Rintaro homenagea Páris, A Cidade do Pecado, em Curta

Diversos ícones pop se encontram num cabaré de prazer.

O maestro Rintaro (compositor do que considero ser uma obra prima da animação; Metropolis, um filme de animação extraordinário inspirado em Metropolis, do Ozamu Tezuka. Aliás, não é incrível que o deus Tezuka tenha sido homenageado com duas obras magnificas por dois artistas magníficos? A oura obra de que falo é Pluto. Claro!) concebeu dois curtas metragens em um trabalho solo (que contou apenas com a participação de Toshiyuki Honda numa esplendorosa trilha sonora).

O resultado é bem simples, mas dotado de um não-perfeccionismo que resulta em um material repleto de farpas e extremamente primitivo muito bonito. Bem, eu gostei.

É uma série de dois vídeos intitulado Abracadabra.

O primeiro é de fácil compreensão, pois é uma homenagem a Picasso e Miro, figuras populares da cultura global.

O segundo é uma homenagem à França e a sua sensual e romântica Páris, que nas palavras do próprio Rintaro, "(...) eu queria me focar principalmente no cabaré. Na verdade, eu queria prestar uma homenagem à Páris".

Eu não havia entendido bulhufas de NADA. Porra nenhuma! Pra mim, tudo parecia como se fosse a Grande Parada, em Paprika, o encontro/choque de todas as culturas. O que mais gostei foi das imagens ao fundo da janelinha que se abria e fechava, apresentando figuras emblemáticas.

Ok, mas o que isso tudo teria haver com Paris?

Páris é a cidade da luxúria e dos encontros, da arte e do glamour. Seguindo a visão de Rintaro, é fácil compreendê-lo.

"Você conhece a pintura O ateliê Vermelho, de Henri Matisse. Bem, eu tentei criar um espaço visual neste estilo. Eu tenho praticado, sentado no meu Mac, me imaginando na taberna frequentada por Toulouse-Lautrec.", disse Rintaro. Como na pintura de Matisse, todos os objetos estão espalhados no apartamento como se eles estivessem flutuando no espaço. "Entre eles, podemos ver o retrato de Charles Baudelaire na parte inferior onde eu adicionei um trecho pseudo-escrito de seu poema O Albatroz. Eu coloquei atrás dele um desenho subliminar. Se você quiser saber um pouco mais, exorto-vos a ler este poema em As Flores do Mal.", completou.

Apesar da homenagem, ela não possui uma relação direta com os atentados de 13 de Novembro (sexta-feira das bruxas). Não se deixem levar pelo estilo rabiscado, Mesmo algo assim, que parece desenhado por uma criança, leva-se tempo e exige um bocado de esforço.

O destaque vai mesmo para a trilha sonora. É gritante e maravilhosa.

"A primeira vez que fui em uma taverna, eu tinha um pouco menos de 30 anos. Foi com os meus colegas, no dia de Ano Novo. Nenhum de nós nunca tinha estado em um lugar assim antes. Muito animados, fomos a uma instituição famosa, Kabuki-cho, no distrito de Shinjuku, dirigido por um homem famoso que se intitulava o Rei do cabaré. (...) Entramos, cheio de ardor, mas fomos imediatamente cercados por recepcionistas escandalosamente mascarados. Nós estávamos paralisados, ensurdecidos pelo música alta e gritos agudos que ecoou por todos os lados! Como nós fomos direto pra lá depois participar da festa de Ano Novo em nosso estúdio de animação, estávamos muito elegantes e um de nós ainda usava um quimono. Estava completamente deslocado da atmosfera do lugar! E como eu não bebo uma gota de álcool... Isso é o que foi a minha primeira experiência em cabaré! Mais tarde, fiquei sabendo que os cabarés franceses não tinham nada a ver com os do Japão, onde os homens apenas assistem a tudo enquanto são servidos por mulheres." Rintaro é mesmo um cara simpático, e ainda completa com "Eu gostaria de retornar à Baudelaire. Parece que entre seus muitos poemas, a evocação erótica de O Albatroz causou um escândalo quando foi publicado. É também pelo fato de que este poema ser perturbador que eu gostei e, é por isso que eu quis prestar homenagem a Baudelaire. Eu também estou pronto para ser perturbador quando crio. Reconheço que ainda estou longe do nível em termos de erotismo. Mas eu estou praticando. Eu prometo a você! Verá que o terceiro curta da série será extremamente poético.".

Via Catsuka