Isso é o que eu chamo de um bom episódio! Redondinho e eficaz na transmissão de sua ideia.
Obviamente, superior ao episódio 05, aqui em todas as ações
você nota que tem um senso de progressão com impacto lá na frente, tudo muito
meticuloso. Sim, no anterior há aspectos relevantes, fazendo com que eu
discordasse de quem disse que era muito ruim. Neste caso, a palavra ‘mediano’ é
a que melhor ilustra o que eu vi. O episódio anterior começa com Ledo
procurando emprego e termina com ele num churrascão em uma estrutura que
parecia o Piscinão de Ramos – RJ.
Este episódio começa com Ledo perguntando o que a gente faz
com o dinheiro que recebemos. Os personagens que interagem com ele nunca
respondem com exatidão, um diz que ele pode comprar todo tipo de comidas, o
outro o leva pra um bar enquanto assiste a uma apresentação, e mais a frente
alguém diz que significa ter ajudado alguém, mas eles não precisam dizer com
exatidão, a resposta está implícita no final do episódio quando Ledo leva
alguns mimos para o adorável Bevel. O que a gente faz com o dinheiro é
exatamente o que ele fez durante todo o episódio: se alimenta, sai com os
amigos, compra itens, se diverte. Assim, ele pode sentir a importância, ainda
que não entenda plenamente esse mecanismo capitalista. Há diversas sutilezas e
um desenvolvimento muito consciente, que é crescente, e não estático, como o
anterior, e assim como o quarto episódio, há coisas que aconteceram aqui que formará
uma onda para eventos futuros. Dele tentando por si mesmo pescar os peixes, à cena
do bar, onde ele recebe duas propostas de emprego (lembrando que anteriormente eles estavam numa área que provavelmente
não possibilitou muito trabalho, já que a fonte primaria deles é o oceano),
passando por sua fascinação pela dança indiana das garotas; eventos que trazem
consequências muito interessantes. A crescente distância entre Ledo e Chamber,
a sua aflorada atração por Amy e o aprendizado do significado do dinheiro para
os humanos, tudo isso traz Ledo para muito mais próximo de Gargantia e
inconscientemente cada vez mais distante da Aliança Intergaláctica.
Essa fluidez narrativa e visual faz o episódio anterior soar
deslocado. Começa bem e acaba se perdendo, mas há pontos a se destacar, basicamente
ideias soltas: como o fato de Ledo muitas vezes se assemelhar a uma máquina,
uma característica muito comum dessas sociedades distópicas (algo visto desde o segundo episódio, mas
eu gosto do conceito de choque cultural desse episódio, afinal, reunir pra
comer em torno da água? wtf), ser muito bem sublinhado ao se defrontar com
aquelas pessoas fazendo algo que para ele é ilógico (destaque para a incompreensão do Chamber ao ser usado como um grill
hahahahaha). Mais: pedirem para ele fazer coisas que não fazem o menor
sentido, que lhe soam incompreensíveis. Ele só vem a entender a importância de
ter sido incumbido de ir buscar alguma coisa estranha no final, ao perceber que
aquilo dá um sabor especial ao que se está comendo. O que para qualquer humano
é algo perfeitamente natural, para ele, é a mesma impressão que o Chamber possui.
A diferença seria que o Ledo é humano, é adaptável, pode aprender na prática (não tem sido assim desde períodos ancestrais?),
o Chamber não. Ele é uma consciência artificial e por mais inteligente que
seja, por trás de toda ação, para ele é necessário haver uma lógica. E lógica matemática
é algo que frequentemente não condiz com a consciência humana. Aliás, uma ótima
sacada contrastar esse deslocamente em ambos.
A insistente persuasão de Chamber para que Ledo permanecesse
de prontidão enquanto ele fazia o serviço de recolher os peixes e o estouro do
garoto ao dizer-lhe “faça como quiser”, me fizeram pensar nesses fragmentos do
episódio 05. É como em ‘2001: Uma Odisseia no Espaço’, em que HAL percebe que
os astronautas pretendem desativá-lo, devido a uma falha de seu sistema, porém,
ele está programado para ser perfeito e completar a missão, logo o que é
perceptível para o ser humano, para ele é ilógico. Ele foi programado para
completar a missão, se os astronautas querem desliga-lo antes disso, é natural
que ele descarte-os.
Voltando a Gargantia, eu realmente fiquei nas nuvens com
este episódio. Sua explosão de cores, onde nem mesmo o CG conseguiu apagar o
brilho intenso da animação 2D, com alguns momentos veeery good. Mas quando eu
disse que fiquei nas nuvens, me referia principalmente a interação entre Amy e
Ledo, mais precisamente no final do episódio em que ela dança para ele. Foi uma
sequência linda, linda, linda... Magnifica! Meu coração romântico dificilmente
não reconheceria isto. A paleta de cores quentes, os efeitos oriundos da
explosão natural de cores do horizonte que se assemelham a uma espessa cortina
de fumaça, uma nevoa envolvendo a ambos, num plano que só existia Ledo e Amy –
ele completamente enfeitiçado por sua dança (“UMA DEUSA, UMA LOUCA, UMA FEITICEIRA, MEU DEEEUS ELA É DEMAIS!” /orz).
Isso me deixou suspirando. E ele sente toda essa tensão romantic-sexual na
atmosfera, acho que pela primeira vez, e ela também sente; ambos são do sexo oposto
e sentem atração mutua – algo obvio, que aparentemente Ledo ignorava. Vale
destacar também que Ledo enfim terminou a flauta e compreende melhor aquele
mundo ao aprender com Amy, que muitas coisas que dão prazer, envolvem certo nível
de disciplina, talvez a única coisa que não será um problema para ele. Estar
disposto a levar isso adiante e seu encantamento pela dança das meninas,
demonstra o quão atraído ele já está para com essa nova forma de viver.
Caso você não goste dessa visão romântica, pode apenas assentir
que Ledo sentiu que Amy é uma boa fêmea para reprodução, por causa da dança
cheia de libido. Tão pré-histórico! õ_õ
Outro aspecto muito agradável aqui é como eles constroem
toda uma apreensão até o clímax (Chamber
dizendo novamente que Ledo precisa ficar aposto, seu susto ao confundir a
lagosta com Hideauze, o alerta de ameaça quando Ledo está com Amy. Toques
belíssimos), terminando num cliffhanger cruel. Só consigo pensar que essa Hideauze
veio com Ledo pelo buraco de minhoca no primeiro episódio. E que ela pode
provocar um estrago monumental nas estruturas de Gargantia, o que não vai acontecer
ou se acontecer, terá efeitos bem minimizados. Ainda há 07 episódios pela
frente, então é claro que este é só o primeiro alerta ao Ledo de suas origens. Seu processo de interação, adaptação e choque,
devem continuar.
P.S.: Méritos do roteiro ao Norimitsu Kaiho. A staff que
escreve pra Gargantia é basicamente novata. Quando anunciaram Gargantia, eu
pensei que essa seria a deixa pro Butcher mostrar um outro lado seu, mas parece
que ele realmente não leva jeito para este tipo de abordagem, como já comentou
em diversas entrevistas. Curiosamente, Junji Ito, que nunca fez nada muito
distante do seu gênero, ultimamente se viu envolvido em um mangá histórico, no
entanto, não fiquei nem um pouco surpresa ao ver que ele só estava fazendo os
desenhos. Alguns artistas parecem ter nascido para falar sobre o lado negro do
ser humano, sendo incapazes de colorir esse universo (se ele pegar o último episódio, como comentam, aposto que terá o mesmo
feeling do final de todas suas outras obras: meio doce, meio amargo). Tudo
bem.
-Algumas pessoas vieram me perguntar o que eu havia achado
do fanservice após ter assistido ao episódio. Eu fiquei meio surpresa, porque
nem me dei conta. De qualquer forma, eu já havia comentado isto no primeiro episódio, closes e enquadramentos valorizando os atributos femininos seriam a
máxima neste anime. O diferencial é Gargantia fazer isso com certa refinamento,
é um tipo de fanservice minimalista que se encontra muito em animes oldschool,
e que de certa forma, para os padrões atuais soam até ingênuos. Mas ele está
ali, provocativo, o que dá ainda mais asas a imaginação e fará o comiket
ferver. Como já disse em outras
ocasiões, um character designer diz muito sobre a motivação e publico alvo da
obra, e com um artista que faz doujins hentais, Hanaharu Naruko, concebendo os
personagens, isso nem é nenhuma surpresa.
É obviamente fetichizado, tem graus de sexismo (nunca me esquecerei
de que já conquistei a atenção de uma garota com essa palavra, essa e a "misógino". E ela é uma
figurinha importante do meio, conversando comigo me disse isso, etc, etc, e eu fiquei “waahhh.... fuwa fuwa! Posso recitar Loise Labé e Virgínia Woof no seu ouvido se isto te excita” /delírios. Hey, não levem meus delírios
a sérios! Mas eu realmente pensei isso, meus pensamentos voam sempre longe.. aahh...), eu
não esperava que fosse diferente, até mesmo pelo ambiente e pelo tipo de obra que
é, então encarei tudo isso com naturalidade, já que aos meus olhos até aqui parece tudo coerente com a proposta. O único ponto negativo, é com
relação a animação e o storyboard dessa sequência das garotas... Me
senti assistindo Shinsekai Yori. É tão desengonçado quanto japoneses tentando
dançar carnaval, com umas anatomias que... Não, simplesmente não. Aqueles
enquadramentos, a despeito de toda a polêmica, foram muito toscos. A sequência
inteira é mal desenhada, acho que a pessoa não deve ter muita habilidade com
proporções humanas, ou sei lá o quê. Cadê as garotas do KyAni para mostrar como se dá leveza e naturalidade numa cena dessas? Ridiculo - a sequência da Amy é melhor, mas igualmente travada em diversos momentos e com uns ângulos anatômicos disformes.
-Ah, eu adoro essas amigas da Amy. Elas são diretas “ooh, é
o gostosinho já está aqui!” // "Está mesmo." // HUEHUEHUEEHUEHU A-DO-RO!