Enfim revelado a música que Nine tanto ouvia... a faixa Von da soundtrack da série, claro!
O final de Zankyou no Terror é mera questão de formalidade,
tudo o que vimos já foi dito nos 10 episódios anteriores. A missão da Sphinx
foi cumprida, mas saber colocar o ponto final em uma obra é essencial para que
possamos ter a sensação de completude.
O grande clarão que toma conta do céu japonês em um espetáculo
deslumbrante e assustador que uniu e lançou todos os olhares para uma única direção.
Uma explosão que mudou a história do país e se tornou uma cicatriz indesejável
que muitos fazem questão de não deixa-la a mostra. Duas gerações depois, todos
são obrigados a encararem aquilo que sempre evitaram ver, mesmo que estivesse
bem diante de seus olhos. No fim das contas, é disto que Zankyou no Terror se trata.
Reconhecer os equívocos cometidos no passado e não deixar que aquela lembrança
se perca. Não é esta a luta de tantos japoneses? Não deixar que o passado e
suas vitimas sejam esquecidas pela História. Figuras como Hayao Miyazaki,
entidades que se colocam contra a censura da exibição de documentos e registros
biográficos históricos, lutando para que o passado continue sendo ensinado nas
escolas, sem omissões. Uma luta para que a verdade não seja esquecida, mas que
chegue aos ouvidos da nova geração.
É triste e reconfortante o tom de esperança e melancolia que
se instaura neste episódio. Esperança de que tais barbáries não voltem a
acontecer, e para isso é necessário que o passado não seja esquecido, mas que
se aprenda com ele. Melancolia pelas vidas que foram perdidas, roubadas no meio
do caminho – não apenas as vidas daqueles que morreram instantaneamente, mas também
daqueles que foram afetados pela radiação e viram seus dias diminuídos, que
carregaram a marca consigo por toda a vida.
***
Todos assistindo a explosão que encobriu o Japão de Zankyou (já que Tokyo é o análogo de Japão, na
série. Como New York é o análogo de mundo nos filmes de Hollywood) foi uma espécie
de Instrumentalização Humana, não é? Todos juntos, conectados, naquele momento
pareciam que sentiam algo muito similar ao que o outro sentia.
O silêncio que se instaura na manhã seguinte é de um timing
impressionante, mostrando as ruas vazias com rastros de destruição e mais,
alguns dos cenários mais marcantes que permearam os primeiros episódios da
série. É um timing impressionante porque soa como se o tempo estivesse
paralisado, suspenso entre tempo e espaço. Paralisado para que Twelve, Lisa e
Nine pudessem resgatar algo precioso que não puderam viver na infância, e ao
lado deles, estacas simbolizando a morte de todos aqueles que sequer tiveram a
chance de poderem usufruir deste último momento. Eles soam como crianças se
divertindo tão ingenuamente, é um momento bem doce, mas também com um gostinho
amargo, não acham? É divertido ver Lisa tão inapta para atividades físicas, mas
tão à vontade em meio aos dois. Passa um retrato crível de momento comum entre
amigos.
Nem precisava, mas o diálogo em que Twelve agradece Lisa por
ela tê-lo feito se sentir útil deixa ainda mais obvio a relação que se
estabeleceu entre eles, que definitivamente e felizmente não se resume a um
relacionamento romântico bobo, mas um laço fraterno familiar ao quais ambos se
sentiam tão necessitados. Com Lisa, Twelve pôde reparar o sentimento de culpa por
estar vivo. Nine é bom contraste para Twelve, por ser tão objetivo e resignado,
apegado a uma fagulha de esperança, deixou transparecer o quanto Twelve tinha
necessidades opostas, ao ponto de propor que esquecessem tudo e vivessem seus últimos
momentos juntos. Já Lisa embarca numa jornada de descobrimento e amadurecimento
necessário, embora sua função na série, assim como a de Nine, seja restrita a
um único objetivo, o fato de ela continuar vivendo e se esforçando sintetiza a
ideia central por trás do título do episódio; esperança.
Acompanhar a trajetória dos personagens de Zankyou no Terror
foi como pegar um trem e parar numa longa fila e ouvir um pouco da história de
vida de alguma pessoa, mas quando chegamos ao ponto final, nos separamos e a
história daquela pessoa continua seguindo. Só podemos ver um pequeno fragmento
daquela vida e por mais que tenhamos curiosidade, aquela pessoa irá se perder
entre tantas outras. O que aconteceu com Shibazaki? E Lisa? Oras, a resposta é
obvia, eles conseguiram superar um ciclo que os prendiam e limitava seus movimentos,
mas muitos outros desafios virão para eles. Para dizer a verdade, não acho que
me interesso pela história de vida em separado de cada um deles. O que os
faziam particularmente interessantes não era cada um em separado, mas a unidade
que formavam para fazer a história avançar. Five é uma triste exceção, como uma
peça que não se encaixa tão bem, mas o que é mais triste é que mesmo ela também
tinha essa melancolia que se fazia presente no olhar de todos os personagens, teria
sido brilhante.
Mas enfim, Zankyou no Terror termina com um saldo positivo
para mim, com um ponto final atmosférico e poderoso. Não é um fim explosivo,
ele é sereno, como a brisa que acaricia a face e os cabelos. Um final maduro e
reflexivo, que apesar das perdas, está olhando adiante, com esperança em um
futuro bem melhor. E isto é o que o faz tão poderoso. Chorar as perdas de Nine
e Twelve, com lágrimas e desespero, com longos minutos de lutos e flashbacks não
seria eficiente nem condizendo para com suas construções e o próprio enredo. Ao
invés disso, eles se mostram bem vivos nas ações de Lisa e Shibazaki. A imagem
do rio em forma de S ilustra o poder
da água, que contorna diversos obstáculos para seguir adiante. Da mesma forma é
o desejo de continuar vivendo, e a esperança é o que torna esta chama acesa,
afinal, por que tentar quando já não há mais esperança? Lisa reencontrou seu
caminho e é agradável ver sua aproximação com Shibazaki, com ele disposto a ajuda-la.
Eu acho que isso resume Von.
Avaliação: ★ ★ ★ ★ ★
Roteiro: Hiroshi Seko
Storyboard: Shinichiro Watanabe, Yuzuru Tachikawa, Akitsugu Hisagi
Direção Auxiliar: Shinichiro Watanabe
Direção: Shinichiro Watanabe
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