quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Primeiras Impressões: Tonari no Kaibutsu-kun e o Politicamente Correto


Sinopse: A menina fria e calculista acaba se tornando a única pessoa capaz de falar com o delinquente da escola.

Comentários: Eu não pretendia comentar sobre Tonari no Kaibutsu-kun tão cedo, mas mudei de ideia e quero tecer alguns comentários com relação a esse episódio controverso, que vem causando certa polêmica entre os que assistiram ou leram o mangá. A principal polêmica diz respeito à linha de diálogo dos primeiros minutos, onde o personagem Haru, tem um surto de paranoia e agarra Shizuku, pensando que ela o estava seguindo. Como qualquer outra garota na mesma situação, ela fica amedrontada, principalmente por que Haru é o ogro da escola. Então ele diz que se ela gritar, ele vai estupra-la. O que eu interpretei é que ele não estava falando sério, mas foi só uma tentativa de coagi-la. Poderia ser “vou te bater”, e a autora atingiria o mesmo sentido original, embora com uma palavra de menor impacto.

Claro que é compreensível que qualquer garota fique incomodada com esse diálogo (inclusive que se faça críticas ao diálogo, mas qualquer coisa além me soa como moralismo barato), mas o que me chamou a atenção mesmo (e me motivou a escrever) foi uma postagem [Tonari no Kaibutsu-kun at a Glance/Stop PuttingRape Culture in All My Shoujo, Assholes] que a @__Yuuya me passou ontem, onde a autora faz umas analogias estranhas que me lembraram à recentemente polêmica envolvendo o Ursinho Viciado. Tonari no Kaibutsu-kun é um shoujo um pouco diferente do que se encontra normalmente, mas com elementos bem típicos.

Se fosse em Kaichou wa Maid-sama, eu estaria me matando pra estar no lugar dela e

Personagens como o Haru, que são os príncipes sapos das mocinhas, inconsequentes, violentos, impulsivos, e... lindos/desejados – que tratam seus interesses amorosos inicialmente com certa ignorância e desinteresse – são fáceis de se encontrar. O diferencial é a forma como o enredo acaba se desenvolvendo, caindo mais para a comédia de gags (o humor através de imagens de efeito, geralmente sem uso de palavras engraçadinhas), do que o romance meloso, e Kaibutsu-kun nesse primeiro episódio mostrou que tem uma veia forte para gags. O Haru é impulsivo, ao ser desdenhado por Shizuku, ele simplesmente pega a bebida e entorna na cabeça dela.

Ok! Choque. Que ogro, esse protagonista. O príncipe virou um sapo!

KAWAIIIII DESSUUUUUUUU~~~~~
Indiferença? COMO ASSIM? QUE MUNDO É ESSE MANOW? COMO PODE..TSC
vishe vishe vishe.....ACHEI QUE IAM COMEÇAR UM "GERRA DOS SEXOS" NO MEU ANIMU
É, EU TAMBÉM FIQUEI SURPRESA, AMIGA. esses homens de hoje em dia valem é nada!

Outro choque. A princesa tem personalidade e revida.


Eu achei que os dois iam se atracar ali

Fiquei chateada porque ela correu.qq

Kaibutsu-kun me conquistou aqui. A Shizuku tem personalidade, ela é forte, mas [ao menos por este primeiro episódio] ela me mostrou que não é apenas um arquétipo de personagem forte, ela age como uma garota normal. É bem balanceada. Ela revida contra Haru, mas quando este vem pra cima dela, ela simplesmente sai correndo. Ela tem certa noção.

O Haru por outro lado, não tem noção alguma. É complexado pelo fato de ninguém se aproximar dele, chora quando percebe que seus únicos amigos na verdade só estavam perto dele por interesse e se encanta por Shizuku, quando ela lhe dá atenção, e assim começa a persegui-la. Ela entre em desespero, além de não querer se aproximar de ninguém [por achar que nenhuma pessoa vale a pena], o cara que está perseguindo ela é assustador. Mas, não é um drama, nem um romance profundo, o enredo se desenvolve facilmente através de gags. Veja (isso pode ser um pouco chato, mas quero repassar tudo):

Shizuku ao ver ele solitário e tristonho fica com pena dele. Gaguejando e tremula, o defende diante dos amigos falsos. Eles vão pra cima dela, mas ele aparece e a defende.

bonitinho >_<

Na cega seguinte, ele diz que está apaixonado por ela e que vai ama-la por toda a vida [ele também diz que seu coração está quase saindo pela boca]. Mas como assim? Já? Jááá! Acompanhe o diálogo.

Ele: Eu acho que eu gosto de você.
Ela: Amigavelmente falando?
Ele: Sexualmente falando!


Com ambos próximos um do outro, mesmo que a contragosto de Shizuku, ele tenta seguir os conselhos dela. Mas o Haru é uma grande massa descerebrada (apesar de ser bom na matemática) e moetificada, parece uma criança tentando a coisa certa, da forma errada. Não, a melhor comparação seria a de que ele é como um cahorrinho que pula as patas sujas em cima do dono, balançando o rabinho.


“Shizuku. Estou sendo roubado! Eles me disseram pra entregar o meu dinheiro.” – Ela obviamente segue adiante e o ignora (cara, eu chorei de rir nessa cena).


E ele continua sendo sem noção e sem a menor delicadeza. Ele simplesmente a agarra pelo colarinho (!!) como se ela fosse um garoto. Lhe dá uma cotovelada [mesmo que sem querer] quando ela tenta parar ele. Ele transforma a vida dela num caos, ao ponto de ela se afastar definitivamente dele. Claro, não demora e ela começa a sentir a sua falta. A cena abaixo, de ambos na biblioteca é muito bonita. Ela entende que o Haru parece um cachorrinho, que se você der atenção e rolar com ele, ele vai te morder, e vai doer. Mesmo que não seja a intenção, diferente de um cachorro já adulto, que sabe conter sua mordida no dono [eu vivo brincando com o cachorro do meu pai, e ele me morde, e eu quase morro de amor como a forma preocupa que ele faz isso, não colocando força na mordida ~ ao contrário do meu gatinho que me deixa toda lesionada]. O Haru é super hiperativo, o que torna a cena dele numa biblioteca, se comportando ao lado de Shizuku, ainda mais bonitinha.


Shizuku: Você está quieto hoje.
Haru: Sim, pode apostar. Porque você por algum motivo gosta muito de estudar, não é? Se você gosta, eu também gosto.
Shizuku (em pensamento): Entendo. Então é isso que significa tratar alguém com cuidado.

E a última cena, novamente um passo adiante através de uma gag.


Ele simplesmente a agarra [novamente pelo colarinho – o cara não tem a menor finasse hahahaha] enquanto ela falava e a beija (a insert song ao fundo é muito bonitinha, me fez abrir um sorrisão).

Mas ele fica decepcionado, pois ele não sente o mesmo que sentiu ao se declarar pra ela na cena da escada. Seu coração não está batendo acelerado. É claro, foi um beijo mecânico. Mas o mesmo não se pode dizer com relação à Shizuku.


“Meu coração não está acelerado. Por quê? Percebi que você não fez o meu coração tremular. Por que será? Meu coração quase saiu do peito antes! Mas ainda te amo.” – Ele a beijou porque leu uma parte do romance em um livro, onde o personagem beijava a garota e sentia o coração bater acelerado e pensou que sentiria o mesmo novamente (!!!!!). TIPO....lol

Enfim. Eu adorei a estreia de Tonari no Kaibutsu-kun. É bonitinho e engraçado. Antes de assistir, vi muitos comentários o comparando com Kimi ni Todoke. Sinceramente eu não entendi, são abordagens diferentes. Mas ao assistir, eu compreendi o que todos queriam dizer. Tonari no Kaibutsu-kun se coloca quase que como uma sátira de shoujo [ou até mesmo alguns shounens de romance]. Se você lê shoujos regularmente, vai compreender. Apenas nesse primeiro episódio, a série já pega diversos clichês do gênero e bate no liquidificador de uma forma totalmente maluca, mas ainda assim, romântica. Vamos lá.

O primeiro encontro predestinado do casal principal

- Normalmente, o badboy iria partir pra cima dela, prensá-la, segurar seu queixo e fazer aquela expressão de “eu quero te comer, e depois vou te dar um chute na bunda”. Ou algo parecido, que a fizesse ficar molhada e apaixonada. Aqui, o Haru é simplesmente ignorante. Asqueroso. Mas não um ignorante apaixonante, um ignorante bruto que deixa a Shizuku completamente acuada e tremula. A piada do estupro, eu acredito, foi tentativa da autora de tornar a situação ainda mais asquerosa. Que garota ficaria apaixonada por um cara que diz que irá estuprá-la? Mas a personagem típica ficaria, se ele dissesse isso de uma forma indireta, cheia de flores e brilhos no ar.

O primeiro encontro

-Aqui, normalmente o nosso protagonista gostoso e grosseiro apaixonante, mostraria sua faceta oculta. “Oh, coitadinho, ninguém quer saber de ser seu amigo, ele se sente tão sozinho, preciso ficar do lado dele” – pensaria a mocinha da história. Mas Shizuki lhe diz que amigos de verdade nunca iriam extorqui-lo. Ele joga bebida nela e o encontro desanda. É aqui em que ela deveria ficar suspirando diante algum grosseira expelida polo interesse amoroso?

A declaração

- O badboy nessa cena deveria dizer umas palavras doces e fáceis pra garota, e a deixar desmanchada. A grande sacada é a declaração de Haru. É totalmente descabida e falsa [“você fez meu coração disparar, agora eu vou te amar pra sempre”], e eu ri, porque parece uma tiração de sarro da autora. O melhor, é que tudo o que ele diz, é genuíno. E por isso que, mesmo que não sendo uma cena romântica de um Kazehaya e Sawako debaixo de uma cerejeira, ainda é bonitinho.

O desenvolvimento inicial do romance

- O casal deveria ficar mais próximo aqui, rolar uns desentendimentos, que se resolveria num encontro final. E acontece exatamente isso, mas totalmente às avessas e feito de forma direta. Qualquer romance convencional levaria esse desenvolvimento por mais alguns booons capítulos. Mesmo um romance com comédia como Kaichou wa Maid-sama, onde, como em Kaibutsu-kun, o modo de agir do protagonista, é o objeto de fetiche das garotas (Oh, Usui-saaaaama).

Acho que nem o George iria tão longe, rs

Resumindo

O que eu comentei acima, são as principais queixas da autora deste post, aonde ela chega a dizer que não é bonita a forma como o Haru se força pra cima de Shizuku, e a forma omissa como a professora age ao enviar uma aluna introvertida para falar com um delinquente. Mas não é assim no shoujo típico? Certamente isso passaria batido se Haru não fosse tão agressivo (mesmo que não seja intencional) com Shizuku, mas é tão diferente assim da forma camuflada que tantos outros protagonistas agem? Eu vejo esse ponto de vista, com a mesma sobrancelha arqueada com que olho para fanatismos religiosos. A impressão que ficou em mim com este primeiro episódio, foi de que Kaibutsu-kun é uma grande tiração de sarro com relação a abordagens típicas (e não, não vejo como uma critica) de romances em geral, mas feito de uma forma absurda, e por isso engraçado. É visível o fato da série não tratar a complexidade de seus personagens de forma séria, mas como uma gag. É como essetapa aqui.

De certa forma, o Haru me lembra bastante a  protagonista do mangá de romance gag colegial, Yankee-kun to Megane-chan – Ela é uma ogra, persegue o pobre protagonista por todos os lados para lhe pedir conselhos de uma forma absurda e tão abrupta quanto Haru, usando de violência para resolver seus problemas. Sem noção alguma!


A cena onde Haru tá brincando com o cachorrinho, com a Shizuku logo atrás, me remeteu imediatamente a Kimi ni Todoke, que possui uma sequência parecida. Kaibutsu-kun realmente me parece uma grande mistura, onde em algum momento você irá notar algo parecido com alguma outra série, mas desenvolvido aqui de uma forma engraçada.

Polêmicas envolvendo shoujos e as abordagens de suas autoras são bem comuns, de um Happy Mania onde a protagonista parece ter o cérebro entre as pernas, passando até mesmo pelo bem comentado Usagi Drop – que no mangá possui um desfecho para lá de polêmico –, ao shoujo [em lançamento no Brasil] preferido das adolescentes convencionais; Kaichou wa Maid-Sama, com uma protagonista meio machinha que abusa com violência dos personagens masculinos (!!). É assunto para uma postagem própria, mas me parece uma visão um tanto quanto machista/feminista e retrógrada de que mangás femininos precisam se manter íntegros, puros e distantes de abordagens controversas. Não por acaso, o shoujo mais vendido (Kimi ni Todoke) do mundo atualmente é totalmente puro. Cada tem o seu calcanhar de Aquiles, e uma hora ou outra alguma abordagem de determinada série irá te incomodar, o que não exatamente influi na qualidade da mesma [ou ao menos, não deveria influir].

Eu acredito que a forma como seus autores desenvolvem certos temas são muito passiveis de críticas, mas não o tema em si (Mulher se transformando em homem pra executar bem um serviço?). E este primeiro episódio de Kaibutsu-kun me mostrou que a autora sabe exatamente o que está fazendo, com um bom timing para as gags inseridas, balanceando bem o humor e o romance, de uma forma que não torne o enredo muito sério, nem muito superficial, mas na medida para quem procura uma história leve e descontraída. E como conseguir dosar tais elementos e ainda envolver sua audiência? Com carisma e química entre os personagens, é claro. Assim, Kaibutsu-kun torna-se uma das melhores estreias da temporada, com uma produção caprichada do Brains Base, mesmo com o habitual orçamento médio de sempre. Dói pensar que a última comédia romântica shoujo animada que tivemos foi em...2010!

A mascote da vez, é uma galinha!!!

Avaliação:


-Alguns pontos
>A música tema não combinou nada com a animação da abertura, além de não ser nada bonita, rs. Mas a insert song foi na medida.


Direção: Hiro Kaburaki
Roteiro: Noboru Takagi
Estúdio: Brains Brase
Previsão de episódios: 12