sábado, 29 de setembro de 2018

Bakuman (2015) - live action


Saudações do Crítico Nippon!

Das mentes por trás de Death Note, Tsugumi Ohba e Takeshi Obata, Bakuman conseguiu a proeza de conquistar tantos fãs quanto. Ao trabalhar de forma metalinguística com os protagonistas tentando criar seu próprio mangá na Shonen Jump, mexia com o imaginário de todos nós que crescemos sem saber exatamente o funcionamento dos bastidores das obras que acompanhamos. Além de funcionar como uma aventura com todas as características shonen da Jump, como é dito na própria obra, envolvendo esforço, amizade e vitória. O diretor Hitoshi Ohne, que antes só havia trabalhado em séries de TV, faz um ótimo trabalho ao trazer energia e dinâmica a uma história fundamentalmente parada (pessoas desenhando).


Acompanhamos Mashiro e Takagi, uma dupla tal qual os autores do mangá, em que um desenha e o outro escreve a história. Eles sonham ser mangakás e trabalhar na Shonen Jump. Além disso, Mashiro fez uma promessa com a colega Azuki, de que irão se casar quando o sonho deles se tornar realidade. E se a obra em questão virar anime, ela irá dublar a heroína.


Como fica bem claro, envolve tudo de um clássico shonen: um sonho, uma amizade, um romance, e uma longa jornada até isso tudo se concretizar. Além disso, o filme tem um quê de mágica ao nos mergulhar completamente no universo dos desenhos. O diretor já abre o longa com centenas de páginas de inúmeras obras que reconhecemos sem qualquer esforço, contando um pouco a história da maior editora de mangás do mundo. E essa quantidade de cores e movimentos irá ecoar em todo o resto da narrativa, como se estivéssemos acompanhando um universo fantástico.



Com a dupla principal encarnada pelos atores Takeru Satoh e Ryunosuke Kamiki (exatamente, Kenshin e Soujirou!), carregam a obra com segurança e espontaneidade. Takagi é alegre, de modos espalhafatosos, enquanto Mashiro é atormentado em pequenas doses pelo falecimento do tio (também mangaká), mas sem deixar de lado a paixão pelo desenho e pela amada Azuki. E a cena em que encara o rival Eiji melhorando um de seus desenhos, sem dizer nada, com uma lágrima escorrendo, em um misto de admiração, raiva, decepção, é um dos momentos mais fortes do filme. Aliás, o covil de Eiji imerso na escuridão trás um tom misterioso ao gênio, além de ser uma metáfora do garoto mergulhado em nanquim, em vários sentidos. 


Com coadjuvantes que possuem o mesmo sonho e atuam como rivais e amigos ao mesmo tempo (shonen total), todos tem o tempo ideal na tela, com suas pequenas características que os tornaram queridos no mangá. Nana Komatsu, como Azuki, é a mulher mais linda do mundo neste filme, mas sua personagem é completamente limitada pelo roteiro. Embora o diretor tenha conseguido fazer o relacionamento deles chegar a uma decisão satisfatória para um filme de 2 horas, que não poderia ficar perdendo tempo com eles.



Trazendo uma linguagem afiada à narrativa, o diretor embala ótimas sequências dos protagonistas trabalhando em suas criações. Com os desenhos saindo da mesa e escorrendo e crescendo pelas paredes. Embalado por sons diegéticos de lápis, pincel, folhas e aos poucos se fundindo com a música. Até mesmo uma sequência da dupla principal praticamente duelando com pincéis com o rival Eiji, em uma sequência que serve para mostrar a determinação e crescimento deles (e não tornar o ato de desenhar tão enfadonho ao espectador). É muito parecido com o feito da adaptação de Scott Pilgrim vs The World.



Despertando nosso interesse pela história que estão criando (com as ilustrações formidáveis do mestre Takeshi Obata) e pela história do filme em si (em uma metalinguagem de primeira), seja pela rivalidade com os companheiros, pelo romance ou pela competição do resultado das vendas, Bakuman (o filme) resgata todas essas camadas de seu original com maestria. Com um final absolutamente magistral ao empregar na narrativa o momento mais icônico de Slam Dunk nos gestos de Rukawa e Sakuragi (seguido do narrador trazendo notícias trágicas), Bakuman mostra o que um diretor inspirado pode fazer mesmo tendo uma longa série em mãos. Conhecemos uma pequena fase da vida destes garotos com início, meio e fim, sem qualquer pendência ou falta de informação. Podemos aceitar facilmente que tudo terminou ali e que a aventura valeu cada segundo.


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