domingo, 8 de março de 2015

Comentários: Death Parade #09 – Death Counter

Contador da Morte. Título perfeito para tratar de quem vê pessoas apenas como estatísticas. 

Comentário Anterior; Death Parade #08 – Death Rally

Esse episódio de Death Parade desponta não como um episódio surpreendente, mas como um episódio que conclui uma linha de raciocínio presente desde o primeiro, acerca dos valores humanos e o julgamento praticado pelos juízes de Nona. Que os julgamentos eram tendenciosos e os métodos aplicados injustos na parte das vezes era algo evidente, se tornando o motor da nova série, afinal o enredo existe a partir desta insatisfação de Nona com o sistema atual. Mas, qualquer julgamento praticado por seres humanos, e que por extensão também atinge aos bonecos juízes uma vez que eles também são constituídos com uma base da essência humana, não podem ser perfeitamente equilibrados e destituídos de falhas. São julgamentos praticados a partir de uma perspectiva, carregando consigo preconceitos, emoções e limitações de conhecimento. Como Decim diz a Kurokami, você não passa a compreender tudo de uma pessoa pegando por base apenas alguns fragmentos de sua memória. Mesmo memórias podem ser enganosas. Isso torna paradoxal o ato de julgar, em que a única forma de um julgamento pleno seria o divino... que não existe, como a série faz questão de ressaltar. 
Esse episódio poderia ter sido melhor do que foi se não fosse tão dissonante em relação à abordagem na caracterização de Tatsumi. O roteiro percorre um caminho muito fácil e desprovido de qualquer sutileza para alcançar seu clímax dramático, criando no processo uma caricatura que não condiz nem um pouco com a temática discutida ao fundo – o efeito provocado é dissonante. Não estou dizendo que a motivação de Tatsumi estivesse equivocada, mas sim sua abordagem, que para aquele momento deveria ser tratado com muito mais suavidade e naturalidade, formando uma mistura homogênea com o tom geral da trama deste arco de episódios. Ou seja, as caretas e arquétipo de individuo alucinado quebrado que havia se perdido na escuridão eram dispensáveis. Retratar esse caráter humano em animação é algo que criadores deste meio se equivocam facilmente e perdendo o tom ideal da proposta. Muito devido a essência da própria animação, que é atingir um exagero cênico. Há casos e casos, e o deste episódio é certamente um destes em que a direção não alcança a sensibilidade necessária para o que está querendo contar. 

Shimada, por outro lado, se saiu melhor em sua caracterização por ser um personagem de conflitos bem mais simples que os de Tatsumi. Ele é facilmente identificável, pois o que há nele é uma latente revolta e uma fúria animalesca que atinge e emerge com facilidade qualquer pessoa assolada por injustiças sociais. Todos nós em algum momento da vida estamos sujeitos a sentir isso. A perda de confiança nas figuras de autoridade e no Estado e Justiça, e a crença equivocada de que é preciso fazer justiça com as próprias mãos para um juízo realmente justo, o desejo de vingança. O ser humano é um terreno fértil para todas estas emoções, por sua instabilidade e fragilidade, como diz Kurokami à Decim. Nós somos muito suscetíveis e influenciais às situações que nos cercam no momento. Por conta disto, o mundo está repleto de pessoas como Tatsumi, que perderam completamente a fé ou na humanidade e no pacto social estabelecido, retornando a um estado mais primitivo. 

O que é que eu procuro?
Talvez seja um cavaleiro de uma terra distante.

O que é que eu procuro?
Talvez seja uma costa que irá me salvar desse pântano eterno.

Há apenas uma coisa que eu procuro.
O que gostaria de obter ou será o Kishi (costa), ou shiki (minha morte).
-Frederica Bernkastel
Algo que me atingiu como uma surpreendente ação foi Shimada ter cedido aos seus impulsos e mais uma vez caído em pecado ao infligir justiça com as próprias mãos. O que geralmente vemos são exemplos de superação e força – sim, essa é uma das facetas mais lindas do ser humano, essa capacidade de perdoar e seguir adiante – mas também é fácil se corromper e ser tragado pelo pântano. Se entregar à fraqueza momentânea e abrir mão de um futuro com possibilidades incríveis. Shimada, embriagado e cego pelo medo e ódio, acredita estar fazendo o melhor pela sua irmã, mas na verdade o que ele está fazendo é algo para si mesmo. Para se preencher. Sentir-se vingado. O que ele busca é a autossatisfação. Ele não pensou na sua irmã, mas em si mesmo. Ele realmente acredita que agora ela estará melhor? Que suas feridas irão desaparecer? Ele pensou em como ela estará ainda mais vulnerável e sofrendo estando sozinha no mundo, sem seu apoio? Como evidenciado na montagem final, Shimada era seu pilar não apenas emocional, mas também financeiro, tomando o lugar dos pais ausentes. Isso me lembra do porquê de ser tão intenso e emotivamente desconfortável o desfecho do episódio 4, onde a mãe não deseja nada mais do que simplesmente voltar para perto dos seus filhos, que naquela instância já era impossível, mesmo diante de uma possível reencarnação. 

Por isso tudo, a ação de Shimada em se entregar à espiral do ódio tem muito mais peso temático para aquilo que a narrativa está tentando alcançar, que é a instabilidade do ser e o porquê os métodos de arbitragem daquele mundo são equivocadas. O que se faz ali não é justiça, é apenas um jogo em que os personagens são nada mais que marionetes. Só a falta a plateia, sedenta por entretenimento. Ops, mas essa ai não somos nós? Mas, o próprio conceito de justiça pode ser bem abstrato, afinal, analisando friamente, Tatsumi não armou um flagrante que impedirá o abusador de atacar mais vitimas? Não é assim também a nossa justiça, incapaz de tomar ações definitivas antes de o criminoso agir? No entanto, mesmo em obras distópicas, onde existe a prevenção antes mesmo do ocorrido, como visto em obras como Minority Report e Psycho-Pass, também ocorre diversos equívocos na aplicação da lei. Naquela circunstância, já havia evidências suficientes para Tatsumi enquadrar o meliante antes mesmo de ele ter chegado aos finalmentes com ela, mas o que ele queria estava muito além da simples aplicação da lei. Ele não estava buscando salvar ninguém, mas encontrar na eliminação do outro o seu poço de endorfina para aliviar a sua dor. Se ele estivesse mesmo pensando na dor do outro ser, teria salvado Sae e enquadrado o elemento perigoso. 
Há uma linha de diálogos na season 1 de Psycho-Pass que ficou marcado no meu peito, em que a protagonista Akane diz que a Lei/Justiça é frágil, e que são as pessoas que deveriam lutar para proteger e preservá-la. Uma conclusão obvia, mas que se torna forte naquele contexto após tudo que acabávamos de vislumbrar em um Estado em que as pessoas desistiram da ordem e voltaram ao estado primitivo. Isso define bem o porquê de, por mais que doa em nós, o prazer instantâneo de cruzar a linha é uma ilusão que faz mais mal do que bem. E que ainda assim, uma rota difícil de ser ignorada.

Ao fim deste episódio, um ciclo de Death Parade se encerra e no próximo, voltamos para a construção do ato final que precede o clímax, que eu não faço nem ideia de como será. Decim entrou em colapso ao ter suas verdades tão sagradas desfragmentadas com tanta facilidade, como uma maquina entrando em tilt ao lidar com mais dados do que fora programada. Particularmente, eu gostaria que as crenças de Kurokami também fossem questionadas, porém com Death Parade sendo cada vez menos vago, me parece ser uma abordagem distante daquela que o enredo está se encaminhando. Por fim, será que Shimada foi para o inferno também? É o que dá a entender, acho que no próximo teremos a resposta.

Aliás, indo na contramão da opinião geral, o que mais me deixou impactada foi a confirmação da não existência de algo como “céu” e “inferno”. A série quer dizer algo com isto, por isso devemos ficar atentos. 

P.s.: uma obra que trata essas questões de natureza humana em busca de saciar um prazer interno matando seus semelhantes através do pretexto de justiça é o muito bom Jouka no Monshou

Avaliação:  ★★★☆☆
Staff do Episódio
Roteiro: Yuzuru Tachikawa
Storyboard: Hiroshi Kobayashi
Diretor de Episódio: migmi
Diretor Chefe de Animação: Shinichi Kurita
Diretores de Animação: Shosuke Ishibashi

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