sexta-feira, 30 de março de 2012

Duas Visões Sobre Black Rock Shooter TV



BRS é um dos produtos comerciais de maior êxito da atualidade, que de uma canção homônima da banda japonesa Supercell e seu vídeo clip de divulgação que era composto (como você pode conferir no vídeo logo abaixo) basicamente com ilustrações do artista freelance Huke (O mesmo que desenvolveu o character designer original dos personagens de Steins;Gate), se tornou um fenômeno. Então, porque não aproveitar e transformar o sucesso numa franquia, né!? Dai veio o OVA que parece ter arrastado uma multidão em frenesi, e logicamente, não correspondendo ao hype.



BRS TV na Visão de Imaishi

E dificilmente algum dia será algo mais do que apenas mediano. Como é um produto comercial com uma ideia já fechada e limitada pela mente dos investidores, que continua dando retorno, a intenção não é produzir arte ou algo que seja sucesso de crítica, mas sim manter o statu quo. Por isso, por mais que o universo de BRS tenha sido expandido em sua versão de anime para tv, ao final, podemos ver que retorna ao estado atual em que deve ficar. Sem romance explicito, sem prejuízo para aquele universo, sem definição alguma. Com isso, as soluções precisam ser fáceis e até mesmo cretinas, com nossas heroínas voltando à sua monótona rotina e continuando inocentemente fofas. O roteiro é basicamente o diário de uma garota de 10/13 anos e expondo a público essa universo tão particular, com a escrita de Mari Okada (GOSICK, Ano Hana) em seu pior momento desde Hanasaku Iroha. Mas a ideia por trás de tudo, desde o OVA até o nascimento da franquia BRS, com vários produtos e apetrechos, é muito bem pensada e com um potencial alto [que nunca será explorado].

Girls and Guns, que lutam e chutam bundas, é um fetiche universal. E claro que o Japão não fica atrás, evoluindo isso a outro nível, com garotas com partes mecânicas no corpo ou pré-púberes carregando armas. E BRS une magistralmente esses dois fetiches, onde no mundo paralelo as garotas se transformam em belas maquinas de lutar com armas na mão e partes mecânicas no corpo. Sempre muito estilosas, com traços marcantes e armas estilizadas, feitas na medida pra vender. Mas, ainda garotinhas e puras. Nesse momento, aposto que muitos que estão lendo esse texto, odeiam BRS, mas não descartaria a figure de alguma personagem da série. São bonitinhas e pra quem curte colecionar figures femininas, é uma verdadeira tentação. Mesma coisa para o game, você não precisa curtir a história, para querer jogar aquilo. Então, nem é surpresa o motivo de terem preterido o bonito traço do OVA, para algo mais simples, em prol de uma animação que valorize o mundo onde as pretas (modo pelo qual ficaram conhecidas as personas das personagens no mundo alternativo) lutam.







Fundado por Yutaka Yamamoto (após ser demitido da função de diretor do anime Lucky Star) e alguns ex-funcionários do estúdio Kyoto Animation, como Shinobu Yoshioka (diretor do OVA, e da versão tv de BRS)e Kadowaki Satoshi em agosto de 2007, essa é a primeira série de anime que o Estúdio Ordet produz por si só, e apesar da animação não ser nada acima da média, é competente o suficiente para um anime destinado a tv. Até mesmo porque, o cotidiano em que as personagens vivem, não é nada extraordinário. E como vitrine que é, é bem visível o foco da produção no mundo alternativo, onde sem dúvida o destaque são as sequências de lutas em CG.

Hiroyuki Imaishi, diretor de Gurren Lagann e do ótimo Panty & Stocking, e ex-animador do estúdio Gainax, de onde saiu para integrar o Estudio Trigger é um nome bem conhecido e prestigiado da cena, ficou encarregado como diretor de CG das cenas de batalhas em BRS TV. O que certamente foi uma boa e atenuante escolha, em vista do baixo orçamento. Ao contrário do OVA, com exceção a animação 2D no mundo real das personagens, no mundo alternativo, onde as batalhas ocorrem, é tudo inteiramente em CG, até mesmo as personagens. Então, ainda que não seja magistral, o trabalho nesse quesito é muito bem feito, inclusive o storyboard e layout, com bastantes ângulos e boa fotografia. O que é um feito e tanto, porque são horripilantes certos CG’s em determinados animes e os personagens ficam bem estranhos. É bom o suficiente pra você olhar e pensar que determinada cena é uma animação 2D, quando na verdade é CGI. Assim, ao mesmo tempo em que BRS TV aproveita bem as particularidades da animação em 3DCG e se sobressai como propaganda, acaba falhando como um entretenimento coeso. 

BRS TV na Visão de Mari Okada

Eu acho interessante a psicopatia das personagens, principalmente quando chega ao nível OVER MELODRAMATICO. Não é que eu me emocione ou fique com o coração nas mãos pelas personagens, longe disso. Mas é tão tosco e irreal, que além de me soar engraçado, também me faz lembrar da minha puberdade e as coisas loucas que passavam pela minha mente. O drama da Yomi é extremamente interessante. Uma garota com dificuldade em se relacionar, vê seu mundo interior mudar quando encontra uma grande amiga, com quem se identifica e consegue se sentir a vontade. Mas que devido a sua falta de alto estima, se sente insegura e com medo de ser trocada, além dos ciúmes de ver que a única e melhor amiga, tem outras amigas e não depende apenas dela. Quem nunca? São sentimentos mesquinhos. São sentimentos humanos. Querer ter o seu melhor amigo só pra você, é algo natural principalmente em pessoas introvertidas. E nesse aqui, adicione também uma pitada de paixão lésbica, que Yomi nutre pela amiga, e seus sentimentos e atitudes são aceitáveis.


Até certo ponto, claro. Porque na tênue linha, que separa os roteiros com tons sutilmente dramáticos dos overs melodramáticos, está Mari Okada. Apesar de o mote de BRS TV ser interessante, o roteiro vai ser tornando cada vez mais forçado e pouco inspirado com a natureza excessivamente melodramática de suas personagens e seus relacionamentos. Se em Ano Hana, Mari Okada conseguiu desenvolver um drama convincente (ainda que manipulativo em alguns momentos) sobre os amigos que se separam devido a uma tragédia e precisam reatar essa amizade novamente, aqui em nenhum momento houve uma verdadeira noção de amizade. Noção essa que é o elemento essencial da história, mas que acaba sendo desenvolvida de uma forma bem artificial. As personagens tomam atitudes que não possuem lógica, que além de enfraquecer consideravelmente a narrativa, tomam decisões para lá de supérfluas.  

Se no começo, apesar de ser um espetáculo bizarro, você ainda consegue se divertir, o desfecho chega a ser tão absurdo, que soa como uma afronta à inteligência do espectador. As atitudes da Saya, não possuem coerência alguma, assim como as soluções dos conflitos das personagens, são bem fáceis e resolvidos sem muito esforço. Não há profundidade, nem peso emocional a cada decisão tomada. O mote da série é o escapismo, mas acaba se comprometendo com a obrigatoriedade de apresentar tantas personagens e ao mesmo tempo (BRS TV é um comercial de 20 minutos, antes de qualquer coisa), não ter o tempo devido para trabalhar isso. Então, entende-se que para um roteirista, deva ser complicado escrever um roteiro com as mãos previamente amarradas e ter que desenvolvê-lo com certa limitação. O que é lamentável para uma série que precisa se desenvolver em cima da natureza psicológica das personagens.




A abordagem de alegorias para os problemas que as personagens enfrentam no mundo real, sendo representados no mundo alternativo através de batalhas com a persona do oponente, é excelente. Principalmente, porque fornece uma representação visual, para o lado psique das personagens e seu escapismo da realidade. Considerando que é crível, levando em conta suas idades, também quebra um pouco essa tangibilidade, ao invés de insinuarem, expor abertamente que há uma ligação entre os dois mundos. Nesse momento há um envolvimento não muito bem vindo entre fantasia e realidade, por tirar o aspecto mais importante em uma obra psicológica: O crescimento, o aprendizado e a superação. As personagens aqui, não aprendem, não superam, elas apenas se esquecem. Voltam ao statu quo. Aqui, o “enfrentar o problema de frente”, é apenas um sinônimo de lutar entre elas no mundo alternativo e no final das contas, vencem o “mal” com o poder da amizade. Não há perdas, não há remorso, não há magoas e tudo se resolve com uma batalha. É contraditório, com a própria ideia original.

Curiosamente, neste ponto BRS TV lembra um pouco Madoka Mágica, seja no tom mais obscuro, ou no time de personagens femininas envoltas em dramas e problemas psicológicos, como o ocorrido com a personagem Sayaka. Mas com relação à BRS TV, a abordagem sobre confrontos dos medos e fracassos mais íntimos, não é satisfatório, com um conflito emocional que não convence.  Destaque para uma subcamada do roteiro, que tenta colocar a série como algo “cabeça”, com diversas metáforas, simbologias, que invocam amizade, ligação entre dois mundos, escapismo e um punhado de besteira que não tem valor algum, diante de um roteiro fraco e personagens vazias.




Eu curti BRS TV (por motivos isolados e questionáveis hehehe), até o episódio 05, dai em diante comecei a ficar um pouco descrente de um desfecho satisfatório, mas ainda conseguia me divertir com a série (com exceção do episódio final). Você pode gostar/se divertir com a série por um motivo ou outro, mas não dá pra fechar os olhos e fingir que estamos diante de algo magnífico. BRS TV, não é ruim por ser comercial, é ruim porque o roteiro é fraco e completamente dependente de uma formula que precisa ser executada.