Saudações do Crítico Nippon!
Ao escrever sobre Kimi No Na Wa (Your Name), o
filme mais bem sucedido de Makoto Shinkai e que definitivamente o tornou
conhecido fora da bolha otaku, disse que: “não só é formidável como romance,
mas como uma quase ficção científica, que desenvolve ao máximo, com propriedade
e segurança, seus conceitos e ideias”. Infelizmente, esta nova obra não faz
nada disso. Conta com um romance que jamais é desenvolvido e bruxarias mágicas
que não entendemos completamente as regras do que está ocorrendo. Em suma, é
uma grande bagunça.
(SEM SPOILERS)
Morishima Hokada é um garoto de 16 anos que se muda
sozinho para Tóquio, onde precisa arrumar emprego e se sustentar sendo menor de
idade e sem qualquer documento. Acompanhamos suas dificuldades e lutas diárias
para manter um quartinho extremamente apertado, enquanto é rejeitado nos mais
diversos serviços. O que ocorreu com este garoto em sua cidade natal a ponto de
preferir passar por todas essas dificuldades sozinho? O filme jamais responde,
em uma das inúmeras gafes cometidas pelo roteiro sem pé nem cabeça. Ah sim, e
ele encontra Hina, uma menina que controla o clima, como a Tempestade dos X-men
(com direito a raios e tudo).
O filme conta com inúmeras coincidências absurdas,
como quando Hokada encontra Kei no barco já lhe oferecendo ajuda; encontra
totalmente por acaso uma arma (juro, no lixo, aham); encontra o irmão de Hina
no ônibus; encontra Hina pela segunda vez sendo perturbada no meio da rua;
encontra vários policiais desconfiados ao longo de Tóquio – estes, aliás, não
tem muito o que fazer e ficam parando adolescentes na rua.
Como se não bastasse, em apenas meia hora de filme
o casal já vira melhores amigos, Hokada já aceita os poderes de Hina
normalmente (aliás, todo mundo aceita), e criam um modelo de negócios que beira
o absurdo, mas é bem sucedido. Aliás, é difícil compreender em que mundo vivem
aqueles personagens. Como já mencionado, todos aceitam os poderes de Hina, além
de não se preocuparem muito com gigantes bolhas de água no céu, ou pequenas bolhas
em formato de bichinhos. E quando uma catástrofe ocorre ao final, parece um
leve inconveniente na vida daqueles cidadãos, sem abalar muito ninguém. Fica
difícil se identificar com personagens que não ficam em choque com nada.
Tenki no Ko ainda utiliza uma muleta preguiçosa na
personagem de Natsumi, com frases como “A
esposa dele morreu em um acidente há alguns anos. Mas ele ainda está apaixonado
por ela” ou “Você fumou um maço de cigarros e bebeu por se sentir culpado?”.
Especialista em traduzir o óbvio. Já Kei se revela o genérico personagem de
anime mulherengo, relaxado, que fuma e bebe, consigo pensar em uma dezena
deles. E o irmão de Hina é uma adição completamente irrelevante.
Mais grave é o ritmo cadenciado do filme. Tenki no Ko
soa extremamente longo, apesar de ter menos de duas horas. É arrastado, sem
energia, sem qualquer sequência memorável. Repleto de subtramas que começam a
terminam em minutos (percebam a rapidez absurda com que o filme pula da
montagem de Hokada aprendendo a trabalhar para Kei, para a montagem em que cria
um negócio próprio com Hina. Spoiler: ocorre tudo em vinte minutos). O filme
ainda faz uma longa pausa na metade para incluir um fanservice completamente
desnecessário de outros personagens de filmes anteriores do Shinkai. E nesse
ponto do longa você irá notar que não há história nenhuma em desenvolvimento.
Não há qualquer expectativa de que algo aconteça a seguir, pois esqueceram de
escrever uma trama.
É aí que absolutamente do nada surge uma trama com
policiais atrás de crianças (eu não estou brincando, a polícia inteira de Tóquio
está preocupadíssima em perseguir crianças na rua). Aliás, Tenki no Ko jamais
acerta o tom de sua história, ora colocando armas de fogo e violência física
contra crianças; ora criando montagens energéticas e kawaiis pra combinar com
Your Name; ora acrescentando detetives; ora seres fantásticos; ora romance (na
teoria apenas, porque quando Hokada diz que pretende se declarar, eu
literalmente gritei incrédulo pois nada havia sido desenvolvido). E quando três
heróis estão em um quarto de hotel brincando após suas vidas virarem
completamente do avesso, eu não fazia ideia do que eu deveria sentir ali. Alegria?
Tristeza? Tensão? Carinho? Nem ideia.
Apesar de tudo, claro, como não poderia deixar de
ser, as cores e os cenários são deslumbrantes. Percebam o tom dourado do céu e
da cidade após uma chuva, é de querer colocar os quadros na parede. A
quantidade de detalhes em cada ambiente é louvável, por exemplo, a casa de Kei
completamente amontoada de objetos bagunçados, refletindo a personalidade dele
e Natsumi. Há também a casa de Hina com cerca-viva abundante, dando indícios de
sua ligação com a natureza. E percebam a cor da mão da garota quando colocada contra
o sol, ganhando um tom incrivelmente realista.
Infelizmente, esses quadros maravilhosos não são
suficientes para manter a atenção no longa. A perseguição com a polícia ao
final é implausível demais, só para tentar nos manter acordado. E o pior, as
ações dos próprios heróis naquele prédio abandonando são absolutamente
reprováveis, sendo completamente impossível escolher quem está certo naquela
bagunça (eu imagino que ninguém esteja).
Deste modo, fica cada vez mais complicado sentir
algo por um filme que não nos apresentou corretamente suas regras. E esse único
parágrafo terá leves spoilers, então pule para o parágrafo final: Por que soa
tão natural pros outros aquelas bolhas e peixes de água? E o que exatamente
ocorreu com Hina? Aquela queda de Hokada e Hina de mãos dadas foi um devaneio
ou aconteceu de verdade? Por que ela reaparece rezando ao final? Eu posso até
ter algumas teorias sobre algumas destas questões, mas o filme deveria
esclarecer melhor.
É uma pena que após abrir uma janela de
visibilidade tão grande para si, Makoto Shinkai tenha apostado no que sabe
fazer de menos, seres mágicos e violência. Hoshi wo ou Kodomo foi igualzinho,
talvez até pior, e pelo visto não se deu conta. Mas assim como depois daquela
bomba ele nos presenteou com o adorável Kotonoha no Niwa, tenho certeza que
daqui 2 anos teremos um filme mais pé no chão, apenas um agridoce romance. Aguardo
ansioso, porque não foi dessa vez.
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Twitter: @PedroSEkman
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