quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Bakemonogatari: Uma Sátira ao Gênero Harém?



Há algumas formulas que estão predestinadas ao insucesso, como um Panty & Stocking with Garterbelt ou Yondemasuyo, Azazel-san. Mas o estúdio SHAFT por meio do seu talentoso diretor, Akiyuki Shinbo, parece conhecer bem a receita de se produzir séries com um estilo de humor singular, com personagens arquétipos, que ora caem no clichê comum inerente a esse tipo de tipo de recurso, ora conseguem transpor e se tornarem avatares de estudo e crítica – como um Sayonara, Zetsubou-Sensei . Conseguir sucesso e simpatia da audiência se utilizando de arquétipos de "lado negro", às vezes pode ser bem complicado, mas que sendo bem sucedido, trás bons frutos para a obra. Personagens estereotipados, ou seja, caricatos, metafóricos, com complexidades, baseados em clichês, parece ser o grande desafio de um autor, para conseguir deixa-lo com fácil identificação com o espectador. Sendo assim, Bakemonogatari é o exemplo perfeito do bom uso de figuras arquetípicas. 


Em um roteiro que parece ser sem pé, nem cabeça, sendo essencialmente uma performance verbal com apoio visual, Bakemonogatari é um jogo de palavras, e dessa forma ele é jogada na tela. É uma junção das palavras "bakemono" que significa criaturas sobrenaturais e "monogatari" que significa histórias. O autointitulado, ex-vampiro, Koyomi Araragi, é um sobrevivente de um ataque vampiresco e deste então, ele se tornou sensitivo em reconhecer problemas sobrenaturais e acaba se vendo a volta com diversos casos de anomalias. A estrutura do anime se divide em arcos de pequenas histórias (Hitagi Crab, Mayoi Snail, Suruga Monkey, Nadeko Snake e Tsubasa Cat), que se interligam de forma linear e sempre com foco em uma garota diferente, onde nosso sarcástico protagonista deve enfrentar entidades sobrenaturais para que elas retornarem à normalidade. 


Nisio Isin é um excelente escritor de Light Novels e sua principal característica, é o fato de suas histórias se sustentarem bastante nos diálogos entre os personagens. Como podemos ver em Bakemonogatari, raramente tem mais de 2 personagens no mesmo cenário, e o uso de trocadilhos com os kanjis, em um jogo intenso de fonética e palavras. Como se faz notar, Bakemonogatari caiu como uma luva para o estúdio SHAFT e seu principal diretor, Akiyuki Shinbo, que adoram um nonsense, com um protagonista narrador e suas personagens repletas de carisma e moe. Durante todo o anime, fiquei procurando sentindo em tudo aquilo (que você só encontra realmente, se procurar ler os livros da série Monogatari, que envolvem uma trama muito maior, sendo que Bakemonogatari possui 2 volumes e a série no total, chega a 10, onde Nisio Isin leva o leitor a um simbólico parque de diversões, o fazendo experimentar diversas sensações), começos de arcos por vezes, soavam maçantes, longas sequências de quadros praticamente estáticos, com os personagens no centro, em uma conversa que parecia levar a lugar algum. Os quadros com kanjis que apareciam a cada início de novo arco e desapareciam novamente quase que na velocidade da luz, quase que imploravam para não serem lidos (Shinbo em toda sua excentricidade, pois, o que funciona nos livros, nem sempre tem o mesmo efeito pratico na tela, ainda que pareça cool). A verdade é que, a certa altura, lê-los ou não, não faz a menor diferença para o entendimento final.


 A arte que a SHAFT emprega em na série de tv de Bakemonogatari é sensacional, conseguindo transpor a coloração de VOFAN, que faz as ilustrações da série Monogatari, onde o acentuado tom pastel e as diferentes tonalidades denotam uma certa profundidade e ganham uma perspectiva interessante. O cenário é bem limpo, com uma iluminação suave e natural, fazendo de Bakemonogatari um anime visualmente, com uma excelente arte visual. Aquele universo se mostra bem atraente e convidativo, assim como as silhuetas das personagens, tudo em camada suaves de cores que cumprem bem o papel de distrair o espectador para o mínimo de animação que é utilizado na série. O que já se torno um estilo da SHAFT, usar poucos recursos e muita criatividade, reparando erros e refazendo cenários numa futura versão final em BD.



O que chama mais atenção em Bakemonogatari? As colagens de quadros em Stop-motion, o uso de cenas de live action? Certamente são os monólogos silenciosos com quadros repletos de kanjis que passam uma sensação de sinestesia. Mas o quanto disto, realmente é válido? Não seria apenas uma camuflagem, com forte apelo estético, mas que no fundo é um grande vazio? O que separa um Bakemonogatari de um Denpa Onna (também anime da SHAFT)? São questões pertinentes para um produto, que no fim das contas, é superestimado. Mas me disseram que Bakemonogatari é uma desconstrução do gênero harém. Oba! Vale a pena lançar um novo olhar sobre essa obra, quase abstrata.

 Pensei e procurei referências sobre a obra que eu acabara de consumir. Não achei o que procurei, mas fico com o que pensei; Bakemonogatari não é uma desconstrução de gênero e nem tão pouco se propõe a ser. Mas é sutil o suficiente, para que se passe despercebido à bandeira que hasteia. É bem sintomático o fato de que até mesmo os melhores haréns, sejam peças que torneiam as regras que dominam o género em que se inserem. Com isso, Bakemonogatari consegue brilhar ao propor uma sátira sobre o gênero harém, seus personagens arquétipos, e brincando até mesmo com seu público alvo. E o público comprou a ideia e fez da brincadeira, algo sério. Fazendo o papel da capitã da obviedade aqui, digo que Bakemonogatari e toda série fantástica criada por Nisio Isin, não vende tanto, somente por ser cool. O que acaba tendo um pensado efeito reverso, pois se até Evangelion, que é uma verdadeira desconstrução de gênero, vendeu pelos motivos errados, com o publico fechando os olhos para intrincada crítica, Bakemonogatari que faz somente uma mudança na continuidade, é sustentado pelo público hardcore, que gostam daquele harém. O trunfo e a sátira de Bakemonogatari está justamente nos personagens, que possuem uma excelente química entre si e não por acaso, o foco é neles e nunca no cenário em suas voltas.


Senjougahara Hitagi. Infame. Fria. Pervertida. Carismatica. Hitagi representa o modelo de personagem de Nisio Isin, que quem só assistiu este anime e Katanagatari, talvez desconheça. Ela também é uma antítese. Senjougahara Hitagi é a garota que tem o peso de um papel e que em um belo dia, é flagrada caindo do céu por “Ararararagi-kun”, que corre em seu socorro e entra em grandes apuros com a mesma, mas que acalmados os ânimos, acaba descobrindo que seu peso tinha sido roubado por um caranguejo (!!!). Senjogahara Hitagi possui uma personalidade que virtualmente é igual à típica personagem Tsundere. O quão bom é quando vemos toda essa imagem destruída por uma bola curva? Chega a ser quase uma metalinguagem, a forma irônica ao qual ela se intitula de "Tsundere-chan", para nosso protagonista de nome que soa quase que um trocadilho, Araragi. Como eu disse, ela é uma antítese e pra compreender tudo isso, você já tem que ter passado pelo menos da segunda série da escola de otaquismo. Afinal, ela é uma personagem desprovida de tudo aquilo que se entende como tsundere, mas ainda assim é virtualmente apresentada como tal. Bakemonogatari é uma grande sátira, e trabalha isso de forma sútil, afinal, vocês percebem a incoerência de Meme Oshino, um monje budista que atua como exorcista, cobra e ainda mora em um local altamente suspeito? Podemos discorrer sobre Suruga Kanbaru, a lésbica fujoshi, lolicon e masoquista, que tem uma tara incontrolável por Senjogahara Hitagi ou a loli~zinha Mayoi Hachikuji, que protagoniza momentos divertidíssimos com “Ararararagi-kun”, que acaba cruzando a perigosa e tênue linha em alguns momentos. Mas você vai mesmo levar a sério, entre outras coisas, o fato dele ter apalpado o peitinho dela? O tom dado à narrativa foi simplesmente sensacional e méritos para a SHAFT que soubre transpor com maestria.




A despeito de todo o pretenciosismo empregado a obra, a narrativa do anime no geral, é ótima. Nem sempre os arcos começam bem, e o fato de estrutura se sustentar nos diálogos, se estes soam desinteressantes, tudo em volta parece extremamente maçante. Porém, o desenvolvimento é sempre de altíssimo nível, com desfechos sempre inesperados. Até mesmo o que poderia soar como um fanservice barato passa como algo de alto nível. Como no episódio em que Araragi vai na casa de Hitome, que acabara de tomar banho e começa a se trocar na frente dele. O movimento de câmera foi incrível, com um enquadramento, iluminação e sombras, perfeitos. 


A união entre SHAFT e Nisio Isin, deu um segundo fruto que estreia daqui a alguns dias, Nisemonogatari, a terceira parte da série Monogatari, sendo que a segunda parte, Kizumonogatari, onde é contada sobre o passado de Araragi, só estreia no decorrer do ano – E também uma produção em parceria entre Aniplex e SHAFT. Ficaria faltando ai Nekomonogatari Kuro, para completar a quadrilogia da primeira fase da série Monogatari. Todas sempre com Araragi como narrador, ainda que nem sempre seja o foco, em teoria. Ainda ficam restando mais 7 livros, que mostram uma certa ambiguidade de Nisio Isin, que ora, faz obras bem lúdicas e com desfecho feliz, mas também tem um outro lado mais obscuro, que não deixa nada a dever para um Gen Urobuchi. Em Bakemonogatari, basicamente é Ararari as voltas com lindas garotas, formando um harém. Se desenvolvendo como personagem e se estabilizando com Hitagi, em um relacionamento que, sim, também é uma sátira ao gênero, onde os dois forma uma antítese perfeita. No fim das contas, são pequenos casos sobrenaturais, que servem para interagir aqueles personagens, com Araragi ajudando-as e salvando, que é o que se espera de todo protagonista de harém. Certamente, faz sentido que o mais aguardado seja Kizumonogatari, que de todas suas adaptações até aqui, é a que estabelece uma ligação mais íntima com um lado mais agressivo e obscuro de Nisio Isin, que se mostra também um adorador de tragédias em um prazer sádico, de fazer o público sofrer. Como a mensagem, vem tão desfragmentada, será que há folego para se adaptar tudo? Certamente sim. Se será ou não, é um outro caso. Mais analisando a adaptação de Bakemonogatari de forma isolada, ela acaba, forçosamente, por ter de se ancorar em tudo o que foi feito anteriormente, para poder progredir. E não é assim que funciona? Mas não é algo que me comprou da mesma forma que todos aqueles que cultuam a série. Há sim, aspectos interessantíssimos, mas ficou a sensação em mim que também se perdeu, dentre os devaneios semióticos, simbólicos, envoltos no pretenciosismo de Shinbo. Ficaria bem melhor com 11 episódios e se apoiando menos em slides.

Ano:2009
Diretor:Akiyuki Shinbo
Estúdio:Shaft
Tipo: Série de tv
Episódios:15
Gênero:Romance / Ação / Slice of Life / Sobrenatural