O erotismo da alma.
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Compreensível.
O mundo que envolve os personagens é representado com
aspectos sombrios que expressam uma atmosfera mórbida de pensamentos imersos na
obscuridade de um vazio existencial. Isso é perceptível pela expressão facial dos
personagens e a impotência de seus corpos. Por detrás daquelas expressões blasé
com suas bochechas levemente retocadas com blush, há uma melancolia exposta,
uma sensação de apatia e abandono corpóreo. Suas pálpebras pesadas demonstram
desinteresse e muitas vezes desprezo por tudo que não seja prazeroso o
suficiente para acalentar uma alma que não parece encontrar razão de viver.
Esses personagens são submersos na escuridão onírica,
envoltos por criaturas bestiais criadas por si mesmos. Em todas as imagens, a
atmosfera de morte está sempre impregnada. A Arte de Yamamoto é uma representação viva do
mundo interior de seus personagens. E esses pensamentos apresentam matizes
pervertidas de desejos reprimidos, entrega, abandono, fetiches, etc. e tal.
Olhando displicentemente, você terá a impressão que suas
feições são serenas. Mas se você observar atentamente, essa aparente serenidade
desaparece frente aos reflexos internos representados por um psicológico conflituoso,
e isso fica mais obvio nos desenhos de monstruosidades orgânicas. O que sobra é
a apatia.
Neste aspecto, sua arte transpirar uma poesia trágica,
daquelas que achamos lindo – mas que nunca gostaríamos de viver – acaba indo de
encontro à perspectiva da decadência moral e espiritual, recitado com tanta
tristeza e doçura por poetas. Especialmente os poetas parisienses que ousaram
expor a Paris pouco conhecida através da sua poesia, uma Paris suja, cheirando a
xixi, com mendigos, doenças, de prostitutas e bêbadas com sua mente instável e
fragilizada, que buscam fugir da realidade ao procurar prazer na obscuridade
decadente. Seus personagens também chamam atenção pelo semblante blasé que exprime desde indiferença à uma aparente superioridade.
Nascido em 1960, Takato Yamamoto é um dos principais nomes
da Ukio-e moderna, conhecida também como ‘Ukiyo-e Pop’. Dono de um estilo artístico
muito pessoal, sua arte é o que eu defino como um excepcional encontro entre a
arte clássica e a moderna. No seu trabalho, é possível notar, além das
inspirações obvias do estilo clássico de xilogravura japonesa, que o autor bebe
muito da fonte de Romantismo, o Barroco, Renascença e o Gótico. Eu diria que a melancolia
do Romantismo e o niilismo e a obscuridade do Gótico são os que se fazem mais
presentes.
Algo interessante aqui e que despertou minha intenção, é com
relação ao modo como o autor expressa sua arte. Por exemplo, há muito homo
erotismo, evocação lésbica e gay, perversão, mas o autor tende a não demonstrar
tanto graficamente, mas provocar uma atmosfera de acordo com a interpretação de cada um. Claro, há trabalhos de nu, mas mesmo estes são castrados de
vulgaridade. Desse modo, o erotismo presente na obra acaba por ser algo extremamente relativo e inerente a cada olhar e o que aquilo no campo de sua visão lhe diz. O autor tem um impulso muito fetichista, onde o
sensual se faz presente na ação ou objeto, e não exatamente no sexo. Uma característica
primordial do Ero-Guro.
Aliás, o Yamamoto é algo completamente distinto e excepcional
no cenário Ero-Guro. Não nos traços delicados de seus personagens e
feminilidade nas feições, mas por não empregar métodos sexistas para qual seja o gênero, embora isso não diga nada sobre as motivações dos personagens. É algo bastante distinto, de fato,
o que revela o ar poético e melancólico de sua obra. Hás boas peças envolvendo
homens e entre homens, belas expressões femininas e bastante bondage para quem é fã dessa pratica sexual. A
violência está quase que completamente ausente, de modo que quando aparece geralmente
se trata de uma ação do passado, sendo o estado atual daquele personagem talvez
resultado daquela violência.
Enfim, é importante se ater aos detalhes, estes às vezes
fazem toda a diferença no quatro da obra em questão, por revelar a psique do
personagem naquele mínimo detalhe. Como por exemplo, na abundância de pênis decapitados
ou objetos que aludem ao pênis, o que pode representar uma frustração ou
repressão. Ou quem sabe a aversão.
Do mesmo modo, nas imagens de vampirismo entre os homens; a mordida do vampiro que é conceitualmente alusivo ao sexo ou abuso sexual, o que pode representar
uma vontade reprimida/obscura no personagem em questão. E claro, se trata do meu ponto de vista.
Também algumas vezes, pode ser difícil identificar quem é
homem e quem é mulher caso se olhe superficialmente, mas é facilmente perceptível
no modo como o corpo é desenhado, por mais que suas feições sejam delicadas.
Bom, para Yamamoto, seu trabalho é definido como ‘esteticismo Heise’, que
sugere que o sentimento de belo é a sensação e não a ideia, algo muito
dependente da sensibilidade. Tenho que concordar com essa definição ao olhar
para o que produz.
Vou reservar essa parte final para as imagens que eu mais gosto do autor, repletas de simbolismo e um grau de erotismo que está além do olhar, como ele mesmo define, está na sensação que a imagem evoca e não na ideia. Começando por uma sequência que aludem à Alice de Lewis Caroll, Chapeuzinho Vermelho e a crianças vitorianas. O espaço onde estão ou possui alguma conotação da castidade infantil (representado por objetos) e a substituição das ingenuas brincadeiras infantis frente ao horror psicológico e/ou com um confuso cenário orgânico que insinua o conflito mental, que possivelmente se encontram. Segue com a bela versão de São Sebastião preso à arvore com seu corpo em flechas e a estonteante e enigmática Salomé que escandalizou a sociedade ao perverter diversas regras morais.
Vou reservar essa parte final para as imagens que eu mais gosto do autor, repletas de simbolismo e um grau de erotismo que está além do olhar, como ele mesmo define, está na sensação que a imagem evoca e não na ideia. Começando por uma sequência que aludem à Alice de Lewis Caroll, Chapeuzinho Vermelho e a crianças vitorianas. O espaço onde estão ou possui alguma conotação da castidade infantil (representado por objetos) e a substituição das ingenuas brincadeiras infantis frente ao horror psicológico e/ou com um confuso cenário orgânico que insinua o conflito mental, que possivelmente se encontram. Segue com a bela versão de São Sebastião preso à arvore com seu corpo em flechas e a estonteante e enigmática Salomé que escandalizou a sociedade ao perverter diversas regras morais.
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