Saudações do Crítico Nippon!
Há
algum tempo já eu quero comentar algumas coisas sobre a interpretação da
Arte de modo geral. E a palavra é exatamente essa: “interpretação”. A Arte, seja qual for, só
se complementa com o observador. Ela, por si só, não diz nada. E essa é a
beleza. Ninguém nunca verá, ouvirá, sentirá exatamente a mesma coisa. É algo
que vem da nossa bagagem de vida e capacidade intelectual. E quero falar também
sobre a frase extremamente equivocada de que “opinião é tudo igual”.
Bolo de Cenoura: quem ler até o final, entenderá. E ganha um pedaço. |
Uma
leitora aqui do blog veio conversar comigo pelo twitter, e disse que discordava
de alguns pontos do meu texto de “Okami Kodomo no Ame to Yuki”. E tinha adorado
o texto. Como adorar um texto que você discordou? Como adorar um texto que eu
falei mal de algo que você amou? E ela mesma respondeu, e eu favoritei para
sempre: “pontos de vistas diferentes não tiram a razão de quem sabe
argumentar”. Ou seja, é bem simples, não existe essa coisa de “cada um tem sua
opinião e elas valem iguais”. Não mesmo. Como pode argumentos embasados,
exemplificados e com uma linha de raciocínio valer a mesma coisa do que um
“muito bom”; “gostei”; “não gostei”? Resposta: não vale. E se você procura uma opinião ínfima dessas para reafirmar a sua, você é apenas carente. Quando leio uma crítica, eu quero pensar em algo que já não havia pensado antes.
É
por isso que debates existem, e a função da crítica é essa. Gerar discussões,
fazer refletir, pensar no que viu. Se você está sentindo algo, pessoas
trabalharam para que fosse sentido. Uma equipe pensou e planejou aquilo por meses, inúmeras cabeças se dedicaram, nada
é ao acaso. Aqui no blog, tentamos explorar esses pontos ao máximo, de acordo
com nossa capacidade. Se um dia você leu um texto meu e ele não lhe fez pensar
em nada sobre o que você viu, escrevê-lo valeu apenas para uma pessoa: o autor
(eu mesmo). Se não há informações adicionais, se o leitor começou e terminou o
texto exatamente como a mesma pessoa, de nada serviu a crítica. Aí, realmente,
é o mesmo que ler: gostei; não gostei.
Sobre
a interpretação das obras: você não sabe o que o autor da Arte, seja qual for,
pensava na hora. Nem eu nem ninguém além dele mesmo. Então não tem essa de “ele
pensou mais do que o autor”. De jeito nenhum. Se há material na tela para que a
já citada “interpretação” se encaixe, a análise é totalmente válida. Como eu
posso saber que o autor queria passar tristeza com a paleta de cores
acinzentadas e escuras? Eu perguntei para ele? Não, é meramente uma suposição e
raciocínio entre as cores e o que está acontecendo na tela. Você pode aceitar
ou não, mas não dizer que essa interpretação “não existe” ou que eu “pensei
mais do que o autor”. Meus argumentos estão na tela para embasar o que eu
disse. Cor escura + momento melancólico. Eu poderia dizer que as árvores
representam a tristeza. Se eu conseguir lhe mostrar árvores em todos os
momentos tristes do filme, o meu argumento é inquestionável. Se você disser que
o autor queria fazer uma metáfora entre o protagonista e um bolo de cenoura,
contanto que você encontre base na tela, visível para todos como a soma que eu
fiz acima, é totalmente válido.
Se
não está dito com todas as letras na tela, é interpretação. Se não há um
narrador onipresente me dizendo “este momento representa isso”, você não sabe o
que o autor pensava e só está julgando com as peças que lhe foram dadas. Isso
não torna sua opinião errada, contanto que saiba justificá-la. Eu não faço a
menor idéia se o autor Mamoru Hosoda queria passar algo com a diferença de sons
diegéticos da chuva em dois momentos distintos de seu último filme. Porém, estava aberto à interpretação (como
tudo), eram sons da mesma fonte colocados de formas diferentes em momentos
diferentes. Você tem todo direito de dizer “é só chuva” e discordar, mas o meu
argumento é válido e você estaria aproveitando nem 50% da experiência. O vôo do
pássaro de Makoto Shinkai em “5 Centímetros por Segundo”, talvez ele não quisesse dizer nada com isso e fosse
só uma ave voando para ficar bonito no céu. Porém, baseado no contexto dos
personagens e na maneira como a cena foi orquestrada, achei que havia uma
metáfora ali da distância entre eles. E assim por diante.
Ou eu estava só pensando mais do que o autor. Se
conseguiram chegar ao final desse texto lendo a frase anterior como uma
babaquice tremenda, minha missão foi cumprida. Com observação e esforço, a sua
opinião pode, sim, valer mais do que a de muita gente. Banzai à todos.
(Para mais dos meus textos, é só ir no menu 'Crítico Nippon'.)
@PedroSEkman
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