E dessa vez com uma surpresa especial no post. Quase um
Kinder Ovo cor de rosa.
Todos os leitores do mangá têm sido unanimes em afirmar o
quanto a versão original de Hajime Isayamase se caracteriza pela frieza
referente ao drama. Eu não sou leitora do mangá, mas não vejo essa história
sendo tratado sem o impacto emocional da série animada. Pode até funcionar, mas
sem dúvidas parte da receptividade massiva que a série obteve, tem méritos no
conflito emocional, tornando a trama de Eren Yeager (Yuuki Kaji) muito mais envolvente. Seu ódio descerebrado, impulsividade,
seu desejo de vingança cega, a indignação ao ver a passividade dos demais; tudo
isso clica comigo de um jeito muito verossímil. É tão genuinamente intenso a
sua garra, que acabamos nos sentindo parte daquilo também, não apenas espectadores
passivos, mas torcedores antes mesmo da partida começar. Por ser dicotômica,
definida até então pelo maniqueísmo, e por ser uma trama que se desenvolve com
base num drama humano tão forte; tornando os embates animalescamente
envolventes, o poder de alcance dessa trama vai muito além do público
convencional para o gênero.
Claro que passagens como a do guarda do episódio e todo
aquele tremelique da câmera, acabam soando desnecessários. Mas não é curioso só
conseguirmos pensar nestas questões depois de um tempo para absorver o impacto
que aquele episódio teve sobre nós? Ao menos, comigo foi assim. Foi como ter
ingerido morfina. Méritos para a direção.
O que vemos neste episódio ainda são os efeitos da
irracionalidade deflagrada no fim do anterior; ódio, medo, orgulho ferido.
Estes sentimentos trazem consigo uma impulsividade perigosa, fazendo com que os
seres humanos, que se caracterizam pelo pensamento lógico, hajam feitos animais
irracionais frente à diversas situações. O medo paralisa os soldados que mesmo
armados e frente a gigantes que se movimentam lentamente, se mostram
ineficazes. Diante de uma ameaça nunca antes sentida, todos agem de forma caótica,
desordenadamente. Soldados abandonam os seus postos, religiosos entram em
estado de negação e buscam abrigo na fé, pessoas pulam para a morte certa
diante do pânico desenfreado. As pessoa que estão em segurança entram em estado
de choque.
Meus queridos, eu estou vibrando aqui enquanto escrevo isso.
Este episódio retrata o colapso social de uma forma que sinceramente eu não
esperava em uma série com foco em batalhas. Parece simples, e realmente a
execução é feita com objetividade, mas está tudo ali em um bom ponto politico e
social. Hipoteticamente, como você acha que o Brasil reagiria caso fossemos
bombardeados de uma hora para outra? Nós estudamos, estamos cientes das
guerrilhas que aconteceram no nosso passado, das revoluções, alistamentos, mas
somos uma outra geração, e tal qual aqueles soldados do primeiro episódio,
simplesmente iriamos rir da simples ideia de que podemos ser atacados de
repente. Estariamos preparados, psicologicamente, estruturalmente e
militarmente?
Ficaríamos impotentes até conseguirmos ajuda. E isso não aliviaria
a situação. Ser de um país pacífico tem o seu preço. A geração que de fato
presenciou todas essas barbaridades; Eren, Mikasa (Yui Ishikawa), e Armin (Marina Inoue), agora estarão mais motivados para uma possível retaliação aos
titãs, afinal, a série é sobre isso – e também mais preparados psicologicamente
por de fato terem vivido aquilo na pele. São como duas formas distintas que um
soldado veterano e um novato se comportam estando ambos no meio de um guerra.
É interessante a forma comportamental do ser humano. Antes,
era visível a passividade e promiscuidade com que encaravam a condição em que
viviam. Não haviam muitos engajados numa causa de estudo estratégico frente aos
titãs, e os poucos que se aventuravam eram ridicularizados. O ser humano é o animal
mais adaptável do planeta, 100 anos é tempo suficiente para que aprendessem a
viver confortavelmente numa “gaiola” segura. Porém, frente à tragédia e desastre
social, parece que algo dormente desperta em nós; ficamos mais benevolentes de
um modo geral, nos tornamos mais fortes para lutarmos contra aquela
diversidade, e ficamos mais unidos.
Ainda anestesiado pelo orgulho ferido, pelo ódio, pela dor,
Eren é incapaz de raciocinar. Ele fica indignado, quer resolver no braço, na
cabeçada, mas é Mikasa aquela que lhe dá o tapa que irá despertá-lo. Mikasa é
sem dúvidas mais madura [enquanto Eren
olhava com os olhos arregalados sua mãe ser devorada, ela olhava resoluta para
frente, como uma fortaleza], e desde já se posiciona como o espelho e
amortecedor de Eren. É o tipo de personagem que gera identificação imediata,
clichezão (todos o são, né), porém o
desenvolvimento de todos está sendo notável. Mikasa, que aparentemente sofre
com alguma lacuna na memoria, algo que parece fazer com que se esqueça de
acontecimentos dolorosos. Uma linha solta que certamente será abordada futuramente.
É de Mikasa o conselho mais sábio visto no episódio; para se
reerguer e se tornar forte frente às tragédias, muitas vezes é preciso deixar
de lado o orgulho para poder sobreviver. É um paradigma interessante que
contrasta com a realidade de produções como Túmulo dos Vagalumes, ou Gen PéDescalços, que sutilmente revelam muito do orgulho japonês onde se seguia
ainda o código de conduta do samurai em morrer com honra (Os japoneses não consideraram a ameaça de bomba atômica dos EUA, e muitas das vitimas desse ato bárbaro optaram por não abrir mão de sua honra, com um destino trágico pela frente). Essa sútil mudança é
notada principalmente nos shounens através das décadas, onde mesmo que
protagonistas ainda possuam sangue quente, são rapidamente domados por alguma
voz exterior ou interior.
Este titã anabolizado pareceu ser mais inteligente que os demais. |
Para encerrar, gostaria de ressaltar a questão politica
presente em SnK (Shingeki no Kyojin)e
como isso é desenvolvido de uma forma poderosa. Cada muro levantado é um
estado, e como tal, agem de acordo com seus interesses próprios. O que faz das
pessoas que moravam na Wall Maria, fiquem desamparados e sofram com a falta de
recursos, afinal, Wall Rose está longe de ser um estado rico, e ainda sofrem
com a baixa da agricultura. Logo foram submetidos a alta carga de trabalhos ou
alistados para a estratégia de recuperação da Wall Maria, fazendo com que
restassem poucos dos remanescentes. É uma situação dura pela qual foram
sujeitados, mas politicamente acertada. O mais assustador é olhar para o mundo
real e ver que, à exceção dos titãs [ao
menos, literalmente], isto ainda está acontecendo em diversos países.
Avaliação: ★ ★ ★ ★ ★
Eu não disse que havia uma surpresa? Eu e o @PedroSEkman (a identidade secreta do Crítico Nippon)
fizemos uma gekidama, e ele também dará sua opinião sobre os episódios de SnK.
Ou ao menos, sempre que possível. Dividir este espaço com o Pedrinho me deixa
muito contente (façam ele continuar!),
e sim, também me acho louca as vezes por escrever tanto. Mas sabem como é...
***
Comentários do Crítico Nippon:
Saudações! 2013 tem sido o meu recorde de postagens. Já
escrevi sobre 6 obras só nos três primeiros meses, e isso para a coluna do
Crítico Nippon é bastante. Postei também comentários finais nos posts de Psycho-Pass, Shin Sekai Yori, Little Hogwarts Academy, Gargantia e Death Billiar... Não faço a menor idéia do
porque esse ritmo, já que a faculdade tem sido cada vez pior, e os enredos do
trabalho também. Então já que é só empolgação e prazer puro mesmo, por que não continuar?
Sempre achei a Beta Roberta louca da cabeça escrevendo
textos do tamanho dos Titãs em episódios de meros 20 minutos. Por isso a minha
coluna sempre foi com obras fechadas e completas, me sinto melhor analisando o
conjunto como um todo. Portanto, não sei se vou conseguir, nem com que
freqüência isso será feito, mas à pedidos de leitores, farei um teste. Minha
intenção não é fazer nada enorme perto da Betinha, de jeito nenhum, apenas
participar mais. Poderão ser um ou dois parágrafos... ou apenas uma frase. O
episódio dirá.
Gambatte, Crítico Nippon!
Shingeki no Kyojin foi assustador. Fico muito feliz de não
ter lido o mangá antes e me impressionado com as cores e trilha sonora do
ataque dos personagens-título. O embalo do primeiro titã em carne viva e
músculos, observando à todos do alto da muralha, ficará marcado por muito tempo
na memória dos fãs de animes. A direção de todas essas seqüências foram
impressionantes. A câmera varia entre se manter na altura dos olhos dos
humanos, e em tomadas aéreas, salientando a destruição causada pelos inimigos.
O vento de impacto que as criaturas causam com seus potentes chutes e avanços
sobre as muralhas, fazendo pessoas voarem longe, é um dos muitos detalhes
acertados. A fluidez da câmera é incrível, não apenas as decisões de corte
frenético, mas o movimento ligeiro dela tornando tudo ainda mais urgente; e o
ataque de mais um titã vermelho sobre a muralha Maria é a prova de todos esses
exemplos. A violência contra os humanos frágeis como baratas, continua, mas
parecem começar a se conter no sangue.
O universo da trama tem sido revelado aos poucos, como as
muralhas Maria, Rose e Shina; bem como os barcos e a dimensão gigantesca da
qual os humanos vivem além daquele vilarejo dos protagonistas. A total
desesperança é o que mais marcou nesses dois primeiros episódios, com
conseqüências diretas na forma de sobrevivência dos humanos. Confesso achar um
pouco chocante terem se preparado com tantas muralhas, porém com tão pouco
poder de ataque. Cem anos desde que invadiram a muralha pela última vez? Poxa,
isso não é nada! E apesar de achar a fluidez do tempo bem construída e acertada
para o amadurecimento dos protagonistas, traz alguns questionamentos à tona:
como, por exemplo, aquelas 25 mil pessoas foram mortas pelos Titãs? É um número
absurdo para simplesmente acharmos que um treininho fará maiores diferenças aos
nossos heróis. Estamos comparando com 25 mil combatentes! Seria interessantes
ver que táticas erradas desse exército e depois comparar em como será quando
chegar a vez dos protagonistas. Do contrário, parece simplesmente que saíram
caminhando (o que não é verdade, já que tivemos um rápido vislumbre de suas
ações no início do primeiro episódio, porém não o suficiente).
Enfim, até que para minha estréia na função, comentei
bastante, não? É para compensar o anterior... Não acostumem.
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