quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Entrevista com Gen Urobuchi Sobre Psycho-Pass

Compilação de algumas entrevistas de Gen Urobuchi em relação a Psycho-Pass, seria original da Fuji TV para o bloco de animação Noitamina e estúdio Production I.G. 
Para mais posts relacionados a Psycho-Pass, clique aqui.

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Como você se sentiu com a transmissão de Psycho-Pass no Noitamina?
Lembro-me especialmente quando os episódios foram exibidos a cada semana no Noitamina café antes da transmissão normal de TV no sábado. A exibição do último episódio (episódio 22) foi uma experiência particularmente interessante. Eu não pensei que Psycho-Pass tivesse quase que totalmente apenas fãs do sexo feminino. Fiquei surpreso com isso, e aconteceu de também abrirmos uma sessão de informações no local.

Você imaginou receber tal resposta dos fãs do sexo feminino?
Não tanto assim, pensei que Psycho-Pass teria uma vibe muito ocidental/hard-boiled para elas. O que influenciou nisto foi provavelmente o design dos personagens e os seiyuus (dubladores). Eu sou grato por isso. Antes da exibição, eu não tinha ideia de que tipo de pessoa iria apoiar a série. Nossa heroína não tem sequer seios ou flagras de calcinha (n.t.: ele quer dizer pantyshot/Panchira, expressão japonesa para closes flagrantes de calcinha de um modo erótico, geralmente em ângulo sob a saia/vestido. Mas tem uma cena da Akane de calcinha pós-banho, yay!). Então eu pensei que os homens não iriam se envolver com ela tão facilmente. Mas bem, já que é Noitamina eu estava confiante de que tudo ficaria bem. Nossos personagens têm muito poucos fan-service, mas as pessoas precisam perdoar porque é Noitamina.

N.t.: a que ponto chegamos, heh. Mas hey, eu vejo bastante uso de fanservice em Psycho-Pass, embora não seja espalhafatoso como estamos acostumados a ver em animes harem _.
Durante 2014, Noitamina anunciou um evento em que se comemorava o décimo aniversário do Noitamina e celebrou com um ranking de sua história [concorrendo todas as séries exibidas até então no bloco]. Nesse ranking, Makishima Shougo ficou classificado no posto 1 com o seu papel interpretado pelo seiyuu Sakurai Takahiro (38,9% dos votos), Tsunemori Akane foi classificada no posto 1 de “personagem feminina favorita” (21,4% dos votos), e para “personagem masculino favorito” Kougami Shinya ficou classificado também em 1º (17,6%) e Ginoza Nobuchika obteve a terceira clássificação (12,4%). Como você vê esses rankings?
Honestamente esses resultados me deu muita confiança. O público aceitou nossos personagens, mesmo que tenhamos evitado o arquétipo de personagem moe (n.t.: só o arquétipo mesmo, porque né, moe não se resume a isso e eu vi um monte em PP). Como criador isto me deixou muito confiante para o futuro.

N.t.: Para mais, ver o post Akane, Miss noitaminA.

O que você acha da popularidade do Ginoza em particular?
Ele é o produto do meu desejo de criar uma intimidação por meio de um superior que usa óculos... Estou muito emocionado de ver que as pessoas aceitaram. Pergunto-me se está tudo bem eu ser tão franco sobre isso, embora (risos).
Como você se sentiu quando a segunda temporada e o filme receberam sinal verde?
Não é como se a série tivesse robôs ou poderes psíquicos. Eu pensei que seria difícil atingir um grande público com um tipo tão clássico de Ficção Cientifica. Houve momentos de renúncia no início, porque o gênero SF está em declínio aqui no Japão. Fiquei feliz de podermos superar isso. E estou ainda mais feliz que as parcelas derivadas incluindo spin-offs também estão sendo aceitas. Também o fato de que a série obteve êxito não apenas como uma temporada de 22 episódios, mas também como um universo inteiro, em que as mentes dos seres humanos são digitalizadas. Senti-me reconfortado que o gênero SF, todavia possui uma chance no Japão. Eu gostaria que as perspectivas de mundo em Psycho-Pass fossem ainda mais exploradas.

N.t.: tempos atrás, o diretor de Mardock Scramble declarou que nos tempos atuais era impossível produzir SF hard sem nudez e esperar vender algo, se não fosse Ghost in the Shell.

O filme será o primeiro investimento do Noitamina com adaptações cinematográficas. Quais são os seus sentimentos sobre essa adaptação na tela grande?
Hmm, eu creio que Noitamina deve pensar mais seriamente sobre o cronograma de produção de filmes, se me atrevo a dizer, sim (risos). Estamos fazendo atualmente a segunda temporada de Psycho-Pass, e há também o filme. Não é esse cronograma um pouco imprudente? (Risos)

N.t.: eu me atrevo a dizer que deve mesmo, a segunda temporada de PP está sofrendo com um cronograma tão apertado e insano que comporta duas produções simultâneas para curto prazo.

Sim, você está absolutamente certo sobre isso.
Isto lhe dá arrepios, certo? A temporada e um filme não exigem exatamente a mesma quantidade de calorias... Agora que eu estou atualmente trabalhando no filme, posso te dizer que este é um tipo de mundo muito severo. Mas eu confio em Shiotani Naoyoshi que tem experiência com adaptações para o cinema com o filme Blood-C: Last Dark.

Houve alguma dificuldade com a qual você se deparou ao escrever o roteiro de Psycho-Pass?
O tempo que eu tinha que escrever para Psico-Pass foi bastante curto. Normalmente, para a maioria dos meus outros trabalhos, geralmente eu levo cerca de 2 a 3 anos para completar o script. No entanto, para Psycho-Pass, eu estava sob um cronograma muito apertado, assim, eu só tinha cerca de um ano ou meio ano para concluí-lo. Eu fiz isso apressadamente, e foi realmente difícil de seguir o ritmo dos horários que tinha para cumprir.

Você já mencionou que completou esse script em um cronograma muito apertado. Se tivessem lhe dado mais tempo, você acha que você teria mudado o final da história? Como talvez evitado a morte do principal antagonista Makishima Shougo?
Mesmo que tivesse sido me dado tempo extra, duvido que eu fosse mudar o final da primeira temporada.
Poderia ser por causa da vinda da segunda temporada?
Sim, então, por favor, olhemos para frente.

Um grande número de seus fãs sente que suas obras são muito obscuras e trágicas. Entre toda a sua criação, qual você acredita que seja a mais obscura entre as demais?
De todos os meus trabalhos, que me pareceu mais obscuro entre os títulos de anime que eu escrevi, eu acredito que Psycho-Pass poderia realmente ser a minha obra mais obscura até o momento.

Se você tivesse que escolher um lado, você seria um aliado do personagem Kogami Shinya ou Makishima Shougo?
Se eu tiver que escolher, eu provavelmente estaria correndo ao lado de Makishima Shougo. Como esperado da minha personalidade, eu não seria capaz de tolerar cumpridores das leis do Sistema Sibila, e provavelmente seria capturado imediatamente.

Pode não ser para a causa do mal, mas você estaria lutando contra o sistema, a fim de alcançar a sua ideia de um mundo ideal?
Embora haja certamente pessoas que estão satisfeitas em viver em um mundo tão confortável, e as pessoas que irão dar tudo de si para tentar mudar o mundo, tudo se resume a garantir a sua própria liberdade e felicidade. Portanto, em um mundo assim, eu provavelmente estaria às escondidas me esgueirando muito. Inclusive pode até ser agradável viver entre as montanhas para evitar suspeitas, como Saiga Jouji na série. Estou realmente com inveja de Saiga Jouji por ser capaz de viver uma vida assim.

Em Psycho-Pass, os cidadãos parecem perceber que o sistema de prevenção de crime tem muitas falhas. No entanto, apenas uma minoria parece opor-se abertamente. É uma maneira de você mostrar a atitude demasiadamente passiva das pessoas no mundo de hoje contra os seus governos?
Eu não tinha a intenção explícita de tocar neste assunto, mas eu acho que, no fundo, eu vejo isso dessa forma.

Psycho-Pass, por sua crítica de uma organização ao modo de funcionamento do governo se aproxima de Odoru Daisousasen (Bayside Shakedown), que, como Psycho-Pass, foi conduzido por Katsuyuki Motohiro. É Psico-Pass diretamente inspirado nisto?
Quando eu entrei no projeto, o diretor principal já tinha sido decidido. A concepção do enredo, disseram-me, para fazer eu mesmo, e dessa forma eu escrevi o roteiro e ele explorou com sucesso. Eu estava convencido de que por coisas como o indivíduo no seio de uma organização, a minha proposta de projeto seria aceita.

N.t.: Katsuyuki Motohiro é o diretor executivo e supervisor de Psycho-Pass (assim como a segunda temporada e o filme), que assume o posto simbólico de diretor chefe. Ele foi um dos diretores do dorama Bayside Shakedown (1997- Fuji TV), de grande sucesso, que era uma série de comédia sobre o universo policial. A história se passava na imaginária Wangan Delegacia do Departamento de Polícia Metropolitana de Tóquio. Diferentemente da maioria dos dramas policiais, que tendem a se concentrar em perseguições de ação e de automóveis, Bayside Shakedown se centra em questões burocráticas do departamento de polícia, que também são muito presentes em muitos outros setores da sociedade japonesa. A série mostrava o trabalho da polícia, como a política responsável pelo trabalho do escritório em um ambiente um pouco diferente, repleto de burocracia, funcionários públicos letárgicos, chefes mais interessados em jogar golfe e salvar a própria do que resolvendo crimes, a interferência de políticos, e os conflitos entre a sede da polícia e os agentes locais. Sinopse da Wikipedia. A premissa é divertida. XD
Por que você acha que Motohiro Katsuyuki queria trabalhar nesta série, já que ele não costuma trabalhar em séries animadas?
Ele também tem o hábito de querer participar de um projeto que o surpreende. Ele disse, “que, se vai fazer uma, fará uma estreia exclusiva”. Então, ele apenas disse que seria bom participar de um projeto como este.

Shogo Makishima de Psycho-Pass parece acreditar que nasceu fora do tempo e do lugar de onde ele deveria estar, se alguma vez houve um tempo e lugar a que pertencia. Ele não tem um lugar para pertencer no mundo da Psycho-Pass, então como você acha que ele se sentiria sobre a sociedade moderna de nosso mundo em vez disso?
O nosso mundo e o de Psycho-Pass não são completamente estranhos – há uma série de problemas comuns, problemas e conceitos. Se Shogo estivesse vivendo em nosso mundo? Eu acho que ele seria capaz de encontrar a felicidade e liberdade. Mas um dos temas mais importantes que eu estava tentando transmitir na criação de Psycho-Pass foi o “medo” do mundo. É por isso que ele tem essa sensação de se sentir fora de lugar.

Você mencionou que um dos temas centrais da Psycho-Pass é o medo – isso é interessante, dado os recentes acontecimentos. A reexibição de um determinado episódio foi cancelada devido a um terrível assassinato. Isso parece ser uma reação comum a acontecimentos chocantes no Japão.
Eu honestamente não me sinto muito preocupado com isso, e não sinto que eu deveria evitar escrever sobre isso ou mostrar essas coisas por temor de pessoas que possam imitar. Há sempre a possibilidade de que esses tipos de tragédias vão acontecer – isso é só o mundo em que vivemos.

N.t.: por causa deste ocorrido, o episódio 4 e Psycho-Pass New Edition teve a exibição cancelada, veja mais sobre isso aqui.
O que te inspirou na criação do Sibila e as Dominators?
Tivemos uma discussão de três horas com os produtores e o diretor para desenvolver isto. Foi em grande parte inspirado nas obras de ficção científica Philip K. Dick e Gattaca.

O cenário de vigilância em todo mundo de PP é um pouco semelhante ao que a NSA está fazendo nos Estados Unidos. O que você acha sobre isso?
Eu nunca pensei sobre isso, na verdade. Quando nos inteiramos disto, eu fiquei muito surpreso e é bastante assustador dar-se conta do que a NSA é capaz.

Você incluiu algumas citações da literatura ocidental, como 1984 e utilitarismo. Será que você gostou de tudo e que mais da literatura ocidental você gostou?
Oh, isto era, na verdade ideia de Makoto Fukami (N.t.: que escreveu alguns episódios da primeira temporada de PP, ao lado de Urobuchi). Eu realmente gostei de alguns desses, mas se é muito complicado, eu provavelmente não vou me preocupar em lê-los. (N.t.: Urobuchi menciona que ele ama George Orwell, mas outros autores ocidentais podem ser muito complicados para ele, por isso ele não tenta entender se é muito difícil a compreensão do inglês).

No final de Psycho-Pass, vemos Kogami ler No Caminho de Swann em um barco. É de se perguntar por que especialmente Proust. Podemos, então, supor que ele está indo para a França?
Na verdade, Kogami fugiu para o estrangeiro, mas passando por vários países. Portanto, é possível que isso tenha acontecido na França, mas não podemos dizer que ele está lá agora. Ele poderia simplesmente estar de passagem e estar em outro lugar ou pode estar realmente lá.

N.t.: No Caminho de Swann narra uma incrível jornada à memória, dentro de si mesmo, basicamente falando.
Seria Psycho-Pass a sua interpretação de um mundo que se transforma em 1984?
Podemos dizer que uma boa metade do anime é parte do trabalho de Orwell. A base do mundo que ele criou foi reutilizada e enriquecida, particularmente a perda de liberdade de escolha e livre arbítrio. A pergunta que me fiz na base era: “E se eu nasci em um mundo onde o livre arbítrio não foi possível e onde os sentimentos foram posteriormente eliminados, será que eu teria pensado que este era um mundo feliz?”.

N.t.: 1984 – Nineteen Eighty-Four, livre do panteão da ficção cientifica, escrito pelo britânico George Orwell.
A perda de liberdade e restrição de emoções também seria abordado por ele em seu doujin Jouka no Monshou.

Com Gargantia como um cenário pós-apocalíptico, Psycho-Pass como um cyberpunk-distópico – escreveu histórias com diferentes gêneros, qual você considera o seu favorito?
Eu realmente gostei do cenário cyberpunk de Psycho-Pass, então seria este, suponho.

Se você vivesse em um mundo como o de Psycho-Pass, acha teria problemas com o seu coeficiente criminal?
Ah, e como eu iria ter problemas. Isso seria muito ruim.
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Fontes: