E Gakkou Gurashi chega ao fim sem grandes surpresas, mas sendo fiel aos seus princípios preestalecidos. Foi bom para você? Foi bom para mim.
APESAR DE, o recurso do antivírus no final de obras de apocalipse zumbi ser algo comumente aceito – recurso presente desde histórias como Elfen Lied, que não são propriamente sobre zumbis mas utilizam de um apocalipse seguido de uma cura para conter uma infestação da mutação; à histórias como Resident Evil, assumidamente zumbis onde há soros/vacinas que curam infectados em seus estágios iniciais –, sua utilização demanda grande responsabilidade e sensibilidade para o escritor. O senso comum neste tipo de artificio de roteiro pede que haja limitações, com o efeito do antidoto só sendo eficaz em vitimas em estágios ainda iniciais.
Gakkou Gurashi aplica todas essas regrinhas, mas ainda é uma linha tênue que faz com que a receptividade do público seja bastante ambígua e polarizada. Eu não gosto que a obra se acovarde em tirar a vida de personagens com forte representatividade frente ao publico. Personagens importantes. Centrais. O temor de dar o passo seguinte é uma das coisas mais vergonhosas e desestimulantes em autores e artistas. Yuki Yuna is a Hero, só para citar um caso pessoalmente recente, é um tipo de série covarde, que sugestiona e sinaliza, mas encolhe o rabo e dá meia-volta para sua zona de segurança, mesmo que isto contradiga um dos seus alicerces mais críticos. Pode parecer simples para nós, meros leitores e expectadores. Para nós que somos apenas audiência. Aquele que consome. Mas, para quem cria, é sempre uma questão complicada de se lidar, a pressão é grande por todas as partes e este autor precisa ter certo orgulho e pulso firme para tomar a melhor decisão para o enredo. Como Gen Urobuchi comentou em determinada entrevista (se alguém fizer questão de ler, peça nos comentários que dou uma procurada nos favoritos), houve choros e clamores da produção do anime para que se evitasse a morte de determinada personagem em Madoka Magica. Ele não volta atrás, mas o desfecho da obra acaba atendendo as necessidades mercadológicas, e ainda que seja ótimo como solução para um paradoxo de uma obra que não pertence somente a ele, é ainda uma questão sensível para muita gente.
Creio que Gakkou Gurashi deva cair neste mesmo patamar de crítica, embora com bem menos popularidade e rebuliço. Que seja. Mas apesar de eu temer que a série acabasse se tornando covarde, não demora muito para que meus temores caiam por terra. O que se segue na sequência em que as garotas se juntam apreensivamente em torno de Taroumaru – que se movimenta e se alimenta fragilmente – e o alimentam não é apenas uma legitima lição de como evocar o moe do interior de cada pessoa que assiste, em algo repleto de ternura e apego, é também uma resposta para as minhas e suas inquietações. É Gakkou Gurashi capaz de sacrificar um personagem afetivamente importante? A série o faz. Taroumaru não é apenas um cachorrinho qualquer. No decorrer do caminho, ele acaba ganhando nossa simpatia em uma presença forte. É um cachorro de personalidade e genioso. O peso de sua morte consegue ser maior que a de muitos personagens humanos que não passam de alvos. Vou além ao dizer que sua morte teve mais impacto do que seria com a morte de Yuuri. Como a morte desta poderia nos impactar? Eu fico a pensar. Ela não tem qualquer trama ou arco dramático que pudesse se estabelecer como desfecho climático. Seria totalmente vazio e somente com muita força de vontade para sentir por ela.
Então, não importa como tal personagem é caracterizado. Ele pode ser bandido. Um coelho. Um uniforme senciente. Caricatural. O que importa é o quanto suas emoções soem reais e verdadeiras, e para isto não há outra forma se não construir uma estrutura que fomente um elo emocional com a audiência. No caso de Taroumaru, isso se dá através da conexão dele com as demais personagens e o modo como se comporta neste ambiente.
EU CHOREI. Chorei como um bebê! PORRA! Se você pode sentir a morte de um cachorro numa obra ficcional, é porque significa alguma coisa. Tá certo que sou fraquinha nessas coisas e me emociono facilmente, principalmente quando vejo outros personagens chorando, mas é algo. A morte, se utilizada como ruptura ou sequela significativa dentro de determinado núcleo narrativo, ela deve ser definitiva, para que possa ser sentida devidamente e a audiência não se sinta ludibriada – mesmo em casos extremos como o de Madoka e Bleach, a morte é um catalisador vital importantíssimo para atingir o ponto do enredo (o primeiro caso tem um peso maior por diversos motivos), e sua manutenção definitiva é vital para o que a obra pretende.
Neste episódio, a morte novamente atua como um importante rito de passagem e continua sendo uma das mais fortes artimanhas da ficção, quando bem disposta. O que se diz em relação a ‘rito de passagem’, se tratando de recurso ficcional, é que se trata de um meio circunstancial que marca profundamente a virada de status de um determinado personagem ou núcleo. É, portanto, uma mudança de comportamento em relação ao ambiente em que se vive. É ao mesmo tempo uma despedida, de algo que está ficando para trás – o seu velho eu ou qualquer coisa similar –, e também um ‘boas-vindas’ a uma nova forma; inicialização de um novo ciclo. Gosto bastante do desfecho da primeira e única temporada de Psycho-Pass, nesse sentido. Consegue ser ali, um enredo fechado que passou a sua mensagem. O que vem depois não é nada senão fanservice que nada mais tem a acrescentar a esta visão. Gakkou Gurashi é similar nesse sentido de termino de um ciclo, mas percorre o caminho de outros tantos animes ao utilizar a alegoria da escola e sua formatura. Kill la Kill e Angel Beats! são os exemplos recentes mais vivos em minha memória, justamente por serem tão pouco sutis ao mostrar esta intenção metafisica. Não creio que precise discorrer mais em relação a isso. Posso embelezar as palavras e formar mais um paragrafo inteiro, mas o quero dizer é: a direção quis dar um sentido de multicamadas e fez um bom trabalho neste aspecto.
O desfecho é emocionalmente em tom de despedida. Se tratando de adaptação de um mangá ainda em andamento, acaba que algumas tramas possuem uma resolução que poderia ser melhor, como a de Yuki, que claramente há muito mais a se explorar, como o simulacro que ela forja em relação ao convívio com os colegas de classe. Ela nunca foi popular ou amada do jeito que fantasia ser, e este é um dos motivos que a fez ficar tão próxima de Megu-nee, ao ponto de ser emocionalmente “adotada” pela sensei. É uma história com desfecho aberto, mas as tramas conseguem ser amarradinhas até certo ponto. A de Mii-kun no que diz respeito à Kei, por exemplo, é um desfecho tão triste, e ainda assim tão bonito, com sua amiga ficando para trás e ela seguindo adiante, e se distanciando cada vez mais. ELA SOBREVIVEU. ElAS estão vivas e felizes, embora não precisem estar sempre bem. Foi bem bonito sim.
Gakkou Gurashi é como Lost. Ou seja, é bom para aqueles que conseguem aceitar bem o apelo místico da coisa toda, mas enquanto o seriado constrói uma mitologia em cima disto, a série de anime apela mais para a subjetividade, o que torna a coisa toda um tanto mais frágil. Gakkou Gurashi como anime de apocalipse zumbi é fraco. Por isso, deve ser encarado como de fato se pretendeu a ser. E com isso, o foco no convívio diário e de amizade estabelecido entre as garotas e o pequeno cãozinho. Como comentei lá atrás, o momento em que elas saíssem da escola, representaria o fim.
Você consegue sentir a magia no ar? Você deve se perguntar isto, e em seguida, obterá a resposta se o anime foi ou não satisfatório. Se sim, certamente o discurso de Yuki dissipou a orla de zumbis foi tocante o suficiente para soar aceitável. Felizmente é o meu caso.
Nota lateral: Eu errei no ep anterior, quando disse que Yuki estava indo salvar Mii-kun, quando na verdade ela estava se dirigindo à sala de comunicação. Mas todo o resto acaba por ser correto. Havia essa áurea mística em torno de tudo. E Yuuri permanece sendo a pior garota do anime no sentido de não ser mais do que um protótipo.
Avaliação: ★★★✩★
Staff do episódio:
Roteiro: Norimitsu Kaihou
Diretor do episodio: Ho Pyeon-gang
Storyboard: Ho Pyeon-gang
Direção de Animação: Miho Ichikawa, Takashi Narikawa, Naoko Kuwabara, Masumi Hoshino, Eri Ogawa, Takehiko Matsumoto, Aya Higami, Kouji Yamagata, Hiromi Higuchi, Keiko Kurosawa , Makoto Iino, Haruko Iizuka
Direção: Masaomi Ando
Curta o Elfen Lied Brasil no Facebook
e nos Siga no Twitter
crítica, análise, resenha, review, Gakkou Gurashi final