domingo, 8 de dezembro de 2013

[+18] A Melancolia na Arte de Takato Yamamoto

O erotismo da alma.
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A primeira vez que eu coloquei os olhos numa arte de Takato Yamamoto eu fiquei fascinada. Senti como se dialogassem comigo e inadvertidamente refletissem um vislumbre do meu interior.
Compreensível.

O mundo que envolve os personagens é representado com aspectos sombrios que expressam uma atmosfera mórbida de pensamentos imersos na obscuridade de um vazio existencial. Isso é perceptível pela expressão facial dos personagens e a impotência de seus corpos. Por detrás daquelas expressões blasé com suas bochechas levemente retocadas com blush, há uma melancolia exposta, uma sensação de apatia e abandono corpóreo. Suas pálpebras pesadas demonstram desinteresse e muitas vezes desprezo por tudo que não seja prazeroso o suficiente para acalentar uma alma que não parece encontrar razão de viver.
Esses personagens são submersos na escuridão onírica, envoltos por criaturas bestiais criadas por si mesmos. Em todas as imagens, a atmosfera de morte está sempre impregnada.  A Arte de Yamamoto é uma representação viva do mundo interior de seus personagens. E esses pensamentos apresentam matizes pervertidas de desejos reprimidos, entrega, abandono, fetiches, etc. e tal.

Olhando displicentemente, você terá a impressão que suas feições são serenas. Mas se você observar atentamente, essa aparente serenidade desaparece frente aos reflexos internos representados por um psicológico conflituoso, e isso fica mais obvio nos desenhos de monstruosidades orgânicas. O que sobra é a apatia.



Neste aspecto, sua arte transpirar uma poesia trágica, daquelas que achamos lindo – mas que nunca gostaríamos de viver – acaba indo de encontro à perspectiva da decadência moral e espiritual, recitado com tanta tristeza e doçura por poetas. Especialmente os poetas parisienses que ousaram expor a Paris pouco conhecida através da sua poesia, uma Paris suja, cheirando a xixi, com mendigos, doenças, de prostitutas e bêbadas com sua mente instável e fragilizada, que buscam fugir da realidade ao procurar prazer na obscuridade decadente. Seus personagens também chamam atenção pelo semblante blasé que exprime desde indiferença à uma aparente superioridade.  

Nascido em 1960, Takato Yamamoto é um dos principais nomes da Ukio-e moderna, conhecida também como ‘Ukiyo-e Pop’. Dono de um estilo artístico muito pessoal, sua arte é o que eu defino como um excepcional encontro entre a arte clássica e a moderna. No seu trabalho, é possível notar, além das inspirações obvias do estilo clássico de xilogravura japonesa, que o autor bebe muito da fonte de Romantismo, o Barroco, Renascença e o Gótico. Eu diria que a melancolia do Romantismo e o niilismo e a obscuridade do Gótico são os que se fazem mais presentes.

Algo interessante aqui e que despertou minha intenção, é com relação ao modo como o autor expressa sua arte. Por exemplo, há muito homo erotismo, evocação lésbica e gay, perversão, mas o autor tende a não demonstrar tanto graficamente, mas provocar uma atmosfera de acordo com a interpretação de cada um. Claro, há trabalhos de nu, mas mesmo estes são castrados de vulgaridade. Desse modo, o erotismo presente na obra acaba por ser algo extremamente relativo e inerente a cada olhar e o que aquilo no campo de sua visão lhe diz. O autor tem um impulso muito fetichista, onde o sensual se faz presente na ação ou objeto, e não exatamente no sexo. Uma característica primordial do Ero-Guro.

Aliás, o Yamamoto é algo completamente distinto e excepcional no cenário Ero-Guro. Não nos traços delicados de seus personagens e feminilidade nas feições, mas por não empregar métodos sexistas para qual seja o gênero, embora isso não diga nada sobre as motivações dos personagens. É algo bastante distinto, de fato, o que revela o ar poético e melancólico de sua obra. Hás boas peças envolvendo homens e entre homens, belas expressões femininas e bastante bondage para quem é fã dessa pratica sexual. A violência está quase que completamente ausente, de modo que quando aparece geralmente se trata de uma ação do passado, sendo o estado atual daquele personagem talvez resultado daquela violência.

Enfim, é importante se ater aos detalhes, estes às vezes fazem toda a diferença no quatro da obra em questão, por revelar a psique do personagem naquele mínimo detalhe. Como por exemplo, na abundância de pênis decapitados ou objetos que aludem ao pênis, o que pode representar uma frustração ou repressão. Ou quem sabe a aversão.
Do mesmo modo, nas imagens de vampirismo entre os homens; a mordida do vampiro que é conceitualmente alusivo ao sexo ou abuso sexual, o que pode representar uma vontade reprimida/obscura no personagem em questão. E claro, se trata do meu ponto de vista.
Também algumas vezes, pode ser difícil identificar quem é homem e quem é mulher caso se olhe superficialmente, mas é facilmente perceptível no modo como o corpo é desenhado, por mais que suas feições sejam delicadas. Bom, para Yamamoto, seu trabalho é definido como ‘esteticismo Heise’, que sugere que o sentimento de belo é a sensação e não a ideia, algo muito dependente da sensibilidade. Tenho que concordar com essa definição ao olhar para o que produz. 

Vou reservar essa parte final para as imagens que eu mais gosto do autor, repletas de simbolismo e um grau de erotismo que está além do olhar, como ele mesmo define, está na sensação que a imagem evoca e não na ideia. Começando por uma sequência que aludem à Alice de Lewis Caroll, Chapeuzinho Vermelho e a crianças vitorianas. O espaço onde estão ou possui alguma conotação da castidade infantil (representado por objetos) e a substituição das ingenuas brincadeiras infantis frente ao horror psicológico e/ou com um confuso cenário orgânico que insinua o conflito mental, que possivelmente se encontram. Segue com a bela versão de São Sebastião preso à arvore com seu corpo em flechas e a estonteante e enigmática Salomé que escandalizou a sociedade ao perverter diversas regras morais.
































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