Mistério e romance sobrenatural numa história intrigante.
Sinopse: Mizuki é uma garota
que quer fugir de sua vida. Como ela sorri triste para tudo o que acontece com
ela, sua alma se torna mais pesada a cada dia. Sua saída de escape é Adam, um
cantor Inglês. Mas ele é realmente real, ou é tudo o que ela viu não passa de
apenas um sonho? Adam vê em Mizuki a imagem de sua namorada japonesa já morta,
mas, estranhamente, ninguém, além de uma garotinha chamada Hotaru, pode
enxergar Mizuki. Esta é uma história que se situa em algum lugar entre o sonho
e a realidade.
A leitura de Kagen no Tsuki deve ser feito através de
camadas; Essencialmente se trata de uma história sobre relacionamentos
possessivos [seja ele romântico ou não],
uma das temáticas preferidas de uma de minhas mangakás preferidas, Ai Yazawa.
Inclusive, são perceptíveis alguns pontos aqui que seriam futuramente melhor
desenvolvidos em Nana (como por exemplo,
a amizade entre Sae e Hotaru, ou mesmo a possessividade que se tornaria mais
abrasivo em Nana).
Kagen no Tsuki é bem curioso, começou a ser serializado um
pouco antes de Paradise Kiss (carinhosamente
ParaKiss, o primeiro grande sucesso da autora), em 1998 na antologia shoujo
Ribon (revista que se foca num publico
feminino mais infantil, mais ou menos dos 8 aos 13 anos), mas durante a
serialização ela também começou a fazer ParaKiss na revista de moda Zipper. E
bem, é um mangá diferente de tudo o que Yazawa já tinha feito ou ainda iria fazer
ao mesmo tempo em que mantêm a assinatura da autora pelo qual ela é mais
conhecida: Bom humor, quebras de quarta parede, música, banda de rock, longos monólogos internos, narrativa visual dinâmica, homens com padrões de
beleza bem idealizados, um senso estilístico de moda apurado e claro; Lágrimas
e mais lágrimas.
Este é um mangá que cai no formato, hoje consagrado pela
literatura Young Adult, que sempre teve um apelo fortíssimo entre adolescentes
e jovens adultos: O romance sobrenatural com pinceladas de amor
impossível/trágico e mistério. Inclusive, o título traduzido fica como “Lua
Minguante”, que poderia ser facilmente confundido com um título de algum desses
livros. Também há o fator mistério, que é algo forte na montagem desde enredo.
Inicialmente lembra muito aquelas histórias clássicas do hibrido de terror + mistério que faz muito sucesso
nos shoujos, como Ghost Hunt ou mesmo Shinrei Tantei Yakumo. O fato de serem crianças envolvidas no processo de elucidação do mistério poderia passar um feeling superficial, mas a narrativa é bem dissonante, no sentido de que eles fazem apenas o que está ao alcance de suas idades, mas a caçada ainda soar tão emocionante. Não vou entrar muito
em detalhes por se tratar de um enredo quebra
cabeças, mas as crianças que dividem os holofotes do enredo principal e
seus dilemas são encantadores.
O prologo é poderosíssimo, a autora nos joga no centro de
uma trama já em andamento e você fica se perguntando onde diabos essa história
irá ir e como aquilo irá se desenvolver. Há reviravoltas fantásticas, alternâncias
de foco narrativo e o mistério é realmente intrigante ao se trabalhado em
camadas finas de respostas que sempre trazem novas questões consigo, embora
chegando no último volume, ocorra outra mudança de foco que diminui um pouco o
impacto emocional e do suspense criado – acaba valendo pela reflexão proposta. Como
sempre acontece quando se lê algo da Yazawa, invariavelmente você acaba se
esquecendo da arte e de tudo em volta, por sua narrativa ter um grande poder de
absorção. A arte, mesmo ainda não estando no nível de Parakiss e Nana, já
mostrava uma Yazawa mais madura e dominando plenamente as técnicas narrativas
visuais. Talvez a maior baixa aqui seja o romance do casal principal, tão piegas que soa constrangedor; me senti algumas vezes como se estivesse lendo às escondidas cartas de dois amantes no auge da paixão. Senti falta do refinamento costumeiro da Yazawa ao abordar paixões avassaladoras, por ser mais agradável de ler.
Para quem leu o mangá, vai um desabafo: O motivo de Mizuki
sair de casa são os mais fúteis possíveis (ela
me lembra a “Hachi”, de Nana), mas dá pra entendê-la plenamente. Ela já
estava esgotada psicologicamente, não sabendo lidar com um novo ambiente
familiar e a “nova família” que seu pai formou após a morte de sua mãe. Por
mais que a madrasta e sua filha fossem atenciosas e carinhosas, acredito que
Mizuki às visse como usurpadoras do lugar de sua mãe naquela casa. Sentia-se um
peixe fora d´água, algo bem típico, principalmente em jovens. Agravando a sua
situação, seu namorado a trai com sua melhor amiga. Ela ainda tenta levar tudo
com um sorriso no rosto e esconder a sujeira por baixo do tapete. Enquanto
conta o seu drama para Adam, com um enorme sorriso no rosto, ele a questiona “por
que você está rindo? Por que você ri de coisas tão ruins?” e só então
consegue colocar para fora as lágrimas que estiveram presas por tanto tempo.
Quando vê a possibilidade de fugir de todos esses problemas com um cara que
acabou de conhecer [uma figura idealizada
do homem perfeito], ela não pensa duas vezes em abandonar tudo que estava
sob seus pés para viver esta fantasia romântica:
Adam: “Mizuki, você não precisa ir para o
colégio?”
Mizuki: “Eu não quero ir”
Adam: “Você não trabalha hoje?”
Mizuki: “Não quero ir para o trabalho”
Adam: “Você não precisa voltar pra casa?”
Mizuki: “Eu não quero voltar”
Adam: “Então, não quer ir para casa comigo?”
É tudo o que uma garota no alto dos seus 17 ou 20 anos desejaria, deixando para trás tudo que lhe incomoda, família, pais, amigos, namorado. Fugir para longe. A mensagem de Yazawa é a de que, por mais romântica e insinuante que seja a ideia de fugir e abandonar tudo, ou até mesmo se abandonar ao tirar sua própria vida, ainda há pessoas aqui que se importam o suficiente para tornar válida a sua permanência neste mundo. Também vale pensar pela ótica da possessividade e obsessão com o ser amado idealizado, que faz com que tomemos atitudes impensadas que irão se refletir por toda nossa vida.
Alguns pontos:
-Eu fiquei com a nítida impressão de que a mãe de Hotaru e sua assistente mantinham um
relacionamento homossexual às escondidas. A relação das duas é instintivamente homoafetiva, com papeis de gênero bem definidos, onde a mãe de Hotaru é
claramente a figura masculina.
Nota:07/10
Autora: Ai Yazawa
Ano: 1998
Volumes: 03
Demografia: Shoujo
Revista: Ribon (Shueisha)
Nota:07/10
Autora: Ai Yazawa
Ano: 1998
Volumes: 03
Demografia: Shoujo
Revista: Ribon (Shueisha)