O próximo post da série será menor. Eu acho.
Sinopse: Cerca de
mil anos no futuro, a civilização foi retrogradada e os seres humanos estão
vivendo dispersados dentro de pequenas comunidades. As Pessoas nesta época tem
um poder psíquico chamado “Juryoku”, que materializa as coisas que eles
imaginam em sua mente. Na ausência da tecnologia avançada, eles estão usando o
poder como uma importante fonte de energia. Um dia, Saki e seus amigos
encontram um pequeno robô fora da cidade. Ele registra a velha história dos
seres humanos. Ele diz que o “Juryoku” foi encontrado no século 21, e a
descoberta causou uma guerra mundial entre as pessoas dotadas e não dotadas. O
mundo era governado pelos psíquicos, e o reinado do terror tinha começado. Isso
foi um conhecimento proibido, e os adultos na cidade selam o Juryoku das crianças.
Comentários: Nietzsche há pouco mais de 1 século publicou “Assim Falou Zaratustra” (sprach Zarathustra em alemão– escrito entre 1883/1885 e publicado em 1892),
onde, entre outras filosofias do personagem título, divagava em versos sobre a
evolução da humanidade. Segundo o mesmo, se apoiando nas teorias de Darwin, o
homem atual não seria mais do que uma ponte entre o símio e o Super-Homem,
aquele que se encontra acima dos seres humanos normais, que após uma curada
seleção natural, dominaria o espaço dos demais na terra.
A foda toda é que esse personagem é inspirado no grego Zaratustra
ou Zoroastro (que viveu entre os séculos
XII e VI a.C., na Pérsia), o cara ao qual é atribuída a concepção do
universo em que o mal ou a escuridão se acha em perene conflito com o bem ou a
luz. E o loucão do Nietzsche justifica a escolha: “Zaratustra foi o primeiro a ver
na luta entre o bem e o mal a roda motriz na engrenagem das coisas (...)”.
Falando objetivamente, esse livro aí de Nietzsche (esse aí eu não cheguei a ler, mas conheço grande parte dos trechos/fragmentos
espalhados por aí), influenciou toda uma geração seguinte, e ainda
continuamos fascinados com aquilo que nos escapa entre os dedos. Dentro do
campo da ficção cientifica as viagens entre o passado e futuro, cenário distópicos,
e poderes especiais escondidos em algum lugar na mente, são os trópicos mais
atrativos para o espectador/leitor em qualquer obra. Pelo simples fato de
parecer algo inalcançável de uma ficção marginal.
Saki, em uma cena intercalada entre passado e presente. Em baixo, ele enfim desperta seus poderes psíquicos, em cima, ela no templo da pureza (a Barreira Santa); Entendo isso como se ela estivesse sendo castrada e ordenhada, ao ser mandada para o "centro de treinamento".
Com isso, chegamos à Shinsekai Yori (“From the New World" em inglês, e literalmente; "De um Novo
Mundo"), mais uma história tratando sobre universos distópicos para
light novel (uma leitura light, sem
muita complicação, com elementos que atraiam seu público alvo, o leitor jovem –
Um fenômeno no Japão, assim como é a literatura Young Adult nos EUA). Como
comentado no meu post de primeiras impressões, eu sempre tenho receio de ficções
cientificas de light novels, porque geralmente são muito rasas ou se acovardam.
E mesmo as com argumentos interessantíssimos, costumam se perder em marasmo.
Mas, Shinsekai Yori é um pouco diferente, é pseudo
ficção cientifica, e é uma obra premiada.
Shinsekai Yori, como um bom thriller psicológico, já começa num
ritmo eletrizante, mil anos antes da história começar, onde alguns adolescentes
despertaram o seu poder psíquico (o Juryoku),
e começaram a matar as pessoas não dotadas. Sem dúvidas, um grande prólogo, e como
dito por Zaratustra no livro de Nietzsche, a nova espécie dotada de poderes tem
a característica de muitas vezes não sentir remorso por suas ações, matando
quem for, afinal, aqueles são seres inferiores. E como podemos ver na história
linear da série, os seres humanos evoluíram, mas, quem não consegue desenvolver
suas habilidades até certa idade, é simplesmente eliminado.
Mas né, o que temos é apenas 1/3 da sinopse, numa história
envolta por mistérios e suspense. O que
eu senti ao terminar de assistir foi tão confuso como o desenvolvimento da trama
ao decorrer do episódio, permeado por flashbacks e imagens desconexas. Minha eu irracional, ficou eufórica com o
potencial da história, a minha eu racional
está completamente cética. O único ponto conciso nisso tudo é de que não faço a
menor ideia dos rumos que essa trama irá seguir, e isso me excita, devido às
diversas possiblidades. O elenco é este aí mesmo, infantil, e como dito pelo
autor original, vamos acompanhar eles crescendo no decorrer da história. E segundo o mesmo, é uma história repleta de violência, e até mesmo sexo. E isso numa história evolutiva, que começam com os personagens na faixa dos 12, passando pelos 14 anos, até chegar a idade adulta (26 anos). Três fases distintas, para apenas 1 cour? O caminho mais óbvio é que seja uma história permeada de
um thriller psicológico, com choque moral e poucas nuances. Nada muito maduro é
claro. Isso, ou o autor é realmente incrível
e soube desenvolver seus personagens de uma forma que faça eles serem
importantes. De uma forma que nos importemos com eles, em meio a um conflito
bem elaborado.
O autor original, Yusuke Kishi, tem obras bem criticadas no
Japão, e levou mais de 30 anos para desenvolver toda a história de Shinsekai
Yori em seus 3 volumes já finalizados, lançados em 2008. Então, com a excelente
crítica que a obra possui e com o tempo que ele levou para escrevê-la, imagino
aí uma história bem amarrada e conduzida.
Se por um lado, a pouca atenção dada à ação e o desenvolvimento lento em torno do mistério deixou a muitos
com um pé atrás, a caracterização daquele novo mundo e seus habitantes, foi fantástica.
Normalmente se espera isso a partir do segundo ou terceiro episódio. O que
vemos é um novo mundo repleto de influências Xintoístas; Os xamãs e sacerdotes
vestidos a rigor, rituais associados à purificação/limpeza, que nada mais é do
que uma metáfora, onde o fogo ali diante da Saki é o responsável por queimar
seus desejos mundanos (e a deixa perfeita
para qualquer envolvimento sexual futuro). Mesmo os uniformes escolares, há
a influência xintoísta. E toda essa religiosidade – que sim, se trata de uma
mordaça para conter todos aqueles seres humanos dotados de poderes psíquicos – acrescenta
bastante para a atmosfera mística do episódio. O que eu espero, é que tudo isso
saia de controle em algum momento. E já deu sinais de que isso ocorrerá. E aí, tem potencial pra ser um anime BOOOOOMMM!!!!! viiishe vishe vishe.
O gato que perseguia instintivamente a Saki no episódio,
antes dela desenvolver seus poderes telecinéticos, me lembra bastante o feeling
da série Bakemonogatari/Nisemonogatari, que é brincar com o misticismo, sem
que aquilo exista de verdade. E assim como nesta série, eu acredito que ele não
passe uma alegoria. Explico; Na língua original ele é chamado de Nekodamashi,
que significa algo como enganar, enganador, ou enganado. E o que eu penso sobre
isso tudo é de que não existe um gato, ele é apenas uma metáfora.
O problema é que, ao se focar demais no mistério e se concentrar demais em situar os espectadores naquele universo (ponto executado beirando a perfeição), se esquece dos
personagens. Não consegui me envolver com nenhum deles (calma gente, eu sei que é apenas o primeiro episódio), tudo gira
em torno dos mistérios, a perspectiva pelo qual o vemos não é nem um pouco interessante. O que é abrupto, e inicialmente confuso. E isso te tira
completamente da zona de conforto, ao mesmo tempo em que você pode ficar
perdido ou achando chato, também te prende na apreensão daquele feeling.
E bem, pra finalizar, eu não posso deixar de comentar sobre
o que mais chamou a atenção no episódio: o visual. Sim, o episódio é
indefinido, porém, graficamente ele é todo briefing
– Ou seja, o cenário deixa de ser apático e se torna um complemento na
história, algo completamente cinético, praticamente um dos protagonistas.
Embora o estúdio A1-Pictures seja conhecido pela sua bela fotografia, aqui a
staff do estúdio faz algo completamente atípico do que costuma fazer, com uma paleta de cores mais escura, contrastando com o belo cenário. O cara que tá
sentado na cadeira do diretor, o senhor Masashi Ishihama, pode ser estreante na
função, mas como animador ele tem uma larga experiência. E os desenhos do
primeiro episódio ter sido dele, já justificam. O que surpreende mesmo é a
animação; não a sua fluidez, mas a surpreendente atenção aos fundos, que me lembra o estúdio ufotable com sua técnica em animação 2DCG e filtro escurecido (mesmo em Fate/Zero, é pura enganação, primor mesmo está em Kara no Kyoukai), onde a pintura maravilhosa no céu sempre é um destaque. Diferente do estilo característico
do estúdio KyoAni, onde a primeira vista seus cenários parecem ser banais, mas se
você tem olhos aguçados, vê um cenário detalhadamente fotográfico.
E não apenas isso, mas a movimentação desses personagens por
esses planos cenográficos, algo fácil de perceber em Hyouka, onde tudo se mexe,
com eles realmente fazendo parte daquilo – Diferente de animações de menor orçamento [ou onde os animadores não possuem a técnica de um Kunihiko Ikuhara] ,
onde os personagens parecem um recorte dentro do cenário. E claro que o KyoAni
hoje está num nível que não se compara, mas mesmo antes e pouco depois dos
primeiros trabalhos, com um orçamento médio eles já tinham uma técnica boa para
fazer a ação dos personagens se destacar dentro do cenário. Já em Shinsekai Yori, cenário e personagens são elementos distintos. E isso nos leva ao fator mais gritante do episódio, que é a
referência ao estilo de animação econômica do estúdio SHAFT. Para quem já
assistiu mais de 3 animes por este estúdio, acho que já deve ter percebido de
cara os filtros utilizados, a inventividade nos cenários metafísicos e surreais, as
angulações de câmera e o uso inteligente do storyboard, mas sem aqueles
trejeitos típicos que os animes Sankarea e Tasogare Otome x Amnesia usaram. Bem, também sem o mesmo primor.
E é isso, algumas referências. Boas referências. E vai ser
interessante observar isso nos próximos episódios, pois SHAFT e KyoAni tem
personagens que são nervosos em cenas, não param. De qualquer forma, todo esse
cenário com filtro de filme de terror/suspense psicológico foi ótimo, eu
adorei. E a sua maneira, o visual de Shinsekai já é fascinante, só por se distinguir dos demais animes da temporada. A atmosfera é tóxica e dá aquele feeling de apreensão. E não foi o inicio
fantástico (no sentido de BOOOOMMM, pqp!!!) que eu imaginei, mas foi bom o suficiente pra me deixar empolgada
aqui, e apreensiva durante toda a execução. Shinsekai Yori é anime para quem curte um
thiller com elementos da santa trindade terror/suspense/mistério, com vibes pseudo-cult. Certo? Que venha o próximo.
Alguns pontos:
-Character designer: Os personagens serem crianças, se
encaixou bem no character designer típico do estúdio A1-Pcitures, e ainda se
mostrou consistente que o de Sword Art Oline. Gostei.
-Trilha sonora: Típica e bem empregada. Destaque para a
música de abertura, executada no finalzinho; Wareta Ringo" de Risa Taneda.
É pop, e se adequa bem ao estilo da história, que é para o publico jovem que
adora algo obscuro e lascivo.
Avaliação: ★ ★ ★ ★ ★
Estúdio A1-Pictures
Direção: Masashi Ishihama
Roteiro: Masashi Sogo
Previsão de episódios: 12