domingo, 19 de julho de 2020

Japão Submerso (2020) - Netflix


Saudações do Crítico Nippon!

Dirigido por Masaaki Yuasa, responsável pelos incríveis Devilman Crybaby e Keep Your Hands of Eizouken, Japão Submerso tem o título bastante auto explicativo, quando uma série de terremotos fazem com que o país comece a afundar. Obviamente iremos acompanhar uma família e, se ela sobreviver, o espectador sobrevive também. É a premissa básica de todo filme desastre. E foi com imensa surpresa e choque que percebi nunca ter acompanhado tamanha mediocridade e amadorismo em uma obra do gênero.





Os primeiros dois episódios são relativamente promissores, acompanhando a família Mutoh antes-durante-após o primeiro grande tremor que devastou completamente a cidade em que residiam. O design de som não é o que estamos acostumados em longas hollywoodianos, repleto de explosões e gritos. Pelo contrário, o caos é embalado por uma trilha introspectiva, até doce, acompanhando os esforços daquelas pessoas de se encontrarem o mais rápido possível. Não há bebês chorando ao fundo ou sons do gênero, e se isso inicialmente soou como uma decisão curiosa, assistindo a bagunça seguinte eu começo a pensar se não foi puro amadorismo mesmo.


Ao menos o anime é corajoso em certas decisões iniciais, como ao fazer a protagonista Ayumu não ajudar nenhuma de suas colegas gravemente feridas, em função do seu pânico e desespero. E isso não diminui a nossa identificação ou torcida por ela (o que diminui é todo o resto do anime, não esse momento específico). Também achei acertado os personagens tirarem fotos várias vezes ao longo da tragédia. Em qualquer outra obra momentos assim seriam censurados por insensibilidade, o que não condiz com a realidade em que certamente todo mundo estaria tirando fotos (só esse ano tivemos inúmeros exemplos nos eventos do Black Lives Matter).


Daí em diante, com o perdão do trocadilho, Japão Submerso afunda (tum-dum-tss) de maneira espetacular. Em primeiro lugar, os personagens parecem andar a esmo, sem qualquer plano aparente, e sem quaisquer provisões. Há um episódio em que eles abandonam uma loja de conveniência e (JURO) não levam consigo absolutamente nada. É, talvez aquela falta de sons diegéticos do início tenha sido pura desatenção... Enfim. Incapaz de encontrar um ritmo e clima para sua narrativa, Japão Submerso parece desesperado em investir em uma morte por episódio. O problema é que quando elas ocorrem especialmente com os membros da família Mutoh, o luto é praticamente inexistente. Claro que ninguém quer uma obra deprimente e triste, porém após a primeira grande perda do grupo, eles já aparecem marchando como se nada tivesse acontecido. Isso irá ocorrer só mais umas cinco vezes, aproximadamente.


Como se não bastasse tantas mortes seguidas sem dar tempo de sentirmos o impacto, elas ocorrem simultaneamente com a adição de novos personagens. Há um momento em que entram dois personagens no mesmo episódio – sim, logo após uma morte importante. Os personagens são todos esquecíveis, tem a Nanami que luta; Haruo que não fala; Kite que usa um brinco; tem o idoso rabugento cujo coração só se derrete pela criança; tem o Daniel que, hum, é estrangeiro; há o cientista que se comunica piscando. Nenhum se destaca, é completamente impossível escolher um favorito. A família Mutoh é jogada de escanteio com tantas adições irrelevantes. 



A direção também é um desastre ao colocar imagens gráficas de amputações e vísceras que soam jogadas e gratuitas, assim como uma cena de sexo completamente caída do céu. Masaaki claramente tirou isso de Devilman Crybaby e simplesmente jogou a esmo nesta obra. Japão Submerso investe brevemente (como tudo que se propõe, é sempre breve, correndo) no conceito da “comunidade-aparentemente-pacífica-mas-que-esconde-algo”, bastante famosa em filmes de terror (Midsommar) ou obras de zumbi (o Governador em The Walking Dead). E é um desastre sem pé nem cabeça, incluindo plantações gigantescas de maconha que não inspiram uma cena decente; poderes sobrenaturais que jamais são explicados; personagens rasos e esquecíveis; e, claro, todos eventualmente saindo de lá completamente despreparados e sem se equipar com nada (e sem um rumo, pois não há roteiro).


Diversos terremotos ocorrem ao longo do anime, e todos são breves e mal explorados. Aliás, o momento-do-título ocorre em um piscar de olhos, os personagens acordam e pronto, o Japão está submerso. Eu não estou exagerando, juro. Não vemos como aconteceu nem nada, o que é uma trapaça imensa. Mas esse não é o único momento de piscou-aconteceu. O céu escuro em função da fumaça do Fuji (eu acho, nunca é explicado) também ocorre da noite para o dia. Em um momento há Sol, há uma leve fumaça saindo do Fuji, no momento seguinte é a mais completa noite. O diretor não consegue construir qualquer suspense crescente em relação aos desastres que tem na manga.

Japão Submerso também cria o conceito de bateria infinita para os celulares, que jamais são carregados e duram literalmente o anime inteiro (juro, eu nunca tinha visto isso em nenhuma obra desastre na vida, geralmente é o contrário). Mas tem mais comédia: Nanami pega os óculos rachado de Haruo, joga fora, pega outro óculos de um cadáver no chão, e presenteia Haruo com eles, provando que não entende o conceito de “grau”; também há um momento hilário saído diretamente de Code Geass em que nomeiam um barco como o novo Japão, somente com puro sangue japoneses; e vou encerrar com essa troca de diálogos em um tentativa inútil de criar tensão e trama na reta final:
“Eu não sei, mas se juntarmos o arquivo-alguma-coisa, com a informação não-sei-o-quê, poderemos salvar o Japão!”
“Como assim?”

“Também não sei, mas estou louco pra descobrir!”



É realmente uma pena que após trabalhos tão excepcionais, o realizador tenha se perdido completamente com este material. Até a animação em si não ganha destaque nenhum, justamente por não se dar ao trabalho de mostrar o Japão, hum, submergindo. Desastroso em sua narrativa, em personagens, em tom, na parte técnica, basicamente em tudo. Japão Submerso é uma verdadeira decepção.




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Twitter: @PedroSEkman


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