BRS é um dos produtos comerciais de maior êxito da atualidade,
que de uma canção homônima da banda japonesa Supercell e seu vídeo clip de
divulgação que era composto (como você
pode conferir no vídeo logo abaixo) basicamente com ilustrações do artista freelance
Huke (O mesmo que desenvolveu o
character designer original dos personagens de Steins;Gate), se tornou um fenômeno.
Então, porque não aproveitar e transformar o sucesso numa franquia, né!? Dai
veio o OVA que parece ter arrastado uma multidão em frenesi, e logicamente, não
correspondendo ao hype.
BRS TV na Visão de Imaishi
E dificilmente algum dia será algo mais do que apenas
mediano. Como é um produto comercial com uma ideia já fechada e limitada pela
mente dos investidores, que continua dando retorno, a intenção não é produzir
arte ou algo que seja sucesso de crítica, mas sim manter o statu quo. Por isso, por mais que o universo de BRS tenha sido
expandido em sua versão de anime para tv, ao final, podemos ver que retorna ao
estado atual em que deve ficar. Sem romance explicito, sem prejuízo para aquele
universo, sem definição alguma. Com isso, as soluções precisam ser fáceis e até
mesmo cretinas, com nossas heroínas voltando à sua monótona rotina e
continuando inocentemente fofas. O roteiro é basicamente o diário de uma garota
de 10/13 anos e expondo a público essa universo tão particular, com a escrita
de Mari Okada (GOSICK, Ano Hana) em
seu pior momento desde Hanasaku Iroha.
Mas a ideia por trás de tudo, desde o OVA até o nascimento da franquia BRS, com
vários produtos e apetrechos, é muito bem pensada e com um potencial alto [que
nunca será explorado].
Girls and Guns,
que lutam e chutam bundas, é um fetiche universal. E claro que o Japão não fica
atrás, evoluindo isso a outro nível, com garotas com partes mecânicas no corpo
ou pré-púberes carregando armas. E BRS une magistralmente esses dois fetiches,
onde no mundo paralelo as garotas se transformam em belas maquinas de lutar com
armas na mão e partes mecânicas no corpo. Sempre muito estilosas, com traços
marcantes e armas estilizadas, feitas na medida pra vender. Mas, ainda
garotinhas e puras. Nesse momento, aposto que muitos que estão lendo esse
texto, odeiam BRS, mas não descartaria a figure de alguma personagem da série.
São bonitinhas e pra quem curte colecionar figures femininas, é uma verdadeira
tentação. Mesma coisa para o game, você não precisa curtir a história, para
querer jogar aquilo. Então, nem é surpresa o motivo de terem preterido o bonito
traço do OVA, para algo mais simples, em prol de uma animação que valorize o
mundo onde as pretas (modo pelo qual
ficaram conhecidas as personas das personagens no mundo alternativo) lutam.
Fundado por Yutaka Yamamoto (após ser demitido da função de diretor do anime Lucky Star) e
alguns ex-funcionários do estúdio Kyoto Animation, como Shinobu Yoshioka (diretor do OVA, e da versão tv de BRS)e
Kadowaki Satoshi em agosto de 2007, essa é a primeira série de anime que o
Estúdio Ordet produz por si só, e apesar da animação não ser nada acima da
média, é competente o suficiente para um anime destinado a tv. Até mesmo
porque, o cotidiano em que as personagens vivem, não é nada extraordinário. E como
vitrine que é, é bem visível o foco da produção no mundo alternativo, onde sem
dúvida o destaque são as sequências de lutas em CG.
Hiroyuki Imaishi, diretor de Gurren Lagann e do ótimo Panty
& Stocking, e ex-animador do estúdio Gainax, de onde saiu para integrar
o Estudio Trigger é um nome bem conhecido e prestigiado da cena, ficou
encarregado como diretor de CG das cenas de batalhas em BRS TV. O que
certamente foi uma boa e atenuante escolha, em vista do baixo orçamento. Ao
contrário do OVA, com exceção a animação 2D no mundo real das personagens, no
mundo alternativo, onde as batalhas ocorrem, é tudo inteiramente em CG, até mesmo
as personagens. Então, ainda que não seja magistral, o trabalho nesse quesito é
muito bem feito, inclusive o storyboard e layout, com bastantes ângulos e boa
fotografia. O que é um feito e tanto, porque são horripilantes certos CG’s em
determinados animes e os personagens ficam bem estranhos. É bom o suficiente
pra você olhar e pensar que determinada cena é uma animação 2D, quando na
verdade é CGI. Assim, ao mesmo tempo em que BRS TV aproveita bem as particularidades
da animação em 3DCG e se sobressai como propaganda, acaba falhando como um entretenimento
coeso.
BRS TV na Visão de Mari Okada
Eu acho interessante a psicopatia das personagens,
principalmente quando chega ao nível OVER MELODRAMATICO. Não é que eu me
emocione ou fique com o coração nas mãos pelas personagens, longe disso. Mas é
tão tosco e irreal, que além de me soar engraçado, também me faz lembrar da
minha puberdade e as coisas loucas que passavam pela minha mente. O drama da
Yomi é extremamente interessante. Uma garota com dificuldade em se relacionar,
vê seu mundo interior mudar quando encontra uma grande amiga, com quem se
identifica e consegue se sentir a vontade. Mas que devido a sua falta de alto
estima, se sente insegura e com medo de ser trocada, além dos ciúmes de ver que
a única e melhor amiga, tem outras amigas e não depende apenas dela. Quem
nunca? São sentimentos mesquinhos. São sentimentos humanos. Querer ter o seu
melhor amigo só pra você, é algo natural principalmente em pessoas
introvertidas. E nesse aqui, adicione também uma pitada de paixão lésbica, que
Yomi nutre pela amiga, e seus sentimentos e atitudes são aceitáveis.
Até certo ponto, claro. Porque na tênue linha, que separa os
roteiros com tons sutilmente dramáticos dos overs melodramáticos, está Mari
Okada. Apesar de o mote de BRS TV ser interessante, o roteiro vai ser tornando
cada vez mais forçado e pouco inspirado com a natureza excessivamente melodramática
de suas personagens e seus relacionamentos. Se em Ano Hana, Mari Okada conseguiu desenvolver um drama convincente (ainda que manipulativo em alguns momentos)
sobre os amigos que se separam devido a uma tragédia e precisam reatar essa
amizade novamente, aqui em nenhum momento houve uma verdadeira noção de
amizade. Noção essa que é o elemento essencial da história, mas que acaba sendo
desenvolvida de uma forma bem artificial. As personagens tomam atitudes que não
possuem lógica, que além de enfraquecer consideravelmente a narrativa, tomam
decisões para lá de supérfluas.
Se no começo, apesar de ser um espetáculo bizarro, você
ainda consegue se divertir, o desfecho chega a ser tão absurdo, que soa como
uma afronta à inteligência do espectador. As atitudes da Saya, não possuem coerência
alguma, assim como as soluções dos conflitos das personagens, são bem fáceis e
resolvidos sem muito esforço. Não há profundidade, nem peso emocional a cada
decisão tomada. O mote da série é o escapismo, mas acaba se comprometendo com a
obrigatoriedade de apresentar tantas personagens e ao mesmo tempo (BRS TV é um comercial de 20 minutos, antes
de qualquer coisa), não ter o tempo devido para trabalhar isso. Então,
entende-se que para um roteirista, deva ser complicado escrever um roteiro com
as mãos previamente amarradas e ter que desenvolvê-lo com certa limitação. O
que é lamentável para uma série que precisa se desenvolver em cima da natureza psicológica
das personagens.
A abordagem de alegorias para os problemas que as
personagens enfrentam no mundo real, sendo representados no mundo alternativo
através de batalhas com a persona do oponente, é excelente. Principalmente,
porque fornece uma representação visual, para o lado psique das personagens e
seu escapismo da realidade. Considerando que é crível, levando em conta suas
idades, também quebra um pouco essa tangibilidade, ao invés de insinuarem,
expor abertamente que há uma ligação entre os dois mundos. Nesse momento há um envolvimento
não muito bem vindo entre fantasia e realidade, por tirar o aspecto mais
importante em uma obra psicológica: O crescimento, o aprendizado e a superação.
As personagens aqui, não aprendem, não superam, elas apenas se esquecem. Voltam
ao statu quo. Aqui, o “enfrentar o
problema de frente”, é apenas um sinônimo de lutar entre elas no mundo
alternativo e no final das contas, vencem o “mal” com o poder da amizade. Não
há perdas, não há remorso, não há magoas e tudo se resolve com uma batalha. É contraditório,
com a própria ideia original.
Curiosamente, neste ponto BRS TV lembra um pouco Madoka Mágica, seja no tom mais
obscuro, ou no time de personagens femininas envoltas em dramas e problemas psicológicos,
como o ocorrido com a personagem Sayaka. Mas com relação à BRS TV, a abordagem
sobre confrontos dos medos e fracassos mais íntimos, não é satisfatório, com um
conflito emocional que não convence. Destaque
para uma subcamada do roteiro, que tenta colocar a série como algo “cabeça”,
com diversas metáforas, simbologias, que invocam amizade, ligação entre dois
mundos, escapismo e um punhado de besteira que não tem valor algum, diante de
um roteiro fraco e personagens vazias.
Eu curti BRS TV (por motivos isolados e questionáveis hehehe), até o episódio 05, dai em diante comecei a
ficar um pouco descrente de um desfecho satisfatório, mas ainda conseguia me
divertir com a série (com exceção do
episódio final). Você pode gostar/se divertir com a série por um motivo ou
outro, mas não dá pra fechar os olhos e fingir que estamos diante de algo magnífico.
BRS TV, não é ruim por ser comercial, é ruim porque o roteiro é fraco e
completamente dependente de uma formula que precisa ser executada.