Os quadrinhos são um fenômeno mundial, com sua arte sequencial ganhou apelo popular, mas demorou a ganhar status artístico. Se compararmos com livros, acabamos considerando automaticamente como uma linguagem menor ou até mesmo inferior. Não há muito que se questionar, ainda que algumas histórias em quadrinhos tenham conseguido o status de “obra prima”. Já os quadrinhos americanos (que atualmente, anda soando mais cool chamar de Graphic Novel) e os quadrinhos japoneses (nossos queridos e amados, mangás), em sua essência são a mesma coisa, com sua relação direta com jornais e revistas, que ajudou no fato dessas histórias serem vistas como manifestação da cultura popular e sem distinção – teoricamente – da chamada alta cultura.
Ambos são encadernados de baixo-médio custo, sem capa dura e papel couché, afinal, é algo pra ser vendido em qualquer banquinha de esquina, visando o publico adolescente/jovem, da classe A á D, que não trabalha ou não disponha de muito além do que o suficiente pra garantir o seu Naruto pocket ou Bleach todo mês. Uma visão de mercado que realmente faz sentido, mas que acaba esbarrando naquilo que deveria ser uma norma em toda empresa, que é o padrão de qualidade no atendimento. Instintivamente, quadrinhos é a arte sequencial em qualquer lugar do globo, mas não há como ignorar que em cada lugar ao qual é produzida, é impressa uma característica que acaba distinguindo cada uma das demais. Apesar dos meus 17 anos, peguei a fase de banca em que todos os gibis, eram os mesmos papeis jornais que vejo hoje nos mangás. Algumas edições que ainda guardo comigo, já estão completamente amareladas. Hoje, os gibis continuam do mesmo jeito (Turma da Mônica, Tio Patinhas e etc), mas as HQ’s americanas, ou melhor, as Graphic novels, sejam da linha hero ou as prestigiadas minisséries, ganharam um tratamento diferenciado, com um preço que salta dos 10,90 aos 15,90 em média.
Ainda que, leve se em consideração o numero de páginas que é bem menor, que possibilita uma simples cola e grampeamento para que aquilo dure muitos anos, mesmo com o manuseio frequente, se percebe uma evolução e um respeito com o consumidor – Mesmo que erros continuem a acontecer, ao menos o padrão físico se mantém intacto. Já os mangás, são mais volumosos, com uma média de 200 páginas, onde mesmo com a prática do meio tanko (divisão de um volume em dois), era frequente para quem viveu naquela época ter suas páginas descoladas com uma simples folheada. Hoje, mais de 10 anos depois da introdução dos mangás nas bancas brasileiras e uma histórico que não pode cair no esquecimento jamais [Os 09 maiores erros do mercado nacional de mangas - Parte 1 e parte 2], não temos mais o problema das páginas descolando independente do cuidado que se tenha e nem a abusiva prática do meio tanko, mas a falta de respeito perante o consumidor permanece com um aparente amadorismo nas três principais editoras de mangás no Brasil: Jbc, aquela que se considera a maior, a Panini, uma multinacional que contrata serviço de terceiros e mantém um site completamente desatualizado e a caçula NewPOP, que apesar de demonstrar vontade de ser diferente das demais, acaba esbarrando nos problemas mais bobos, como gramatica e revisão.
Kobato com páginas transparentes do @PaninaManina |
A Jbc aparentemente é aquela que possui as falhas mais graves, a maior delas é seu editor chefe, Marcelo Del Greco, que se comporta como macaco de auditório, mas ao invés de darmos uma banana para ele, o caso se inverte e é ele que nos manda a banana. Afinal, engolimos suas desculpas esfarrapadas e continuamos comprando um mangá meio tanko que, por ter menos páginas, deveria ter um preço de capa menor ou citando a recente causa de toda essa movimentação do fandom contra a Jbc e a Panini: Páginas transparentes. Ao que parece, as duas maiores editoras de mangás do Brasil, que imprimem na mesma gráfica, resolveram baratear um pouco mais os custos de produção ao utilizar um papel de qualidade ainda menor que aquele jornal ao qual já estávamos – mal – habituados. Com isso, explodiu no twitter algumas semanas atrás a hastag #VergonhaJbc, que acabou culminando numa revolta que já era perceptível pelo tratamento dispensado em séries como (por exemplo) Cavaleiros do Zodiaco: Next Dimension e Evangelion, que vieram com uma qualidade física abaixo da média.
Sora no Otoshimono (também) do @PaninaManina via resenha do mangá no SubeAnimes
A Panini apesar de suas grandes falhas ao não dispor de uma comunicação direta com seus consumidores e ser extremamente desorganizada, ainda conseguia um pouco mais de respaldo devido ao seu capricho com a edição física de seus mangás e os constantes mimos oferecidos aos seus consumidores, como páginas coloridas e extras (que deveria ser padrão em todas as editoras). Mas acabou também aderindo à prática desonesta de baixar ainda mais a qualidade do seu papel jornal, ao menos em seu mais recente lançamento, Sora no Otoshimono. Como é de praxe no mercado nacional, não houve nenhuma resposta convincente (se é que houve resposta, eu mesma não fiquei sabendo) por parte das editoras envolvidas e nem ao menos uma promessa de melhoria frente à insatisfação de seus consumidores.
Mas o que o consumidor casual pode fazer a respeito? Não me parece justo que ele tenha que abrir mão de ler sua série preferida e levando se em conta que comprar no exterior, ainda não é uma pratica acessível a todos. Simplesmente deixar de comprar não é uma solução prática e nem ao menos inteligente. Uma empresa não espera sua margem de lucros caírem drasticamente para tomar quaisquer atitudes atenuantes. Nem tão pouco o consumidor casual é tão abitolado como seu silencioso desconforto demonstra. Ele pode não saber como agir ou julgar que seu esforço ao reivindicar por um aumento na qualidade não valha realmente a pena. Infelizmente, é uma praticamente já cultural, principalmente se tratando de um produto dispensável para o publico médio. Mas ele sabe que aquilo ali está errado, todo ser humano é perceptível. Em recente pesquisa apontada pela Folha, apontou-se que o “Xingar muito no Twitter” consegue ser mais eficaz e rápido que procurar seus direitos no Procon. A empresa em si, pode não se manifestar publicamente, mas ela está de olho em seu publico alvo. E não importa o tamanho do grupo que esteja insatisfeito, o barulho e a atenção que ele pode fazer é enorme, como ficou provado naquele final de semana onde o #VergonhaJbc, durou um dia inteiro e ainda é possível se ouvir seus ecos ecoando.
Obviamente o problema não é de agora, a trajetória dos mangás no Brasil é um amontado de mal feitos, onde ainda é possível compreender a Jbc e sua proposta de popularização dos mangás, que naquela época deu certo, diga-se de passagem. Ainda que folhas e mais folhas soltando do encadernado seja um grande desrespeito ao consumidor, a pratica do meio tanko foi uma jogada inteligente (na época). Mas que ficou lá atrás, juntos também com o péssimo trabalho físico que a Panini fazia em seus mangás, e aqui, sem entrar no mérito das outras editoras que se aventuraram tentando ganhar um troquinho na onda crescente dos quadrinhos japoneses, mas que falharam miseravelmente. Ainda hoje, a conquista que o consumidor de mangás conseguiu foi enorme. Poder abrir seu mangá com segurança, sem receio que alguma página irá se descolar (ou vários ou quem sabe até mesmo o mangá inteiro) e não ter que pagar mais caro por dois meio tanko tão finos quando a sua revista da Turma da Mônica é algo pra se respirar aliviado. Temos páginas coloridas em algumas edições, extras e no geral, boas adaptações de ambas as editoras (não relevando preferências pessoais), ainda que o papel seja jornal. Longe de ser o ideal, mas uma pequena conquista.
As páginas transparentes não são apenas uma ameaçada para a estética e apreciação de leitura, mas também um perigosíssimo retrocesso. Estávamos no meio de uma importante discussão em torno de uma melhor qualidade, quando fomos surpreendidos por uma prática que merece sim, todo o destaque negativo que vem tendo. Mangás com um padrão luxo, de capa dura, papel couché e tiragem limitada para ser vendido nas melhores bancas e principalmente em livrarias por um preço mais elevado, parecia algo quase utópico, quando apareceu à editora L&PM e mostrou na pratica a todos, que é possível sim, ter um mangá com o mínimo de qualidade aceitável, por um preço razoável, com páginas brancas e costurado (como é possível notar no vídeo de divulgação). E como se já não fosse pouco, ainda surpreendeu a todos com o tratamento direto com o público consumidor, respondendo dúvidas pelo twiiter, divulgando em seu site oficial as datas de lançamento, capas e até vídeos de apresentação. Algo que não deveria surpreender ninguém, deixou todos os consumidores pasmados, afinal, a Panini é silenciosa e nem mesmo com dois perfis no twitter, responde seus leitores como se deve. A Jbc, tem um excelente site, mas o editor chefe Marcelo Del Greco, prefere massagear seu ego, lançando charadas em seu perfil no facebook como uma criança que começa a espernear no meio da rua, querendo atenção. Se há algum contato e recentemente teve progresso na relação público, blogs e editora, foi devido aos funcionários da mesma, que se mostram sempre disponível, mas que não podem fazer muito, além disso.
A L&PM é uma editora gaúcha, de catálogo bem diversificado. Está entrando no mercado de mangás agora, com dois títulos de peso: Solanin de Ino Asano e Aventuras de Menino (Bouken Shounen) de Mitsuru Adachi . Isso vem reforçar a ideia de que o formato dos quadrinhos de “luxo” (capa cartonada, papel mediano ou até mesmo especial) tem mais a ver com livros do que com revistas, sendo que o seu principal ponto de venda é a livraria e não a banca. Não são edições de colecionadores e com tiragens super limitadas, como Graphic novels famosas como a da excelente série “Sandman”, de Neil Gaiman, que fica numa média de R$ 150,00 cada volume. Mas são edições que recebem um tratamento melhor, algo feito pela NewPOP em seus mangás, que custam mais caro que a média. A tendência é que, com as editoras NewPOP, Conrad e L&PM investindo em um publico mais amplo (e certamente mais maduro e com poder aquisitivo)e com uma qualidade melhor, acabe criando um padrão [Breve Análise Do Mercado Nacional]. Embora, acredite que as páginas com papel jornal devam continuar por ai por muito tempo ainda. E isso não exatamente ruim, desde que mantenham um nível aceitável e que não desrespeite o consumidor, oferecendo algo que vale o preço que custa e um serviço de interação que esteja sempre ali, para tirar qualquer duvida que o mesmo venha a ter. Eu suponho que pedir para que empresas ajam com profissionalismo, não deva ser a coisa mais absurda do mundo. Vergonha mesmo...
Seu papel como consumidor
Cobrar respeito e um produto que valha o preço pelo qual se está pagando.
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