Comentários: Zankyou no Terror #02: CALL & RESPONSE

A série continue estabelecendo seus personagens dentro do tema do mote. 

Chegando a Tebas, Édipo soube que uma esfinge estava aterrorizando a população. Tratava-se de um monstro parte leão alado, parte mulher, que antes de executar a sua vítima, dava-lhe uma oportunidade de se livrar da morte fazendo uma pergunta enigmática: “Qual é o animal que tem quatro patas de manhã, duas ao meio-dia e três à noite?”. A resposta correta para esse enigma significaria a derrota da Esfinge. Resposta errada, a Esfinge terá um banquete.

 

A polícia de Tokyo montou um amplo comitê investigativo para tentar encontrar a resposta para os ataques terroristas ao Edifício do Governo Metropolitano de Tokyo*, e embora eles tenham conseguido estabelecer algumas características no modo de ação da dupla – como parte do material usado na fabricação dos explosivos ser facilmente encontrado e podendo ser utilizado por qualquer um –, o fato de terem se equivocado na resposta ao enigma lançado por Nine e Twelve, evidencia o quanto ainda estão longe do verdadeiro enigma, se atendo somente ao obvio da superfície. 

Obras japonesas parecem adorar o conceito de pessoas que perdem literalmente a visão e por isso passam a ver mais do que podemos e do que enxergavam antes. É um tema recorrente nas mitologias, como Odin que arrancou o olho para adquirir mais conhecimento. Se adequa a cultura filosófica do oriental, onde a força e sabedoria não devem vir dos músculos, mas da percepção. Ou seja, de dentro. Édipo ganha o desafio da Esfinge, mas comete o sacrilégio do incesto ao desposar a própria mãe. Como punição, ele arranca seus olhos por ter estado cego ao ponto de não tê-la reconhecido. O comitê investigativo não consegue enxergar a verdade proposta, mas o misterioso detetive Skibazaki sim [por estar atento às malicias do enigma da Esfinge. Oras, a resposta era muito obvia, seria a Esfinge tão ingênua ao ponto de propor um enigma de um mito estudado até em salas de aulas?]. Shibazaki, que inclusive é caracterizado visualmente da forma mais obvia possível – atento, silencioso, perceptivo (intuição é a coisa mais básica em ficção policial) e ávido solucionador de palavras cruzadas – está preso às amarras do destino.

Pois o mito de Édipo não é apenas sobre a necessidade de se olhar para dentro para pegar melhor as sutilezas ao seu redor e não se deixar enganar pelos olhos, mas principalmente acerca de uma engendrada armadilha do destino. Destino que também está intrinsecamente relacionado com começo e recomeço e toda aquela questão de ciclos muito presentes em obras japonesas e serve de base para muitos mitos. Agora, Twelve e Nine conhecidos como Sphinx (Esfinge), conseguem êxito naquilo que pareceu seu a grande proposta do seu ato neste segundo episódio: trazer Shibasaki de volta ao centro da ação, entrelaçando seus caminhos com o dele. A pergunta que não quer calar é: POR QUE? Qual seria a relação de Shibasaki com a Esfinge e a instituição do qual fugiram? Questões.

 

O roteiro segue amarrando as pontas e entrelaçando o caminho dos diversos personagens que circulam em torno de Twelve e Nine – no que deve ser a estrutura inicial do roteiro para estes primeiros episódios. No fim, imagino que cada episódio deve se assemelhar a uma peça do quebra-cabeças. Twelve, Nine, Shibasaki, Lisa e sua mãe paranoica, e a própria Tokyo. De que forma estes caminhos entrecortados irão se influenciar mutualmente e despontar para o desfecho do enigma maior? Zankyou no Terror também brinca conosco nos propondo enigmas, como aos personagens, onde o terror propagado pela Esfinge tem como foco ressoar em suas vidas, despertando-os e fazendo com que vejam mais do que a cegueira cotidiana lhes permite.

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Gostei bastante deste episódio, embora ele desponte com uma dinâmica narrativa diferente daquela vista no episódio de estreia. Achei corajoso por parte do roteiro e da direção reservar quase metade do episódio em questões técnicas acerca do ataque no primeiro episódio, mas até isto encaixa muito bem na narrativa, que tem um tratamento com diálogos sérios que não se vê tanto em animes, que usualmente apostam em textos mais leves e adolescentes, com a presença de fanservice [fator identificação. Vamos supor que mesmo otakus trintões japoneses ainda possuem uma mentalidade que se identifica mais com a vibe adolescente].

Este episódio, por outro lado, concentra a maior parte do screentime na introdução de personagens mais velhos em um ritmo mais lento, mas sempre carregado [isto é acentuado pelo trabalho de iluminação e contraste de sombras da direção de fotografia e arte], com aspectos de tensão. De certa forma, contrapõe o anterior, protagonizado por dilemas adolescentes sob a perspectiva de Lisa.

Vi algumas critícas, mas não consigo desgostar de nada na direção deste episódio, onde todos os elementos se encaixam ou demonstram potencial futuro – incluindo a animação, que não demonstra a desenvolta fluidez do primeiro, mas se adequa ao ritmo proposto aqui. Zankyou no Terror parece o tipo de série que leva um tempinho na construção até explodir em um clímax alucinado. Ou seja, ritmo degustativo. É o que se espera e, bem, veremos.

Reação ao episódio

Avaliação: ★ ★ ★ ★ ★
Roteiro: Shoten Yano

Storyboard: Tachikawa Yuzuru

Direção do episódio: Aoi Sayo

Direção: Shinichiro Watanabe

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-A critica unânime é com relação a um ataque que deixa apenas 27 vitimas feridas. Convenhamos que houve uma lacuna de 30 minutos onde o alarme assoou e deu tempo para completa evacuação e embora possa se questionar que explosões assim também matam indiretamente (detritos, fumaça, etc), não parece ser o caso aqui, além de parecer que o intuito da Esfinge não é fazer vitimas fatais [como é notável no salvamento de Lisa]... Sobre isso: 

-Até o momento, a Esfinge desferiu ataques somente a instituições publicas [Governo e Polícia], e como primeiros alvos, fica evidente que o intuito é abalar as bases de segurança do país, deixando a população em alerta e receosa. Além de serem estas instituições os maiores alvos de criticas quanto a ineficiência no gerenciamento da sociedade. Se o intuito deles é “despertar” as pessoas, nada melhor do que começar pelos símbolos máximos de autoridade que muitas vezes parecem cegas e alheias aos problemas que afligem certa parcela da população. Será que estou viajando? Hmm...De qualquer forma, perderá muitos pontos comigo se chegar até o final sem algumas vitimas fatais. Sobre essa questão de vítimas fatais, saberemos ao certo qual a postura da Esfinge no próximo episódio, com o atentado à Policia. 

-Essa mãe da Lisa é bem ao estilo da mãe de Nina em Cisne Negro, né?!

-Essa cena do Twelve com a Lisa é, acho, que a minha preferida do episódio. Ela está procurando referências para o enigma quando é abordada por ele. De cumplice, se transforma em refém. A ação dele com a bala da mentos em sua coca ilustra uma mistura explosiva, aludindo às explosões. O final com ela desnorteada e solitária em meio a multidão, é sensacional. Tenho grandes expectativas quanto a ela. (também adoro as suas reações, que ilustram com exatidão seu emocional e personalidade). 

-Um sincronismo que gostei muito foi de Shibasaki buscando pela pista numa combinação de ramen, enquanto na cena anterior, Nine vai entregar macarrão, com duas personagens conversando sobre uma loja de ramen. Ah, o destino...

 

-Todo aquele diálogo inicial da equipe investigativa com detalhes da formula da bomba utilizada a partir de elementos não convencionais chama a atenção pra um método um tanto quanto amador, o que aplica mais veracidade na ação de dos garotos do ensino médio com certo conhecimento cientifico. Neste aspecto, lembra a dupla de Breaking Bad, que começou a produzir metanfetamina a partir de uma formula nada convencional, utilizando uma boa parte de elementos comuns, e somente um em que era dificílimo de encontrar, assim como acontece com a nossa dupla de Zankyou no Terror.

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