sábado, 23 de março de 2013

Ookami Kodomo no Ame to Yuki

Saudações do Crítico Nippon!



Se antes o cineasta japonês que eu mais aguardava por novos trabalhos era Makoto Shinkai (gomen, Miyazaki, nada contra, é curiosidade minha mesmo. Ao menos você nunca fez uma bomba abominável como Hoshi Wo Ou Kodomo), após este “Ookami Kodomo no Ame to Yuki” (ou Wolf Children Ame and Yuki) me vejo dividido em um completo empate com Mamoru Hosoda. Realizador de Summer Wars e do excelente filme já resenhado aqui no blog (A Garota que Conquistou o Tempo), volta a fazer uma obra de qualidade, com uma direção cada vez mais segura e fluída. Prejudicado apenas por um clímax perdido e com decisões questionáveis, repetindo o que já ocorria na obra A Garota... citada anteriormente.






O filme começa com a universitária Hana, e as investidas dessa em um quieto rapaz e colega de aula que lhe chama atenção. Enfim os dois começam a sair e ele revela seu maior segredo: é um lobisomem. Apesar de surpresa (obviamente), isso não influencia em nada seus sentimentos pelo jovem. É então que Hana fica grávida e um trágico acidente com seu marido faz com que ela se torne uma mãe solteira.

Assim, se ser mãe de primeira viagem de crianças humanas já assustaria qualquer uma, o filme ilustra perfeitamente os receios ainda maiores dessa que terá híbridos. Receosa em levar as crianças para médicos ou veterinários, Hana está totalmente só, perdendo aquele que mais poderia lhe ajudar. E é tocante as vezes ocasionais em que pensa no marido arrependida de não ter perguntado mais sobre como foi criado na infância; ou o cuidado constante de colocar capuzes nos filhos para esconder suas orelhas.



Mamoro Hosoda se mostra extremamente seguro e sem encher lingüiça em momento algum, dedicando o tempo certo para ilustrar e fazer sentir o que é preciso. Para isso, usa constantes montagens que investem na passagem do tempo de forma orgânica – algo difícil de soar convincente. Temos exemplos como os primeiros anos de vida de Ame e Yuki (aliás, todo crescimento das crianças é extremamente natural e convincente, excelente direção), ou aquela que considero umas das melhores montagens que já vi em uma animação japonesa: a que ilustra os primeiros anos do casal morando juntos seguido dos meses de gravidez de Hana. Sem absolutamente nenhum diálogo durante vários minutos, com uma trilha sonora cada vez mais evocativa e bela, é o momento mais emocionante do filme. Esta seqüência poderia ficar facilmente lado a lado daquela da animação ocidental UP, da Pixar, com o casal envelhecendo juntos.

Desta forma, a morte de seu marido é um acidente ainda mais súbito e inesperado, ilustrado de forma crua e impactante por natureza, como... bem, como são na vida real. Utilizando de forma perfeita os sons diegéticos da chuva, altos e incômodos nessa cena sofrida, para abaixá-los em outros momentos e causar efeitos diferentes (em outra cena final importante que se passa na chuva, mal podemos ouvi-la); ou com o som constante dos grilos no campo.









Com uma excelência de quadros magnífica, os cenários tem um realismo assustador (embora não soem mágicos e líricos como os de Makoto Shinkai, ganhando assim sua perfeita individualidade) e superior vistos em suas obras anteriores. Deste modo, a profundidade de campo visto em 2D aqui soa muito mais exuberante do que 95% dos filmes em 3D que eu já vi na minha vida. E claro, a fluidez da animação é digna de A Garota que Conquistou o Tempo, como já havia elogiado fartamente lá. Poderia pegar como exemplo cada atividade ilustrada dos primeiros anos das crianças lobos, de tão naturais e cuidadosas.

Se Hana é uma mulher extremamente admirável, as crianças do título não deixam por menos. Ilustradas de forma cativante e doce, elas não conseguem controlar suas transformações nos primeiros anos, ao ficarem tristes ou com raiva. Aliás, quando estas se mudam para a casa do campo, é impossível não lembrar das pequenas de “Meu Vizinho Totoro” e sua correria pela nova casa, deslumbradas e assustadas com as pequenas coisas. E se, a princípio, o garoto Ame – uma mistura de L de Death Note com Ray de Evangelion – se mostre contido e tímido, aos poucos vai crescendo e descobrindo sua individualidade e força à seu modo. 















Contudo, o filme apresenta algumas falhas impossíveis de se ignorar. Por exemplo, não faz o menor sentido Hana ter livros infantis de lobos maus em casa, assustando Ame – com razão – já que são vistos como ruins e atacados por humanos. E se o velho Nirasaki parece que terá um papel importante – quase como um Clint Eastwood em Menina de Ouro – ele some abruptamente sem explicação, desperdiçando uma dinâmica interessante com Hana.

Acertando ao trazer à tona os conflitos da adolescência entre irmãos – morais e físicos – é ótimo a ilustração das visões opostas de Ame e Yuki sobre seus “segundo eu”. Por outro lado, os conflitos que ambos tem com garras e dentes, a primeira vista lhes deixam todo machucados, apenas para no dia seguinte estarem limpos para a escola e ninguém reparar nada. E se com apenas uma patada da Yuki seu colega ficou de curativo quase o restante inteiro do filme, torna os corpos limpos deles, após tanta violência, ainda mais absurdos.


Assim, chegamos ao clímax, e será impossível não falar de alguns SPOILERS. Portanto, se você ainda não viu o filme, assista e depois termine a leitura. Pronto? Então continuando: O final da história parece não ter nenhum grande acontecimento, soando vazio e sem expectativa com nada. Tanto a ida de Ame para a floresta, que já era algo que ele fazia sempre, e Hana estava ciente disso. E Yuki presa na escola, cujo único fator ali é revelar sua identidade para o colega, sendo que há muito tempo já temos certeza de que ele descobriu a verdade sozinho.

Outra coisa é a decisão de ambos em abandonarem a mãe, um para viver na floresta e a outra para viver em um dormitório colegial. Após vermos os anos felizes e controlados que Hana teve com seu marido, como assim eles não poderiam viver da mesma forma? Hana já passara toda vida adulta sozinha e ainda tem que lidar com o abandono dos filhos, ao som de uma música esperançosa e feliz... ãn? Pois o efeito foi o contrário, agridoce e até mesmo triste, chegando a ser reprovável.

De qualquer modo, Ookami Kodomo no Ame to Yuki consegue superar esses problemas após o belíssimo desenvolvimento que teve até então, e seu preciosismo técnico. Pode não ser uma obra perfeita, mas é encantadora e mostra que Mamoru Hosoda só precisa aprender a lidar com os finais de suas histórias. Assim, quem sabe, futuramente tenhamos uma verdadeira obra prima. Aguardarei ansioso.


(Para mais dos meus textos, é só ir no menu 'Crítico Nippon'.)


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