A paixão, seja pela música, literatura, uma série ou artes em geral, ou por uma pessoa ou personagem e seu incrível domínio sobre as ações e ambições pessoais do ser humano.
Algo muito bacana de Shigatsu wa Kimi no Uso sempre que a
série termina no meio de uma performance musical ou com ela já tendo atingido o
seu clímax, é o fato de o episódio seguinte até agora sempre mostrar um trecho
desta performance sob uma nova perspectiva, geralmente uma perspectiva mais
intimista e reveladora. No episódio anterior vemos a personagem Emi Igawa com
um desempenho visceral sobre sua peça musical, tocando com fúria e extrema
técnica, surpreendendo a todos com uma performance impecável. Sua virilidade
sobre o piano visava alcançar seu colega, paixão e figura inspiradora Kousei
Arima, como que buscando despertá-lo do seu torpor e chamar a atenção para ela,
como “ei, desperte, olha para mim, foi um longo caminho mais eu te alcancei
finalmente e eu sou incrível, vê?, me mostre tudo que tem”. Depois de anos
desaparecido da cena musical, Arima finalmente estava de volta, e com ele, seus
rivais e admiradores enfim reencontraram seu objetivo primordial, em especial
Emi, que sente seu espirito ardendo em chamas no seu interior. Ter alguém para
se inspirar é tão fundamental quanto um bom rival que te desafie continuamente
a alcançar o próximo nível. Ela tem pleno domínio sobre sua técnica, segurança e
a forte vontade que sua interpretação ressoe o suficiente para atingir Kousei.
“Como um mar tempestuoso, seus sentimentos são instáveis como ondas. Não
me surpreenderia que agora ela estivesse na maré alta”. Sim, está, e o
modo como ela intensifica os acordes extraindo uma grande energia psicológica e
física de si mesma, ressoa através das cores vermelha e amarela que se formam
em torno dela. Amarelo e vermelho, as cores mais ligadas ao estado de espirito
de uma pessoa, ressoam energia, força, raiva, vibração, otimismo, paixão, fulgor.
Fazendo um paralelismo que eu adoro, é como se ela queimasse todo o seu cosmo e
atingisse um novo patamar, como a Fênix que queima para reverberar sua incontrolável
fúria, levando a si mesma à morte para ressurgir triunfal.
É uma apresentação densa e carregada de emoções, mas o
episódio 9 ainda se sobressai adentrando no interior de Emi e mostrando
visualmente o que antes era apenas sugerido; o motivo de tamanha dedicação em
uma performance, colocando um pouco de sua vida a cada dedilhado, cada nota que
refletia uma memória sua, seus gritos internos de “ressoe, ressoe, ressoe” ganhavam
ainda mais vigor e ardor – ao final, somos levados por essa intensa e ardente áurea
não apenas a compreender Emi, mas a sentir também o mesmo fulgor apaixonado que
ela, que fora desperta do seu sono pelo brilho desencadeado pelas batidas do
seu ídolo nas teclas do piano, e agora buscava fazer o mesmo – escusado será
dizer que a música é uma exposição do que há de mais pessoal e primitivo dentro
de cada um e que a ardente áurea de Emi, assim como suas emoções depositadas
sobre cada acorde, não pôde passar despercebida. Ela saindo a plenos pulmões com
batimentos cardíacos descompassados em direção a Kousei como se estivesse acabo
de lutar em uma guerra e o modo como a cor vermelha do seu vestido destoa e
torna o ambiente em torno de si desbotado, refletem todo seu interior (e algo que pode passar despercebido: Ami é a unica que usa uma roupa de gala especial para aquele momento, todos os outros, por mais arrumados que estejam, não usam uma roupa especialmente para a apresentação, são roupas cotidianas; Ami pelo contrário, usa o modelo de uma grande diva para a apresentação e tão logo termina seu grande espetáculo, ela retira seu vestido vermelho e se junta aos demais, na platéia). Naquele
momento, ela parecia realmente uma Fênix, erguendo-se das próprias cinzas.
É mais umas amostras de como as cores desempenham um papel
importante na caracterização de um personagem e tonalidade de um ambiente. A
entrega apaixonada de Emi ao solo da peça Etude in A minor, Op. 25, No. 11 de
Chopin, que naturalmente já possui uma composição que é propensa a uma emoção
apaixonada, rende um momento muito belo pela integração da psique da personagem
ao espirito da composição.
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