Ah, a Primavera. A estação do amor, da paixão, da renovação. O
fim e o inicio de um novo ciclo.
Mas não esse ano, porque esse é o ano em que tudo é
eclipsado pela Copa do Mundo. Só que a gente é otaco e continuamos respirando
animes! Portanto... Vamo ligeiro que a lista ficou grandinha.
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05) Akuma no Riddle
Música: Sosho Innocence
Interprete: Maaya Uchida
Não tenho grande apreço por essa música da Maaya Uchida, meu
interesse é mais no conjunto da abertura na junção de imagem e música. Tanto
que fiquei seriamente em dúvida entre a Hitsugi no Chaika, Selector Infected WIXOSS e esta aqui. Podem não se destacar muito, mas são aberturas econômicas e
bem conduzidas. De todas, particularmente acho esta a mais divertida e a que melhor
utiliza a linguagem da série a seu favor.
Com enredo que conta a história de assassinas, um alvo
delicado e ingênuo e uma defensora tomboy, storyboard e direção foram pontuais
em contar esse enredo em 90 segundos de adrenalina. Começa com as duas
protagonistas e par romântico sob a mira e as diferentes reações de cada uma. Mesmo
os quadros reutilizados do anime com a clássica apresentação do perfil de cada
personagem são dinâmicos e envolventes – talvez uma música mais forte daria
ainda mais impacto. Há ainda cortes feitos especialmente para abertura, como a
apresentação das assassinas, sexys e perigosas. Mas a grande personagem da
abertura é a garota de cabelo azul [Tokaku Azuma], que de assassina também se
transforma em vítima aos 48 segundos, mas sempre obstinada. O ritmo aos 49
segundos é excelente, num mix de cortes reutilizados, novo background, paleta
de cores, com diversos ângulos ousados e cortes secos que até prometem mais do
que realmente entregam. Sua OP feijão com arroz que não vai chamar a atenção de
ninguém, mas sempre eficaz.
04) No Game No Life
Música: This game
Interprete: Konomi Suzuki
Tá ai um anime que eu não perco uma abertura sequer! Ela
emana o mesmo feeling que Guren no Yumiya emanava para Shingeki no Kyojin, traz
a mesma emoção que YOUTHFUL trazia para a primeira abertura de Chihayafuru. Talvez
seja até exemplos exagerados, mas a ideia é que This Game casa muito bem com
NGNL e tem uma atmosfera propícia para cada começo de episódio.
Assim como a de Akuma no Riddle, a abertura aqui se desenha pela
narrativa padrão de aberturas de animes e faz isso com eficácia e economia num
ótimo sincronismo visual, apresentando premissa e personagens em sequências que
em nenhum momento soam fora do ritmo. Minhas sequências preferidas são: 1) a de
Shiro e Sora flutuando sob o solo de um grande centro urbana com pessoas passando
sobre eles em tons de P&B, ignorando completamente sua existência. A
mensagem é obvia e mesmo não conhecendo o anime, é possível absorvê-la
inconscientemente. É um anime otaku-centric
oriundo de uma light novel, e seus dois protagonistas são antissociais hikikomoris
à margem da sociedade. Isto muda quando alguém joga para eles uma peça de
xadrez e toda a realidade à sua volta passa a ter cores vivas.
2) então entramos na minha segunda sequência preferida com travelling
entre os personagens que consiste no momento mais forte da abertura; é
justamente quando a cantora eleva o seu tom vocal e os cortes de cenas explodem
na tela acompanhando este tom otimista. É o momento máximo, em que a dupla têm
a chance de viver unicamente num universo à parte em que eles não precisam se
preocupar com os conflitos que o mundo real traz.
03) Isshuukan Friends. (One Week Friends)
Música: Niji no Kakera (Shards of a Rainbow)
Interprete: Natsumi Kon
Música positiva com letras motivacionais que falam sobre a
superação e o quanto a amizade desempenha um papel fundamental para esta
perspectiva. Obviamente estamos diante de uma composição pensada especialmente
para o tema da série, e como comentado pela Natchim (Quando Uma Música Combina Perfeitamente), as imagens que se
formam no vídeo nada mais são do que as letras da música ganhando forma e
movimentos, em um desenho de um mundo que não é visível a olho nu; para se
vê-lo, é preciso fechar os olhos e sentir.
Imagino que despertar essa sensação tenha sido a intenção
dos seus atores, pois toda a narrativa parece saltar das páginas do diário de
Kaori, refletindo um mundo interior; um mundo muito particular para ela em que
se encontra seus amigos mais caros. E o cenário? Ah, o cenário! É um espetáculo
à parte com uma simplicidade dos sentimentos mais puros, onde formas, cores,
luzes e efeitos se combinam em rimas visuais que soam como versos musicais
muito fáceis de compreenderem por serem intuitivos e dialogarem com sentimentos
que as pessoas conhecem bem. Melodia e letra possui um aspecto muito emocional
e eu adoro como no inicio a Kaori se encontra solitária num mundo vazio
emergida em reflexões sobre tudo que estava lhe acontecendo, mas à medida que a
percussão vai ganhado entonações mais altas, o mundo ao seu redor vai se
preenchendo de calor humano, pois agora ela não está mais sozinha. As cores em
aquarelas e os desenhos estilizados dão o toque final, criando uma atmosfera de
sonho e bastante intimista.
02) Mushishi Zoku Shou
Música: Shiver
Interprete: Lucy Rose
Shiver é uma canção sobre o universo interior que nos é tão
particular. Contempla as memórias de algo que lhe escapou às mãos,
arrependimentos e sobre a falta sentida. A dificuldade de superar e enfim o vislumbre de um novo ciclo, sempre permeado por recordações agridoces.
E eu amava o jeito que você me olhava/E eu sinto falta do
jeito que você me fazia sentir
E se nós voltarmos no tempo/Poderíamos aprender a viver do
jeito certo
A OP de Mushishi Zoku Shou me soa como o reflexo da paisagem
num espelho d’água. Um reflexo natural que vai se transformando conforme o
passar das estações. Do lúcido e temperado Verão, passando pelo Outono;
Inverno; Primavera e se repetindo novamente num ciclo interminável que se
refere à própria natureza cósmica da vida, em que choramos e sorrimos com uma enorme
facilidade; de plantas que nascem, florescem e morrem, das estações que vão e
vem; da felicidade fugaz. Uma existência feita de instantes dispares.
Essa disparidade cíclica é bem capitada num ótimo timing
entre a animação da abertura com a música interpretada por Lucy Rose, que com
suntuosidade combina um ar doce e melancólico com a multiplicidade de
sentimentos da papoula da índia. O que eu quero dizer é que, como a papoula da
índia que possui propriedades narcóticas de puro ópio e com o nome significando
“induzir ao sono”, essa abertura também traz em sua atmosfera uma sensação
semelhante.
Assim como as propriedades da papoula da índia que a
principio seduz, mas que com o tempo se torna uma prisão, os personagens de
Mushishis parecem prisioneiros e fugitivos daquilo com o qual não conseguem
lidar; e mesmo quando superados, jamais o que se passou jamais será esquecido. Gosto de como a nevoa esvoaçante teima como uma intrusa em se sobrepor na
maior parte do tempo sobre o cenário. O frio é a sensação térmica que mais
expões a fragilidade do homem e faz com que ele queira se proteger se
encolhendo sob diversas camadas de fuga. Gosto também de como a tonalidade vocal
da Rose vai da intensidade à serenidade, como a própria cadência harmônica da
melodia com violão acústico, riffs de guitarra, piano e batidas esparsas de
caixa, num ritmo que segue numa crescente até diminuir novamente. Como a vida e
sua natureza cíclica.
Eu realmente sou apaixonada pelo timing dessa abertura e
como sua escolha se adequa tão perfeitamente à temática da série. Isso revela
uma sensibilidade envolvente. Ser simples e com competência é uma tarefa
difícil.
01) Ping Pong The Animation
Música: Tada Hitori
Interprete: Bakudan Johnny
Se a função genuína das aberturas é ser um reflexo do anime
do qual fazem parte, a de Ping Pong é um exercício conceitual exemplar ao
evidenciar o caráter estilizado e áspero da animação ao mesmo tempo em que
transmite sua vibe explosiva. A narrativa
é simples, mostrando a rivalidade entre os jogadores e sua interação com o
pingue-pongue. Não se surpreenda com tamanha entrega da parte dos personagens,
que se relacionam com o esporte e se confrontam como se suas vidas dependessem
daquela partida. De certa forma depende. Como toda série de esporte, ou pelo
menos a maioria, o esporte em questão se torna um meio para que o personagem
possa alcançar algo que vai além da simples vitória: um item de valor mais
subjetivo.
Com storyboard, direção e animação (juntamente de mais 4 animadores) de Shinya Ohira (para ver seus trabalhos, acessar sua página no ANN), a narrativa
salienta essa percepção de mundo, em que todas as vidas giram em torno do
pingue pongue. Da preparação para a partida, com a câmera fechando nas
diferentes reações (um mais relaxado e o
outro concentrado) daqueles que são os dois personagens centrais do enredo
ao encarar um adversário; à interação com a bola que se torna o centro dessa
câmera. Minha parte preferida é o momento em que Peco se prepara para lança-la
à Smile com a perspectiva do foco em ângulo baixo (a partir dos 15 segundos) – sendo este um efeito de exaltação e engrandecimento
do objetivo; no caso a bola – e o que se dá a seguir é o deslocamento de zoom
out e zoom in alternadamente onde cada corte – rápido e preciso – apresenta um
jogador diferente numa excelente caoticidade rítmica.
Shinya Ohira é um lendário animador adorado entre amantes de
sakugas por sua característica de personagens hiperativos que estão sempre se
movimentando. Como se nota, é também um amante da abstração e animação de
contornos ásperos e irregulares, mas não se enganem: não é preguiça. Na
verdade, é considerado um estilo de animação muito difícil de desenhar (em seu trabalho na série de curtas de
Animatrix, muitos animadores americanos acreditavam que se tratava de
rotoscopia e ficaram surpresos ao verem que se tratava de animação tradicional).
O mesmo pode ser dito sobre essa abertura, que parece irregular e emulada de
rotoscopia, mas é um sopro de criatividade num mar de aberturas pouco
inventivas e repetitivas com as suas linhas instáveis em movimentos quebrados
que transmitem a velha e boa atmosfera de animação rudimentar. Destaque para as
mudanças de estilo visual que ressaltam diferentes momentos em torno do pingue
pongue, da chegada à partida do ginásio, fechado com alguns planos aleatórios,
como a falta de limites no espaço com dois personagens saltando de encontro a
um avião. É a natureza surrealista e nonsense de Ping Pong concentrada em 90
segundos de abertura.
#Lixo
Gokukoku no Brynhildr (Brynhildr in the Darkness)
Música: Virture and Vice
Interprete: Fear, and Loathing in Las Vegas
Quando se pensa em aberturas tão caóticas e enlouquecidas
com vocais distorcidos, tenho certeza que para muitos o que vem à mente são as de
Death Note. Elas são ótimas e compactas, entregam o produto com bom arrojo e
sintonia. É realmente o que você pode esperar do anime: um thriller nervoso e
intenso. Já em Gokukoku no Brynhildr, você não irá encontrar a atmosfera que
essa abertura emana no anime em questão – ao contrário da primeira [abertura em
tema incidental] que consegue um equilíbrio satisfatório. Não que não houvesse equívocos,
o sincronismo falhava em diversas partes. Não sei dizer quem foi o diretor
desta daqui, mas imagino que seja o mesmo da anterior, pois ambas apresentam equívocos
nos mesmos aspectos. Claro que é uma música alucinante, há algumas boas jogadas
como a Neko Kuroha se desfragmentando; o contraste de cores e a Valquíria enlouquecendo
nos segundos finais, casando perfeito com os gritos do vocal – mas como um todo
é uma imensa discrepância de timing.
Como nota de rodapé, cabe a curiosidade de uma segunda
abertura para um anime que está à 3 episódios do fim sem qualquer previsão de
segundo cour adiante – oh sim, o marketing é capaz de quebrar paradigmas porque
animes também se tornaram uma poderosa fonte de propaganda para artistas de
diversas gravadoras exporem seus singles.
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