segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Primeiras Impressões: Shinsekai Yori – De um Novo Mundo


O próximo post da série será menor. Eu acho. 


Sinopse: Cerca de mil anos no futuro, a civilização foi retrogradada e os seres humanos estão vivendo dispersados dentro de pequenas comunidades. As Pessoas nesta época tem um poder psíquico chamado “Juryoku”, que materializa as coisas que eles imaginam em sua mente. Na ausência da tecnologia avançada, eles estão usando o poder como uma importante fonte de energia. Um dia, Saki e seus amigos encontram um pequeno robô fora da cidade. Ele registra a velha história dos seres humanos. Ele diz que o “Juryoku” foi encontrado no século 21, e a descoberta causou uma guerra mundial entre as pessoas dotadas e não dotadas. O mundo era governado pelos psíquicos, e o reinado do terror tinha começado. Isso foi um conhecimento proibido, e os adultos na cidade selam o Juryoku das crianças.




Comentários: Nietzsche há pouco mais de 1 século publicou “Assim Falou Zaratustra” (sprach Zarathustra em alemão– escrito entre 1883/1885 e publicado em 1892), onde, entre outras filosofias do personagem título, divagava em versos sobre a evolução da humanidade. Segundo o mesmo, se apoiando nas teorias de Darwin, o homem atual não seria mais do que uma ponte entre o símio e o Super-Homem, aquele que se encontra acima dos seres humanos normais, que após uma curada seleção natural, dominaria o espaço dos demais na terra.

A foda toda é que esse personagem é inspirado no grego Zaratustra ou Zoroastro (que viveu entre os séculos XII e VI a.C., na Pérsia), o cara ao qual é atribuída a concepção do universo em que o mal ou a escuridão se acha em perene conflito com o bem ou a luz. E o loucão do Nietzsche justifica a escolha: “Zaratustra foi o primeiro a ver na luta entre o bem e o mal a roda motriz na engrenagem das coisas (...)”. Falando objetivamente, esse livro aí de Nietzsche (esse aí eu não cheguei a ler, mas conheço grande parte dos trechos/fragmentos espalhados por aí), influenciou toda uma geração seguinte, e ainda continuamos fascinados com aquilo que nos escapa entre os dedos. Dentro do campo da ficção cientifica as viagens entre o passado e futuro, cenário distópicos, e poderes especiais escondidos em algum lugar na mente, são os trópicos mais atrativos para o espectador/leitor em qualquer obra. Pelo simples fato de parecer algo inalcançável de uma ficção marginal.

Saki, em uma cena intercalada entre passado e presente. Em baixo, ele enfim desperta seus poderes psíquicos, em cima, ela no templo da pureza (a Barreira Santa); Entendo isso como se ela estivesse sendo castrada e ordenhada, ao ser mandada para o "centro de treinamento".

Com isso, chegamos à Shinsekai Yori (“From the New World" em inglês, e literalmente; "De um Novo Mundo"), mais uma história tratando sobre universos distópicos para light novel (uma leitura light, sem muita complicação, com elementos que atraiam seu público alvo, o leitor jovem – Um fenômeno no Japão, assim como é a literatura Young Adult nos EUA). Como comentado no meu post de primeiras impressões, eu sempre tenho receio de ficções cientificas de light novels, porque geralmente são muito rasas ou se acovardam. E mesmo as com argumentos interessantíssimos, costumam se perder em marasmo. Mas, Shinsekai Yori é um pouco diferente, é pseudo ficção cientifica, e é uma obra premiada.

Shinsekai Yori, como um bom thriller psicológico, já começa num ritmo eletrizante, mil anos antes da história começar, onde alguns adolescentes despertaram o seu poder psíquico (o Juryoku), e começaram a matar as pessoas não dotadas. Sem dúvidas, um grande prólogo, e como dito por Zaratustra no livro de Nietzsche, a nova espécie dotada de poderes tem a característica de muitas vezes não sentir remorso por suas ações, matando quem for, afinal, aqueles são seres inferiores. E como podemos ver na história linear da série, os seres humanos evoluíram, mas, quem não consegue desenvolver suas habilidades até certa idade, é simplesmente eliminado.


Mas né, o que temos é apenas 1/3 da sinopse, numa história envolta por mistérios e suspense.  O que eu senti ao terminar de assistir foi tão confuso como o desenvolvimento da trama ao decorrer do episódio, permeado por flashbacks e imagens desconexas. Minha eu irracional, ficou eufórica com o potencial da história, a minha eu racional está completamente cética. O único ponto conciso nisso tudo é de que não faço a menor ideia dos rumos que essa trama irá seguir, e isso me excita, devido às diversas possiblidades. O elenco é este aí mesmo, infantil, e como dito pelo autor original, vamos acompanhar eles crescendo no decorrer da história. E segundo o mesmo, é uma história repleta de violência, e até mesmo sexo. E isso numa história evolutiva, que começam com os personagens na faixa dos 12, passando pelos 14 anos, até chegar a idade adulta (26 anos). Três fases distintas, para apenas 1 cour? O caminho mais óbvio é que seja uma história permeada de um thriller psicológico, com choque moral e poucas nuances. Nada muito maduro é claro.  Isso, ou o autor é realmente incrível e soube desenvolver seus personagens de uma forma que faça eles serem importantes. De uma forma que nos importemos com eles, em meio a um conflito bem elaborado. 

O autor original, Yusuke Kishi, tem obras bem criticadas no Japão, e levou mais de 30 anos para desenvolver toda a história de Shinsekai Yori em seus 3 volumes já finalizados, lançados em 2008. Então, com a excelente crítica que a obra possui e com o tempo que ele levou para escrevê-la, imagino aí uma história bem amarrada e conduzida.  
Se por um lado, a pouca atenção dada à ação e o desenvolvimento lento em torno do mistério deixou a muitos com um pé atrás, a caracterização daquele novo mundo e seus habitantes, foi fantástica. Normalmente se espera isso a partir do segundo ou terceiro episódio. O que vemos é um novo mundo repleto de influências Xintoístas; Os xamãs e sacerdotes vestidos a rigor, rituais associados à purificação/limpeza, que nada mais é do que uma metáfora, onde o fogo ali diante da Saki é o responsável por queimar seus desejos mundanos (e a deixa perfeita para qualquer envolvimento sexual futuro). Mesmo os uniformes escolares, há a influência xintoísta. E toda essa religiosidade – que sim, se trata de uma mordaça para conter todos aqueles seres humanos dotados de poderes psíquicos – acrescenta bastante para a atmosfera mística do episódio. O que eu espero, é que tudo isso saia de controle em algum momento. E já deu sinais de que isso ocorrerá. E aí, tem potencial pra ser um anime BOOOOOMMM!!!!! viiishe vishe vishe. 

O gato que perseguia instintivamente a Saki no episódio, antes dela desenvolver seus poderes telecinéticos, me lembra bastante o feeling da série Bakemonogatari/Nisemonogatari, que é brincar com o misticismo, sem que aquilo exista de verdade. E assim como nesta série, eu acredito que ele não passe uma alegoria. Explico; Na língua original ele é chamado de Nekodamashi, que significa algo como enganar, enganador, ou enganado. E o que eu penso sobre isso tudo é de que não existe um gato, ele é apenas uma metáfora.

O problema é que, ao se focar demais no mistério e se concentrar demais em situar os espectadores naquele universo (ponto executado beirando a perfeição), se esquece dos personagens. Não consegui me envolver com nenhum deles (calma gente, eu sei que é apenas o primeiro episódio), tudo gira em torno dos mistérios, a perspectiva pelo qual o vemos não é nem um pouco interessante. O que é abrupto, e inicialmente confuso. E isso te tira completamente da zona de conforto, ao mesmo tempo em que você pode ficar perdido ou achando chato, também te prende na apreensão daquele feeling.


E bem, pra finalizar, eu não posso deixar de comentar sobre o que mais chamou a atenção no episódio: o visual. Sim, o episódio é indefinido, porém, graficamente ele é todo briefing – Ou seja, o cenário deixa de ser apático e se torna um complemento na história, algo completamente cinético, praticamente um dos protagonistas. Embora o estúdio A1-Pictures seja conhecido pela sua bela fotografia, aqui a staff do estúdio faz algo completamente atípico do que costuma fazer, com uma paleta de cores mais escura, contrastando com o belo cenário. O cara que tá sentado na cadeira do diretor, o senhor Masashi Ishihama, pode ser estreante na função, mas como animador ele tem uma larga experiência. E os desenhos do primeiro episódio ter sido dele, já justificam. O que surpreende mesmo é a animação; não a sua fluidez, mas a surpreendente atenção aos fundos, que me lembra o estúdio ufotable com sua técnica em animação 2DCG e filtro escurecido (mesmo em Fate/Zero, é pura enganação, primor mesmo está em Kara no Kyoukai), onde a pintura maravilhosa no céu sempre é um destaque. Diferente do estilo característico do estúdio KyoAni, onde a primeira vista seus cenários parecem ser banais, mas se você tem olhos aguçados, vê um cenário detalhadamente fotográfico.

E não apenas isso, mas a movimentação desses personagens por esses planos cenográficos, algo fácil de perceber em Hyouka, onde tudo se mexe, com eles realmente fazendo parte daquilo – Diferente de animações de menor orçamento [ou onde os animadores não possuem a técnica de um Kunihiko Ikuhara] , onde os personagens parecem um recorte dentro do cenário. E claro que o KyoAni hoje está num nível que não se compara, mas mesmo antes e pouco depois dos primeiros trabalhos, com um orçamento médio eles já tinham uma técnica boa para fazer a ação dos personagens se destacar dentro do cenário. Já em Shinsekai Yori, cenário e personagens são elementos distintos. E isso nos leva ao fator mais gritante do episódio, que é a referência ao estilo de animação econômica do estúdio SHAFT. Para quem já assistiu mais de 3 animes por este estúdio, acho que já deve ter percebido de cara os filtros utilizados, a inventividade nos cenários metafísicos e surreais, as angulações de câmera e o uso inteligente do storyboard, mas sem aqueles trejeitos típicos que os animes Sankarea e Tasogare Otome x Amnesia usaram. Bem, também sem o mesmo primor. 

E é isso, algumas referências. Boas referências. E vai ser interessante observar isso nos próximos episódios, pois SHAFT e KyoAni tem personagens que são nervosos em cenas, não param. De qualquer forma, todo esse cenário com filtro de filme de terror/suspense psicológico foi ótimo, eu adorei. E a sua maneira, o visual de Shinsekai já é fascinante, só por se distinguir dos demais animes da temporada. A atmosfera é tóxica e dá aquele feeling de apreensão. E não foi o inicio fantástico (no sentido de BOOOOMMM, pqp!!!) que eu imaginei, mas foi bom o suficiente pra me deixar empolgada aqui, e apreensiva durante toda a execução.  Shinsekai Yori é anime para quem curte um thiller com elementos da santa trindade terror/suspense/mistério, com vibes pseudo-cult. Certo? Que venha o próximo.


Alguns pontos:
-Character designer: Os personagens serem crianças, se encaixou bem no character designer típico do estúdio A1-Pcitures, e ainda se mostrou consistente que o de Sword Art Oline. Gostei.
-Trilha sonora: Típica e bem empregada. Destaque para a música de abertura, executada no finalzinho; Wareta Ringo" de Risa Taneda. É pop, e se adequa bem ao estilo da história, que é para o publico jovem que adora algo obscuro e lascivo.

Avaliação:

Estúdio A1-Pictures
Direção: Masashi Ishihama
Roteiro: Masashi Sogo
Previsão de episódios: 12