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Ok, passada a euforia sufocante... Uma das primeiras coisas
que me instigaram neste episódio foi o título “The Salvation of Job”. Job (em hebraico) ou Jó, é uma importante
personagem bíblica no qual é creditada a autoria do livro mais antigo da bíblia,
que possui uma natureza mais niilista que os demais – a bem da verdade, sua
existência é colocada em dúvida por muitos estudiosos que acreditam que o livro
tenha sido escrito por outras pessoas, não havendo prova de que ele tenha
existido de verdade (enfim, estou apenas
citando isso para evitar qualquer mal entendido). E qual seria a relação do
personagem bíblico com o episódio? Acho que o terrorista que tomou todos da farmácia
como reféns desempenha metaforicamente este papel. Se na primeira temporada
Makishima era uma serpente destilando o questionamento; levando as pessoas a
questionarem o sistema, Kamui é uma espécie de salvador (suas características mais elevadas até então é o amor incondicional em
salvar todas as almas “perdidas”, ou seja, que tenham sido condenadas pelo
Sybill, desejando criar um mundo livre para todos. Kamui é emotivo e soa como
sendo sensível e benigno) que planeja liberar as pessoas e devolver-lhes a
liberdade.
Um iluminado procurando salvar os demais? "Qual é a sua cor", como comentei aqui, acredito que por trás desta indagação está a sentença de que cada pessoa é diferente, um ser individual e autoconsciente |
Makishima desejava despertar as pessoas para que elas
próprias tomassem consciência do que era o Sibila e elas próprias o derrubassem;
enquanto Kamui aparentemente está juntando diversas informações do modo de
funcionamento do sistema, justificando todas as ações que temos visto até então
– se o primeiro caso resplandece até o terceiro episódio, onde ele buscava uma
inspetora [e talvez uma dominator, pela teoria da Akane] e tentava manter uma
conexão com Akane, o quarto traz um cenário novo, que deverá ser explorado nos
episódios seguintes. Como assim ele queria ter certeza que Inspetores pudessem
se tornar alvos da dominator? Hm. É uma explicação que não convence a
principio, afinal, no episódio anterior vemos que a dominator de Shisui está
apontada para ela. Qual fora sua verdadeira motivação por trás deste ato [isto
é, se há alguma de fato]?
Voltando ao raciocínio do paragrafo anterior, todas as pessoas
que surtaram até então olham e clamam por Kamui como se ele fosse um salvador.
É quase um culto. O aparentemente homem de bem que de repente se tornou um
criminoso neste episódio, é como Jó, que passou uma enorme provação sem perder
a fé em Deus. Eu não sei o quanto disso foi realmente a motivação deste título,
pode ser que seja algo ainda mais amplo, mas é o que me passou pela cabeça. A
decisão final dele, de ficar e ser morto me deixou um tanto perplexa. Ao final,
ele olha para suas mãos sujas de sangue e entende que o seu papel foi cumprido,
mas soa como se ele estivesse com muitos pecados e sua salvação só pudesse ser
obtida através da morte, ao transcender a carne – sua fé no fato de ter
desempenhado o seu papel para a criação de um novo mundo parece ser encarado
por ele como a sua redenção. O senso de dever cumprido que ele sentia ali
frente a uma grande provação [o ato de ter cometido aquela barbárie em nome de
um bem maior] é a única coisa que eu consigo ter toda certeza sobre tudo isto. Ao
contrário do terrorista do primeiro episódio, este não parece alucinado, suas coordenações
motoras soam lúcidas e ele demonstra estar no pleno domínio de suas ações. Ou
seja, tudo o que ele fez foi realmente seguir as instruções de Kamui e provocar
aquele teatro grotesco e brutal. Pensando nisto, até que ponto os seguidores de
Kamui não estabelecem, de fato, um culto ao seu redor? Shisui fará parte deste
culto?
Este é um episódio que traz bastante reminiscências da
primeira temporada. Deficiencia de Eutress é um termo que só existe no mundo
ficcional de Psycho-Pass, e naquele mundo ele toda uma razão de ser empregado
desta forma. A primeira vez, que me lembro, de ter sido utilizado foi no sétimo
episódio da primeira temporada, usado para descrever a doença que assolou o corpo
do pai da psicopata Rikako Oryou. Naquela época, Makishima apontou que as
razões da morte do pai de Rikako estava escondidas nas entranhas da sociedade.
O Eustresse, um termo que realmente existe, é considerado um estresse positivo,
aquele em que a pessoa não apenas possui meios de lidar com a situação, como é
visto como benéfico para a saúde mental. No mundo de Psycho-Pass, as pessoas
devem se manter o mais limpas possível, dando inicio a tratamentos que deixam
as suas mentes tão desprovidas de estimulação que o seu sistema nervoso
autônomo – o sistema que rege (estresse)
ás respostas do corpo humano – atrofiado pelo desuso e o corpo cai em um estado
vegetativo que não é nem vivo nem morto. É o que aconteceu com o pai de Rikako (vocês devem se lembrar dela visitando e
andando com ele na cadeira de rodas no episodio 7), um infarto cerebral provocando
pela deficiência d eustress, e é exatamente os sintomas que estavam levando o
nosso personagem movido pela fé neste episódio.
Comentei sobre Jouka no Monshou esta semana, que utiliza de
uma premissa similar a de Psycho-Pass – percebem-se os mesmos questionamentos e
dilemas; um embate entre individualismo e coletivismo. O Sistema Sybil destrói
lentamente a autonomia das pessoas e lhes tira a liberdade de sentir e viverem
plenamente livres, sem amarras. Para
Makishima, ter zero níveis de estresse leva a uma doença que ele chama Deficiência
de Eustress, que é basicamente um efeito colateral do tratamento de estresse
excessivo. Isto nos leva compreender melhor o modo de agir da Kasei, agindo
rápido para matar um condutor de algo que ela quer manter sobre o tapete, muito
embora ela mesma duvide – e com razão – que alguém ali seria capaz de acreditar
em algo como “Deficiência de Eustress”, algo que vai de encontro ao que se
entende pelo ideal do Sistema, que é se manter sempre limpo, nem que para isso
preciso fazer uso de medicamentos que mantenha suas matizes sob controle. Para
aquelas pessoas, algo como “deficiência de Eustress” é completamente
incompatível com tudo o que existe ao seu redor, é algo que mexe diretamente
com o que eles entendem como mundo. Por isso, a reação de incredulidade da Mika
é tão justificável quanto a da insistência alarmista de Ginoza em relação à matiz de Akane.
“O medicamente que você tem aqui mantém sua saturação sob controle.
Mas, ao mesmo tempo, retira gradualmente a sensação de estar vivo de você...
Vou te liberar desta cura falsa. Assim como o Kamui faz”
“Deixe o stress entrar. É a prova de que estamos vivos neste mundo.”
– olha pela perspectiva deles, algo assim seria como ir numa praça publica
pregar a vinda da besta de 7 cabeças e que o mundo iria acabar em determinada
data pelo juízo final. Uma coisa sem fundamento algum.
Abrindo um parenteses aqui: AAAAAAAAAAHHHHH QUE GOSTOSO, QUE DELICIA, FODE MAIS! SE FODE AI SUA BABACA, OTÁÁÁÁÁÁÁÁRIA. É pra abaixar a cabeça quando for falar com a senpai!!!!!!!!!! Mais humildade, oujou-sama! |
Os efeitos deste medicamento são parecidos com a da pílula utilizada
em Jouka no Monshou, responsável por inibir o emocional da população. Os
resultados, certamente, deixam as pessoas mais letárgicas. Kasei só não poderia
imaginar que as coisas sairiam de controle, afinal, como ela poderia prever o
que estava acontecendo por baixo das cortinas? A série mais uma vez ressalta
como as pessoas ficam perdidas quando vivenciam situações atípicas, ou lançando
um olhar restrito àquela sociedade, quando as coisas fogem do protocolo e o modelo
Sybil se torna inoperante. Mika mostrou que além disso ainda não possui
capacidade para lidar com situações adversas, ela é insegura em tomar qualquer
ação independente que não esteja previsto no protocolo, ela não tem um senso de
individualidade aflorada – em suma, ela representa o cidadão comum. A [falta]
de ação de Mika irrita porque ela tem um gênio petulante que naturalmente
provoca irritação, mas a condição dela tem agravantes que depõe a seu favor;
sua falta de experiência em casos extraordinários e sua mentalidade padrão
[para a sociedade do Sybil].
Outro exemplo é Aoyanagi. Ela vivencia uma
situação parecida com a de Akane na primeira temporada. Ela sabia que a
Dominator não tinha funciona na primeira vez, mas mesmo assim ela tenta mais
uma vez, mesmo tendo ao seu alcance uma arma muito mais efetiva, no entanto,
ela a larga e apanha novamente a Dominator. Ao fim, num gesto desesperador, ela
utiliza de uma arma branca para conter o oponente, mas, mais uma vez, ela é
incapaz de dar o passo seguinte e a usa apenas como uma distração, continuando
com uma dominator inútil nas mãos. Na primeira temporada, tudo que Akane pôde
fazer é se debruçar e chorar.
Para Akane chegar a esta postura que vemos agora, ela teve
que ter sua fé no Sybil abalada completamente. Por que justiceiros são
escolhidos a dedos, entre aptos e não-aptos? Porque geralmente estão numa
condição mais complexa que a do cidadão comum, o que influenciará na sua forma
de agir – no episódio anterior, Gino responde à Aoyanagi que o velho Gino de
antes jamais beberia ou lhe ofereceria uma bebida. Em 1 anos treinando como
Inspetora, podemos crer que é o primeiro caso paradoxal que ela presencia.
É uma situação que se repente e embora não seja tão
magistral como ocorreu na primeira temporada, ainda considero funcional continuar
a explorar este ângulo, tendo em vista que a sociedade é a mesma. Ainda assim,
o espetáculo sangrento que se sucede é dramático, emparelha fácil com as
melhores cenas da primeira temporada. Por fim, um episódio que será o divisor
de águas desta segunda temporada, sendo um catalisador que deve mostrar [ou
não] o seu valor temático. Esperemos que a partir de agora, comecem a trabalhar
Mika sob um novo panorama.
Avaliação: ★ ★ ★ ★ ★
Roteiro: Jun Kumagai
Diretor Auxiliar: Satoshi Takahashi
Storyboard: Katsumi Terahigashi
Diretor de animação: Jiemon Futsuzawa, Ryou Nishikawa, Noriyuki Imaoka
Composição de Roteiro e argumento: Tow Ubukata
Direção: Naoyoshi Shiotani
-WOW, eu realmente gostei da animação das dominators neste episódio! Ainda é 3DCG, mas de alguma forma pareciam mais vividas.
-O episódio dá a entender a chave por trás do coeficiente zero do Kamui está por trás desta cicatriz, que provavelmente foi fruto de uma cirurgia... será? A OP continua mudando!
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