sábado, 15 de setembro de 2018

O Príncipe Dragão (2018)


Saudações do Crítico Nippon!

Esse ano fez 10 anos que o final de Avatar – O Último Dobrador de Ar foi ao ar na televisão. E coincidência ou não, foi anunciado também uma nova série sobre a avatar Kyoshi. E melhor ainda, um dos co criadores, Aaron Ehasz, juntamente com nomes por trás de Star Wars – Clone Wars e Uncharted, resolveu enfim dar vida a outro universo fantástico a partir do zero. A responsabilidade é monstruosa, visto que Avatar segue encarado como um dos melhores desenhos de todos os tempos. E já haviam falhado com Korra, que foi uma completa atrocidade. Além de ir ao ar pelo Netflix cujos originais tem um saldo muito mais negativo do que positivo. Dito tudo isso, O Príncipe Dragão superou todas as expectativas e é absolutamente formidável.  

(sem spoilers)


As semelhanças com Avatar são abundantes, desde o dublador de Sokka para um dos protagonistas (céus, é música para os ouvidos esse voz sendo sarcástica novamente), a temporada é chamada de Livro da Lua, o mundo é repleto de animais mágicos muito parecidos com os híbridos de Avatar e, claro, há uma guerra acontecendo. De todo modo, construir um novo mundo, com novas regras, não é fácil. Muito menos de forma rica e, ao mesmo tempo, simples para o público mais jovem. E aqui conhecemos o mundo de Xadia, com seis elementos místicos (sol, lua, estrelas, terra, céu, oceano). Porém, há mil anos, os humanos criaram um novo elemento batizado de Magia Negra. Esse poder se alimenta de criaturas mágicas, por isso os elfos e dragões baniram os humanos para o lado oeste do continente. Assim, para defender a fronteira entre as espécies, foi colocado um Rei Dragão de vigia, que os humanos eventualmente assassinaram. E é neste cenário de tensão entre as facções que inicia a jornada dos heróis.




Com uma narrativa fluída e inteligente ao desenvolver todos os personagens, o que menos interessa é a ação (apesar de contar com ótimas sequências). Assim, mesmo que inúmeros grupos estejam em constante movimento, planejando diversos tipos de ataque, é o efeito destes sobre os personagens e suas relações que mais interessam. Somos surpreendidos ao mesmo tempo em que os heróis, recebendo novas informações e reviravoltas ao mesmo tempo em que eles.


Com menos de 40 minutos na temporada, já temos figuras extremamente complexas que vão muito além do bem e do mal, como o rei de Katolis. Assim como seu quase irmão conselheiro, Viren, cuja “scarização” é feita de forma extremamente delicada e segura, quando poderia facilmente virar um mero estereótipo. A elfa da lua, Rayla, com uma força física admirável e muitas vezes aterradora, mas que traz consigo uma insegurança fácil de nos relacionarmos. Os irmãos Callum e Ezran, que vão crescendo aos poucos durante a temporada, e trazem uma leveza essencial àquele mundo sombrio. E outros irmãos, como Claudia e Soren, que na maior parte do tempo são simpáticos e corajosos, mas que podem representar um empecilho aos heróis da história. Ou seja, todos aqui são capazes de ações altruístas e outras nem tanto, tornando-os genuinamente humanos (ou elfos). Essa complexidade torna a história deliciosamente imprevisível.


A série ainda mantém aquele humor afiado de Avatar, sem chamar atenção para si, mas sempre fluído com a narrativa. E por se tratar de uma “trama na estrada”, do ponto A para o ponto B, as possibilidades são sempre inventivas e inusitadas. Às vezes, tudo que precisa é de um close na cara ranzinza do sapo buldog Isca. Com um design de personagens, cenários e figurino extremamente rico, percebam a riqueza e fluidez com a natureza dos trajes élficos. As cores, a leveza, com toques de camuflagem. E confesso que achei formidável a arma de Rayla ter o mesmo mecanismo de uma faca butterfly balisong, contribuindo para a fluidez dos movimentos de sua portadora. E a adição de um sotaque carregado é mais um detalhe muito bem vindo. Assim como as vestes vermelhas da realeza dos irmãos príncipes; em contraste com as belíssimas roupas negras da maga Claudia. E mesmo que alguns toques sejam um pouco mais óbvios, como as cores roxa e verde para a Magia Negra, cumpre seu papel ameaçador maravilhosamente bem.

Não há nenhum personagem sexualizado, seja feminino ou masculino, com roupas exclusivamente feitas para serem funcionais. Trazendo ainda uma personagem muda que se comunica através de sinais, é impossível não lembrar de Toph, afinal ambas são as mais duronas de todas. Assim, a trama segue o legado de Avatar também no quesito de que as personagens femininas são as melhores: Claudia é minha humana favorita (embora Amaya seja de tirar o fôlego idem), Rayla é a principal elfa que acompanhamos, e a Mãe Dragão ainda se encontra viva e esperando a chegada dos heróis.


A animação em CGI dificilmente me incomoda (já escrevi sobre diversos animes que misturam ela, sempre elogiei), mas aqui confesso que distraiu em alguns momentos. Exceto nas cenas de ação que contribui de forma magistral. A fotografia é belíssima, aproveitando os cenários diversos, sejam eles mais calorosos ou gelados, de dia (de manhã ou no pôr do sol) ou de noite. E a trilha sonora é de se ouvir de olhos fechados, com flautas e violinos que remetem às histórias medievais épicas que tanto nos acostumamos nas últimas décadas.


O Príncipe Dragão cumpre seu papel ao nos fazer se interessar por todos os seus personagens, pela sua trama sempre urgente e por seu universo com milhares de possibilidades. E um desenho que faz jus ao icônico O Último Dobrador de Ar terá minha atenção incondicional, além de ser o maior elogio de todos.

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