Saudações
do Crítico Nippon!
Dirigido
por Masaaki Yuasa, responsável pelos incríveis Devilman Crybaby e Keep Your
Hands of Eizouken, Japão Submerso tem o título bastante auto explicativo,
quando uma série de terremotos fazem com que o país comece a afundar.
Obviamente iremos acompanhar uma família e, se ela sobreviver, o espectador
sobrevive também. É a premissa básica de todo filme desastre. E foi com imensa
surpresa e choque que percebi nunca ter acompanhado tamanha mediocridade e
amadorismo em uma obra do gênero.
Os
primeiros dois episódios são relativamente promissores, acompanhando a família
Mutoh antes-durante-após o primeiro grande tremor que devastou completamente a
cidade em que residiam. O design de som não é o que estamos acostumados em
longas hollywoodianos, repleto de explosões e gritos. Pelo contrário, o caos é
embalado por uma trilha introspectiva, até doce, acompanhando os esforços
daquelas pessoas de se encontrarem o mais rápido possível. Não há bebês
chorando ao fundo ou sons do gênero, e se isso inicialmente soou como uma
decisão curiosa, assistindo a bagunça seguinte eu começo a pensar se não foi
puro amadorismo mesmo.
Ao
menos o anime é corajoso em certas decisões iniciais, como ao fazer a protagonista
Ayumu não ajudar nenhuma de suas colegas gravemente feridas, em função do seu
pânico e desespero. E isso não diminui a nossa identificação ou torcida por ela
(o que diminui é todo o resto do anime, não esse momento específico). Também
achei acertado os personagens tirarem fotos várias vezes ao longo da tragédia. Em
qualquer outra obra momentos assim seriam censurados por insensibilidade, o que
não condiz com a realidade em que certamente todo mundo estaria tirando fotos
(só esse ano tivemos inúmeros exemplos nos eventos do Black Lives Matter).
Daí
em diante, com o perdão do trocadilho, Japão Submerso afunda (tum-dum-tss) de
maneira espetacular. Em primeiro lugar, os personagens parecem andar a esmo,
sem qualquer plano aparente, e sem quaisquer provisões. Há um episódio em que
eles abandonam uma loja de conveniência e (JURO) não levam consigo
absolutamente nada. É, talvez aquela falta de sons diegéticos do início tenha
sido pura desatenção... Enfim. Incapaz de encontrar um ritmo e clima para sua
narrativa, Japão Submerso parece desesperado em investir em uma morte por
episódio. O problema é que quando elas ocorrem especialmente com os membros da
família Mutoh, o luto é praticamente inexistente. Claro que ninguém quer uma
obra deprimente e triste, porém após a primeira grande perda do grupo, eles já
aparecem marchando como se nada tivesse acontecido. Isso irá ocorrer só mais
umas cinco vezes, aproximadamente.
Como
se não bastasse tantas mortes seguidas sem dar tempo de sentirmos o impacto,
elas ocorrem simultaneamente com a adição de novos personagens. Há um momento
em que entram dois personagens no mesmo episódio – sim, logo após uma morte
importante. Os personagens são todos esquecíveis, tem a Nanami que luta; Haruo
que não fala; Kite que usa um brinco; tem o idoso rabugento cujo coração só se
derrete pela criança; tem o Daniel que, hum, é estrangeiro; há o cientista que
se comunica piscando. Nenhum se destaca, é completamente impossível escolher um
favorito. A família Mutoh é jogada de escanteio com tantas adições
irrelevantes.
A
direção também é um desastre ao colocar imagens gráficas de amputações e
vísceras que soam jogadas e gratuitas, assim como uma cena de sexo completamente
caída do céu. Masaaki claramente tirou isso de Devilman Crybaby e simplesmente
jogou a esmo nesta obra. Japão Submerso investe brevemente (como tudo que se
propõe, é sempre breve, correndo) no conceito da “comunidade-aparentemente-pacífica-mas-que-esconde-algo”,
bastante famosa em filmes de terror (Midsommar) ou obras de zumbi (o Governador
em The Walking Dead). E é um desastre sem pé nem cabeça, incluindo plantações
gigantescas de maconha que não inspiram uma cena decente; poderes sobrenaturais
que jamais são explicados; personagens rasos e esquecíveis; e, claro, todos
eventualmente saindo de lá completamente despreparados e sem se equipar com
nada (e sem um rumo, pois não há roteiro).
Diversos
terremotos ocorrem ao longo do anime, e todos são breves e mal explorados. Aliás,
o momento-do-título ocorre em um piscar de olhos, os personagens acordam e
pronto, o Japão está submerso. Eu não estou exagerando, juro. Não vemos como
aconteceu nem nada, o que é uma trapaça imensa. Mas esse não é o único momento
de piscou-aconteceu. O céu escuro em função da fumaça do Fuji (eu acho, nunca é
explicado) também ocorre da noite para o dia. Em um momento há Sol, há uma leve
fumaça saindo do Fuji, no momento seguinte é a mais completa noite. O diretor
não consegue construir qualquer suspense crescente em relação aos desastres que
tem na manga.
Japão
Submerso também cria o conceito de bateria infinita para os celulares, que
jamais são carregados e duram literalmente o anime inteiro (juro, eu nunca
tinha visto isso em nenhuma obra desastre na vida, geralmente é o contrário).
Mas tem mais comédia: Nanami pega os óculos rachado de Haruo, joga fora, pega
outro óculos de um cadáver no chão, e presenteia Haruo com eles, provando que
não entende o conceito de “grau”; também há um momento hilário saído
diretamente de Code Geass em que nomeiam um barco como o novo Japão, somente
com puro sangue japoneses; e vou encerrar com essa troca de diálogos em um
tentativa inútil de criar tensão e trama na reta final:
“Eu
não sei, mas se juntarmos o arquivo-alguma-coisa, com a informação
não-sei-o-quê, poderemos salvar o Japão!”
“Como
assim?”
“Também
não sei, mas estou louco pra descobrir!”
É
realmente uma pena que após trabalhos tão excepcionais, o realizador tenha se
perdido completamente com este material. Até a animação em si não ganha
destaque nenhum, justamente por não se dar ao trabalho de mostrar o Japão, hum,
submergindo. Desastroso em sua narrativa, em personagens, em tom, na parte
técnica, basicamente em tudo. Japão Submerso é uma verdadeira decepção.
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Twitter: @PedroSEkman