domingo, 3 de março de 2013

Pocket #02: Arte Sequencial (Ou...Como a Shinobu é Assustadora!!)


Nunca imaginei que isso fosse sobreviver e chegar ao digito 02 (emocionada), mas eu tenho alguns pensamentos soltos aqui , que nem sei se vale o registro, mas não podem me cobrar nada, essa seção é justamente para eu vomitar obviedades.  :P

E dessa vez nem está tão pocket assim... WOW!

Após assistir o episódio 08 de Chihayafuru 2, num raro momento de lucidez, me lembrei de ir atualizar a série no meu MyAnimeList (aquilo tá uma zona, só serve mesmo para uma tentativa de fins de registro), e sei lá por que fui dar uma olhada no fórum pela primeira vez – Só para contextualizar, há muita coisa boa nos fóruns do MAL, e também há muito câncer elevado ao quadrado . Então tenho preguiça de acompanhar as discussões por lá, só vou mesmo nas notícias – e acabei me deparando com uma comparação das páginas do mangá. Essa página abaixo.


Há certas coisas obvias que sabemos instintivamente, mas não paramos para pensar sobre. Muitas vezes sentimos que algo não está legal numa série, mas não sabemos definir exatamente o que é. Às vezes pode ser uma questão técnica, uma má direção, um autor que não sabe usar bem a narrativa cinética de um mangá, que tende a apresentar um fluxo limpo de ação. Nessa imagem acima qual a diferença primordial na narrativa de cada mídia?

O mangá tem a necessidade de utilizar o espaço negativo (aquele espaço em branco entre objetos, personagens, cenários, etc) para expressar seja o que for a intenção do autor. Neste caso, a intenção da Yuki Suetsugu (autora do mangá, no qual o anime é adaptado) é causar impacto visual, uma surpresa pela perspectiva da câmera subjetiva: o cenário pelo ponto de vista de Arata, como se estivéssemos olhando com os seus olhos, para aquela pessoa que colocou a mão em seu ombro, neste caso a Shinobu. No mangá, para alcançar este objetivo, ela precisa abrir mão de enquadramentos mais fechados e destacar o espaço negativo em volta. Já no anime, Morio Asaka (diretor) que sempre utiliza muitos dos recursos do mangá [como onomatopeias, arranjos florais, diálogos fora da caixa e linhas de movimentos, muitas vezes por pura opção da staff,  dando um ar mais artístico que o torna mais bonito visualmente. Uma alternativa que sempre funciona principalmente em séries com orçamentos menores], mas a mídia visual possui mais recursos (haha que nem sempre é aproveitado ao máximo, muitas vezes por ser caro, diferente de... quadrinhos, onde tudo depende unicamente do talento do autor), uma delas é perceptível nesta imagem. No anime, não há necessidade de respeitar o espaço negativo, o artista responsável pelo storyboard pode simplesmente fechar o enquadramento e captar mais ricamente as feições do rosto do personagem, sem que para isso perca o impacto visual da cena.

Inclusive, no anime essa sequência fica muito melhor por causa do uso aprimorado da câmera subjetiva. Definitivamente, o efeito foi muito bonito visualmente, essas sombras e luzes que se atrevem a brotar por entre as pétalas de flores, nesta que foi a melhor sequência do episódio 08 – A Shinobu é os bicho, consegue ser amedrontadora, sem dizer uma palavra.

Como eu disse, em quadrinhos depende muito mais da habilidade do autor. Aliás, ano passado estava lendo sobre técnicas visuais em quadrinhos, é impressionante como uma grande antologia como a JUMP, é muito mais rigorosa com relação à linguagem visual, do que eu imaginava quando via páginas aleatórias de Bleach por aí. Mais do que em antologias menores/menos popular ou que se focam num público mais velho. Mas isso fica pra outra oportunidade.

Sobre a Autora

Eden no Hana e a "inspiração" de Yuki Suetsugu numa fotográfia de revista
Yuki Suetsugu, autora do elogiadíssimo Chihayafuru (que ganhou um status bem elevado no Japão. A série que já se destacava, ganhou ainda mais visibilidade depois do anime. Temos aí então um bom exemplo de, mesmo o anime não vendendo, consegue ser uma propaganda eficaz), em 2005 foi atormentada pelo karma do plágio, por evidências que surgiram no 2chan de que ela havia plagiado algumas sequências de narrativa visual do autor de Slam Dunk, o ovacionado Takehiko Inoue. Ela própria depois confessou que realmente havia plagiado, e bem... não havia como negar realmente, as imagens são bem similares. Na época ela estava publicando Eden no Hana (Flower of Eden), que foi obviamente cancelado pela Kodansha, editora do mangá. O Japão tem uma politica bem forte com relação à plágio. Curiosamente, Slam Dunk também se viu envolvido em acusações por  supostamente o autor utilizar referência de fotografias de jogadores da NBA.

Não deu em nada, claro, estamos falando do Inoue, a palavra dele é o suficiente para assegurar a continuidade de algo que esteja produzindo. A Yu Suetsugu foi acusada também de plagiar algumas fotografias. Recentemente o mesmo aconteceu com o autor de Prism (no caso dele foi pior, porque o cara copiou basicamente tudo, todas as sequências visuais que achávamos lindo e com angulações e contornos tão tecnicamente precisos), e isso é algo que acontece com frequência entre mangakás (e algo assim pode enterrar a carreira do autor). A linguagem do mangá é muito codificada, e alguns autores na ânsia de capturar movimentos e trejeitos cada vez mais realísticos e impactantes, acabam copiando fotografias reais, ou simplesmente pegando as sequências visuais de outros mangás. Repetindo: O autor depende unicamente de sua habilidade técnica para sobrevier nesta profissão. É ele, e apenas ele. 

Dica de Leitura:

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