Saudações
do Crítico Nippon!
Em
preparação para a 3ª temporada de Psycho Pass, foi lançado no início deste ano
uma trilogia de filmes. Surpreendentemente, o nome do criador da franquia, Gen
Urobuchi, não está listado nos créditos finais. Vejamos como eles se saíram sem
o envolvimento do autor:
O
primeiro filme conta uma historinha idêntica a um dos primeiros episódios da 1ª
temporada, quando havia um vilão por semana, antes do Makishima Shogo dar as
caras. O episódio em questão é aquele com uma fábrica em que coisas estranhas
estão acontecendo e estão encobrindo fatos. Eis que nossos heróis chegam ao
local e fica um clima onde todos fingem estar bem quando você nota há
quilômetros de distância que claramente não está.
E
isso, por si só, já um demérito grave, pois não há qualquer elemento surpresa.
Desde que colocamos os pés naquelas instalações, já começamos a encarar todo
mundo como inimigo. Ainda que a instituição sirva para expandir um pouco aquele
universo, sendo um centro de tratamento psicológico para aqueles que possuem o
psycho pass alterado. Algo que nunca tínhamos visto ou cogitado a possibilidade
antes.
O
filme se passa quando Akane Tsunemori ainda era líder dos Inspetores, e o pior
de tudo é que em 3 filmes não temos a explicação do por que ela está presa na
3ª temporada. O que soa como uma trapaça imensa. Ainda assim, nem é ela quem se
destaca, mas sim o Executor Ginoza. Mais calmo do que nunca, claramente é outro
personagem daquele que conhecíamos na 1ª temporada. A raiva deu lugar a
serenidade e uma segurança maior sobre seus demônios internos. Suas sessões de
terapia claramente tiveram efeito e se tornou uma pessoa muito melhor. Ter “descido
de nível” como criminoso latente é até um elogio em uma sociedade estilo 1984
como a do Sistema Sibyl.
Acertando
ao fazer a instituição de uma forma quase manicomial, com um branco estéril nos
arredores e no edifício, bem como as vestimentas claras sem qualquer
individualidade entre os pacientes. Isto auxilia a criar um ar de prisão, não
de um centro de ajuda.
O
uso do CG, aliás, é formidável em todos os filmes. Seja nas cores vibrantes e
cyberpunk, como nas cenas de ação repletas de energia. No segundo filme, em
especial, a coreografia de uma luta de dois contra um é realmente surpreendente
e perfeita. Supera em muito Kogami contra Makishima na 1ª temporada. E um trem
caindo de um penhasco no 3º filme é de tirar o fôlego, com a câmera girando
entre os vagões no ar.
Infelizmente
a direção errou feio neste 1º ao deixar a luta do Ginoza para ser concluída
após o término do caso principal. Ou seja, mesmo que ele perdesse, não faria
diferença pois já haviam vencido onde realmente importava.
Já
o 2º filme é o melhor de todos. Contando um caso aleatório que supostamente se
passaria na 1ª temporada, antes da aparição de Makishima, é um verdadeiro
colírio vermos nossos antigos heróis, quando tudo era mais simples e não
sabíamos. Especialmente quando vemos que alguns não sobreviveram. Aliás,
notamos a força da 1ª temporada em comparação ao lixo total da 2ª, analisando o
arco dramático que todos tiveram: Akane amadureceu como líder; Kogami abdicou
completamente do Sistema Sibyl; Ginoza teve diversos conflitos com o pai,
passou por terapia, transbordava de ódio, e finalmente caiu para o status de
Executor. E absolutamente nenhuma análise do gênero pode ser feita da 2ª, em
que ninguém se desenvolveu.
Acertadamente
focando em uma figura complexa como Masaoka, este segundo filme consegue nos
fazer se emocionar novamente ao revermos aqueles conflitos com Ginoza, que
ficam ainda mais trágicos por sabermos o destino que aguarda os dois. Aliás, é
brilhante nos mostrarem como o fato do pai ser um criminoso latente prejudica a
vida profissional do filho Inspetor. E Masaoka sabe disso e provavelmente
aguenta a raiva de Ginoza como um castigo “merecido”. Desta forma, também
conhecemos pela primeira vez a esposa dele, mãe de Ginoza, e o quanto afeta o
marido e o filho, que reagem de maneiras diferentes, embora igualmente
machucados.
Contudo,
o filme é ainda mais ambicioso ao apostar em uma trama complexa com um trio de
novos personagens importantes, nas figuras de Otomo-senpai, Rin e Sugo. E o
arco dramático que enfrentam ao longo dos anos é bastante plausível, com
reviravoltas tanto de Otomo-senpai, quanto de Rin, que mantém a trama
imprevisível até o final.
Aliás,
é bacana perceber como reutilizaram detalhes daquele universo e características
de personagens que vimos anteriormente. Como por exemplo, Masaoka interrompendo
uma luta para pular em um córrego e salvar uma Inspetora (o mesmo ocorreu
quando lutou com Makishima e parou pra salvar seu filho). E o uso do holograma
de rostos humanos por cima de um androide, que era utilizado pelo vilão da 2ª
temporada.
O
3º filme, não sei porque cargas d’água, é focado em Kogami. Sim, de novo, como
se não bastasse o filme de 2015. Dito isso, é melhor do que aquele, um pouco
mais organizado. Dessa vez acompanhamos o personagem no Tibete, trabalhando
como mercenário. E as localidades são incrivelmente ricas em detalhes, cores
diferentes, uma fotografia deslumbrante, como a trilogia toda.
Trazendo
mais um questão que enriquece o universo de Psycho Pass, como os japoneses que
viviam fora do país antes do Sistema Sibyl ser implementado, e que foram
abandonados quando este surgiu.
Contudo,
o filme não parece perceber a ironia de fazer tanto drama sobre Kogami ter se
“vingado” de Makishima (sendo que ele já havia matado outras pessoas quando
trabalhava como Executor). Afinal, o clímax do filme é justamente Kogami se
vingando pela garotinha Tenzing e a família dela. E, claro, as aparições
fantasmas do Makishima é de revirar os olhos, demonstrando uma falta de tato
preocupante dos realizadores, que não conseguem criar conflitos novos. Aliás, o
próprio filme em si é um atestado disso, sendo que Kogami não é mais relevante
para a trama principal da 3ª temporada.
Em
suma, Sinners of the System não fede nem cheira, sendo completamente
dispensáveis para assistir a 3ª temporada. E isso é obviamente decepcionante.
Apesar da animação incrível, de uma fotografia maravilhosa e cenas de luta
impressionantes, o roteiro parece patinar em tudo que já vimos antes. Se eu
fosse o autor, também não iria querer meu nome vinculado com estas obras.
Melhor só ganhar créditos pela 1ª temporada mesmo.
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