Esse artigo terá spoilers brandos inevitáveis, já implícitos no título da postagem, no entanto, não direi nada mais que o necessário.
Quando eu assisti ao inesquecível Rebecca, a Mulher Inesquecível (Rebecca, 1940 – thriller psicológico dirigido pelo mestre Alfred Hitchcock), fiquei impressionada com a presença da personagem-título, mesmo que não vejamos sua fisionomia nem por um estante sequer. No entanto, a personagem fúnebre emerge com uma força arrebatadora dos cantos mais obscuros, aterrorizando os personagens vivos como um fantasma insaciável. O que há de mais magnifico, é que não se trata de uma trama sobrenatural. Não, não. É uma história urbana. Seu fantasma nada mais é que as memórias deixadas em cada canto da casa onde viveu, fazendo com que nem sequer a nova inquilina – que nunca havia lhe conhecido – tenha paz. A força de Rebecca é assombrosa e aterradora, e tudo que sabemos e ouvimos sobre ela, são meras menções.
O segredo, claro, está na capacidade da mente humana em projetar fantasmas em cada sombra, alimentados por inseguranças e temores internos. É um dos meus Hitchcock preferido, e ser em preto e branco torna a atmosfera ainda mais absorvente e ameaçadora.
Enfim. Então pensei comigo, se conseguiria encontrar exemplos equivalentes em animes. Nenhum chega perto do deslumbrante fascínio psicológico que Rebecca desperta, mas há alguns casos que se encaixam nesta categoria de personagens fantasmagóricos que já morreram na história, mas sua presença continua tão forte e vibrante como qualquer outro personagem vivo. Hoje é dia dos mortos, então nada mais propicio de que nos recordamos daqueles que já partiram, em muitos casos, antes mesmo de a história começar.
Não pesquisei nem me dediquei a pensar muito, fui anotando e depois selecionando os exemplos que foram surgindo espontaneamente em minha mente. Portanto, se tiverem outros exemplos que possam contribuir para o post, por favor, compartilhem também!
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10) Asseylum Vers Allusia (Aldnoah.Zero, 2014)
Sim! Aprendemos com o passar dos episódios, que na verdade, a princesa estava morta desde o primeiro episódio. Ela apenas parecia viva. Ela foi tão convincente que quase me enganou. E a você também. A despeito da sua utilidade pratica no andamento da história, a personagem é fundamental para os rumos do enredo, e embora não tenhamos certeza sobre o que era a história ou quem foi Asseylum, a sua sombra nos guiou à luz da verdade.
09) Menma (Ano Hana, 2011)
Oh, sério? que ela incluiu a Meeeeeeeeeeeeeeeeeeeeenma neste tópico? Parei de ler. Até imagino reações. Mas, hey! Vamos conversar um pouco. Eu sei que é um pouco de apelação dizer que a Menma é uma personagem morta que tem uma forte presença no enredo, levando-se em conta que ela pode ser vista ou sentida efetivamente. Ali, ela só está morta tecnicamente. Mas, não muda o fato de que para a grande maioria dos personagens, ela ainda é uma memória. Uma memória distante, mas um fantasma que continua vivo e assombrando. O enredo nasce da necessidade de superar esta assombração, metaforicamente simbolizado pela “prisão” de Menma no mundo humano e as tentativas de partidas, que se sucedem.
08) Satoshi Houjou (Higurashi no Naku Koro ni, 2002)
O que aconteceu com Satoshi? É a pergunta que persiste por boa parte da série. Os efeitos do seu misterioso desaparecimento são sentidos principalmente na sua pequena irmã, Satoko, e com o tempo, ele tão mencionado e sua ausência tão sentida, ou temida, que seu fantasma se torna um espectro à espreita na penumbra. Depois, a certeza que fica é que ele é um personagem muito mais interessante como fantasma do que exatamente como um ser presente fisicamente naquele universo.
07) Reiko Natsume (Natsume Yuujinchou, 2005)
Quem aí que assistiu ao magnifico Natsume Yuujinchou não saiu com a insaciável impressão de querer muito conhecer mais sobre Reiko? Apesar de referências aqui e ali, e até uma inesperada aparição em determinado momento da série, aguçando ainda mais nossa empatia, ao contrário de todos os personagens listados aqui a Reiko não tem muito screentime ou é mencionada em todo episódio. Mas com as bases fixadas no principio da série, todo e qualquer mistério mais profundo do enredo parece se relacionar intrinsicamente com a personagem. As saudades deixadas em todos os seres folclóricos que inundam a série e às comparações que fazem dela com Natsume faz com que a personagem pareça para nós uma velha conhecida, que adoraríamos poder nos relacionar mais.
06) Yui Ayanami (Neon Genesis Evangelion, 1995)
A ausência física de Yui é tão sentida que o vazio deixado se torna um personagem a parte. Ela não está, mas ao mesmo tempo, está em todas as coisas. Você a vê em tudo. No ressentimento e revolta de Shinji, na persistência de Ikari, em Ayanami, no Eva 1 e seus uivos lamentosos. Na incapacidade de seguir em frente que permeia a atmosfera que inebria todos os personagens, no passado que não parece querer passar. Se nos primeiros episódios a série te leva a indagar sobre tal personagem, que você não conhece, nunca viu, não sabe quem, mas está em tudo; ao fim, o que sobra é a certeza de que Yui sempre esteve ali assombrando metade do elenco de personagens.
05) Megumi Sakura (Gakkou Gurashi, 2015)
No inicio é um mistério, apesar das bandeiras apontadas. Com o passar dos episódios, não é a morte de uma personagem que surpreende, mas sim o fato de ela parecer tão viva, apesar de já estar morta a tanto tempo. Você está morta? Sério mesmo? E sendo uma personagem com tamanha importância para o grupo e com uma presença de cena tão carismática, se torna difícil que também não sintamos sua morte. O que é estranho, porque ela está presente o tempo todo e ainda desempenhando um papel importante no andamento do enredo. Talvez seja só capacidade de identificação humana, pois, o fato de uma pessoa que partiu continuar presente em sua vida de uma maneira tão massiva, não o impede de sofrer. Na verdade, maximiza a dor.
04) Shiki Magata (Subete ga F ni Naru: The Perfect Inside, 2015)
Estou um pouco receosa de incluir a dra. Magata neste tópico, levando em consideração que o anime ainda está em exibição, no entanto, tenho quase certeza de que sua morte é irrevogável. É curioso como na série esta personagem é perseguida em vida por toda espécie de pessoas curiosas que enxergam nela uma espécie de figura mística. Com seu suposto assassinato, repleto de incógnitas, essa fixação de todos em torno da personagem tende a se intensificar, tornando-a tão presente e recorrente quanto uma personagem viva. A construção desta estrutura narrativa é similar a de Umineko e Zetsuen no Tempest.
03) Munakata Jin (Ace wo Nerae! 2, 1988)
Esse é o spoiler mais cruel! Pois a morte do lendário coach Munakata é algo completamente inesperada e que só ocorre na segunda temporada da série de anime (que saiu como uma série de OVA’s com 13 episódios). E logo no primeiro episódio! Ou seja, você é pego completamente desprevenido. Eu fiquei chocadíssima e triste pra caralho. Foi desolador acompanhar o desespero da protagonista, Hiromi, ao perder seu treinador, mentor, mestre, e paixão. Pra se ter uma ideia, Munakata foi para Hiromi o que o Senhor Miyagi foi para Daniel San em Karate Kid (1984). Ele pode ter morrido fisicamente, na história, mas sua presença permeia cada passo e quadra que Hiromi percorre. É uma daquelas necessárias passagens da vida adolescente para adulta, simbolizada pela morte, que os autores adoram.
02) Aika Fuwa (Zetsuen no Tempest, 2012)
A misteriosa Aiko sempre foi uma personagem com forte personalidade, daqueles que centralizam todas as atenções quando estão em cena. Mesmo quando ela não dizia muito ou só mostrava um face doce, já era notável algo de instigante ali. Talvez por isso, SPOILERS, sua morte tenha sido um ponto de ruptura tão chocante. Ela realmente morreu? Parecia difícil de acreditar. Com o passar da história, percebemos que ela morreu sim (ou talvez não), mas não há motivos para se sentir órfã, pois mesmo morta, ela se torna uma das personagens mais emblemáticas, marcantes e importantes do shakespeariano Zetsuen no Tempest.
01) Kinzo Ushiromiya (Umineko no Naku Koro ni, 2007)
BEAAAAAAAAAAATRICHEEEEEEEEEEEEEEEEEE!!!
Em uma história onde a linha entre mortos e vivos, ficção e realidade, se torna tênue cada vez mais a medida que se progride no enredo, alguns talvez se tornem receosos em apontar Kinzo como a maior força espiritual post-mortem de Umineko, mas ele é sem qualquer dúvida o standard de tudo. Seus gritos e fixação pela misteriosa Beatrice, seu temperamento difícil e personalidade complexa tornaram da vida dos seus herdeiros um inferno. Fato é que mesmo depois de morto, o Kinzo permanece sendo um personagem com uma força perturbadora e presente em toda a história seja direta ou indiretamente. Ele é tão pulsante que é um dos memes mais insanos no fandom de Umineko. Kinzo tá mais vivo que Elvis!
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