Compilação de algumas entrevistas de Gen Urobuchi em relação
a Psycho-Pass, seria original da Fuji TV para o bloco de animação Noitamina e
estúdio Production I.G.
***
Como você se sentiu com
a transmissão de Psycho-Pass no Noitamina?
Lembro-me especialmente quando os episódios foram exibidos a
cada semana no Noitamina café antes da transmissão normal de TV no sábado. A
exibição do último episódio (episódio 22) foi uma experiência particularmente interessante.
Eu não pensei que Psycho-Pass tivesse quase que totalmente apenas fãs do sexo
feminino. Fiquei surpreso com isso, e aconteceu de também abrirmos uma sessão
de informações no local.
Você imaginou receber
tal resposta dos fãs do sexo feminino?
Não tanto assim, pensei que Psycho-Pass teria uma vibe muito
ocidental/hard-boiled para elas. O que influenciou nisto foi provavelmente o
design dos personagens e os seiyuus (dubladores). Eu sou grato por isso. Antes
da exibição, eu não tinha ideia de que tipo de pessoa iria apoiar a série.
Nossa heroína não tem sequer seios ou flagras de calcinha (n.t.: ele quer dizer pantyshot/Panchira, expressão japonesa para closes
flagrantes de calcinha de um modo erótico, geralmente em ângulo sob a
saia/vestido. Mas tem uma cena da Akane de calcinha pós-banho, yay!). Então
eu pensei que os homens não iriam se envolver com ela tão facilmente. Mas bem,
já que é Noitamina eu estava confiante de que tudo ficaria bem. Nossos personagens
têm muito poucos fan-service, mas as pessoas precisam perdoar porque é
Noitamina.
N.t.: a que ponto chegamos,
heh. Mas hey, eu vejo bastante uso de fanservice em Psycho-Pass, embora não
seja espalhafatoso como estamos acostumados a ver em animes harem ಠ_ಠ.
Durante 2014, Noitamina
anunciou um evento em que se comemorava o décimo aniversário do Noitamina e celebrou
com um ranking de sua história [concorrendo todas as séries exibidas até então
no bloco]. Nesse ranking, Makishima Shougo ficou classificado no posto 1 com o
seu papel interpretado pelo seiyuu Sakurai Takahiro (38,9% dos votos),
Tsunemori Akane foi classificada no posto 1 de “personagem feminina favorita”
(21,4% dos votos), e para “personagem masculino favorito” Kougami Shinya ficou
classificado também em 1º (17,6%) e Ginoza Nobuchika obteve a terceira
clássificação (12,4%). Como você vê esses rankings?
Honestamente esses resultados me deu muita confiança. O
público aceitou nossos personagens, mesmo que tenhamos evitado o arquétipo de personagem
moe (n.t.: só o arquétipo mesmo, porque
né, moe não se resume a isso e eu vi um monte em PP). Como criador isto me
deixou muito confiante para o futuro.
N.t.: Para mais, ver o post Akane, Miss noitaminA.
O que você acha da
popularidade do Ginoza em particular?
Ele é o produto do meu desejo de criar uma intimidação por
meio de um superior que usa óculos... Estou muito emocionado de ver que as
pessoas aceitaram. Pergunto-me se está tudo bem eu ser tão franco sobre isso,
embora (risos).
Como você se sentiu
quando a segunda temporada e o filme receberam sinal verde?
Não é como se a série tivesse robôs ou poderes psíquicos. Eu
pensei que seria difícil atingir um grande público com um tipo tão clássico de
Ficção Cientifica. Houve momentos de renúncia no início, porque o gênero SF
está em declínio aqui no Japão. Fiquei feliz de podermos superar isso. E estou ainda mais
feliz que as parcelas derivadas incluindo spin-offs também estão sendo aceitas.
Também o fato de que a série obteve êxito não apenas como uma temporada de 22
episódios, mas também como um universo inteiro, em que as mentes dos seres
humanos são digitalizadas. Senti-me reconfortado que o gênero SF, todavia
possui uma chance no Japão. Eu gostaria que as perspectivas de mundo em
Psycho-Pass fossem ainda mais exploradas.
N.t.: tempos atrás, o diretor de Mardock Scramble declarou que nos tempos atuais era impossível produzir SF hard sem nudez e esperar vender algo, se não fosse Ghost in the Shell.
O filme será o
primeiro investimento do Noitamina com adaptações cinematográficas. Quais são os seus
sentimentos sobre essa adaptação na tela grande?
Hmm, eu creio que Noitamina deve pensar mais seriamente
sobre o cronograma de produção de filmes, se me atrevo a dizer, sim (risos).
Estamos fazendo atualmente a segunda temporada de Psycho-Pass, e há também o
filme. Não é esse cronograma um pouco imprudente? (Risos)
N.t.: eu me atrevo a
dizer que deve mesmo, a segunda temporada de PP está sofrendo com um cronograma
tão apertado e insano que comporta duas produções simultâneas para curto prazo.
Sim, você está
absolutamente certo sobre isso.
Isto lhe dá arrepios, certo? A temporada e um filme não
exigem exatamente a mesma quantidade de calorias... Agora que eu estou atualmente
trabalhando no filme, posso te dizer que este é um tipo de mundo muito severo. Mas
eu confio em Shiotani Naoyoshi que tem experiência com adaptações para o cinema
com o filme Blood-C: Last Dark.
Houve alguma
dificuldade com a qual você se deparou ao escrever o roteiro de Psycho-Pass?
O tempo que eu tinha que escrever para Psico-Pass foi
bastante curto. Normalmente, para a maioria dos meus outros trabalhos, geralmente
eu levo cerca de 2 a 3 anos para completar o script. No entanto, para
Psycho-Pass, eu estava sob um cronograma muito apertado, assim, eu só tinha
cerca de um ano ou meio ano para concluí-lo. Eu fiz isso apressadamente, e foi
realmente difícil de seguir o ritmo dos horários que tinha para cumprir.
Você já mencionou que
completou esse script em um cronograma muito apertado. Se tivessem lhe dado
mais tempo, você acha que você teria mudado o final da história? Como talvez
evitado a morte do principal antagonista Makishima Shougo?
Mesmo que tivesse sido me dado tempo extra, duvido que eu fosse
mudar o final da primeira temporada.
Poderia ser por causa
da vinda da segunda temporada?
Sim, então, por favor, olhemos para frente.
Um grande número de
seus fãs sente que suas obras são muito obscuras e trágicas. Entre toda a sua
criação, qual você acredita que seja a mais obscura entre as demais?
De todos os meus trabalhos, que me pareceu mais obscuro
entre os títulos de anime que eu escrevi, eu acredito que Psycho-Pass poderia
realmente ser a minha obra mais obscura até o momento.
Se você tivesse que
escolher um lado, você seria um aliado do personagem Kogami Shinya ou Makishima
Shougo?
Se eu tiver que escolher, eu provavelmente estaria correndo ao
lado de Makishima Shougo. Como esperado da minha personalidade, eu não seria
capaz de tolerar cumpridores das leis do Sistema Sibila, e provavelmente seria
capturado imediatamente.
Pode não ser para a
causa do mal, mas você estaria lutando contra o sistema, a fim de alcançar a
sua ideia de um mundo ideal?
Embora haja certamente pessoas que estão satisfeitas em
viver em um mundo tão confortável, e as pessoas que irão dar tudo de si para
tentar mudar o mundo, tudo se resume a garantir a sua própria liberdade e felicidade.
Portanto, em um mundo assim, eu provavelmente estaria às escondidas me
esgueirando muito. Inclusive pode até ser agradável viver entre as montanhas
para evitar suspeitas, como Saiga Jouji na série. Estou realmente com inveja de
Saiga Jouji por ser capaz de viver uma vida assim.
Em Psycho-Pass, os
cidadãos parecem perceber que o sistema de prevenção de crime tem muitas
falhas. No entanto, apenas uma minoria parece opor-se abertamente. É uma
maneira de você mostrar a atitude demasiadamente passiva das pessoas no mundo
de hoje contra os seus governos?
Eu não tinha a intenção explícita de tocar neste assunto,
mas eu acho que, no fundo, eu vejo isso dessa forma.
Psycho-Pass, por sua
crítica de uma organização ao modo de funcionamento do governo se aproxima de Odoru
Daisousasen (Bayside Shakedown), que, como Psycho-Pass, foi conduzido por
Katsuyuki Motohiro. É Psico-Pass diretamente inspirado nisto?
Quando eu entrei no projeto, o diretor principal já tinha
sido decidido. A concepção do enredo, disseram-me, para fazer eu mesmo, e dessa
forma eu escrevi o roteiro e ele explorou com sucesso. Eu estava convencido de
que por coisas como o indivíduo no seio de uma organização, a minha proposta de
projeto seria aceita.
N.t.: Katsuyuki
Motohiro é o diretor executivo e supervisor de Psycho-Pass (assim como a
segunda temporada e o filme), que assume o posto simbólico de diretor chefe.
Ele foi um dos diretores do dorama Bayside Shakedown (1997- Fuji TV), de grande
sucesso, que era uma série de comédia sobre o universo policial. A história se
passava na imaginária Wangan Delegacia do Departamento de Polícia Metropolitana
de Tóquio. Diferentemente da maioria dos dramas policiais, que tendem a se
concentrar em perseguições de ação e de automóveis, Bayside Shakedown se centra
em questões burocráticas do departamento de polícia, que também são muito
presentes em muitos outros setores da sociedade japonesa. A série mostrava o
trabalho da polícia, como a política responsável pelo trabalho do escritório em
um ambiente um pouco diferente, repleto de burocracia, funcionários públicos
letárgicos, chefes mais interessados em jogar golfe e salvar a própria do que
resolvendo crimes, a interferência de políticos, e os conflitos entre a sede da
polícia e os agentes locais. Sinopse da Wikipedia. A premissa é divertida. XD
Por que você acha que
Motohiro Katsuyuki queria trabalhar nesta série, já que ele não costuma
trabalhar em séries animadas?
Ele também tem o hábito de querer participar de um projeto
que o surpreende. Ele disse, “que, se vai fazer uma, fará uma estreia exclusiva”.
Então, ele apenas disse que seria bom participar de um projeto como este.
Shogo Makishima de Psycho-Pass
parece acreditar que nasceu fora do tempo e do lugar de onde ele deveria estar,
se alguma vez houve um tempo e lugar a que pertencia. Ele não tem um lugar para
pertencer no mundo da Psycho-Pass, então como você acha que ele se sentiria
sobre a sociedade moderna de nosso mundo em vez disso?
O nosso mundo e o de Psycho-Pass não são completamente
estranhos – há uma série de problemas comuns, problemas e conceitos. Se Shogo
estivesse vivendo em nosso mundo? Eu acho que ele seria capaz de encontrar a
felicidade e liberdade. Mas um dos temas mais importantes que eu estava
tentando transmitir na criação de Psycho-Pass foi o “medo” do mundo. É por isso
que ele tem essa sensação de se sentir fora de lugar.
Você mencionou que um
dos temas centrais da Psycho-Pass é o medo – isso é interessante, dado os recentes
acontecimentos. A reexibição de um determinado episódio foi cancelada devido a um
terrível assassinato. Isso parece ser uma reação comum a acontecimentos
chocantes no Japão.
Eu honestamente não me sinto muito preocupado com isso, e não
sinto que eu deveria evitar escrever sobre isso ou mostrar essas coisas por
temor de pessoas que possam imitar. Há sempre a possibilidade de que esses
tipos de tragédias vão acontecer – isso é só o mundo em que vivemos.
N.t.: por causa deste
ocorrido, o episódio 4 e Psycho-Pass New Edition teve a exibição cancelada,
veja mais sobre isso aqui.
O que te inspirou na
criação do Sibila e as Dominators?
Tivemos uma discussão de três horas com os produtores e o
diretor para desenvolver isto. Foi em grande parte inspirado nas obras de
ficção científica Philip K. Dick e Gattaca.
O cenário de
vigilância em todo mundo de PP é um pouco semelhante ao que a NSA está fazendo
nos Estados Unidos. O que você acha sobre isso?
Eu nunca pensei sobre isso, na verdade. Quando nos inteiramos
disto, eu fiquei muito surpreso e é bastante assustador dar-se conta do que a
NSA é capaz.
Você incluiu algumas
citações da literatura ocidental, como 1984 e utilitarismo. Será que você gostou
de tudo e que mais da literatura ocidental você gostou?
Oh, isto era, na verdade ideia de Makoto Fukami (N.t.: que escreveu alguns episódios da primeira
temporada de PP, ao lado de Urobuchi). Eu realmente gostei de alguns
desses, mas se é muito complicado, eu provavelmente não vou me preocupar em
lê-los. (N.t.: Urobuchi menciona que ele
ama George Orwell, mas outros autores ocidentais podem ser muito complicados
para ele, por isso ele não tenta entender se é muito difícil a compreensão do
inglês).
No final de
Psycho-Pass, vemos Kogami ler No Caminho de Swann em um barco. É de se
perguntar por que especialmente Proust. Podemos, então, supor que ele está indo
para a França?
Na verdade, Kogami fugiu para o estrangeiro, mas passando
por vários países. Portanto, é possível que isso tenha acontecido na França,
mas não podemos dizer que ele está lá agora. Ele poderia simplesmente estar de
passagem e estar em outro lugar ou pode estar realmente lá.
N.t.: No Caminho de
Swann narra uma incrível jornada à memória, dentro de si mesmo, basicamente
falando.
Seria Psycho-Pass a
sua interpretação de um mundo que se transforma em 1984?
Podemos dizer que uma boa metade do anime é parte do
trabalho de Orwell. A base do mundo que ele criou foi reutilizada e enriquecida,
particularmente a perda de liberdade de escolha e livre arbítrio. A pergunta
que me fiz na base era: “E se eu nasci em um mundo onde o livre arbítrio não
foi possível e onde os sentimentos foram posteriormente eliminados, será que eu
teria pensado que este era um mundo feliz?”.
N.t.: 1984 – Nineteen
Eighty-Four, livre do panteão da ficção cientifica, escrito pelo britânico
George Orwell.
A perda de liberdade e
restrição de emoções também seria abordado por ele em seu doujin Jouka no Monshou.
Com Gargantia como
um cenário pós-apocalíptico, Psycho-Pass como um cyberpunk-distópico – escreveu
histórias com diferentes gêneros, qual você considera o seu favorito?
Eu realmente gostei do cenário cyberpunk de Psycho-Pass,
então seria este, suponho.
Se você vivesse em um
mundo como o de Psycho-Pass, acha teria problemas com o seu coeficiente
criminal?
Ah, e como eu iria ter problemas. Isso seria muito ruim.
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Fontes:
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