quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Comentários: Solanin - Volume 02 "SENSACIONAL"



Eu não sei quando eu vou publicar este post, mas neste exato momento eu terminei de ler o volume dois de Solanin e depois de algumas lágrimas derramadas, o feeling total de melancolia que tomou conta do ambiente e aquele último suspiro dado quando se chega à última página, do último volume do mangá – Posso dizer que já estou sentindo aqueles sintomas de depressão pós-leitura. Estou aqui, sentada na cama e olhando pra pras coisas ao redor do quarto, para o teto branco e com as hélices do ventilador girando lentamente, mas minha mente está completamente vazia. Estou apenas curtindo esse momento tão bom. Então, eu digo pra vocês: Valeu a pena não ter lido Solanin pela internet. Jamais sonhei que este mangá pudesse ser lançado aqui, mas acabei sendo recompensada pela espera, mesmo este sendo um mangá que sempre tive vontade de importar para ler. Mas olha, quando se trata de mangás, não há nada melhor do que poder pega-lo, sentir nos seus dedos o papel e poder leva-lo ao nariz e cheirar por longos intermináveis segundos aquele cheiro maravilhoso impregnado nas páginas. Mangás e livros possuem essa peculiaridade. Melhor ainda quando as páginas do seu mangá são de qualidade e ao folheá-lo, você ouve aquele barulhinho de página virando. Cheguei ao fim de Solanin... foi booom... muito bom.


Olha, são quatro horas da manhã e estou morrendo de fome. Vou comer alguma coisa e depois volto aqui pra tecer meus comentários. Simplesmente eu preciso me recuperar dessa leitura.

Agora...voltando ao pov.



Antes de ler Solanin, eu imaginava que se tratasse de uma história triste, mas acabei me surpreendendo. Quer dizer, ela acaba trazendo esse sentimento, por ser uma história que poderia ter acontecido com qualquer um de nós, devido ao seu grau de verossimilhança com a realidade, com isso, irremediavelmente acabamos nos identificando com diversas situações, diálogos e nos afeiçoando àquelas personagens. Solanin não é hiper dramático, nem hiper triste, é apenas melancólico, longe de ser um tearjerker (causador de lágrimas) – Em parte por tocar em feridas cicatrizadas e trazer a tona sentimentos ocultos por um sorriso. É sutil e essa sutileza faz doer, como se fosse uma folha de papel A4 atravessando a carne dos seus dedos da mão, como se não fosse nada. Isso porque reafirma o quão impotentes somos. Inio Asano nos lembra que por mais que você sonhe em mudar o mundo, em fazer aquilo que sempre sonhou, a realidade as vezes é impiedosa e anos depois, provavelmente você poderá estar por trás de um balcão, sempre obrigado a sorrir para o cliente ou no metrô, sendo amassado e cheirando suor alheio.

Não apenas no Japão, mas mundialmente, os jovens hoje são muito mais inseguros quanto a seu futuro profissional e convívio social. Você olha em volta e vê toda essa competitividade animal, vivendo em metrópoles que são verdadeiras selvas de pedras. Quando chega aquele momento de trilhar o próprio caminho, o choque com a realmente é provavelmente assustador em muitos casos. Diante disso, a vontade é mesmo se alienar, afinal, pra quê eu tenho que aturar pessoas chatas, que me olham e me acham esquisita? Ou um emprego desestimulante de baixo salário. Mas algo bem interessante e que se faz presente de forma intrínseca na sociedade japonesa, a ideia de perseverança é uma ideia que se faz bastante presente em diversos mangás, para se alcançar o sucesso.


Solanin passa isso de uma forma delicada e sutil, não impondo o velho “espirito shounen”. Meiko perde o seu chão com a morte de Taneda, mas apesar da dor que sente, continua seguindo em frente: Revendo tudo agora, até meio ano atrás, eu estava aqui em Tóquio, tentando de tudo para sobreviver nesta cidade. Não dá para ficar assim para sempre...”. Ela se muda, arruma um emprego comum e decide aprender a tocar guitarra e tocar e cantar na banda de seu falecido namorado. Agora ela é a prova viva da existência dele no mundo. Mas o fato dela ter continuando seguindo em frente, não quer dizer que ela o esqueceu ou até mesmo superou sua morte. Muito linda e sensível à conversa entre Meiko e seu amigo, Jiro Yamada, onde os dois sentados à beira do rio começam a se recordar da Taneda. Ele a pergunta se já superou, e ela lhe responde que “superar jamais”, mas que não pode ficar só na tristeza. Só por aquele momento, os dois se permitem chorar e demonstrarem suas fraquezas, um ao outro.

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A mensagem de Inio Asano é bem clara. Você não precisa ser forte o tempo todo, mas é importante também não se deixar estagnar. Depois de ler Solanin, me lembrei de 5 CentimetersPer Second e a mensagem deixada por Makoto Shinkai através de seu protagonista, que ficou estagnado no tempo, olhando a vida passar, refém de sua impotência, e quando se deu conta, já tinham se passado anos e todos a sua volta, continuaram seguindo em frente, enquanto ele ficou estático. É tão melancólico, sútil e delicado, quanto Solanin, porém o fim de 5 Centimeters Per Second nos trás um sabor amargo e inquietante, enquanto este, é agridoce, uma felicidade morna. Doce e amargo ao mesmo tempo, afinal, por mais trágico tenha sido os eventos que se sucederam à morte de Taneda, vemos aqueles personagens evoluindo.

Ai Kotani e Kato Kenichi, por menores personagens que fossem, conseguiram um certo destaque. Gostei de ver a forma como o relacionamento de ambos começou. Completamente peculiar. Ele é um gordo feio, que de tanto insistir, acabou conseguindo com que ela namorasse com ele. O Jiro "Rip, Billy" Yamada, foi sem dúvidas o melhor personagem secundário de Solanin. “Figuraça”, muito bem retratado por Inio Asano, como o tipo de pessoa que no fundo, é um “derrotado”, meio amargurado por ter chegado na casa dos trinta e não ter alcançado metade das coisas que almejou. Mas que está sempre sorrindo e fazendo idiotices. Nesse volume, Asano ainda nos reserva a surpresa de que ele na realidade, sempre foi apaixonado por Meiko. Mas continua assim, um amor platônico.


Os personagens de Solanin meio que são como personagens de uma crônica. Eles são personagens comuns, como pessoas que você encontra aos montes por ai, não possuem tanto aprofundamento psicológico, Asano nos mostra apenas traços rápidos de suas vidas e por mais que fiquemos curiosos, não nos será mostrado mais e nem é preciso. Eles existem apenas em prol de uma trama, no caso a de Meiko e Taneda. Mesmo esses dois, Asano nos conta sua história como se estivéssemos em uma conversa informal. Uma história que tem um inicio, mas não um fim. O fato de a história partir sempre da perspectiva da primeira pessoa, no caso, a Meiko, é um fator que a torna ainda mais envolvente e nos aproxima daquele cotidiano. A exposição dos sentimentos e a reflexão sobre o que Meiko está passando, faz nos sentir íntimos com aquilo tudo.

Solanin é o grande marco na carreira de Inio Asano e fez grande sucesso tanto no Japão, quanto nos EUA. Não é um clássico, mas é excelente. A amizade é tratada na história como elementar. Esse é o grande elo dos personagens. Uma amizade verdadeira, simples e bela. Seis anos depois de sua publicação original, Solanin continua atual, e mesmo contando uma história sob a perspectiva de jovens, é uma leitura madura, capaz de tocar a todos que se permitirem conhecê-la. É sensacional do começo ao fim. É emocionante desde o comecinho, quando nos é apresentado aquele casal que de tão comuns, parecem tão sem graça. Mas basta os primeiros diálogos, para que você se veja completamente envolvido no cotidiano daquele jovem casal. Afinal, aquilo tudo nos soa muito familiar. A partir de então, é impossível voltar atrás e o segundo volume, é o clímax de tudo. Foi incrível aquele flashback no começo da história deste volume. Fico pensando se quando eu morrer, também terei alguns segundos para relembrar de momentos importantes na minha vida. Solanin, além de emocionar, ainda tem humor, consegue soar divertido e tem uma trama madura, ainda que bem jovem. Brilhante, Inio Asano, brilhante.


Há uma versão live action do mangá, com a Aoi Miyazaki (do live action do filme, Nana), mas este eu devo demorar a assistir. Ainda pretendo guardar comigo esse sentimento que o mangá me deixou. Meiko toca a música “Solanin”, escrita por Taneda, antes de morrer, que apesar de não aparecer em sua versão completa no mangá, no filme ela é tocada pela banda Asian Kung-Fu Generation (famosos por temas de animes). Quando assisti ao vídeo abaixo, eu não fazia ideia do que esperar, embora a letra tivesse sido escrita pelo próprio Inio Asano, mas achei que combinou perfeitamente com a história. Ainda há o single com o tema da música “Mustang” dedicado à Meiko, que foi inspirada no mangá, bem antes do filme.


Chorei, me identifiquei, me diverti, a história é linda e sua conclusão é excelente, justamente por não ter um ponto final ou uma tentativa de resolução da trama. Meiko e os outros continuam seguindo sua rotina, com seus sonhos, medos e dores irreparáveis. Se ela vai conseguir sucesso com a banda ou ser uma assalariada pelo resto da vida, não importa. Afinal, assim como ela, também estamos no meio da multidão e todos temos nossos próprios problemas, uns mais, outros menos.

Se ainda não leu, pode conferir a primeira parte do post: Comentários: Solanin - Volume 01
E parabéns à editora L&PM pelo bom trabalho e por investir em Solanin.




Título: Solanin
Autor: Inio Asano
Volumes: 02 (finalizados)
Gênero: Romance, Drama, Slice of Life, Música
Demografia: Seinen
Editora original: Shogakukan (Weekly Young Sunday)
Nacional: L&PM
Coleção: L&PM Pocket
Valor: 15, 00 (justíssimo)

Dica de leitura: Resenha dos 2 volumes no blog Gyabbo

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