Quando comecei a escrever o post sobre “Guerreiras Mágicas de Rayearth” para a participação do ELBR no CLAMPday, lembrei dessa entrevista
que chegou a ser publicamente oficialmente nos EUA pela finada Tokyopop –
Aliás, não cheguei a conferir o relançamento desse mangá em versão Omnibus pela
Dark Horse, mas a versão anterior era bem legal, contendo uns extras exclusivos
para a versão americana, com comentários do CLAMP –, mas nem cabia no post em
questão, que acabou se transformando num monstro (tudo porque eu não quis fazer os cortes necessários).
Então pensei, porque não criar um post especialmente pra
isso, né? Bem, o CLAMP (sim, o correto é
“O CLAMP”), dispensa comentários. Seja pelo ódio, ou pelo amor, essas
velhas possuem uma das marcas mais conhecidas em anime related. Essa é uma
entrevista envolvendo o processo de criação em torno de Magic Knight Rayearth,
e possui uns pontos muito válidos, e por isso acredito que seja válida a publicação
para quem não teve acesso.
Lembrando que a revista Nakayohi é uma antologia shoujo
voltada para garotas entre 09 e 15 anos de idade da Kodansha, uma das
principais do mercado e a responsável pela nova “cara” do gênero garota mágica
a partir dos anos 90, com títulos como Sailor Moon e CardCaptor Sakura.
Alguns dos pontos mais interessantes abordados são com
relação ao nome envolvendo a série e seus personagens. O Japonês realmente é
muito fascinado por maquinas, de robôs, a carros.
Entrevista de 2004/2005, contido no volume 04 de Clamp no
Kiseki publicado pela Tokyopop. Os parênteses em negrito, são observações
minhas.
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P: Conte-nos sobre os
eventos que levaram à criação deste projeto.
Ohkawa: Nós fizemos ilustrações a pedido do Sr. Yoshiki
Tanaka para as light novels de Souryuuden Gengashuu. No jantar, comemorando sua
publicação estávamos sentados ao lado de Hedeki Yamanouchi, editor da revista
Nakayoshi, (que posteriormente viria a
ser editor do CLAMP na Young Magazine). Ele nos perguntou se nós estávamos
interessadas em trabalhar em uma série da Nakayoshi. Naquela época, não achei
que ele estivesse falando sério. Nós pensávamos que ele estava apenas tentando
ser educado.
Mokona: Nós recebemos um telefonema no dia seguinte, ou
alguns dias depois.
Nekoi: Ele realmente nos queria para trabalhar em uma história.
Ficamos chocadas!
P: De quem foi a ideia
de combinar magia e robôs?
Ohkawa: Os editores não nos deram qualquer direção.
Queríamos aproveitar esta oportunidade e fazer algo que nunca tinha sido feito
antes. Naquela época, já havia histórias de meninas em combates, mas nada que
envolviam robôs gigantes (risos). Imaginamos que os leitores da Nakayoshi não
iriam comprar uma história que só girasse em torno de robôs, por isso
acrescentamos alguma fantasia, e elementos de RPG.
P: É muito raro
encontrar robôs em uma história voltada para meninas.
Ohkawa: Nós todas éramos fãs de animes com robôs gigantes,
especialmente a Mokona (risos).
Mokona: Ser fã e criar são coisas muito diferentes (risos)!
Foi difícil traduzir a linguagem de robôs gigantes para a forma de mangá.
Nekoi: Em termos de ilustração, você tem que considerar à
dimensão dos robôs. Em relação ao anime, é mais difícil em um mangá. Quero
dizer, você não pode mostrar simultaneamente as pessoas e os robôs em um
quadro, ou quando eles estão dentro dos robôs, você não pode ver os rostos dos
personagens.
Ohkawa: Nós não criamos uma cabine nos Mashins porque
queríamos mostrar os rostos dos personagens.
P: Houve outros
desafios?
Nekoi: Defino Rayearth como um projeto que foi difícil de
trabalhar. Os figurinos, robôs, penteados e tons de tela foram suficientemente
complicados. Foi difícil de colar todos aqueles screentones (Reticulas) uma vez que foi feito com a
porção de tinta.
Igarashi: Nós usamos screentones até mesmo no corpo gordinho
do Mokona.
P: Quem pensou no
título?
Ohkawa: A palavra "Rayearth" foi criada por nosso
amigo Takeshi Okazaki (ele é um ilustrador
de diversos doujins repletos de fornicações e fez parceria com o CLAMP no mangá
Koi, contribuindo com a arte. E é um mangá bem ruim, se quer saber. Um pouco
antes, elas colaboraram com ele em Elementalors).
Mokona: Pedimos por um nome que poderia ser usado em um
carro.
Ohkawa: A parte “Magic Knight” fui eu, acho (risos). O
enredo básico foi concluído, e teve um quebra-cabeça que girava em torno desse
nome já (A Ohkawa se refere ao questionamento
das três garotas com relação ao motivo do povo de Cephiro se referirem a elas
como “Magic Kinight”, uma pronuncia em inglês – Isso durante um momento chave
do enredo. É realmente uma revelação que é uma excelente sacada com envolvendo
o desfecho do enredo).
P: Os nomes dos
personagens são baseados em carros.
Ohkawa: Nós somos ruins com nomes de fantasia (risos). Os
nomes também tem que ter uma conexão, para que as crianças pequenas possam se
lembrar deles. Carros são cuidadosamente nomeados, com nomes que são geralmente
fáceis de lembrar, assim como também soam legal. Pensamos que as crianças
gostariam.
Nekoi: A razão do Ferio ter cabelo verde é porque nós
possuímos uma greenFerio no momento (risos).
Igarashi: Ferio tem uma cicatriz em seu rosto, porque a
nossa Ferio tinha um arranhão no capô (risos).
P: A cena final da
Parte I é bastante chocante. Foi uma história fácil de criar?
Ohkawa: A Parte I foi realmente fácil. Nós realmente
queríamos ir em direção ao final. Se a série fosse voltada para os meninos, ou para
o público mais velho, a gente poderia ter parado após a parte I.
Mokona: A audiência ficou muito dividida sobre esse trabalho.
As crianças ficaram realmente chocadas.
Ohkawa: Nakayoshi soltou um preview que não haveria uma
parte II, de modo que os leitores mais velhos ficaram bastante calmos sobre
isso. Eles achavam que a história iria continuar. Tivemos um momento difícil para
criar a parte II, no entanto. Nós meio que estivemos em uma situação limite com
esse final (risos)!
P: Nakayoshi dá muitos
brindes de bônus. Houve algum de Rayearth que deixou alguma impressão em vocês?
Mokona: As cartas de jogar.
Nekoi: Nós trabalhamos até a morta para a criação dessas
cartas.
Mokona: Uma de nós mencionou que se lembrou de uma série que
tinha um conjunto completo de cartões ilustrados para jogar, então, ficamos
inspiradas (risos). Os editores disseram-nos que alguns cartões ilustrados
foram suficientes, mas ...
P: Rayearth foi a primeira série de televisão de vocês
também. Como foi isso?
Ohkawa: Eu participei na criação do roteiro, mas eu não
estava acostumada à criação de um script de TV de um mangá, por isso foi
difícil de fazer. O anime ia ser exibido às sete horas (da manhã), então havia restrições e diversas solicitações. Por
exemplo, se um episódio ia ser exibido próximo do Dia de Ano Novo, eles queriam
algum tipo de tema de Ano Novo para o programa (risos).
P: O que "Rayearth"
significa para você?
Ohkawa: Era uma expressão direta de nossos gostos, nesse
momento, por isso é influenciada por uma série de nossos trabalhos anteriores.
O estilo artístico não é muito diferente, a história é meio forte, e o final
... bem, você sabe (risos). A esse respeito, eu acho que é uma boa
representação do nosso trabalho na época.
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