Este
documentário e biografia do mangaká Yoshihiro Tatsumi foi o escolhido para
representar o seu país no Oscar desse ano. E não que o Oscar seja sinônimo de
qualidade, porque nunca foi e nunca será (com nada menos do que milhares de
votantes – em sua maioria homens velhos -, festas para promoverem os artistas e
puxarem saco, e legítimas campanhas virais para conseguirem popularidade e
vitória, não passa da mesma politicagem que aquelas para os políticos em si),
mas é inegável que seja a mais famosa e acompanhada (mais que o Globo de Ouro –
um evento que é uma piada para os envolvidos no Oscar de tão irrelevante – e
até mesmo que o aclamado Festival de Cannes) e, portanto, por uma questão popular, é sempre
bom arrumar um motivo para falar sobre. Eis que uma obra sobre um nome
importante do nosso universo nippon é colocada no meio, e o Elfen Lied Brasil
não poderia deixar passar.
Feito através de uma animação simples, porém
expressiva e eficiente, é como se o diretor Eric Khoo quisesse mergulhar até na
tecnologia limitada do pós guerra japonês – cenário da maioria de suas obras. Yoshihiro
foi o precursor da expressão “gekiga”,
ao criar uma nova forma de mangás voltadas para o público adulto, com temas envolvendo
violência e sexo. Abordando uma estrutura que varia entre adaptações das
histórias do autor e intercalando com acontecimentos da vida do próprio, é um
filme sempre fluído e interessante.
Desta
forma, Tatsumi não é, de maneira alguma, um filme para crianças, com imagens que
variam entre mutilação, assassinatos brutais e incesto. E só de pensar que este
autor, na década de 70, colocava nas mesmas prateleiras que obras infantis,
temáticas tão pesadas e infelizes, revelam um homem mais destemido e corajoso
do que poderíamos imaginar. Fã declarado do gigante Osamu Tezuka (e ouvir
Yoshihiro ainda hoje, aos 75 anos, chamando-o de “Tezuka-sensei” demonstra uma
honrável humildade), é realmente engraçado ouvir que seu mestre ficou chocado
com a ideia de seu novo estilo a princípio, até o gekiga crescer sem parar e ele ficar com certo ressentimento de seu
potencial.
As
histórias aqui são vistas sempre em cores escuras, com finais tristemente irônicos
e trágicos. Enquanto as passagens da vida do personagem-título ganham cores
vivas e alegres, destacando com otimismo seu criador. E é impossível não
relacionar sua obra sobre a bomba de Hiroshima com a do autor Keiji Nakazawa em
Gen pés descalços, ambas cruas e
impactantes. Com a auto biografia que inspirou o filme vencedor do prêmio
Tezuka em 2009, Tatsumi certamente pode ficar satisfeito com seu legado e suas
conquistas dignas do mestre que tanto admirou.
(Para mais dos meus textos, é só ir no menu 'Crítico Nippon'.)
Nenhum comentário :
Postar um comentário
Os comentários deste blog são moderados, então pode demorar alguns minutos até serem aprovados. Deixe seu comentário, ele é um importante feedback.