Key the Metal Idol (1994): A Idolo de Lata em Busca de um Coração

Em Key the Metal idol acompanhamos a jovem introspectiva, apática, aérea, indiferente, fria, evasiva e monossilábica Tokiko Mima (Junko Iwao), mais conhecida como Key, em sua jornada de amadurecimento e descoberta do mundo. Key the Metal Idol é um sci-fi fabulesco, que reconta o velho arquétipo do garotinho de madeira Pinóquio que queria se tornar humano, mas fica por ai. Key não é Pinóquio, mas deseja se tornar humana. Key é um autômato, um robô com consciência – quando seu avó/inventor é assassinado por uma misteriosa facção por trás do estrondoso sucesso da idol Miho Utsuse (Chiyako Shibahara), ele lhe diz que a única maneira de ela se tornar humana é reunir 30 mil pessoas que desejem isso.

Fascinada por Miho Utsuse, Key se torna obstinada em se tornar um idol, embora lhe falte tudo que seja necessário, desde a dicção, até o simples movimentar de corpo – ela age como se tivesse os membros atrofiados, inclusive o cérebro. Afinal, ela é um robô, uma invenção. Ela não dorme, não come, se alimenta por eletricidade e está sempre com cara de paisagem distante. Ainda assim, ela vai para Tóquio, onde seu caminho irá se cruzar com diversos personagens que possuem uma ligação com o seu passado.

O mais surpreendente, no entanto, será quando se der conta de que não um autômato/robô, mas sim humana. Uma simples garotinha.

Curiosos/furiosos com o spoiler? Terá que assistir Key the Metal Idol para compreenderem que isto não é importante ao ponto de sua revelação se tornar irrelevante até mesmo para a narrativa. O porquê é a questão. Embora, é provável que encontrem mais furos e incongruências do que realmente respostas satisfatórias.

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Key the Metal Idol (em bom português: “Key; a Idolo de Metal” ou “a Idolo Metálica” – o que vocês preferem?) é um anime obscuro, um dos “perdidos” da década de 1990. Com ‘perdidos’ eu me refiro àquele tipo de anime (muitos destes lançados no crepúsculo do fenômeno OVA – original vídeo animation) obscuro de uma época em que os ocidentais tinham pouco acesso a animações japonesas e, destes, alguns ganharam status de clássico marginal (clássico da boca de lixo) na memória de muitos, e assim eles permanecessem. Estranhos fora do ninho. Casos de Cavaleiros dos Zodíacos (Saint Seiya), Wicked City, BioHunter, Os Caçadores de Elfas (Those Who Hunt Elves” e por ai vai.

Key the Metal Idol é, no entanto, um caso ainda mais insólito, por ser bem menos conhecido, um legítimo underground. Obviamente, isto o torna mais místico. É um entorpecente natural para incautos, o tipo de pessoa que tá começando ver animes ou tudo o que conhece são adaptações em animes de mangás da JUMP. É frequentemente caracterizado por adjetivos desde menos qualificados a mais eloquentes, como “algo tão maduro”, “sci-fi fabulesco”, “complexo”, “extraordinariamente estranho”.

A série, ao final das contas, acaba sendo mesmo um mergulho em águas estranhas – mas não é extraordinário; ordinário talvez fosse a definição mais exata. Key se pronuncia como “Kii” em japonês, que significa “estranho”. A Key é de fato uma personagem estranha e sua estranheza é fabulosa. Ela passa 98% da série inexpressiva e, no entanto é a personagem mais carismática. Sua inexpressividade traz a tona o arquétipo do sujeito que segue em uma jornada a procura de despertar de um sonho sem fim, como se o despertar pudesse lhe proporcionar todas as respostas que busca. No entanto, essas respostas surgem com um gosto meio amargo recheado de ironia. Principalmente quando tudo que se buscava estava bem diante dos seus olhos, mas o entorpecimento dos sentidos nublava a capacidade de enxergar. Porém, ao abrir as pupilas, se percebe que tudo desaparecera e aquilo que buscava se dissipou.

O modo como Key interage com os demais personagens, em espacial sua amiga Sakura Kuriyagawa (Miki Nagasawa), e a si mesma é o que dá beleza e subjetividade empática a uma série de roteiro e condução engessada. É como se Key se tornasse o reflexo de nós mesmos em um mundo em que tudo se agiganta e nos vemos completamente incapazes de nos relacionarmos, ainda que queiramos e sentamos no mais profundo intimo. Seres desengonçados buscando algo que a sua capacidade parece incapaz de alcançar.

Key the Metal Idol é muito fácil de se seguir até os dois últimos episódios justamente pela letargia e o mistério em tom messiânico em torno da Key. Mas sua aparente complexidade vem mais dos ruídos/samples da história do que exatamente por se tratar de um roteiro intrincado. Explico: dos 15 episódios, 13 são de construção; de inexpressividade e inadequação de Key, onde vários núcleos se entrelaçam, mas sem uma grande relação entre si, a não ser um velho cientista de uma pequena vila rural. Nestes episódios não acontece nada de realmente relevante em relação ao enredo. A história não se move um passo, embora tente equivocadamente estabelecer um sentido de urgência em tramas que não levam a lugar algum, em um efeito liquidificador ao girar em torno do mesmo ponto numa tentativa de estimulação artificial.

Sakura e sua amizade maternal com Key é uma das coisas mais belas de Key the Metal Idol

Os dois últimos, com duração de longa metragem (longos e entediantes 1hora e 39 minutos) se resumem basicamente a personagens narrando uma velha história do passado. Uma velha história longa, chata, envolvendo personagens que não se dá a mínima, e atribuindo importância a outros que não receberam um tratamento no tempo certo. É a partir dessa história, onde você é coagido a manter atenção aos diálogos expositivos para entender qual a ligação entre os núcleos do enredo, que se compreende enfim do que afinal se trata tudo aquilo. E é bem simples de se compreender, apesar do desafio imposto.

Embora, acredito que a não compreensão talvez fizesse melhor ao legado da série, pois, o argumento é absolutamente estúpido. É a recompensa com sabor de derrota mais amarga que já provei, foi como mastigar vento. Pensei “cheguei até pra isso???”. Além do mais, a direção é desastrosamente amadora e sem a menor sensibilidade de timing. Não há recompensa alguma para o bravo espectador que resistiu/persistiu entre bocejos e déficits de atenção mediante tamanha tolice. Inadmissível que uma história de temática idol não alcance o entrosamento necessário entre áudio e visual em um show final, que é o verdadeiro clímax que se espera de Key desde o primeiríssimo episódio.

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Key the Metal Idol foi um projeto idealizado por Hiroaki Sato (diretor de animação em Akira e roteiros do primeiro anime de White Album), em comemoração ao décimo aniversário da produtora Pony Canyon – eles lidam, entre outras coisas, especialmente com música. Motivo pelo qual o enredo de Key the Metal Idol gira em torno do mundo das celebridades das ídolos japonesas e os bastidores sórdidos daquela indústria. Não por acaso, o motivo principal para fazer o enredo ir à frente é Key levar sua voz a 30 mil pessoas. E o clímax, como não poderia ser diferente, se dá através da música (ainda que a direção tenha sido extremamente falha nesta condução).

"Qual delas é a verdadeira idol?", edição de Março/1995 da Newtype, com ilustrações de Keiichi Ishikura, Shiho Takeuchi, Yuko Sato and Yukihiro Shibutani (via Oldtype)

Apesar de tudo, há de se admirar a ousadia de Hiroaki Sato em um anime encomendado por uma produtora de música e idols, retratar essas ídolos e aquele submundo com toda aquela sujeira e cinismo, alcançando um final corajoso – sim, totalmente fora da curva dos interesses de uma empresa comercial. Key the Metal Idol é realmente um caso estranho. Um exemplo de exceção. No cenário de fundo, cultos e grupos religiosos fanáticos capazes de tudo, algo bastante em voga no Japão da década de 1990 (Dica de leitura: Believers: Hikikomori, Aum Shinrikyo, e o Culto), a série tem toda essa atmosfera mistica em torno de cultos e adoração a um ídolo-messias, uma referência indireta a Aum Shinrikyo. Essas coisas enriquecem o cenário de uma série que a gente termina sentido por não ter sido mais.

Curiosidade: Todos os títulos dos episódios são referências a comandos de computador.

Nota: 04/10
Direção: Hiroaki Sato
Ideia original e roteiros: Hiroaki Sato
Música: Tamiya Terashima
Diretor de arte: Yukihiro Shibutani
Diretor de Animação: Keiichi Ishikura
Character Design: Keiichi Ishikura
Tipo: OVA
Episódios: 15
Duração: 24 minutos/média (os 2 últimos tem duração de 1 hora e 39 min.)
Estúdio: Pierrot
Ano: 1994-1997

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