Saudações!
Godzilla
surgiu em 1954 como uma manifestação alegórica do trauma japonês aos ataques em Hiroshima e Nagasaki, apenas uma década antes. De lá pra cá, se
evoluiu o gênero de tokusatsu e kaiju eiga (“filmes de monstro”) com
duelos entre gigantes. Inclusive, o diretor deste filme, mestre Ishiro Honda,
já havia trabalhado nos anteriores, até mesmo em King Kong vs Godzilla, unindo
forças com duas mitologias, tamanho impacto que causou. E não parou mais, se
consagrando nisso. Foi então que Mothra apareceu pela segunda vez, retornando
neste filme, em uma das sequências favoritas entre os fãs da série do
leviatã nuclear.
(Imagem meramente ilustrativa) |
A
trama começa quando um ovo gigante aparece no litoral do Japão após uma intensa
tempestade. Antes que os cientistas e professores possam estuda-lo, o ovo é
comprado pelo inescrupuloso Kumayama, que atende na linha de frente do
misterioso empresário Torahata. Eles planejam expor o gigante achado como uma
atração turística. Enquanto isso, as pequenas fadas Shobijin, que falam em nome
de Mothra, tentam persuadir os repórteres Sakai e Nakanishi e o professor
Miura, a recuperarem o ovo e trazerem de volta para sua ilha. Para piorar a
situação, não demora muito para o Rei dos Monstros desencadear um furioso
ataque em território nipônico.
(Para mais dos meus textos, é só ir no menu 'Crítico Nippon'.)
Contando
com uma trama mais elaborada do que poderíamos imaginar, Ishiro Honda cria um
filme envolvente enquanto os monstros não aparecem. Oferecendo vislumbres
rápidos de Mothra, alimentando nossa expectativa para o confronto título, e nem
por isso a parte dos humanos torna-se aborrecida e mais estendida do que
deveria (um erro recorrente nas pavorosas e recentes adaptações americanas do
monstro). Os vilões Torahata e Kumayama tem seu tempo na medida certa, e uma
dinâmica interessante, e este último me lembrou da performance do Beiçola no
primeiro live action de Rurouni Kenshin. Por outro lado, o trio de heróis não
tem espaço para maior desenvolvimento. O repórter Sakai (Akira Takarada) e a
fotógrafa Nakanishi (Yuriko Hoshi) fazem um papel correto apenas, com os
estereótipos e discussões extremamente recorrentes do Cinema na época.
Assim,
é interessante notar como o universo de kaijus está coerente em seus
personagens, que aceitam pequenas fadas Shobijin sem maiores alardes, bem como
a transformação do ovo gigante em negócio num piscar de olhos, e reconhecem
facilmente a gigantesca criatura título (com o célebre grito ao vê-la pela
primeira vez: “Gojira!”). E os
efeitos especiais, aliás, estão ótimos para a época, empregando maquetes,
pinturas, bonecos, fantasias e montagens para juntar mais de uma técnica ao
mesmo tempo. E ainda que a mandíbula de Godzilla seja relativamente precária e
mole, não atrapalha tanto devido a direção segura, empolgante e dos cenários
grandiosos que o monstro destrói. Por sua vez, Mothra se torna ainda mais
imponente. Em momento algum me via pensando em sua natureza artificial, e há
algo em seus grandes olhos azuis e em seu ruído delicado e quase choroso, que
realmente comove e nos faz torcer por ela. Todos os seus voos contra o céu
colorido e o bater de asas são belíssimos e orgânicos.
Os
oponentes, aliás, para o sucesso do projeto, são a melhor parte do filme. Nosso
envolvimento com eles é grande, e isso é palpável na fantástica batalha entre
Godzilla e Mothra, sabendo que esta última está à beira da morte e luta para
proteger seus filhotes. E as constantes reviravoltas, exigindo o máximo das
habilidades de cada um, desde o Sopro Atômico de um ao pólen venenoso de outro,
dão um tom de urgência incrível ao confronto. E a edição de som é fantástica ao
evocar as sutilezas e particularidades de ambos.
Aumentando
gradativamente o ritmo do filme de forma sutil até chegar na longa e
ininterrupta batalha entre Godzilla e o exército. As constantes estratégias de
cada lado são tão desesperadoras quanto na luta com Mothra, demonstrando o
quanto é descontrolável a força do leviatã. Embalados por uma fotografia em
panorâmicas que aumentam em muito a escala dos combates, perfeitamente
convincentes. E o efeito do Sopro Atômico derretendo os tanques do exército
funciona muito bem. As larvas da Mothra também convencem e aos poucos passam a
ser uma ameaça ao Godzilla, graças à inteligência de seu diretor em escolher
aqueles pedregulhos para a ilha.
Desta
forma, Mothra vs Godzilla é um entretenimento de alto nível, infinitamente
melhor que atrocidades como aquela vista no ano passado, no Godzilla ocidental.
Afinal, por que paramos para assistir kaiju filmes, senão para nos envolvermos
em batalhas cada vez mais empolgantes? Hollywood parece não ter entendido isso
e escondido o bicho por duas horas. E mesmo com recursos limitados, Ishiro
Honda e sua equipe nos proporcionam exatamente o que queremos.
@PedroSEkman
critica, resenha, análise, review, comentários, estudo, Godzilla, Kaijus, Monstros, Japoneses, Nuclear , Filme, clássico, antigo
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