domingo, 20 de abril de 2014

Chuunibyou Demo Koi ga Shitai Ren (2014): Amor & Desilusões

Descobertas de novos sentimentos e o medo de perder o que se tem. 
Há um momento nessa segunda temporada de Chuunibyou demo Koiga Shitai!, em que a Nibutani (Chinatsu Akasaki) vira para Shichimiya (Juri Nagatsuma), que passa por um dilema amoroso e moral, e diz:

Nibutani: Shichimiya.
Shichimiya: Hm?
Nibutani: O que você vai fazer?
Shichimiya: Eu não vou mudar. Serei para sempre a Garota Mágica Demoníaca que governará as Sete Terras Magicas Sagradas.
Nibutani: Eu acho que... Eu acho que não será tão fácil.

Para complementar esse belo diálogo, há outra sequência neste mesmo episódio [10], que sentencia definitivamente a luta de Shichimiya contra não apenas os impulsos de seus sentimentos, mas também de sua evolução natural. Não é necessário descrever, apenas olhe essa bela sequência desenhada e dirigida por Yasuhiro Takemoto (perfil no ANN):
Chuunibyou demo Koi ga Shitai! Ren (Love, Chunibyo & Other Delusions! -Heart Throb-) é o que se enquadra no que descrevi neste post sobre continuações desnecessárias. Mas quando o sucesso bate à morte, não se pode julgar uma empresa por continuar investindo no que deu certo. Dessa forma, essa segunda temporada novamente dirigida por Tatsuya Ishihara (Haruhi Suzumiya e trilogia Key) e roteirizada por Jukki Hanada (Kyoukai no Kanata, Steins;Gate), pega emprestado um fragmento da light original e o adapta ao seu universo – dessa vez a série abandona a comédia romântica e o melodrama para tecer em ritmo folhetinesco uma triangulo amoroso, contando uma história repleta de redundâncias. Conflitos que são criados e desconstruídos, para serem novamente construídos, e então desconstruídos, para justificar o novo argumento.

Para quem é realmente fã de série e de seus personagens, assim como eu sou, claro que foi uma jornada com diversos momentos agradáveis. A intensificação da rivalidade repleta de carinho mútuo entre Nibutani e Dekomori (Sumire Uesaka) é um dos meus pontos favoritos nesta temporada. A Dekomori estava endiabrada, sem quaisquer limites. O seu alvo preferido era constantemente a Nibutani, e foram vários momentos que não pude deixar de me rir dessas duas. A staff de criação desenvolve entre elas o que se chama de Akogare, uma adoração (no caso, por parte de Dekomori) de uma garotinha por uma garota mais velha. Uma admiração que chega num nível de adoração, muitas vezes, chegando a confundir os sentimentos, praticamente estabelecendo uma paixão unilateral (é muito comum em mangás shoujo ou shoujo-ai, garotas suspirando por suas senpais). No caso dessas duas, eles estabelecem uma relação de tsunderismo, que invariavelmente é um conceito que expressa amor reprimido. Essa tensão [quase ou completamente] sexual entre as duas é mais explorada nessa temporada.  Também foi bom ver a Nibutani ter mais espaço para se expressar, acho meigo por demais que, por mais que às vezes entre no jogo da Dekomori, ela estar sempre se comportando como uma irmã mais velha para a garotinha. Este olhar maternal também se estende para os outros personagens.

Essa temporada é bem dirigida, com belos storyboards e tramas paralelas que divertem – até cheguei a afirmar certa vez que ninguém mais sabia fazer episódios de viagens/excursão, festivais e praia/piscina como o estúdio KyoAni, e particularmente continuo pensando assim. Mas infelizmente não conseguiu fugir da clara impressão de que foi uma temporada vazia e sem proposito. O argumento tem potencial, mas é condenado a dar voltas a esmos por não ter coragem de cruzar a linha. Apenas ameaça, com um passo para frente e dois passos para trás. Rikka (Maaya Uchida) não se sente preparada para dar o passo seguinte em sua relação com Yuuta (Jun Fukuyama). No caso deles, significa beijar. Dar o primeiro beijo de boca. No Japão, o beijo costuma ser mais estimado e reservado que o próprio ato sexual. Considerando a história de fundo de uma personagem como a Rikka, esse seu temor e insegurança em cruzar esta delicada linha é compreensível, e, portanto, uma temática teoricamente interessante para se trabalhar numa sequência, mostrando sua possível evolução.  Yuuta a compreende e ambos resolvem deixar acontecer naturalmente. Esse conflito é envolto em belas metáforas, como a do diálogo representado no inicio do post. Abandonar o Chuunibyou é dizer adeus a uma fase de sua infância e trilhar o caminho para a maturidade.
Rikka e Ichimiya, extremamente apegadas a esta fase, se negam a crescer e viver novas possibilidades inerentes à idade por medo de encarar os desafios e conflitos propostos pela mesma. Na realidade mascarada em que vivem, elas estão protegidas, não precisam lidar com nenhum conflito complexo, tudo se resolve lutando. É divertido ser criança, afinal. É aqui que Ichimiya ganha um papel de destaque, assumindo uma função de ameaçar os status quo de Rikka, obrigando-a confrontar seus medos e inseguranças. Sair de sua concha. Eu cheguei a ficar bem animada com esta possibilidade que se apresentava. E entre tantas boas decisões criativas, estava a de ilustrar visualmente o corpo de Rikka, Yuuta e Ichimiya aflorando pra adolescência. É quando você se dá conta que sua colega é uma garota, que tem um belo corpo e passa a vê-la e tratá-la como alguém do sexo oposto. Quando você começa a se sentir atraída por aquele garoto, quando ficar perto ou roçar as peles começa incomodar. Se agarrar ou olhar por muito tempo no olho do outro então, nem pensar. Isto se desenvolve de forma latente em Yuuta que começa a ter altas fantasias eróticas, em Rikka que já não se satisfaz apenas em estar namorando; quer fazer coisas comuns que namorados fazem, e Ichimiya que sente o coração doer amargamente ao perceber que ama, e que o alvo dessa paixão não retribui seus sentimentos.

Se por um lado a série acerta em não tornar Yuuta um personagem divido, mas sempre resoluto em olhar e amar apenas Rikka, evitando conflitos típicos do triangulo amoroso que geralmente duram mais do que deveriam – por outro falha em não levar adiante nenhum desses conflitos. A narrativa cria diversos mini-arcos climáticos que não duram muito, não explorando ou aprofundando estes conflitos devidamente, optando por manter o status quo. É uma narrativa que se auto-anula. O melhor exemplo se trata dos episódios 10, 11 e 12, que representam o clímax definitivo, mas isto é só em teoria. O momento onde Ichimiya e Rikka deveriam defrontar seus sentimentos e ser para nós uma catarse emocional, obviamente nunca acontece de fato – o que eu chamo de coito interrompido. Tornando a estrutura em si deste argumento altamente inconsistente.
Como a maioria das séries que o KyoAni produz, essa é uma série que trata sobre o crescimento e amadurecimento, que sempre provoca um choque entre realidades. Mas o que funcionou tão bem na primeira temporada e que se encaixa na definição dada pela Kumi (Azumi Asakura) – “Já ouviu dizer que o amor é como um sonho, não ouviu? Com um sonho eventualmente você acaba acordando. É difícil nos forçar a acordar.–, aqui soa mais como um sono eterno, onde o sonho numa acaba.

Você não precisa deixar de sonhar, assim como também não precisa viver para sempre numa ilusão. Com medo de arriscar, a série de deixa de entregar uma forte catarse, presente em séries como Honey and Clover ou mesmo Toradora, para se contentar com um final medíocre onde personagens e tramas não entregam todo o potencial que demonstram, se mantendo a margem do que se ensaiou. O Chuunibyou (que representa muito mais do que seu significado lhe atribui no dicionário, mas uma fase da vida e os laços que unem todos aqueles personagens) que a principio funciona como metáfora, se torna essencialmente vazio por não existir um ponto de ruptura, aprendizado ou amadurecimento. Então, é o momento em que você olha pra trás e se pergunta qual a moral deste argumento ou a que afinal serviu tudo isto. É apenas vazio de emoção. O final de KON!! ou Azumanga Daioh, acertam ao estabelecerem um ponto limite e assim possibilitando uma conexão com o espectador, acertando onde Chuu2Ren falha, se contentando em ser menor que a série original. 

Nota: 06/10
Direção: Tatsuya Ishihara
Roteiro: Jukki Hanada
Episódios: 12
Tipo: TV
Perfis: MAL, ANN, Anilis

Temas Relacionados:
-Chuunibyou demo Koi ga Shitai! – A Sacarina do KyoAni
-Sasami-san@Ganbaranai – Tradições Desmotivadoras
-WataMote – Não é Culpa Minha Eu Não Ser Popular!
-Pocket #12: O Melhor Amigo do Protagonista



***

Curta o Elfen Lied Brasil no Facebook e nos Siga no Twitter