sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Comentários: Zankyou no Terror #07: DEUCE

Deuce: dois, diabo, dados, jogos de cartas marcadas, ou simplesmente o simbolo de dois dedos simbolizando a paz. Zankyou brinca com as expectativas e oferece um jogo mortal onde quem tem menos a perder ostenta as melhores chances de vitória no final. 
Episódio sete de Zankyou no Terror retorna a formula “thriller” do primeiro episódio, mas dessa vez com ingredientes que culminam num resultado muito mais tenso e, portanto, superior em termos de conflitos dramáticos e clímax, uma vez que o fato de termos envolvimento com os personagens proporciona uma experiência de maior tensão. Especialmente na reviravolta que acontece da metade do episódio em diante, quando Lisa é capturada pelo olhar de águia de Five, que de fato soa como uma águia predadora de garras afiadas. Não posso falar por ninguém, mas ao final do episódio eu já estava na ponta da cadeira e com o coração na mão. Desde o primeiro episódio que a série não me proporcionava uma experiência tão eletrizante e envolvente. A narrativa se estrutura e desenvolve realmente como um tabuleiro, com diversas jogadas [conflitos dramáticos] possíveis que poderiam levar à vitória ou a derrota de qualquer um deles. Ao final, Five se mostrou uma melhor jogadora que Sphinx, em parte fundamental à inexperiência de Lisa, que entra na jogada metaforicamente como uma carta jocker, mudando de valor ao decorrer da narrativa conforme a necessidade do roteiro. Sem experiência e preparo algum, seu nervosismo é flagrante e chama atenção.

Dessa forma, Lise se tornou o calcanhar de Aquiles de Sphinx, que agora tem um ponto fraco. Acompanhar a movimentação e a linha de cada jogada de todas essas peças [personagens] foi uma experiência fantástica. Direção, roteiro e trilha sonora fazem desse mini-arco uma experiência à parte, quase como um curta.
Ação, reação, tensão dramática, correria, ponto de virada e desfecho climático, este foi um roteiro exemplar e direção que soube transferir essa narrativa elétrica para o audiovisual, com uma ótima edição de cenas. O aspecto que mais chama a atenção é a obvia referência a um dos estilos cinematográficos mais populares no cinema Hollywoodiano, que é o de atentado terrorista envolvendo aviões e aeroportos. Senti-me de volta à infância quando surpreendentemente Lisa ressurge presa no avião com uma bomba com contagem regressiva indo em rumo ao aeroporto, traindo todas as expectativas anteriores e jogando à narrativa em outra direção. Dessa forma, o roteiro de Jun Kumagai (episódio 5) exemplifica economicamente o quanto Five está dois passos à frente, não por ser exatamente superior em intelecto mas por ser observadora e saber tirar proveito das situações ao seu favor, e ao mesmo tempo coloca nossos protagonistas numa situação desconfortável.

Há de se dizer que até então, eles sempre estiveram no comando da ação, seguros e sem sofrer nenhum tipo de ameaça. Muitos questionam: por que diabos Sphinx não matam? Eles não matam porque na verdade eles são os heróis da história. Esta talvez seja a charada que sempre esteve obvia; a pegadinha proposta por Watannabe. A bem da verdade, sempre esteve claro a partir do segundo episódio. Existe uma norma não escrita, mas prontamente seguida em obras de apelo popular, de que os mocinhos não devem cruzar a linha. É por isso que existem os antagonistas (e é por isso que **** morre ao final de **** #spoilas), que agora se revela em Five. 
Pois bem, em qualquer narrativa, os personagens que protagonizam precisam se mover por uma motivação e eles devem encontrar obstáculos pelo caminho. Shibasaki e Sphinx não tinham obstáculos. Eles se anulavam e se complementavam de alguma forma, às expectativas um do outro (eles estavam próximo a um entendimento, quando Five surge como um furacão e joga as peça pelo ar. Obviamente ela é o argumento necessário para preencher os espaços de uma série de tv. Parece funcionar como ferramenta de distração). Five coloca ambos em situações extremas. Quando ela diz para Shibasaki que o fará pagar por ter sabotado seu ardiloso plano, eu no lugar dele estaria muito temerosa. Five emana uma áurea hostil, tenebrosa e opressiva que não precisa de muito para se fazer notar. A bela dublagem [enquanto em japonês] de Megumi Han colabora, mas as nuances de moleca travessa e caprichosa desconhecedora de limites estão todas na caracterização visual da personagem. Seus olhares, principalmente os de lado e a forma como contorce os lábios dão o tom ideal para que possamos ver na personagem alguém com uma obsessão irrefreável, mas com senso aguçado de observação. Sei que estão todos cansados das comparações, mas Nine Vs Five é o arquétipo da obsessiva relação L Vs Light [Death Note], com o diferencial de que Nine mostrou querer mais é distância de Five, enquanto tanto L quanto Light eram fissurados um pelo outro e travaram um jogo de vida e morte mais pessoal do que profissional (a partida de tênis entre eles é o melhor exemplo desta tônica). Cá entre nós, com toda a razão, mas eu me arriscaria porque Five faz meu tipo! Me gustam relacionamentos autodestrutivos.

Cof, cof...

Como boa série de mistério que é, as peças ainda estão avançando no tabuleiro e não se chega a nenhuma conclusão, o que é bom. No momento, a Rainha de Five é a que demonstra maior mobilidade e afeta todo o percurso. Espero que o próximo episódio mantenha o folego e traga consequências para as ações vistas neste. A trilha sonora novamente encontrou seu ápice nos momentos de maior tensão – ela que é uma das maiores responsáveis pela sobriedade da narrativa (péssimas noticias para quem procura algo mais movimentado). O inesperado encontro entre Nine e Five trouxe mais dúvidas que respostas, mas uma coisa ficou clara: ela age por motivos pessoais, mas e quanto àqueles que a apoiam incondicionalmente? Por que o fazem? Questões, questões. 

Avaliação:  ★   ★ 
Roteiro: Jun Kumagai
Storyboard: Shikama Takahiro
Direção: Shinichiro Watanabe
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