteiro apenas preenchendo o básico. Não é uma
série de história forte e sim uma série que deve tentar o seu melhor
visualmente e nos aspectos de ação. É o tipo de episódio em que é a personagem
que cresce na tela: como se viu no final, o caso foi apenas um pretexto para
estimular Cecil. Crise de personalidade foi o que o episódio sofreu!
Avaliação: ★ ★ ★ ★ ★
______________________
Único momento que Cecil exibe uma reação que vai de encontro ao seu conflito moral. Uma boa cena, onde o réu brinca com sua instabilidade emocional e faz insinuações sexuais. Boa cena porque ela tem uma atitude que se esperaria numa situação real. Infelizmente, isto não é melhor desenvolvido pelo roteiro no decorrer do episódio, o que faz a sequência final com ela dizendo à Ageha que não sabia se seria capaz de seguir aquele código moral, perder muito em intensidade. Uma pena.
Pelo visto, temos uma personagem duas-caras aqui.
***
Curta o Elfen Lied Brasil no Facebook e nos Siga no Twitter