quinta-feira, 4 de junho de 2015

Golden Time (2013): As Melhores Memórias de Nossas Vidas

A comédia romântica recebeu muitas críticas, mas há flores também.

Golden Time é originalmente uma light novel (já finalizada) da mesma autora do já quase “clássico” (por votações populares) Toradora, Yuyuko Takemiya. Portanto, quando surgiu a noticia de ganharia uma adaptação em anime, o “do mesmo autor de...” foi o grande chamariz pra mim e outros muitos. E o enredo segue uma estrutura realmente bastante similar à de Toradora, com a história começando com um quadrado romântico, que até a metade irá se inverter, seguido de algumas reviravoltas. Contudo, à exceção dessa similaridade de estruturas narrativas, consegue se manter de certa forma diferente, assim como também em uma boa margem de distancia, em termos de qualidade, da obra mais famosa de Takemiya. 

Na série, acompanhamos o atormentado protagonista Banri Tada (Makoto Furukawa), que perde a memória em um acidente, e para fugir da antiga vida, se muda para uma universidade de Tóquio. Lá ele se torna amigo de Mitsuo Yanagisawa (Kaito Ishikawa), que é perseguido por sua amiga de infância Kaga Koko (Yui Horie); uma garota que não sabe ouvir não e insiste em um relacionamento idealizado com o amigo, tentando ao máximo forçar uma relação romântica entre eles. A história gira em torno, inicialmente, da stalker e histriônica Kaga, suas tentativas de se impor na vida do melhor amigo e da paixão platônica que Banri acaba desenvolvendo por ela.
Há quem não acredite em amor à primeira vista, mas não se pode negar que algumas pessoas possuem este dom de impactar os outros com uma apresentação de tirar o fôlego. É o tipo de pessoa que anda pelas ruas como se desfilassem em um tapete vermelho e não olhassem para trás, sem se dar conta de que o mundo não gira ao seu redor. São pessoas vibrantes e repletas de energias. Essa mesma energia age de um modo magnético e também te repele. Kaga Koko é esse tipo de personalidade, com a qual um encontro é sempre um acontecimento. A staff de produção de Golden Time, também pelo estúdio que amamos e odiamos J.C. Staff, não é tão boa quanto a de Toradora, o que reflete na própria animação do anime, mas é diversos bons momentos de cinemática – e o roteiro durante boa parte do primeiro cour, que é onde se estabelece a base do enredo, é repleto de arestas e carece de uma melhor carpintaria. 

No entanto, com os passar dos episódios, os personagens vão ganhando uma força extraordinária, onde seus conflitos passam a ser algo com que nos importamos.  O envolvimento afetivo entre Kaga e Banri pode não ter o mesmo charme de um “Taiga e Ryuuji” de Toradora, mas é exatamente isto que há de mágico no relacionamento de ambos. Muitos dizem que não há química entre Kaga e Banri, porém, química é o que eu mais vejo exalando entre eles. O que ocorre é que a construção do despertar afetivo de Kaga por Banri não tem o idealismo projetado sobre o do casal de Toradora, no sentido do clímax ser afetadamente dramático. Para compreender a forma como é levado este romance, é preciso compreender Kaga Koko como a mulher imatura que ela é, desajeitadamente tentando se agarrar a um punhado de fantasias da infância que insistem em escorrer por entre os braços. Com uma imensa carência afetiva, Kaga é o tipo clássico de personagem rica e desejada/idolatrada por todos, porém o trono é um lugar solitário, e por isso sente uma imensa solidão em torno de si. Banri não é o tipo príncipe encantado, e tampouco desperta fascínio ou paixões à primeira vista. É o tipo comum que só pode mostrar o seu valor no cotidiano. De repente ele oferece algo a Kaga, que é atenção e afeto, no qual ela não pode ser totalmente indiferente. Naturalmente, ela passará a desenvolver um forte vinculo afetivo por ele, e quando menos perceber, se dará conta de que sente algo pequenininho por ele, que é um sentimento diferente daquilo que ela nutre pelo outro. Começa assim, pequenininho... 
É interessante que o decorrer do relacionamento entre Kaga e Banri, principalmente o contraste entre o inicio e o final, onde a insegurança e imaturidade da personagem é evidenciado em suas atitudes, com ela se portando de forma quase cênica procurando seguir uma formula, exatamente por não saber ao certo como se portar dentro de um relacionamento real, e o medo de perder tudo aquilo – e claro, nisto, ainda vai sua força incontida e seus problemas de confiança. Kaga Koko é um personagem deslumbrante, que preencheria com vigor um artigo cientifico, sem perder o fôlego. E sim, uma personagem muito diferente da Taiga, ainda que ambas sejam explosivas.

Banri também é um personagem diferente de Ryuuji – como comentei, uma das melhores características de Golden Time é este distanciamento da obra anterior. Banri é um personagem que cresce bastante à medida que a história se centra ao seu redor e seus conflitos de personalidade. Há uma amiga de infância, que tem uma vida estabelecida, assim como um pseudo-romance, com Banri antes deste perder a memória, que colocará o relacionamento com Kaga, assim como toda a sua existência, em um confronto turbulento. Uma das melhores surpresas do enredo foi o roteiro ter fugido de algumas situações clichês que renderiam diversas situações melodramáticas, e se centrar justamente no conflito interior de Banri. Contudo, há diversas situações de melodrama em Golden Time e seu enredo folhetinesco, que pode tanto repelir quanto atrair, dependendo da sua zona de interesse quanto a enredos novelescos. Curiosamente, Golden Time tem menos situações de mal entendidos – e quando tem, são rapidamente resolvidos – que diversas obras de romances por ai, além do casal já se estabelecer desde a primeira metade e manter uma relação aberta, de beijos e troca de carícias; há muitos beijos em Golden Time. 

Ao fim, há uma situação interessante, em que Banri se defronta com o seu eu do passado em uma sequência de meta, que se assemelha, inclusive, ao final de Umineko no Naku Koro ni (não é spoiler, dado que durante toda a história, Banri é assombrado por uma projeção sua de antes de perder a memória, que tem o papel simbólico de representar o seu conflito psicológico). Não é tão charmoso, quanto. Mas é um final agradável em que a autora entrega justamente a recompensa esperada pelo telespectador. Golden Time é uma história que me cativou com o tempo, envolvendo ao ponto de os episódios finais crescerem de forma descomunal diante dos meus olhos. É uma série que pede uma carpintaria melhor em vários sentidos, mas que tem aquilo que falta em diversas outras séries que se colocam em um grau de superioridades: personagens cativantes, dando um sentido palpável ao título Golden Time (Tempos Dourados)
Não falei de todos, obviamente, para não entregar os pontos da história. Inclusive, a trama paralela da personagem Chinami Oka, é completamente desajeitada e sem brilho, que até faz um esboço tímido, mas que termina sem dizer a que veio. Por outro lado, uma personagem chamada Nana, referência explicita à Nana de Ai Yazawa, é uma personagem que começa se sustentando apenas em referências obvias, mas que de modo surpreendente, demonstra uma personalidade própria e cresce ao ponto de se insinuar como um par romântico interessantíssimo com Banri. Vou confessar-lhes que adoraria acompanhar um spin-off com esta Nana, mas talvez o grande esplendor dela seja justamente ser a personagem que aparece arrombando a porta e rouba todos os holofotes, mas por apenas alguns segundos. 

Nota lateral: para os que fogem de adaptações de material aberto, esta série conseguiu abranger todo o material adaptado.

Nota: 07/10
Material de origem: Adaptação ligth novel
Autora: Yuyuko Takemiya
Estúdio: J.C. Staff
Direção: Chiaki Kon
Roteiro Adaptado: Fumihiko Shimo
Música:  Yukari Hashimoto
Episódios: 24
Tipo: TV

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