Sinopse: A menina
fria e calculista acaba se tornando a única pessoa capaz de falar com o
delinquente da escola.
Comentários: Eu
não pretendia comentar sobre Tonari no Kaibutsu-kun tão cedo, mas mudei de
ideia e quero tecer alguns comentários com relação a esse episódio controverso,
que vem causando certa polêmica entre os que assistiram ou leram o mangá. A
principal polêmica diz respeito à linha de diálogo dos primeiros minutos, onde
o personagem Haru, tem um surto de paranoia e agarra Shizuku, pensando que ela
o estava seguindo. Como qualquer outra garota na mesma situação, ela fica
amedrontada, principalmente por que Haru é o ogro da escola. Então ele diz que
se ela gritar, ele vai estupra-la. O que eu interpretei é que ele não estava
falando sério, mas foi só uma tentativa de coagi-la. Poderia ser “vou
te bater”, e a autora atingiria o mesmo sentido original, embora com
uma palavra de menor impacto.
Claro que é compreensível que qualquer garota fique
incomodada com esse diálogo (inclusive que se faça críticas ao diálogo, mas qualquer coisa além me soa como moralismo barato), mas o que me chamou a atenção mesmo (e me motivou
a escrever) foi uma postagem [Tonari no Kaibutsu-kun at a Glance/Stop PuttingRape Culture in All My Shoujo, Assholes] que a @__Yuuya me passou ontem, onde
a autora faz umas analogias estranhas que me lembraram à recentemente polêmica envolvendo o
Ursinho Viciado. Tonari no Kaibutsu-kun é um shoujo um pouco diferente do que
se encontra normalmente, mas com elementos bem típicos.
Se fosse em Kaichou wa Maid-sama, eu estaria me matando pra estar no lugar dela e |
Personagens como o Haru, que são os príncipes sapos das
mocinhas, inconsequentes, violentos, impulsivos, e... lindos/desejados – que
tratam seus interesses amorosos inicialmente com certa ignorância e
desinteresse – são fáceis de se encontrar. O diferencial é a forma como o
enredo acaba se desenvolvendo, caindo mais para a comédia de gags (o humor através de imagens de efeito, geralmente sem uso de palavras engraçadinhas), do que o romance meloso, e Kaibutsu-kun
nesse primeiro episódio mostrou que tem uma veia forte para gags. O Haru é
impulsivo, ao ser desdenhado por Shizuku, ele simplesmente pega a bebida e
entorna na cabeça dela.
Ok! Choque. Que ogro, esse protagonista. O príncipe virou um
sapo!
KAWAIIIII DESSUUUUUUUU~~~~~ |
Indiferença? COMO ASSIM? QUE MUNDO É ESSE MANOW? COMO PODE..TSC |
vishe vishe vishe.....ACHEI QUE IAM COMEÇAR UM "GERRA DOS SEXOS" NO MEU ANIMU |
É, EU TAMBÉM FIQUEI SURPRESA, AMIGA. esses homens de hoje em dia valem é nada! |
Outro choque. A princesa tem personalidade e revida.
Eu achei que os dois iam se atracar ali |
Fiquei chateada porque ela correu.qq |
Kaibutsu-kun me conquistou aqui. A Shizuku tem
personalidade, ela é forte, mas [ao menos por este primeiro episódio] ela me
mostrou que não é apenas um arquétipo de personagem forte, ela age como uma
garota normal. É bem balanceada. Ela revida contra Haru, mas quando este vem
pra cima dela, ela simplesmente sai correndo. Ela tem certa noção.
O Haru por outro lado, não tem noção alguma. É complexado
pelo fato de ninguém se aproximar dele, chora quando percebe que seus únicos
amigos na verdade só estavam perto dele por interesse e se encanta por Shizuku,
quando ela lhe dá atenção, e assim começa a persegui-la. Ela entre em
desespero, além de não querer se aproximar de ninguém [por achar que nenhuma
pessoa vale a pena], o cara que está perseguindo ela é assustador. Mas, não é
um drama, nem um romance profundo, o enredo se desenvolve facilmente através de
gags. Veja (isso pode ser um pouco
chato, mas quero repassar tudo):
Shizuku ao ver ele solitário e tristonho fica com pena dele.
Gaguejando e tremula, o defende diante dos amigos falsos. Eles vão pra cima
dela, mas ele aparece e a defende.
bonitinho >_< |
Na cega seguinte, ele diz que está apaixonado por ela e que
vai ama-la por toda a vida [ele também diz que seu coração está quase saindo
pela boca]. Mas como assim? Já? Jááá! Acompanhe o diálogo.
Ele: Eu acho que eu gosto de você.
Ela: Amigavelmente falando?
Ele: Sexualmente falando!
Com ambos próximos um do outro, mesmo que a contragosto de
Shizuku, ele tenta seguir os conselhos dela. Mas o Haru é uma grande massa
descerebrada (apesar de ser bom na matemática) e moetificada, parece uma criança tentando a coisa certa, da forma
errada. Não, a melhor comparação seria a de que ele é como um cahorrinho que
pula as patas sujas em cima do dono, balançando o rabinho.
“Shizuku. Estou sendo roubado! Eles me disseram pra entregar o meu
dinheiro.” – Ela obviamente segue adiante e o ignora (cara, eu chorei de rir nessa cena).
E ele continua sendo sem noção e sem a menor delicadeza. Ele
simplesmente a agarra pelo colarinho (!!)
como se ela fosse um garoto. Lhe dá uma cotovelada [mesmo que sem querer]
quando ela tenta parar ele. Ele transforma a vida dela num caos, ao ponto de
ela se afastar definitivamente dele. Claro, não demora e ela começa a sentir a
sua falta. A cena abaixo, de ambos na biblioteca é muito bonita. Ela entende
que o Haru parece um cachorrinho, que se você der atenção e rolar com ele, ele
vai te morder, e vai doer. Mesmo que não seja a intenção, diferente de um
cachorro já adulto, que sabe conter sua mordida no dono [eu vivo brincando com
o cachorro do meu pai, e ele me morde, e eu quase morro de amor como a forma
preocupa que ele faz isso, não colocando força na mordida ~ ao contrário do meu
gatinho que me deixa toda lesionada]. O Haru é super hiperativo, o que torna a
cena dele numa biblioteca, se comportando ao lado de Shizuku, ainda mais bonitinha.
Shizuku: Você está quieto hoje.
Haru: Sim, pode apostar. Porque você por algum
motivo gosta muito de estudar, não é? Se você gosta, eu também gosto.
Shizuku (em
pensamento): Entendo. Então é isso
que significa tratar alguém com cuidado.
E a última cena, novamente um passo adiante através de uma
gag.
Ele simplesmente a agarra [novamente pelo colarinho – o cara
não tem a menor finasse hahahaha] enquanto ela falava e a beija (a insert song ao fundo é muito bonitinha,
me fez abrir um sorrisão).
Mas ele fica decepcionado, pois ele não sente o mesmo que
sentiu ao se declarar pra ela na cena da escada. Seu coração não está batendo
acelerado. É claro, foi um beijo mecânico. Mas o mesmo não se pode dizer com
relação à Shizuku.
“Meu coração não está acelerado. Por quê? Percebi que você não fez o
meu coração tremular. Por que será? Meu coração quase saiu do peito antes! Mas
ainda te amo.” – Ele a beijou porque leu uma parte do romance em um
livro, onde o personagem beijava a garota e sentia o coração bater acelerado e
pensou que sentiria o mesmo novamente (!!!!!).
TIPO....lol
Enfim. Eu adorei a estreia de Tonari no Kaibutsu-kun. É
bonitinho e engraçado. Antes de assistir, vi muitos comentários o comparando
com Kimi ni Todoke. Sinceramente eu não entendi, são abordagens diferentes. Mas
ao assistir, eu compreendi o que todos queriam dizer. Tonari no Kaibutsu-kun se
coloca quase que como uma sátira de shoujo [ou até mesmo alguns shounens de
romance]. Se você lê shoujos regularmente, vai compreender. Apenas nesse
primeiro episódio, a série já pega diversos clichês do gênero e bate no
liquidificador de uma forma totalmente maluca, mas ainda assim, romântica. Vamos
lá.
O primeiro encontro predestinado do casal principal
- Normalmente, o badboy iria partir pra cima dela, prensá-la,
segurar seu queixo e fazer aquela expressão de “eu quero te comer, e depois vou
te dar um chute na bunda”. Ou algo parecido, que a fizesse ficar
molhada e apaixonada. Aqui, o Haru é simplesmente ignorante. Asqueroso. Mas não
um ignorante apaixonante, um ignorante bruto que deixa a Shizuku completamente
acuada e tremula. A piada do estupro, eu acredito, foi tentativa da autora de
tornar a situação ainda mais asquerosa. Que garota ficaria apaixonada por um
cara que diz que irá estuprá-la? Mas a personagem típica ficaria, se ele
dissesse isso de uma forma indireta, cheia de flores e brilhos no ar.
O primeiro encontro
-Aqui, normalmente o nosso protagonista gostoso e grosseiro
apaixonante, mostraria sua faceta oculta. “Oh,
coitadinho, ninguém quer saber de ser seu amigo, ele se sente tão sozinho,
preciso ficar do lado dele” – pensaria a mocinha da história. Mas Shizuki
lhe diz que amigos de verdade nunca iriam extorqui-lo. Ele joga bebida nela e o
encontro desanda. É aqui em que ela deveria ficar suspirando diante algum
grosseira expelida polo interesse amoroso?
A declaração
- O badboy nessa cena deveria dizer umas palavras doces e fáceis
pra garota, e a deixar desmanchada. A grande sacada é a declaração de Haru. É
totalmente descabida e falsa [“você fez meu coração disparar, agora eu vou
te amar pra sempre”], e eu ri, porque parece uma tiração de sarro da
autora. O melhor, é que tudo o que ele diz, é genuíno. E por isso que, mesmo
que não sendo uma cena romântica de um Kazehaya e Sawako debaixo de uma
cerejeira, ainda é bonitinho.
O desenvolvimento inicial do romance
- O casal deveria ficar mais próximo aqui, rolar uns
desentendimentos, que se resolveria num encontro final. E acontece exatamente
isso, mas totalmente às avessas e feito de forma direta. Qualquer romance
convencional levaria esse desenvolvimento por mais alguns booons capítulos.
Mesmo um romance com comédia como Kaichou wa Maid-sama, onde, como em
Kaibutsu-kun, o modo de agir do protagonista, é o objeto de fetiche das garotas
(Oh, Usui-saaaaama).
Acho que nem o George iria tão longe, rs |
Resumindo
O que eu comentei acima, são as principais queixas da autora
deste post, aonde ela chega a dizer que não é bonita a forma como o Haru se
força pra cima de Shizuku, e a forma omissa como a professora age ao enviar uma
aluna introvertida para falar com um delinquente. Mas não é assim no shoujo típico?
Certamente isso passaria batido se Haru não fosse tão agressivo (mesmo que não seja intencional) com
Shizuku, mas é tão diferente assim da forma camuflada que tantos outros
protagonistas agem? Eu vejo esse ponto de vista, com a mesma sobrancelha
arqueada com que olho para fanatismos religiosos. A impressão que ficou em mim
com este primeiro episódio, foi de que Kaibutsu-kun é uma grande tiração de sarro
com relação a abordagens típicas (e não,
não vejo como uma critica) de romances em geral, mas feito de uma forma
absurda, e por isso engraçado. É visível o fato da série não tratar a
complexidade de seus personagens de forma séria, mas como uma gag. É como essetapa aqui.
De certa forma, o Haru me lembra bastante a protagonista do mangá de romance gag colegial, Yankee-kun to Megane-chan – Ela é uma ogra,
persegue o pobre protagonista por todos os lados para lhe pedir conselhos de
uma forma absurda e tão abrupta quanto Haru, usando de violência para resolver
seus problemas. Sem noção alguma!
A cena onde Haru tá brincando com o cachorrinho, com a
Shizuku logo atrás, me remeteu imediatamente a Kimi ni Todoke, que possui uma
sequência parecida. Kaibutsu-kun realmente me parece uma grande mistura, onde
em algum momento você irá notar algo parecido com alguma outra série, mas
desenvolvido aqui de uma forma engraçada.
Polêmicas envolvendo shoujos e as abordagens de suas autoras
são bem comuns, de um Happy Mania onde a protagonista parece ter o cérebro entre
as pernas, passando até mesmo pelo bem comentado Usagi Drop – que no mangá
possui um desfecho para lá de polêmico –, ao shoujo [em lançamento no Brasil] preferido
das adolescentes convencionais; Kaichou wa Maid-Sama, com uma protagonista meio
machinha que abusa com violência dos personagens masculinos (!!). É assunto para uma postagem
própria, mas me parece uma visão um tanto quanto machista/feminista e retrógrada de que mangás femininos precisam se manter íntegros, puros e distantes de
abordagens controversas. Não por acaso, o shoujo mais vendido (Kimi ni Todoke) do mundo atualmente é
totalmente puro. Cada tem o seu calcanhar de Aquiles, e uma hora ou outra alguma abordagem de determinada série irá te incomodar, o que não exatamente influi na qualidade da mesma [ou ao menos, não deveria influir].
Eu acredito que a forma como seus autores desenvolvem certos
temas são muito passiveis de críticas, mas não o tema em si (Mulher se transformando em homem pra executar bem um serviço?). E este primeiro
episódio de Kaibutsu-kun me mostrou que a autora sabe exatamente o que está
fazendo, com um bom timing para as gags inseridas, balanceando bem o humor e o
romance, de uma forma que não torne o enredo muito sério, nem muito
superficial, mas na medida para quem procura uma história leve e descontraída. E como conseguir dosar tais elementos e ainda envolver sua
audiência? Com carisma e química entre os personagens, é claro. Assim,
Kaibutsu-kun torna-se uma das melhores estreias da temporada, com uma produção
caprichada do Brains Base, mesmo com o habitual orçamento médio de sempre. Dói pensar que a última comédia romântica shoujo animada que tivemos foi em...2010!
A mascote da vez, é uma galinha!!! |
Avaliação: ★ ★ ★ ★ ★
-Alguns pontos
>A música tema não combinou nada com a animação da
abertura, além de não ser nada bonita, rs. Mas a insert song foi na medida.
Direção: Hiro Kaburaki
Roteiro: Noboru Takagi
Estúdio: Brains Brase
Previsão de episódios: 12