Cadê o surto?
Higurashi deu muito certo como franquia multimídia e
[continua altamente rentável com diversos produtos licenciados], como
resultado, há diversos produtos extraoficiais. Higurashi Outbreak é uma
história curta, um conto escrito por Ryukishi07 em formato de livreto
especialmente para o Limited Edition Daybreak
Original Soundtrack – trilha sonora de um jogo de tiro homônimo com
personagens da série. Ou seja, raridade para fã mesmo pagar caro para ter um
item de colecionar que depois de um tempo vai se tornar raridade.
Consequentemente também não apresenta ambição em termos de
história, embora esta nova perspectiva traga possibilidades interessantes para
o universo da série.
Higurashi no Naku Koro ni Kaku ~Outbreak~ (literalmente: Quando as Cigarras Choram
Vermelho ~ Surto~) é uma adaptação desse conto para um OVA de 52 minutos
produzido exclusivamente como um brinde incluso na recém lançada máquina de
pachinko (imagem acima) licenciada com
o nome da série, da empresa Daiichi. Na história, vemos o pequeno vilarejo de Hinamizawa
em 27 de julho de 1983 novamente tomado por uma grave ameaça de epidemia.
Suspeita-se que um vírus ocasionado pela maldição do Oyashiro-sama tenha
emergido do pântano Onigafuchi. Isso faz com que as pessoas comecem a perder a
sanidade, com alterações de personalidade, agressividade e paranoia.
Não soa tão diferente do enredo básico da série clássica,
exceto que com a ameaça de epidemia coletiva, a vila é cercada por autoridades e
os seus moradores proibidos de deixarem o local, abandonados à própria sorte.
Já imaginou uma epidemia zombie em Higurashi? É basicamente isto que ocorre.
Com a loucura generalizada tomando conta de todos, Hinamizawa não demora a se
tornar um Battle Royale e adivinha quem são os alvos? Os forasteiros Keiichi (Souichiro Hoshi), Rena (Mai Nakahara) e Satoko (Mika Kanai), obviamente, que é
capturada como sacrifício para um ritual.
Com um cenário tão subversivo (em relação à série original) e com elementos de survival horror
era de se esperar que Higurashi Outbreak seguisse uma lógica própria, tal qual Higurashi Kira, afinal são reimaginações que não devem ser levadas tão a sério. Keiichi
e Rena enfrentando mano-a-mano 100 pessoas apenas com cutelo e taco de baseball?
E todas as implicações que isto, em tese, traria? Isso certamente teria de se
levado em consideração se fosse o universo original, em que suas personalidades
e modo de agir devem ser respeitadas. Mas isto é puro fanservice – não havendo
realmente uma grande diferença entre este OVA e os de Kira. Ou quaisquer outros
materiais extraoficiais, com traços sempre alterados.
Infelizmente é uma liberdade criativa que não é bem
explorada pela produção do studio Deen. Se é Rule of Cool, vamos ser Rule of
Cool (ações físicas envolvendo
personagens que são consideradas impossíveis e altamente viajadas, mas ainda
assim divertido de assistir. Onde ser implausível é ser legal) com
propriedade, mas diferentemente dos OVAs de Kira, Higurashi Outbreak não é um
produto visando o grande público – é apenas um extra e a qualidade, tanto em
termos de desenvolvido de cenário/história quanto de animação, é medíocre.
Todos os momentos de ação se passam durante a noite, o que não justifica a
direção obscurecer demasiadamente todo o cenário, focando apenas nas silhuetas
de Keiichi, Rena e um ou outro personagem random, evidenciando a pobreza da
animação, que apenas se concentra em alguns movimentos dos dois personagens
principais. Inclusive, durante essas sequências, é facilmente notável a ampla
utilização de animação em flash.
Assim sendo, a qualidade do character design, iluminação e
ausência de boas sequências de ação física com Keiichi e Rena matando geral, em
consequência estão ausentes. Se não tem bom Rule
of Cool, talvez a carga dramática que acompanha as ações dos personagens na
série original e o suspense inquietante pudessem fazer a diferença, mas aqui Keiichi
e Rena não agem da forma que se esperaria deles em plena sanidade nem tão pouco
demonstram sinais de psicopatia. Como disse, não há problema nisto, não é a
proposta desta história aprofundar os personagens ou respeitar suas
personalidades, mas por não conseguir corresponder plenamente ao que propõe
acaba por ser decepcionante.
No entanto, como fã saudosa, tenho que dizer que não foi uma
experiência tão ruim assim tampouco condeno a existência de tais projetos.
Inclusive, existe a possibilidade que haja mais projetos animados envolvendo
Higurashi em curto prazo, e histórias extras é o que não falta. Vai que uma
hora eles acertam?
Por fim, Higurashi Outbreak se divide em duas linhas de
perspectivas diferentes. Se na primeira metade há o mistério do desaparecimento
de Rika, que poderia solucionar todo aquele conflito, na segunda parte a
narrativa volta do inicio, interligando as tramas mostrando o outro lado do
conflito. Muitos acreditam que Ryukishi07 escreveu este conto através da
perspectiva da Takano Miyu, sendo Outbreak uma espécie de fanfic – uma das diversas
que a personagem escreveu em Tsumihoroboshi-hen. Através dessa percepção, fica
mais claro o porquê dela apresentar fatos com tanta certeza a partir da segunda
metade em relação à Síndrome de Hinamizawa. Mas hey, não é como se aparecesse
ela no final escrevendo a história. É um exercício imaginativo criativo de
expansão do universo e, não ter certeza; mas suspeitas, é o que mantém a chama
acesa.
Como uma última observação, deixo registrado que High Schoolof the Dead continua sendo o melhor anime de apocalipse zumbie que se tem
conhecimento... Bem, não é como se houvessem concorrentes também. Quando vão
adaptar Apocalypse no Toride e I Am A Hero? Questões.
Nota: 05/10
Direção: Toshifumi Kawase
Roteiro: Toshifumi Kawase
Estúdio: Studio DEEN
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