domingo, 6 de julho de 2014

Comentários: Aldnoah.Zero #01 – Princesa de Vers

“Realmente é um mundo maravilhoso. Não importa quantas vezes eu o veja, ele para a minha respiração. Ver o planeta em que nasceu lhe trás memórias?”

Ouvir a princesa Asseylum dublada por Sora Amamiya recitando sobre o seu ideal pacifista com aquela voz tão doce e frágil, e com uma entonação/sotaque tão característico passa um feeling de tranquilidade e esperança. É evocativo de quando o mundo vivia sobre a constante insegurança de uma Terceira Guerra Mundial; reivindicações de direitos iguais; liberdade de expressão, e várias pessoas, principalmente a comunidade artística através de seus veículos de comunicação, falavam sobre os efeitos nefastos de uma guerra e pediam pela paz – manifestações de amor como o monólogo poema de ‘Pálido Ponto Azul’ do Carl Sagan (que tal esta aqui?) eram bastante comuns e na música o que não faltam são exemplos. Até os anos 90, acho que isto ainda era bastante repercutido, mas nos anos 2000, ouvir tais ensejos parece não impactar tanto quem ouve. Soa como algo tão distante de nós, coisa de países do oriente médio. É como se eles fossem outro mundo e de certo modo inferiores por manterem ainda um extremo tradicionalismo local.

Não estou dizendo que Aldnoah Zero se influenciou por esta linha de pensamento, mas sim que há paralelismo (além de fatores externos agirem naturalmente como agentes subjetivos). Como é comum em boa parte das obras do Butcher (Gen Urobuchi), a inocência e idealismo são severamente punidos, demorando apenas pouco mais do que 1 ato para que o cântico de paz da princesa do Império Real de Vers fosse silenciado ao som de massivos explosivos de atentados terroristas.
Em 1972, um hipervia foi descoberto na superfície da lua e a humanidade começou a migrar para Marte e se estabelecer lá. No entanto, eventualmente, as sementes da guerra foram semeadas entre os agora habitantes de Marte e os que ficaram conhecidos como “antiga humanidade”. Esforços de pacificadores conseguiram estabelecer um tratado de paz e cessar-fogo entre os dois mundos. No ano de 2014, a terra ainda está se restabelecendo e embora a tensão entre os dois mundos continue a flor da pele e o tratado de paz seguro apenas por uma frágil linha, a princesa Asseylum resolve ir à terra em missão de paz para garantir que a trégua não seja quebra, quando é recepcionada com um atentado terrorista, inflamando a ira de Marte contra a Terra, denotando a pólvora do barril e iniciando uma devastadora retalhação.

Não vale a pena entrar em detalhes, se trata de uma trama um pouquinho complexa [cobrindo três linhas de tempo: 1972;1999;2014] que é discutida incessantemente no 1º ato do episódio. Obviamente que teremos tempo suficiente durante a série para aprender mais sobre este mundo, seus personagens e as razões que levaram os dois mundos a se rivalizarem – não que a resposta já não esteja na ponta da língua, afinal estamos falando de uma série que trata sobre pessoas e culturas diferentes. Mesmo assim, uma grande carga de informações logo no inicio de uma obra audiovisual não é muito eficaz em ser empático com o grande público, uma vez que é difícil exigir o interesse sem dar motivos para que se interessem de uma forma simples, o que faz com que muitos dispersem a atenção no que está sendo dito. Por outro lado, o publico mais nerd não se importa tanto. 
A ferida aberta representada no nosso astro destruído pela metade e as naves de Marte orbitando o planeta, evidenciando seu controle 
Mesmo com essa carga excessiva de informações que o ritmo do 1º ato mais pesado, a direção de Ei Aoki, a trilha sonora de Hiroyuki Sawano e a escrita de Butcher promovem um episódio poderoso e conciso que entrega logo de cara o conflito que irá repercutir por toda a série. Redondinho como se deve. Ei Aoki é realmente um cara que eu gosto de ver dirigindo séries do tipo, ele cria uma atmosfera imersiva na primeira parte, com tonalidade sóbria e equilibrada, mas ainda com um certo ar melancólico que desponta ao fundo, como se vê pelo cenário frio acizentado da cidade “morta” e o humor ocasional cenicamente leve, mas nunca realmente engraçado. Na segunda parte estabelece uma tensão crescente através de cortes pontuais até que tudo explode, literalmente. Ele ainda acerta ilustrando/traduzindo visualmente o roteiro, tornando o episódio mais afável com os cortes evocativos.

Por falar na tonalidade daquele mundo, o contraste entre Nao (Natsuki Hanae) e Yuki (Sayaka Ohara); de Yuki com o desacreditado comandante; e de Slaine (Kensho Ono) com Asseylum é uma sacada bacana do Butcher, estabelecendo pontos referenciais na história, com as garotas representando ainda o pouco de esperança e garra para superar as adversidades, enquanto cada um deles demonstra uma passividade letárgica. Nao tem este aspecto frio e indiferente, o comandante se afunda cada vez mais por sua impotência e Slaine resignado. São personagens que se enquadram bem nessa atmosfera inicial da obra que reitera um comodismo à situação. Será interessante ver como cada um deles reage, tendo em vista que suas tramas devem se destacar como pontos de referência e em algum momento se entrelaçarem.

A BGM do Sawano é um dos aspectos mais positivos que também combina demais com este tipo de direção mais explosiva. Suas peças naturalmente conseguem elevar a atmosfera além do que são e aqui novamente possuem um papel crucial. Aldnoah Zero conseguiu me conquistar definitivamente no finalzinho. Ver o mundo literalmente pegando fogo me deixou maravilhada, e melhor ainda porque foi possível visualizar este desfecho sendo construído lentamente desde a primeira fala de Asseylum à revelação de como sua morte poderia ser o estopim definitivo para eclodir a guerra. A partir daí, foi só aguardar na expectativa. Juro que aplaudiria de pé, se naquela sequência irônica das duas crianças olhando as “estrelas cadentes” [que na verdade era a morte vinde dos céus] e desejando coisas boas, explodisse uma bomba na cabeça delas (não que não tenha explodido, mas não fica subtendido). Será que eu sou muito doente por querer ver isto? Desculpe, seria trágico e incrível, embora desnecessário diante de tudo o que já estava sendo exibido.
É no mínimo curioso que tenhamos vistos os efeitos devastadores da bomba apenas nos EUA [em uma de suas cidades], com ela deteriorando tudo que encontrava pela frente com seus resíduos tóxicos. Pessoas, carros, estruturas metálicas derretendo. Não soa como uma inversão do que ocorreu nos bombardeamentos de Hiroshima e Nagasaki? Dessa vez com as bombas saindo das mãos dos habitantes de Marte. Aldnoah Zero promete bastante, espero que a história não “estacione”.

Xenofobia, racismo, intolerância militar – são todos estes temas muito comuns em obras japonesas, tanto como reflexo da própria reestruturação do país pelos militares americanos como também de sua relação com o mundo. Este paralelo do conflito da Terra e Marte com eventos históricos reais é interessantíssimo, principalmente se levarmos em consideração as atuais guinadas politicas no Japão real, com todo aquele conflito do país com seus vizinhos e em relação ao tratado de paz com os EUA. Mas divago. Enquanto isso, podemos especular: estaria a Asseylum realmente morta, mesmo que a principio pareça impossível ela ter sobrevivido? Ninguém é morto em animes, filmes, seriados, novelas e livros, até que se encontrem o corpo e atestem a morte – as vezes nem isso. Este atentado terrorista teria partido de alguma facção de esquerda da Terra ou por algum comandante de direita do Império Real de Vers? É perceptível que muitos destes humanos marcianos estavam sedentos para iniciar a guerra, a morte de Asseylum seria o estopim ideal para isso. No entanto, eu gostaria francamente que o enredo fosse mais cinza do que preto e branco. Personagens multifacetados acrescentam mais.

Enfim, foi uma grata surpresa saber que Gen Urobuchi dirigiria os primeiros 3 episódios de Aldnoha Zero, o que já se percebe de imediato pela densidade do enredo e a gradativa escuridão tomando conta (ele comenta que em Suisei no Gargantia a história estava se tornando demasiadamente sombria, mas que felizmente tudo acabou positivamente), mas logo depois outros devem assumir. Pena, eu adoraria vê-lo expandindo este mundo, mas segundo o próprio, chegou a ver o andamento da história e tem gostado bastante dos rumos tomados. O bom é que, diferentemente de Gargantia que se perdeu no foco, Aldnoah demonstra saber exatamente aonde quer ir e com qual premissa trabalhar. No próximo, espero ver uma abertura adequada para esse tema orgasmatico da Kalafina.

Aldnoah Zero terá 24 episódios divididos em split cour. Ou seja, nessa temporada teremos apenas 12, seguidos de uma pausa.

reação final

Avaliação: ★    ★
Roteiro: Gen Urobuchi
Storyboard: Ei Aoki
Diretor de animação: Masako Matsumoto
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