JoJo's Bizarre Adventure: Stardust Crusaders Egypt Arc (2015): A Amizade Insuperável

Parte 3 se encerra com incríveis 48 episódios, sensação de desgaste, feelings e saudades!

Stardust Crusaders é um divisor de águas para JOJO enquanto franquia, e também é notável uma certa polarização de opiniões em relações aos fãs, muito por causa de sua popularidade e influência, não apenas na mídia dos quadrinhos. É uma série que se tornou “standard” na cultura pop – para se ter uma idéia, eu já conhecia alguns dos memes oriundos desta parte 3, mesmo antes de vir a sequer cogitar ler os mangás; devo dizer que é um gostinho especial quando você conhece algo, mas não o contexto; então quando este algo surge, é como se um sino ressoasse na sua mente “ah, então é isto!!”. Senti-me tão em êxtase ouvindo e vendo Dio (Takehito Koyasu) pronunciar o emblemático ZA WARUDO, que quando surgiu eu repeti a sequência diversas vezes. Ainda mais que é sempre um colosso acompanhar as performances de Dio.

Quando comentei sobre o primeiro cour de 24 episódios de Stardust Crusaders, eu era um tanto decepcionada em relação a tudo, pois mesmo que as partes anteriores tivessem coisas contestáveis, havia uma força profunda que superava os deméritos, que dominava os sentidos de razão e emoção, algo similar ao gozo – aqueles segundos de plena e genuína satisfação em que você apenas sente. Claro, depois do orgasmo você parava para analisar e encontrava seus poréns, o que é natural, mas as viradas; clímax; manobras detinham grande fôlego. Crusaders por outro lado fazia algo que se sentiu muito pobre em Battle Tendency, que é a força do coletivo. Aqui temos um protagonista icônico e visualmente forte como “frontman” que tinha tudo para roubar o screentime, mas surpreendentemente o conjunto supera o individualismo. O que por um lado é bom e inquestionavelmente a maior força cognitiva de Stardust Crusaders – afinal, é o apelo do grupo e os talentos individuais que se afloram na interação que fizeram do primeiro cour desta parte algo suportável e, por que não, divertido. Caiu sim muito rápido no lugar comum e nas repetições pouco imaginativas, mas ainda era interessante acompanhar semanalmente personagens que conseguiram criar uma empatia com muita facilidade. Se tornou tão arraigado que criou uma espécie de compromisso emocional. Algo como “é um pouco chato e tedioso em algum aspecto, mas também é divertido em outro, gosto da companhia destes bastardos”.

E temos Jotaro (Daisuke Ono). Um protagonista apelativamente visual; ele é icônico e pouco carismático, mas diz frases de efeitos que possuem peso cênico-dramático. É um personagem GAR, do tipo poucas palavras; muita brutalidade, chute na porta e soco na cara. No entanto, passou-se dois cours, 48 episódios, e Jotaro continuou sendo um personagem raso, que dentro do conjunto, pouco se destacou. Ele é astuto, perspicaz, no fundo é UM JOJO (ou seja, um bom garoto) mesmo com a pinta de durão, só não venham me dizer que isto o torna um personagem com profundidade. Tampouco é o que eu esperava que fosse. Nem todo personagem é pra ser super complexo e o caralho a quatro. Eu gosto destes personagens icônicos, eles possuem seu papel dentro de uma trama. O ponto em que quero alcançar, é que o papel desempenhado por Jotaro Kujo é simplesmente fraco, mesmo tendo protagonizado alguns dos momentos mais explosivos de Crusaders. Talvez tivesse se saído melhor num Battle Tendency. Aliás, é a impressão final que fica; a de que Jotaro é um protagonista fora do seu habitat natural, afinal, em meio a um enredo que prima pela força do coletivo, ele pouco teve a oferecer. Nesse sentido, seu punho brilhou mais que sua mente perspicaz.

Já o segundo cour de Crusaders é de fato superior ao primeiro. Embora ainda caíamos em diversos episódios de adversários nem um pouco ameaçadores e completamente esquecíveis, as tramas e engrenagens demonstram um fulgor a mais, talvez pela proximidade do desfecho. Há a característica intensidade e subversão de expectativas, que com viradas narrativas mais bem boladas, tornam o meio vibrantemente febril com situações muitas vezes inesperadas. O texto ainda peca bastante na construção dramática dos adversários que, sem surpresa, são 99% das vezes apenas caricatura cômica sem relevância. Em meio a isto, personagens como D'Arby I e II (Banjou Ginga e Junichi Suwabe), Pet Shop e Vanilla Ice (Sho Hayami ) se destacam com facilidade e se tornam os únicos adversários, fora Dio, dignos de menção. Dos quatro, 2 acabaram tendo uma vazão tragicômica, perdendo a densidade e no fim se tornando peças jocosas, mas ainda assim foram construções tão bem engendradas criando uma atmosfera de urgência e perigo real, além de figuras realmente simpáticas, que são dignas de reconhecimento. Mas são Pet Shop e Vanilla Ice que protagonizam os arcos mais entusiasmaticos, com uma astucia narrativa que cria grande tensão ambiente, trazendo de volta um tipo de combate com uma previsível imprevisibilidade que não se via desde Battle Tendency. E quando veio Dio, conseguiu ser arrebatador ao ponto de valer o ingresso. Então posso dizer que, sim, as pessoas tinham em parte razão: vale a pena cruzar o deserto de Crusaders apenas pela sua reta final. A recompensa paga qualquer coisa.

No fim, foi essa jornada de altos e baixos, acompanhada por semanas, que propiciou esse apelo aos personagens. Esse laço que parece quase familiar que fora se construindo aos poucos, dando a impressão de uma jornada compartilhada. A interação e a gradativa união de um grupo tão distinto em um conjunto tão homogêneo. Como na vida, em que as adversidades criam pontos que pareciam inconcebíveis. Foi tudo isto que promoveu um final tão empático e emocional. Animes longos tem isso a seu favor.

Nota de rodapé: o episódio final, mesmo sendo típico da série, é um tanto covarde. Há de se entender que a beleza de algumas coisas está justamente na sua efemeridade.

Nota: 07/10

Fonte: Adaptação

Direção Geral: Kenichi Suzuki

Direção: Naokatsu Tsuda

Composição de roteiro: Yasuko Kobayashi

Episódios: 24 (split-cour. Encerrado)

Tipo: TV

Trilha Sonora: Yuugo Kanno

Estúdio: David Production

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