terça-feira, 5 de abril de 2016

Mouryou no Hako: A Garota que Vive dentro de uma Caixa

Ou pelo menos, a cabeça dela... rs. 
Esse anime é uma adaptação pelo estúdio Madhouse, com design de personagens das meninas do CLAMP (que já colaboraram em outros projetos de anime TV – Code Geass e Blood-C), baseado no livro homônimo de Natsuhiko Kyogoku. Quando Kanako é empurrada na linha do trem e a mãe de Yoriko, que é a única testemunha do crime, começa a ser assombrada por uma criatura incógnita denominada mouryou, uma série de eventos bizarros começam a acontecer paralelamente: garotas são esquartejadas e seus membros colocados em caixas, que são espalhadas pelas províncias de um Japão da década de 50. É quando o destino desses quatro homens se cruza – Kiba, Enokizu, Sekiguchi e Kyougoku-dou – e os casos começam a se aproximar, relações absurdas se mostram menos absurdas do que podem parecer: uma caixa, um livro e um homem de luvas brancas. Qual a relação?  É que talvez seja hora de pensarmos além da caixa... além da caixa que é o ser humano.


***

A escola de literatura policial é bastante popular no Japão. E quando digo bastante popular, é no sentido de ser um dos gêneros literários que mais vendem e mais produzem em uma variedade infinita de cruzamentos. Isso vem de longe. Influência da cultura ocidental e ficou mais forte após a Segunda Guerra Mundial depois do Japão perder para os EUA. Mas uma de suas características mais notórias é o adereço místico/sobrenatural que se confere a estas histórias, uma vez que o apelo cultural do folclore japonês entre seu povo é indelével, uma das culturas folclóricas mais apelativas do mundo. Não por acaso, Edgar Allan Poe ser o representante do gênero mais famoso e icônico por lá – sua literatura é imersivamente ambígua no que diz respeito ao sentido sobrenatural/místico. O autor foi influência direta de outro grande nome da literatura policial japonesa, Edogawa Ranpo, no qual fez um trocadilho em seu pseudônimo com o nome do autor americano. 

Natsuhiko Kyogoku é um autor desse tipo de romance, em que tem como característica o folclore japa como pano de fundo em suas histórias detetivescas de mistério e horror. Autor de, entre outros tantos, Loups-Garous e Requiem from the Darkness – seus trabalhos mais conhecidos no ocidente devido às adaptações em anime que receberam (ambas comentadas aqui no ELBR). 

Mouryou no Hako, por sua vez, faz parte de uma série de romances centrados no mesmo universo e personagens, coisa que escritores de histórias detetivescas adoram. Mouryou se traduz como “para todos os tipos de espíritos e fantasmas”, e Hako é “Caixa”. Logo, caixa para todos os tipos de fantasmas. Numa adaptação mais bonitinha e econômica, poderia ficar “Caixa de Fantasmas” (ganhou o subtítulo oficial de Box of Goblins, nos EUA). 
Mouryou refere-se a uma caixa, onde após o “exorcismo”, os espíritos são retidos (há um claro paralelo na história entre uma caixa literal e o corpo humano – mesmo que no formato de bonecas – assim, o uso da expressão mouryou acaba sendo banalizado por alguns personagens que são crentes radicais que se referem como se mouryou fosse uma entidade). Mas vai muito mais além. Com exorcismo entre aspas, quero dizer que as linhas entre monges religiosos, sacerdotes, videntes, onmyojis (diz-se a respeito de uma filosofia/ordem esotérica que se pontua na dualidade entre ciência natural e ocultismo; utilizando da polaridade positiva e negativa do mundo – yin & yang – para a utilização de suas habilidades. Entre suas habilidades mais notáveis, estão o exorcismo e feitiços. Possuem imenso conhecimento cultural devido aos estudos que são sujeitados antes de se tornar um onmyoji. Eles são muito comuns em histórias de detetives japonesas, exatamente por estarem com um pé no mundo e o outro no sobrenatural, ao contrário de outras entidades religiosas) chegam a ser bastante tênues, porém seria um erro fatal confundir ou misturar a filosofia de cada um.

Em Mouryou no Hako, Natsuhiko Kyogoku reserva uma quantidade de tempo razoável caracterizando em pormenores cada uma dessas filosofias religiosas. Isto porque saber como cada uma funciona exerce uma importância definitiva para compreender a chave, mais do que a simples resolução do mistério, que move o enredo e as razões de cada um dos personagens envolvidos. 

A história se passa entre agosto e outubro de 1952, a narrativa é multifocal e acompanhamos de perto pelo menos 3 núcleos de personagens diferentes, que em algum momento terão suas tramas entrelaçadas com a narrativa alcançando um único panorama, ainda que através de diversas perspectivas diferentes: a de cada personagem. 
Em determinado núcleo, acompanhamos o escritor de ficção policial Tatsumi Sekiguchi e o editor de uma revista de notícias Morihiko Toriguchi enquanto investigam, com a ajuda de onmyoji Akihiko Chuzenji, uma série de crimes incomuns que ocorrem em Musashino e Mitaka. Pernas e braços decepados de jovens garotas estudantes são encontrados em caixas e abandonados em lugares desertos, deflagrando uma busca policial a procura de um assassino serial responsável pelo desaparecimento de várias garotas. 

Em outra esfera, que irá deflagrar o enredo da história, Kanako Yuzuki e Yoriko Kusumoto são amigas de escola e ao se conhecerem mais intimamente, descobrem-se almas gêmeas: não tanto no sentido romântico, mas cosmogônico mesmo – é como se ambas se enxergassem como um reflexo, ou melhor, sombra arquétipa. Enquanto Yoriko posiciona-se como uma id idealizada (dica: Nosso Instinto Refletido), Yuzuki é um ego reprimido, mas ambas fazem parte do mesmo arquétipo do estrangeiro, do eu estranho no mundo, não pertencente a este tempo. Instintivamente se idealizam mutuamente, embora sob perspectivas distintas. É o que se precisa entender sobre a relação simbiótica e romântica entre as duas. Elas não se desejam em um sentido carnal, mas como se fosse o mesmo ser em corpos diferentes, pertencentes uma a outra, a relação de posse entre Yuzuki e Yoriko é paulatinamente pulsante no enredo do inicio ao fim, e um dos três pilares fundamentais para se compreender a ótica filosófica acerca de Mouryou no Hako muito além de suas linhas de mistério detetivesco. 
O segundo pilar vital para a compreensão genuína no que se refere a ideia em torno de Mouryou no Hako são as entidades e cultos religiosos. Como se sabe isso explodiu no Japão em torno dos anos de 1980 e resultou em uma catástrofe no inicio dos 90. A massiva glorificação dos cultos religiosos levou o Japão ao clímax de um atentado biológico no seio da nação, resultando em questionamentos em relação ao nacionalismo e os filhos perdidos da pátria. Onde foi o erro? A crise econômica e cultural japonesa dos anos 80 e 90 permitiu o surgimento de um autoproclamado messias capaz de tudo, de todas as barbaridades imagináveis e inimagináveis, sem que a justiça fizesse qualquer coisa. As pessoas pareciam alienadas e cegas por sua oratória messiânica, mas o que buscavam realmente era o escapismo das soluções fáceis, mesmo que isso significasse abrir mão de todos os seus bens materiais e até o próprio livre arbítrio. Contudo, não se deve esquecer que as raízes foram plantadas no pós-guerra e cultivas durante os anos 60 e 70, período de crise identitária e cultural.

Os livros dessa série, escrita por Kyogoku, se passam num Japão pós-guerra dos anos de 1950 – no caso, logo após o fim da ocupação americana nos territórios japoneses. O autor utiliza de pano de fundo os fantasmas daquele período, como as cicatrizes deixadas representada pelo conflito interno do detetive Kiba – não faço ideia como ele é trabalhado no livro, mas no anime acaba por ser um personagem subdesenvolvido em seu conflito, que surge apenas como breves sugestões. Naquele período, faz parte do drama identitário o passado tradicional versus a modernidade, superstição versus o ceticismo, a nova democracia versus o antiquado sistema imperial, ciências versus religião – todas heranças plantadas pela bagagem cultural ocidental. É apenas um retrato superficial do período, mas é um cenário de fundo que enriquece o enredo de Mouryou, demonstrando que a bomba que explode no seio da nação japonesa nos anos de 90 fora plantada lá atrás. O Japão trilhou o caminho para se tornar uma das maiores potências do globo a curto prazo, mas a longo prazo as sementes germinadas se mostraram doentes, contaminadas pelo solo venenoso. 

Se você assiste animes e filmes japoneses com certa regularidade, perceberá facilmente que são questões recorrentes em suas obras, a paranoia coletiva, cultos messiânicos e falsos profetas, a dualidade de identidade. O vazio existencial e a filosofia comportamental presente em muitas obras faz soar como se querendo ser inteligente, e pode até ser, mas é uma característica que se encontra facilmente em uma variedade de séries, e as policiais/cientificas são um campo fértil para todos estes questionamentos. 

O terceiro pilar fundamental para a compreensão do todo proposto por Mouryou no Hako é a mais básica e simples: perceber a obvia metáfora sobre a caixa. Ela está presente desde o inicio, é motivo de fascínio e fixação. A princípio, somos levados pela série motivados pela curiosidade de uma cabeça falando de uma jovem estudante dentro de uma caixa, logo nos primeiros minutos do primeiro episódio. Mas, em seguida ela desaparece, surgindo apenas ocasionalmente e em breves ensejos. Ela é importante, mas não como imaginamos. É só um MacGuffin. Um recurso narrativo. Como Kanako, que é assassinada logo no primeiro episódio, deflagrando o ponto de partida que culminará no encontro de todos os núcleos entrelaçados. Afinal, quem matou Kanako? Quais os mistérios em torno de uma personagem que mal aparece, mas está sempre presente, circundando, a espreita, se tornando o elo e a chave para todas as respostas?
Eu não posso responder essas questões. Mas posso dar uma dica preciosa: a caixa dos espíritos é uma metáfora da caixa que é o corpo humano e daquilo que nos aprisiona. Por si só, não tem importância alguma. É só carne que vai apodrecer tão logo o espirito que abandone a caixa. No interior de cada pessoa cabem não apenas a fonte essencial da vida, que é a sua própria alma, mas diversos espíritos. Vontades. Personalidades e desejos conflitantes. 

Entender Mouryou no Hako e a motivação de seus personagens é fácil se você compreende isso. Tão logo, o mistério se torna apenas um preenchimento necessário para suscitar todos os questionamentos decorrentes. É sofisticado, no entanto. A narrativa é labiríntica, em elipse, com algumas insights metalinguísticas – como, por exemplo, o escritor de ficção policial Tatsumi Sekiguchi que está escrevendo um livro com um enredo identifico ao caso das garotas na caixa, proporcionando diversas rimas narrativas no decorrer da história; Tatsumi é claramente o ‘eu lírico’ do autor Kyogoku, e nosso auto-insert na história – é a razão de ser o personagem mais humano, e moralmente ambíguo em relação a todos os demais. Seu fascínio pela devoção de outro personagem para com a garota na caixa, que dos foge dos princípios étnico-morais, denota uma atração nefasta que somente aqueles com o mesmo vazio existencial podem compreender. 

Mouryou no Hako traz uma narrativa multifocal, por turnos, onde cada personagem importante para a ciranda detetivesca tem seu ponto de vista em relação ao caso policial, e temos episódios dedicados a cada um deles em que se constrói uma ponte eficiente capaz de tornar suas motivações muito verdadeiras, mesmo que tolas. É a reunião dessas ideias e pontos de vistas diferentes trabalhados com primazia que nos levam a um desfecho impecável. 

É o que torna Mouryou no Hako muito superior a baboseiras toscas e ofensivas como o anime de Subete ga F ni Naru. O anime de Mouryou, nesse sentido, é bastante superior em um trabalho seguro e sólido de construção. Há, por exemplo, três episódios seguidos em que três personagens centrais discutem acerca das diferenças entre videntes, onmyojis e sacerdotes. Embora pareça a principio não ter relação com a investigação, percebemos ao fim que é sutilmente uma bela ponte na elucidação de um caso paralelo que se confundia e desviava os rumos do caso central, mas que estava intrinsicamente relacionado indiretamente. Poderia ser resumido, porém, perderia bastante da força da cosomogonia mística-esotérica do enredo, o que eu disse ser um dos três pilares fundamentais para sua compreensão, afinal, o mistério não é o ponto primordial que o autor deseja entregar.
É sim uma bela adaptação, que sensivelmente se foca na mensagem da obra mais do que na ação de gênero. Mas, paradoxalmente, é chato. Com exceção de alguns momentos realmente narrativamente instigantes, assistir Mouryou no Hako se assemelha a estar lendo um livro, como mencionado por um amigo. Pensando assim, há algo de muito errado nisso. Uma narrativa escrita/impressa é diferente de uma narrativa audiovisual. Por este lado, Mouryou no Hako é bastante falho e desinteressante. Há muito, muito pouco de visualmente atraente na animação. Os personagens se mechem e falam. E é isso. Não há uma única cena em que o enredo se comunique com o expectador exclusivamente através da narrativa visual. É sempre o roteiro. Diferente de um Hyouka, em que as imagens/animação dialogam com você sem precisar de script. 

Mas seria possível adaptar tal material de um modo diferente sem perder sua substância original? Eu não sei. Mouryou no Hako tem um excelente texto, é degustativo ao intelecto, mas é cansativo para as vistas e a qualidade do seu entretenimento é ambígua. Não é algo que eu gostaria de rever um dia. Porque não há nada que me instigue a voltar uma cena para assistir – só a sensação de estar morrendo aos poucos com tanta narração expositiva. 

Apesar dos pesares, o episódio final em que tudo fecha tão lindamente é a memória mais agradável que irei levar do anime, e que contribuiu para a minha avaliação final. É fabuloso. A cena final, onde um transeunte aleatório observa com fascinante curiosidade e ceticismo a chegada da televisão em solo japonês, ao qual para ela não passa de uma caixa com alguém dentro. É metalinguagem. Mas fica ainda mais linda como uma rima poética magnifica que se interliga com a cabeça da garota na caixa, que observamos logo em seguida. Não há explicação. É tudo obvio. E por ser deixado no ar para que o próprio telespectador aprecie a rima, é o que a torna mágica e fatidicamente divertida. Para preservar essa memória, encerro por aqui.

Última nota: a despeito de qualquer coisa, o anime tem sim uma produção bonita, ainda que sem extravagâncias. 

Nota: 05/10
Conteúdo: Adaptação (livro)
Diretor: Ryosuke Nakamura
Tipo: TV
Episódios: 13 (+1 OVA)
Composição de roteiro: Sadayuki Murai
Roteiro: Sadayuki Murai (1 ao 4, 6 ao 10, 12 e 13), Yoshinobu Fujioka (05 e 11)
Música: Shusei Murai
Diretor de Arte: Hidetoshi Kaneko
Diretor chefe de animação: Kunihiko Hamada
Diretor de animação: Chie Nishizawa, Kunihiko Hamada

Temas Relacionados:
-UN-GO: Crítica à um Japão Pós-Guerra
-Ranpo Kitan Celebra 50 Anos de Morte de Edogawa Ranpo
-Nosso Instinto Primitivo Refletido
-O Mundo Conspiratório de Loups=Garous
-Requiem from the Darkness: Um Convite para a Escuridão no Interior do homem
-Hiki - A Garota das Gavetas 
-Denpa Teki na Kanojo
-Becchin to Mandara – Velveteen & Mandala 
-Believers: Hikikomori, Aum Shinrikyo, e o Culto
-Tanin no Kao: A Face de Um Outro
-Suicide Club – Clube do Suicídio


Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_00.11_[2016.03.11_11.36.20]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_00.20_[2016.03.11_11.36.50]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_00.46_[2016.03.11_11.37.22]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_01.10_[2016.03.11_11.37.49]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_01.15_[2016.03.11_11.37.58]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_02.51_[2016.03.11_11.39.41]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_03.04_[2016.03.11_11.39.59]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_03.33_[2016.03.11_11.40.54]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_03.34_[2016.03.11_11.40.58]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_03.35_[2016.03.11_11.40.41]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_04.59_[2016.03.11_11.42.40]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_05.15_[2016.03.11_11.45.51]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_05.24_[2016.03.11_11.46.03]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_05.38_[2016.03.11_11.46.21]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_05.58_[2016.03.11_11.46.46]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_06.01_[2016.03.11_11.46.57]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_06.15_[2016.03.11_11.47.16]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_06.16_[2016.03.11_11.47.18]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_06.29_[2016.03.11_11.47.49]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_06.59_[2016.03.11_11.48.30]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_07.03_[2016.03.11_11.48.44]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_07.33_[2016.03.11_11.49.25]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_07.56_[2016.03.11_11.49.51]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_08.53_[2016.03.11_11.50.54]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_08.57_[2016.03.11_11.51.02]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_09.37_[2016.03.11_11.51.48]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_09.45_[2016.03.11_11.51.58]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_10.02_[2016.03.11_11.52.19]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_10.18_[2016.03.11_11.52.37]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_11.13_[2016.03.11_11.53.41]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_11.16_[2016.03.11_11.53.56]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_11.19_[2016.03.11_11.54.04]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_11.21_[2016.03.11_11.54.08]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_11.25_[2016.03.11_11.54.30]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_11.27_[2016.03.11_11.54.23]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_11.31_[2016.03.11_11.54.44]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_11.33_[2016.03.11_11.54.56]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_11.38_[2016.03.11_11.55.08]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_11.45_[2016.03.11_11.55.17]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_12.08_[2016.03.11_11.55.47]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_12.22_[2016.03.11_11.56.04]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_13.06_[2016.03.11_11.57.02]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_15.53_[2016.03.11_12.00.18]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_16.33_[2016.03.11_12.01.11]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_16.39_[2016.03.11_12.01.21]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_17.02_[2016.03.11_12.01.48]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_17.44_[2016.03.11_12.02.36]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_17.45_[2016.03.11_12.02.43]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_17.51_[2016.03.11_12.02.52]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_19.28_[2016.03.11_12.04.35]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_19.31_[2016.03.11_12.04.40]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_19.40_[2016.03.11_12.04.55]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_19.56_[2016.03.11_12.05.14]Mouryou_no_Hako_01.mkv_snapshot_20.54_[2016.03.11_12.06.18]Mouryou_no_Hako_02.mkv_snapshot_00.24_[2016.03.21_12.53.06]Mouryou_no_Hako_02.mkv_snapshot_00.26_[2016.03.21_12.53.12]Mouryou_no_Hako_02.mkv_snapshot_00.30_[2016.03.21_12.53.18]Mouryou_no_Hako_02.mkv_snapshot_00.39_[2016.03.21_12.52.10]Mouryou_no_Hako_02.mkv_snapshot_01.11_[2016.03.21_12.54.04]Mouryou_no_Hako_02.mkv_snapshot_04.27_[2016.03.21_12.57.25]Mouryou_no_Hako_02.mkv_snapshot_09.52_[2016.03.21_13.04.25]Mouryou_no_Hako_02.mkv_snapshot_19.28_[2016.03.21_13.17.27]Mouryou_no_Hako_03_[9A84C194].mkv_snapshot_07.41_[2016.03.25_14.27.10]Mouryou_no_Hako_03_[9A84C194].mkv_snapshot_08.16_[2016.03.25_14.28.01]Mouryou_no_Hako_03_[9A84C194].mkv_snapshot_09.53_[2016.03.25_14.36.48]Mouryou_no_Hako_03_[9A84C194].mkv_snapshot_09.58_[2016.03.25_14.38.41]Mouryou_no_Hako_03_[9A84C194].mkv_snapshot_10.19_[2016.03.25_14.39.05]Mouryou_no_Hako_03_[9A84C194].mkv_snapshot_14.33_[2016.03.25_14.43.53]Mouryou_no_Hako_03_[9A84C194].mkv_snapshot_16.57_[2016.03.25_14.46.52]Mouryou_no_Hako_03_[9A84C194].mkv_snapshot_18.55_[2016.03.25_14.49.24]Mouryou_no_Hako_04_[890AD533].mkv_snapshot_00.09_[2016.03.25_18.27.59]Mouryou_no_Hako_04_[890AD533].mkv_snapshot_00.10_[2016.03.25_18.32.19]Mouryou_no_Hako_04_[890AD533].mkv_snapshot_06.19_[2016.03.25_18.42.40]Mouryou_no_Hako_04_[890AD533].mkv_snapshot_06.35_[2016.03.25_18.43.06]Mouryou_no_Hako_04_[890AD533].mkv_snapshot_07.08_[2016.03.25_18.43.44]Mouryou_no_Hako_04_[890AD533].mkv_snapshot_12.04_[2016.03.25_18.50.25]Mouryou_no_Hako_04_[890AD533].mkv_snapshot_12.50_[2016.03.25_18.51.16]Mouryou_no_Hako_04_[890AD533].mkv_snapshot_13.25_[2016.03.25_18.51.54]Mouryou_no_Hako_04_[890AD533].mkv_snapshot_16.32_[2016.03.25_19.08.27]Mouryou_no_Hako_04_[890AD533].mkv_snapshot_17.50_[2016.03.25_19.10.15]Mouryou_no_Hako_04_[890AD533].mkv_snapshot_17.53_[2016.03.25_19.10.25]Mouryou_no_Hako_04_[890AD533].mkv_snapshot_18.22_[2016.03.25_19.11.03]Mouryou_no_Hako_04_[890AD533].mkv_snapshot_18.22_[2016.03.25_19.11.07]Mouryou_no_Hako_04_[890AD533].mkv_snapshot_18.23_[2016.03.25_19.11.11]Mouryou_no_Hako_04_[890AD533].mkv_snapshot_18.23_[2016.03.25_19.11.21]Mouryou_no_Hako_04_[890AD533].mkv_snapshot_18.24_[2016.03.25_19.11.27]Mouryou_no_Hako_04_[890AD533].mkv_snapshot_20.01_[2016.03.25_19.15.56]Mouryou_no_Hako_04_[890AD533].mkv_snapshot_21.22_[2016.03.25_19.17.34]Mouryou_no_Hako_05_[495DB438].mkv_snapshot_09.51_[2016.03.25_20.15.11]Mouryou_no_Hako_07_[A981E6B3].mkv_snapshot_00.57_[2016.03.30_11.54.40]Mouryou_no_Hako_07_[A981E6B3].mkv_snapshot_01.20_[2016.03.30_11.55.16]Mouryou_no_Hako_07_[A981E6B3].mkv_snapshot_01.28_[2016.03.30_11.56.07]Mouryou_no_Hako_07_[A981E6B3].mkv_snapshot_01.29_[2016.03.30_11.55.23]Mouryou_no_Hako_07_[A981E6B3].mkv_snapshot_20.55_[2016.03.30_11.57.12]Mouryou_no_Hako_07_[A981E6B3].mkv_snapshot_21.14_[2016.03.30_11.57.35]Mouryou_no_Hako_07_[A981E6B3].mkv_snapshot_21.30_[2016.03.30_11.57.54]Mouryou_no_Hako_08_[755D04AE].mkv_snapshot_17.51_[2016.03.31_09.51.48]Mouryou_no_Hako_08_[755D04AE].mkv_snapshot_17.55_[2016.03.31_09.51.59]Mouryou_no_Hako_08_[755D04AE].mkv_snapshot_18.37_[2016.03.31_09.52.44]Mouryou_no_Hako_09_[5D879AB1].mkv_snapshot_00.48_[2016.03.31_09.58.09]Mouryou_no_Hako_09_[5D879AB1].mkv_snapshot_00.49_[2016.03.31_09.58.15]Mouryou_no_Hako_09_[5D879AB1].mkv_snapshot_05.30_[2016.03.31_10.03.00]Mouryou_no_Hako_09_[5D879AB1].mkv_snapshot_07.59_[2016.03.31_10.05.34]Mouryou_no_Hako_10_[AD302488].mkv_snapshot_08.42_[2016.03.31_10.43.24]Mouryou_no_Hako_11_[FDAD6787].mkv_snapshot_05.53_[2016.03.31_11.26.03]Mouryou_no_Hako_11_[FDAD6787].mkv_snapshot_12.15_[2016.03.31_11.58.28]Mouryou_no_Hako_11_[FDAD6787].mkv_snapshot_15.54_[2016.03.31_11.58.45]Mouryou_no_Hako_11_[FDAD6787].mkv_snapshot_21.18_[2016.03.31_11.59.26]Mouryou_no_Hako_12_[F36077B6].mkv_snapshot_03.10_[2016.03.31_12.06.38]Mouryou_no_Hako_12_[F36077B6].mkv_snapshot_03.10_[2016.03.31_12.06.56]Mouryou_no_Hako_12_[F36077B6].mkv_snapshot_12.21_[2016.03.31_12.17.55]Mouryou_no_Hako_12_[F36077B6].mkv_snapshot_21.35_[2016.03.31_12.31.42]Mouryou_no_Hako_12_[F36077B6].mkv_snapshot_21.35_[2016.03.31_12.31.52]Mouryou_no_Hako_12_[F36077B6].mkv_snapshot_21.35_[2016.03.31_12.32.03]Mouryou_no_Hako_13_[F6F99F1E].mkv_snapshot_17.36_[2016.03.31_12.56.45]Mouryou_no_Hako_13_[F6F99F1E].mkv_snapshot_18.48_[2016.03.31_13.07.08]

Mōryō no Hako, resenha, review, análise, crítica, anime, novel, livro, mistério, horror, japão, policial, detetive, investigação, horror, folclore, assassinato, assassino,