Comentários: Subete ga F ni Naru #03

Red Magic

Esse episódio destila uma envolvente atmosfera de suspense intricada em melodias de teclado que quase passam despercebidas, não fossem o ambiente pantanoso que proporciona. Creio já ter dito isto no primeiro post, mas quero ressaltar o quanto é interessante os arranjos de Kenji Kawai para a série, que não chamam a atenção para a instrumental em si, e sim o quanto se conecta com o desenho do episódio, se tornando assim fundamental para seu envolvimento. Você pode não se dar conta o quanto, mas já está completamente envolvido por ela.

Muitos acusam a série de estar lenta, mas essa é sem duvidas uma das melhores características na forma como vem sendo conduzida pela direção de Mamoru Kanbe. Estar lenta, não é como colocaria, no entanto, já que em três episódios a série tem mostrado a que veio, respeitando a regra de 3. Eu diria que é o timing acertado para retratar um mistério em que a resposta está profundamente conectada emocionalmente com os laços que unem os personagens, onde o contraste entre a jovem Moe e a enigmática Magata é o que se dispõe a revelar mais da vida e personalidade de uma personagem morta, mas que está em todos os lugares do enredo, como uma assombração que soa mais viva que qualquer ser vivo dentro daquele universo. De fato, Magata Shiki surge como um poderoso ser onisciente e presente, manipulando a todos do alto de um tabuleiro, tornando a todos meras peças de um jogo.

Sendo assim. É. O ritmo é adequado. É a porra de um ritmo comum a qualquer série de ficção policial.

Dito isto, o que mais interessa nisto tudo não é quem. E sim os motivos. As possibilidades são muitas, mas tudo ainda bastante enevoado. Com a história de Magata sendo contada lateralmente, através de flashbacks, poderemos compreender melhor o enigma acerca deste caso, que tem tudo para ser as consequências do envolvimento sujo do protetor de Magata com uma garotinha ainda incapaz de arcar com tamanha responsabilidade, não importante seus desejos. A perca [da sua virgindade, como fica implícito] deverá, penso, ter conexão com o aturdimento do seu protetor/diretor neste episódio, que por algum motivo obscuro, não parece de forma alguma chocado com a repentina e surpreendente morte de sua pupila amante – e mais, é inexplicável que ele tenha sido assassinado daquela forma sem ter parado para conversar com alguém, antes de decolar (se esta era mesmo a sua intenção, pois se passa um tempo considerável entre o aviso do que acabara de ocorrer na ilha e seu assassinato; o que seria evitado se ele tivesse decolado imediatamente após saber do ocorrido).

A irmã de Magata é a peça complementar e, após a morte do diretor/protetor/pedofilo, é aquele elemento intimamente conectado à dra que deverá trazer muitas coisas à luz. Claro que, se torna obvio que o anime se propõe mais a ser uma distração passiva de assassinato e conflitos humanos, do que realmente uma série de mistério que exige interatividade com o espectador. Não sei como é no livro, mas talvez seja como Umineko ou Higurashi, com um animação que castra qualquer pretensão detetivesca em seus expectadores – digo, você pode até tentar, mas nunca chegar a uma reposta verdadeiramente lógica por motivos de omissão de elementos importantes ao raciocínio (talvez chegue jogando na loteria ou instinto). Lendo por ai, pude apurar que o anime ignora uma importante questão no cadáver de noiva sobre o carrinho e o porquê diabos o assassino amputaria seus braços e pernas. No livro, é simplesmente pelo fato de o carrinho não suportar um peso superior a 30kg (porra, a Magata devia ser uma magrela. Oh, sim, ela era!).

Então, mesmo que ele joga a questão no ar com o “talvez tenha cortado para enfiar o vestido”, não faz sentido nem mesmo como um raciocínio de um personagem, principalmente um inteligente como o Saikawa. Com questões e caracterizações tão tolas e absurdas, o anime se torna reminiscente a Sakurako-san no Ashimoto. Mas ok, ainda não é em um nível tão baixo, então vamos dar um desconto e pensar em como ninguém fica realmente surpreso como um vestido de noiva foi parar numa sala vigiada praticamente inviolável? Juntamente com o assassino, suponho? Mas se o assassino é um dos personagens presos na ilha, e suponhamos que não seja um personagem oculto, é ainda um enigma, já que um vestido daquele é volumoso e pesado pra caralho. Enfim, foda-se. Não vou ficar pensando nessas questões nem tentar desvendar nada através de enigmas, afinal, seria impossível chegar a qualquer resultado pensado.

Mas a atmosfera e a ambientação é de uma tensão tão inebriante, que torna tudo ainda bastante imersivo em termos de feeling. E, eu devo dizer que estou aqui principalmente por Moe, Magata e Saikawa e seus conflitos. Claro que nutro um pouco de curiosidade sobre a motivação de tudo (uma coisa me diz que Magata sabia de tudo o tempo todo e deixou acontecer), mas fico a pensar que o final será a mesma coisa de sempre, mesmo porque, a série de livro é extensa e pelo que pude apanhar, mesmo com a resolução do caso no primeiro livro, ainda é algo que continua a repercutir e ter peças se revelando mesmo muito tempo depois, e o anime não vai chegar a tanto. No fim, é a questão psicológica e tramas sobre os personagens em si que têm me cativado – como chegar a conclusão, após este episódio, que aquele laboratório era uma prisão autoimposta da Magata a ela mesma; certo, já era suficientemente claro que se tratava de uma prisão autoimposta como a própria salienta indiretamente em conversa com Moe, mas tudo ganha um peso maior quando descobrimos a profundidade deste poço.

Mas deixe-me dizer do quanto minha criança interior vibrou com este episódio, enquanto comia biscoito com manteiga. Quer dizer, eu realmente parecia uma criança empolgada com o que estava assistindo. Afinal, amo essas paradas. Pode ser que a morte de Magata fosse algo obvio para muitos, mas me passou completamente batido. Fiquei realmente aturdida e contente com esse desfecho. É um arranjo narrativo interessantíssimo. E PORRA caras, Shiki são corpos mortos que andam. Era tudo tão obvio. Até cheguei a pensar na questão proposta por um leitor, sobre o significado do nome, mas nunca pensei que fossem chegar tão longe e das implicações disto.

Avaliação: ★★★★★
Staff do episódio:
Roteiro: Yusuke Watanabe
Direção do episódio: Yukiko Imai
Storyboard: Yukiko Imai
Direção de animação: Kanako Ono
Diretor: Mamoru Kanbe

-Ok, isso foi uma autocritica ou uma critica às críticas?

-Vestido de noiva tradicionalmente é o sonho de toda mulher (e porque não dizer, dos pais, dos futuros maridos, em ver sua garota dentro de um). Ok. eu não sonho em estar dentro de um. Porém, já tive meus momentos, quando gurizinha. Nem toda mulher sonha ou sonhou em estar em um. Fato! Mas sim, há toda uma cultura em torno disto. É mundial. O vestido de noiva, complementado pelo véu, simbolizam a pureza e a castidade. Francamente, não acho que Magata era virgem, pelo contrário, a série deixa a entender que ela se entrego ao pedófilo. Por isso, não consigo deixar de pensar que vesti-la de noiva é um modo irônica da afrontar sua memória. Digo isto porque a este ponto é tão claro quanto meus dentes o assassino está propondo um quebra-cabeça e que suas rações são pessoais/emocionais, ou seja, tem um intrisica relação intima com Magata e o seu protetor/diretor. Vingança? Afronta? (tive que voltar aqui pra escrever sobre isso, porque estava me sinto inquieta tendo deixado passar sem comentar sobre.)