segunda-feira, 9 de setembro de 2013

As Animações que influenciaram a Indústria de Animes

Esse texto foi escrito como um guest post especial para o aniversário de um blog ex-parceiro do Elfen Lied Brasil, e que hoje se encontra extinto. Com a exclusão do blog e do texto da internet, resolvi postar a lista criado aqui. 


Akira há décadas atrás previu as Olimpíadas de Tokyo num Japão pós-apocalíptico, e não é que a profecia se realizou (menos o Japão apocalíptico)?. Por essas e outras que clássicos são clássicos! Aproveitando, tyeheheh, fiz um crossover especial de aniversário lá no blog Hajimari no Sora, listando 7 animações que influenciam a indústria. Sintam-se convidados. /o/ 


01)Astro Boy (1963 – 1966)

Vulgo Tetsuwan Atomu. O inicio de tudo. Baseado no mangá homônimo do deus do mangá Osamu Tezuka, datado de 1952, é constantemente confundido como a primeira série de anime desde sempre. Não é o primeiro anime, nem mesmo o primeiro a ser televisionado, mas foi ele quem estabeleceu a programação de animes televisionados no Japão, se tornando um marco que influenciou diretamente o surgimento dos animes por temporada como conhecemos hoje.

Tezuka sempre fora um visionário, sua importância para a indústria de entretenimento do Japão não se resume a mangás, a sua influência nos animes é seminal. Pupilo de Disney, ele também nutria o sonho de ver suas obras sendo animadas. Com este pensamento, Tezuka alterou definitivamente as engrenagens do tempo fazendo do Japão um país conhecido principalmente por seus animes e mangás, onde de influenciado, passou a ser aquele que influenciava. A ideia de Astro Boy partiu diretamente dele, que arcou com todos os riscos financeiros da produção, correndo atrás de financiamento e parcerias que pudessem tornar seu sonho viável. Com Astro Boy, tivemos o primeiro passo daquilo se tornaria algo comum na indústria: o anime como um comercial para outras obras, começando primeiramente pelas adaptações de mangás. Iria demorar um pouco até surgir as primeiras produções mais autorais, e não seria pelo punho de Tezuka.

Tezuka definiria também o processo de produção de um anime; da corrida por investidores à necessidade de se encaixar o produto dentro do orçamento. Este processo produtivo deveria ser rápido o suficiente para um anime ir ao ar semanalmente e barato. Com o seu estúdio, o MushiProduction, montado especialmente para isso, uma infinidade de profissionais foram formados e inspirados, sendo este estúdio um dos principais formadores [ao lado do Toei Animation] de alguns dos maiores nomes da indústria, como por exemplo, o estúdio Sunrise(Gundam), formado por profissionais que estavam cansados de fazer adaptações de mangás do Tezuka e queriam produzir animações originais. Astro Boy foi ao ar no Ano Novo de 63 pela Fuji TV e foi um enorme sucesso, tendo posteriormente diversas versões e remakes. É a maior audiência registrada em animes numa época que animes eram ainda em preto e branco... Pois é.

02) Attack No. 1 (1969 – 1971)
Numa época repleta de shounens e sci-fi, surge em 68 a então pioneira série de esportes com enfoque no universo feminino, de Chikako Urano. Um ano depois estaria ganhando uma adaptação para anime pela Fuji Tv. Exibido em horário nobre, a série alcançou uma média de 20% de audiência. Attack No. 1 é responsável por revolucionar o gênero shoujo, criando com pioneirismo a subcategoria de garotas num universo esportivo. O que para a época, era uma inovação. Enquanto nos shoujosas garotas iam para a escola e suspiravam por seus futuros maridos, neste gênero elas suavam, rivalizavam e lutava bravamente em busca de seus objetivos. No Japão, esportes ajudaram a resgatar o orgulho Japonês depois da derrota na Segunda Guerra Mundial, e os mangás ajudaram neste resgate, enfatizando valores nacionalistas de honra, sacrifício e superação. O Shoujo nos esportes surgiu com o triunfo das japonesas nas Olimpíadas de Tóquio. Inspirado nessa conquista surgiu então AttackNo.1, abrindo caminho para uma infinidades de séries do gênero e inspirando muitos autores a retratarem mulheres no mundo dos esportes, algo até então dominado pelos homens. Podemos dizer que o esporte também resgatou muito da dignidade feminina?

03)Mobile Suit Gundam (1979 – 1980)
Qual a chance de um fã de animes não conhecer a palavra Gundam, mesmo sem conhecimento da série? Eu diria que é a mesma proporção de nunca ter ouvido falar dos filmes do Ghibli. Não é para menos, estamos falando da maior e mais popular franquia da história da animação japonesa. Com obvias inspirações no também clássico Space Battleship Yamato, Gundam debutou numa época que robôs gigantes eram bastante comuns, mas a série promoveu uma quebra no gênero mecha e inovou na narrativa. Se na época mechas tinham habilidades quase mágicas, Gundam procurou ser mais ficção cientifica do que fantasia – uma herança herdada de Yamato que surgiu com proposta similar, mas sem robôs gigantes. Agora os robôs obedeciam, relativamente, as leis da física de acordo com o universo SF e se tornariam mecânicos, em oposição à outrora natureza mágica. Suas diversas influências a outras séries SF e sua proposta inovadora para o genéro rapidamente fomentou uma base sólida de fãs. Mas o sucesso de Gundam pode ser atribuído principalmente à popularidade das mercadorias que gera, como os robozinhos de plástico. Agora imagina só a felicidade da criança da década de 80? Muitos dos renomados animadores da indústria receberam o chamado divido do deus Tezuka através dessa série.

04)Akira (1988)
Antes de Sailor Moon, DBZ e Pokemon invadirem o ocidente e iniciando aquilo que seria o boom do anime, ainda nos finalmente da década de 80 as pessoas ainda não tinham muita ideia do que se tratava e o conhecimento era desencontrado numa época “sem internet”. O que é e de onde veio? Eles poderiam não saber com certeza o que era um anime, mas rapidamente o clássico cult Akira se tornou uma febre no imaginário de todos. A série não apenas alterou a forma como o ocidente via e pensava sobre animes, mas mesmo antes de SatoshiKon brilhar com suas películas maduras, Akira estava abrindo caminho para que animações maduras fossem mais apreciadas fora do Japão, não se restringindo a um pequeno nicho. KatsuhiroOtomou teceu a história de 1982 a 1992 na Young Magazine, e em 88 ele mesmo dirigiu a versão cinematográfica que ganharia o mundo.

O filme é condensado e não abrange parte significativa da história, sendo uma experiência incompleta em termos de roteiro, no entanto sua densidade atmosférica, animação fluída e fotografia deslumbrante, são capazes de cegar até o mais critico dos mortais e o fã não quis saber de nada mais do que a ação que o filme propunha. Foi o maior orçamento da época e continua sendo umas das produções mais caras do Japão, girando em torno de 11 milhões de dólares. É uma mega produção, e como tal, o nível de detalhismo impressiona. Em um período dominado por filmes Disney e desenhos televisivos da Hannah Barbera, Akira se tornou rapidamente um culto com sua violência gráfica e um cyberpunk que estava mais para punk do que para cyber. O mangá de Otomo tem larga influência nos diversos OVAs de ultra violência deste período.  Akira ainda foi pioneiro no processo de gravar as vozes dos dublares primeiro, para depois criar a animação por cima, tornando a experiência mais trabalhosa para os envolvidos, e com um resultado final incrível. Mas ainda hoje, os animes geralmente contam com uma dublagem feita após a animação, criando diversas peculiaridades bem próprias de animes voltados para o otaku. Enfim, Akira, além de sua influência para a indústria ao falar de temas maduros com violência e sexo, é importantíssimo na forma como animações japonesas vieram a ser percebidas no ocidente, contrastando com a visão que mantinha sobre desenhos serem destinos a criança. Não por acaso, tem se a ideia de que animes são sempre violentos e impróprios para o público infantil.

05) Sailor Moon (1991 – 1997)
Ao lado de DBZ [também do mesmo período], o sucesso de SailorMoon fora do Japão não conhecia limites, formando uma nova geração de fãs e fundamentando de vez a subcultura de fãs de anime no ocidente. Seu combustível foi à ascensão da televisão nos lares. A quantidade de merchandising gerado ainda foi superior, agora, nos restringindo somente ao clássico anime, SailorMoon foi aquele que chamou a atenção do otakuhardcore e fez a indústria abrir os olhos para o gênero mahoushoujo. Sua influência é tão grande, que mahoushoujo foi deixando de ser algo vinculado exclusivamente às garotinhas, agora os produtos licenciados e em algumas vertentes do gênero [como os que vieram explodir nos anos 2000 com uma pegada mais ecchi] até o enredo, contemplam o otaku. SailorMoon foi um dos pilares que fomentou a cultura otaku antes mesmo da Sakura ser adotada pelos mesmos como símbolo moe anos depois. A série de NaokoTakeuchi também influenciou a explosão da febre do mahoushoujo em uma roupagem mais moderna, mas a própria Naoko buscou inspirações em séries como as de super sentai, para a criação do seu único grande sucesso. E a ciranda de pedra continua, influencie, e deixe-se influenciar.

06) Ghost in the Shell (1995)
O maior advento sofrido pela indústria de animes foi o impacto sofrido pela computação gráfica. Durante décadas, os animadores tiveram que se debruçar em desenhos à mão, cel frame por cel frame. Era necessário usar a criatividade para cumprir prazos apertados em detrimento da qualidade de fluidez. Ghost in the Shell mudou esse panorama ao se tornar o primeiro anime ao investir uma soma considerável do seu orçamento em computação gráfica, resultando em uma animação com fluidez de movimentos e nitidez nunca vistos antes em um anime.

Essa técnica rapidamente foi adotada por outros estúdios e em questão de poucos anos, a animação tradicional quadro a quadro se tornou menor, para a tristeza de apaixonados por animação como Osamu Dezaki, que via tudo isso com imenso desgosto. Embora Ghost in the Shell gozasse de uma produção caprichada e bem orçada, a realidade dos animes para tv é bem diferente, logo a qualidade do CG e sua complementação ao 2D tendem a ser de baixa qualidade, pobríssimo.

Neon Genesis Evangelion (1995 – 1996)
Ainda há algo a ser dito sobre Evangelion? Essa controversa série de HideakiAnno talvez seja um dos animes mais debatidos e discutidos, tanto dentro, quanto fora do Japão. Ensaios acadêmicos, divagações, interpretações, analises, inúmeras discussões acaloradas de perder o amigo. É... tudo já foi dito, mas isso não nos impede de repetir. Em um momento em que a indústria de animes sofria uma enorme recessão, Eva chamou a atenção dos olhos do público de uma forma que nenhum outro anime para tv havia conseguido até então. Eva transcendeu preconceitos e estereótipos e atraiu espectadores que normalmente não se sentavam para assistir anime na televisão. Mas foi no seu segundo cour, sofrendo uma alteração do horário matutino para o noturno [e então inaugurando uma nova faixa de animes que existe até hoje, que são aqueles voltados para o fandomhardcore, sendo exibidos nas madrugadas], que a série explodiu pra valer. Ninguém representa melhor a Geração Otaku que Eva, influenciando toda a indústria de anime e se tornando ícone daquilo que a série se propôs a criticar. Como dizem, não há Deus se não existe um diabo. Mas o legado e a história de Eva no contexto japonês e sua imensurável influência é muito mais complexo que isto e envolve entender o próprio cenário politico do país naquela época. É o que chamam de Zeitgeist. Ironicamente, é o último grande clássico produzido que alterou significativamente a indústria, o que veio depois foram pequenos clássicos que ditavam tendências, mas não estruturas, como CodeGeass(bem, dizem que Madoka Mágica é um forte candidato a este título de clássico absoluto, você leva fé?).

Curta o Elfen Lied Brasil no Facebook