sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

TOP 05: One-shots Alucicrazys&Insolúveis (01)

Sabe aquela coisa maluca e fumada que você não entende bulhufas?
Listas deveriam ser, em teoria, mais indicação e menos escrita, mas creio não ter sido muito feliz aqui, como de costume. Faz tempo que não faço um desses, e também faz algum tempo que não comento sobre mangás. E o que estão contidos aqui, o título do post já diz tudo. O alucicrazy, é uma referência a este vídeo, hahaha! 

Apesar da numeração, não há valor qualitativo aqui, estes são apenas para efeitos de praticidade. 

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05) Umi-chan no Otomodachi (Umi-chan e seus Amigos)
Ano: ??
Autor: Kouji Kumeta
MU: http://goo.gl/XshvIU

Essa já não me é tão insolúvel assim, pelo contrário, mas na época, eu li e não vi muito além de uma história nonsense, típica de um autor como Kouji Kumeta (Sayonara, Zetsubou-Sensei); mas como também lhe é típico, suas histórias possuem muito mais do que olhos podem ver. Por trás daquele humor que parece não sentido algum, há diversas camadas. E quando me propus a parar e pensar no que tinha lido, pude encontrar respostas satisfatórias. Melhor ainda foi quando resolvi escrever um post sobre (dica: Umi-chan no Otomodachi; Conceito de Amizade), e nos comentários, com ótimos pontos de vistas, minha perspectiva sobre Umi-chan ganhou outra dimensão. 
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04) Children Can't Choose Their Parents  (Crianças não podem escolher seus pais)
Ano: 2000
Autora: Mitsukasu Mihara

Quando uma amiga me disse certa vez; “você tem que ler os mangás da Mitsukasu Mihara, vai adorar”, eu não tinha ideia do que encontrar, mas foi surpreendente (dica: Alice in Underground). Ela personifica aquilo de premissas surreais ganhando forma através das páginas de um mangá. São histórias que se assemelham às lendas urbanas repletas de realismo mágico – algo tão comum do folclore nordestino e mineiro. Imagina, você para pra conversar com alguém na rua e este lhe conta a história de um homem que tem como namorada, uma galinha. Eles vivem juntos, dormem juntos e, claro, possuem uma vida sexual saudável [provavelmente melhor do que a de muitos que me leem]. Qual seria a sua reação?

Oh, bem, deixa eu te dizer que a única coisa que causa espanto aqui, é ele estar apaixonado por uma galinha, mas homens em relações de zoofilia sempre fora algo bem comum em nossa sociedade. Mais do que se imagina e se noticia. Uma amiga (que por um acaso fundou o ELBR junto comigo) estava me contando certa vez uma história de um cara que estuprou um pato lá em Santa Isabel, interior de São Paulo, onde ela reside. Devo confessar que a forma como me contou, me fez chorar de rir (segundo ela, saiu até na manchete do jornal local, com o mau elemento sendo encarcerado). Mas também a afeição do homem para com animais é algo bastante corriqueiro. Em alguns casos, revela uma fuga para a solidão, com o animal sendo o objeto máximo de afeição do dono; e este correspondendo, faz aumentar o vinculo afetivo.

Quanto à história, é tudo tão madofucka, que provavelmente tenha nascido de alguma experiência alucinógena da autora. Você também pode chamar isto de epifania alucinógena, embora alguns prefiram denominar de epifania criativa. Inclusive, tenho uma amiga, @Lobo_paranoico, que cria histórias assim (dica: inclusive comentei sobre uma delas, que se chama Mesmo Céu, a bichinha tem talento!), nascidas do absoluto caos! E não, não, neste caso, pensar no contexto daquilo tudo, não é importante nem tão interessante quanto ler isto e sentir algo estalando na mente.


Spoilers: De todo modo, Children Can't Choose Their Parents, permanece ainda com alguma camada que me é insolúvel, quanto ao seu desfecho e o nascimento do filho do casal, que se revelou tão exótico quanto. Gostaria de saber se há uma relação entre Helmet Newton com o famoso Helmut Newton, e qual conexão se estabelece disso. Aliás, como diabos uma galinha consegue parir um livro? Aliás, por que eu estou pensando nisso?
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03) Yami no Hou E (Towards the Darkness)
Ano: 2003
Autor: Takato Yamamoto

Tenho a impressão que a melhor forma para divagar sobre Towards the Darkness é depois de ter fumado um baseado. A história, de apenas 8 páginas de narrativa, alterna constantemente entre 1ª e 3ª pessoa. No centro da narrativa, um garoto nu, que conversa com estranhos seres que parecem fazer parte do seu universo onírico. De fato, tudo parece ser uma grande viagem alucinógena, em forma de poesia gótica, que diz mais sobre as emoções internas dele do que sobre o contexto em que a história se passa. Podemos interpretar que ele esteja sendo violentado, se masturbando, em uma relação sexual, ou até mesmo morrendo gradativamente, com seu corpo estando nu em algum mato ou algo assim – e por este olhar, do corpo entrando em decomposição e se misturando à natureza parece ir de encontro ao seu monologo interno.

Mas nada disso é objetivo e mesmo sua narração, abre espaço para ‘n’ interpretações e nenhuma resposta lógica. Provavelmente, nem o autor a possui. Então, você questiona,  como pode ser possível nem mesmo o autor possuir uma resposta lógica para sua arte, e eu digo que isto pode ser mais comum do que se imagina. Arte é uma centelha, um fragmento disforme de uma emoção interna contida num campo tão selvagem da mente, que apenas um terço dela consegue vir à tona e se materializar nas mãos do artista. Acho que essa é a magia. Para mim, Towards the Darkness soou bastante trágico e melancólico, mesmo mostrando tão pouco.

De Takato Yamamoto, que eu já comentei aqui no blog (A Melancolia na Arte de Takato Yamamoto), essa oneshot segue o estilo ero-guro do autor, com sua narrativa mais voltada para conflitos psicológicos internos e emaranhada em pouca compreensão externa, com uma pitada de poesia. Saiu na antologia Ax: Alternative Manga, substituta espiritual da lendária Garo (revista por onde passou nomes como o de Hiroaki Samura e Usamaru Furuya).
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02) At Na-chan's 
Ano: ???
Autor: Usamaru Furuya

A natureza implacável da vida e a natureza implacável do ser humano; é difícil mensurar qual causa mais dor, mas ambos dotados de uma bipolaridade essencial para o equilíbrio do mundo. Este, assim, como qualquer ser vivo, já nasceu morrendo aos poucos. Na-chan tinha uma vida simples, mas feliz, com tudo o que lhe era essencial ao alcance de suas mãos, mas vê seu mundo desfarelar após perder o seu lar; sua identidade, e ser jogada à multidão.

Consegui ter uma compreensão bem melhor dessa história depois de relê-la, mas ainda é conceitualmente abstrata e repleta de signos que Usamaru Furuya insere, como a língua estranha que Na-chan fala; que pode ser interpretado sob várias óticas. Eu olho como uma rima poética da incapacidade das pessoas compreenderem a ela e seu pai, assim como ela não compreende o mundo à sua volta – o que é bem compreensível, levando em conta a sua idade. A própria arte que o autor emprega em tons pastéis com pintura de nanquim tem uma áurea pueril. Nat-chan se pergunta se o mundo pode ser salvo, mas a resposta não parece ser lá muito otimista...
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01) A Train at the End of Summer  (Um Trem no fim do verão)
Ano: 1975
Autor: Mizumaru Anzai

Eu já li essa oneshot um bom número de vezes, e toda vez eu tenho uma nova perspectiva, mas fica tudo à margem da poesia incompreensível, mas tão bonita. A página no Manga Updates descreve este trabalho como ‘poético’ e ‘solitário’, com o toque de tristeza do fim do verão (dica: O Inesquecível Choro das Cigarras), período transitório para o frio imoto, contrastando com a inquietude da época mais quente do ano [em teoria]. É uma descrição que faz jus à beleza desta história. O fim do verão, simbolicamente nos arremete à despedida, às lembranças nostálgicas; talvez pela beleza triste do amarelado pôr-do-sol que parece ser mais expressivo nesta época do ano.

Então, por mais que o contexto daquilo esteja longe do meu alcance, há uma atmosfera de lembranças, último encontro, despedidas e partidas junto do verão que se conecta com uma força tão grande ao leitor que, neste momento, você tem a exta compreensão muda do conceito de Arte. Ainda assim, se pensarmos logicamente, é difícil preencher as lacunas deixadas fora de nossa visão apenas com os diálogos fragmentados.

Além do romance explicito, talvez também haja uma analogia com o período da Segunda Guerra, sinto que há um flerte com algo a mais que não compreendo. Acredito que japoneses ou alguém com mais domínio daquela cultura, consiga traduzir melhor essa obra. Única obra de autoria de Mizumaru Anzai, A Train at the End of Summer saiu pela mitológica revista Garo, que era uma antologia underground que publicava uma infinidade de trabalhos de autores que não tinham a menor chance de serem publicados por grandes editoras que estavam surgindo na época da década de 1960/70. E basta olhar uma única obra oriunda da Garo, para perceber que realmente era algo bastante underground/obscuro e sem qualquer cunho comercial, fosse pela arte ou pela história. A saber: foi a ideologia da Garo que precedeu o demográfico seinen (dica: Human Clock - Ascensão & Queda dos Mangás de Alugueis, Monster- Naoki Urasawa [Volume 01])

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