quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

12 Dias de Anime – #05: Em Ritmo Alucinante, Meu Bem

12 dias de animes é uma iniciativa do The Cart Driver, até onde eu sei, embora vários modelos desta postagem povoando o blogging americano neste período do ano. Consiste-se em listar 12 momentos marcantes OU NÃO que representam cada mês do ano relacionado a anime, que acabou se tornando algo que vale a pena ser relembrado, seja por qualquer motivo, no ano em questão. Sim, é basicamente uma retrospectiva pessoal. O legal deste padrão de postagem é que se trata de um modelo bem aberto e adaptável à necessidade de cada um. Portanto, meus 12 dias de animes começa agora e termina dia 1º. Não sei se vai sair algo de interessante daqui, porque até o presente momento que estou escrevendo esta introdução, nem sequer fiz uma lista prévia e tenho a ligeira impressão que 2014 foi meu pior ano relacionado a anime; não li muitos mangás, muito menos light novels ou visual novels ou doramas, nem muitos filmes japoneses e tampouco consegui maratonar animes antigos (e ainda por cima atrasei nos atuais). Bora lá então ver o que sai disto, buscarei ser o mais sincera possível, ilustrando 12 acontecimentos que dão forma ao meu 2014.
Por alguns meses, acompanhar Space Dandy foi o melhor programa de final de semana (vamos ignorar o fato de que eu nunca assistia religiosamente no momento que saia). Nem sempre o episódio se mostrava tão instintivamente agradável, mas sempre era um grande passeio a nos propor algo novo e diferente a cada semana. Space Dandy foi o retorno triunfal de Shinichiro Watanabe em uma produção de altíssimo nível e uma equipe estelar por trás de cada episódio. Ele já havia dirigido em 2012 o bonito Sakamichi no Apollon, mas até então, desde 2004 em seu último projeto, Samurai Champloo, ele vinha fazendo apenas pequenas participações em projetos alheios. Há uma entrevista em algum lugar por ai onde ele afirma que nenhum dos seus projetos vinham sendo aceitos, o que explica o seu desaparecimento dos holofotes, que definitivamente é onde merece estar.

2014 é o ano das boas surpresas, dos retornos inesperados. Segunda temporada de Durarará!!!, Mushishi de volta depois de 9 anos, novo anime com a turma de Digimon crescida, Sailor Moon, anuncio de BDbox da série clássica de Evangelion, e etc. e etc. se faria necessário um post próprio para listar os desejos realizados de muitas pessoa que 2014 nos proporcionou – dentre algumas coisas realmente inesperadas que o ano trouxe. Watanabe retornar com 2 projetos praticamente simultâneos foi surpreendente. Infelizmente Zankyou no Terror acabou por ser o menor entre todos os seus trabalhos, empalidecendo ao lado de Space Dandy, que realmente foi tudo o que ele prometia antes da estreia, se tornando o melhor anime do ano. Sua estreia, cercada de expectativas devido ao elenco estelar, gerou reações polarizadas. De um lado, muitas decepções e abandono pelo seu formato episódico e humor nonsense, de outro acolhimento e fascínio.

Space Dandy dá a impressão de ter sido pensado no publico ocidental, e corrobora para esta impressão o fato de aparentemente ter feito mais sucesso entre os americanos, do que com os japoneses. Como Cowboy Bebop, há tanto de referência a diversos meios culturais, que é natural se sentir aturdido em diversas oportunidades em episódios não tão explícitos. É uma experiência desconcertante assistir Space Dandy, sentir se contente pelo que viu e visualmente em êxtase, mas ainda assim não compreentender plenamente a história que estava sendo contada. Não faz mal. Há muitas coisas em nós mesmos que não podemos compreender em definitivo, mas isto não nos impende de continuar explorando essa dimensão abstrata e achando incrível o que a constitui. Ao entrar em contato, você está descobrindo um novo mundo, portanto em algum momento a compreensão de algo virá. Pode ser agora ou depois. A série é um ótimo exemplo de utilização plena do meio para o qual foi pensado e concedeu a rara oportunidade para que artistas pudessem desenvolver uma parceria e dar vazão às suas imaginações, não importando o quão pouco tangível pudesse ser cada peça.

Mas impressiona ainda mais o senso de unidade em uma série com episódios tão distintos um dos outros. Não é como Mushishi e outros exemplos de séries episódicas. Em Space Dandy além de cada novo episódio ser uma nova descoberta do mundo, geralmente cada episódio possui um fim em si mesmo e muitos acabam se reiventando no processo, o que faz de sua estrutura algo fantástico para a imaginação. São universos inteiros que surgem do nada e de repente começam a habitar o nosso consciente. Claro que como uma coletânea de histórias, há altos e baixos. Como um projeto que prima pelo aspecto experimental, há coisas que não funcionam da forma que se esperava, mas de um modo geral ainda é um produto solido e consistente enquanto unidade. Com a proposta de liberdade criativa para os envolvidos em cada episódio, a direção de Shingo Natsume e Shinichiro Watanabe conseguiu conciliar esta linha de raciocínio com a disciplina necessária para tornar todo este universo coeso e bem pensado, sem que as pontas soassem fora do lugar. Comandar um projeto com nível de produção tão complexo e trabalhoso requer a segurança e o pulso firme de alguém do nível de Watanabe. No fim, a série coloriu o meu ano e se tornou um dos seus destaques, se tratando de animes. 

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